Bom, esse capítulo traz algumas informações bem curiosas. Espero que gostem!

Boa leitura!

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Capítulo 12 - Um lar em Hogsmeade

We're talking away

Estamos jogando conversa fora

I don't know what I'm to say

Eu não sei o que vou dizer

I'll say it anyway

Eu direi mesmo assim

Today's another day to find you

Hoje é outro dia para te encontrar

Shying away

Me evitando

I'll be coming for your love, okay?

Eu voltarei para buscar o seu amor, tá bom?

Take on me (take on me)

Me aceite (me dê uma chance)

Take me on (take on me)

Me aceite (me dê uma chance)

I'll be gone

Eu irei embora

In a day or two

Em um dia ou dois

(Take on me, "Me dê uma chance", A-ha)

MAGOS DO TEMPO

Um Mago do Tempo é um bruxo com poderes vindos direto da Magia Ancestral do Tempo (vide Seção Magia Ancestral do Tempo). Podem ser chamados também de Agentes do Tempo, Bruxos do Tempo ou até Filhos do Tempo.

Há controvérsias sobre sua real natureza e origem: se são filhos de bruxos ou se são originados da própria Magia do Tempo, a partir de alguma anomalia temporal. Não há como dizer se sua constituição física é de carne e osso ou de pura energia que se condensa em um corpo para interagirem no mundo físico. Não há uma classificação específica em alguma categoria: humanos, seres, criaturas, deuses ou semideuses. Aceita-se que são um tipo especial de bruxos, por se comportarem como tal e interagirem com naturalidade no nosso Meio.

Os Magos do Tempo são considerados os mais poderosos do Mundo Bruxo, mas há poucas informações acerca de seus poderes, sem haver como definir se são ilimitados ou não. Tudo que se sabe é que possuem poderes temporais: viajam no tempo com a mesma normalidade de alguém caminhando; acessam na mente fatos do passado, do presente e do futuro; manipulam acontecimentos para consertar erros passados sem que se acarrete consequências de desordem cósmica; e paralisam a ação do tempo em seus corpos depois de certa idade, ou seja, não envelhecem.

Desde épocas remotas que se fala e se estuda sobre os Magos do Tempo, mas o único registrado na História é John Chronos. Ninguém sabe ao certo onde nasceu, em que época, se este era seu verdadeiro nome e quem foram seus pais (se nasceu mesmo de pessoas de carne e osso). Este bruxo contribuiu para o surgimento do Departamento de Mistérios da Inglaterra por volta do ano de 1672. Dizem que também para os Departamentos de Mistérios de outros lugares do Mundo.

John Chronos teria financiado a criação do Ministério da Magia Britânico (antigo Conselho dos Bruxos) com a promessa de que incorporassem o Departamento de Mistérios e não houvesse interferência nos experimentos que seus funcionários realizassem neste loca. Os funcionários do Departamento de Mistérios receberam o nome de Inomináveis do próprio Chronos, termo ainda aceito na atualidade. A esse bruxo é atribuída a pesquisa dos Vira-Tempos, que só seriam criados por volta de 1890. Esses artefatos permitiram vários experimentos com viagens no tempo sem limites, mas que foram interrompidos devido à experiência com Eloise Mintumble (vide Seção Vira-Tempo e Seção Experimentos de viagens no tempo na História da Magia)

John Chronos foi o primeiro a confirmar a existência dos Magos do Tempo e afirmar ele ser o último desta espécie. Há quem o julgasse um louco, pois nunca se dispôs a comprovar suas alegações e nem dar informações mais precisas sobre si. Todavia, pessoas da mais alta hierarquia e credibilidade do Mundo Bruxo, que conviveram com ele, afirmam terem visto Chronos realizar algumas das habilidades de um Mago do Tempo mencionadas nesta seção. Uma delas seria, de fato, viajar no tempo, e alguns dizem terem ido com ele para alguma época passada e testemunhado fatos que confirmam pesquisas históricas do Mundo Bruxo. Contudo, a habilidade que seria a prova mais contundente de John ser um Mago do Tempo é seu não-envelhecimento. Os anos não passavam por ele, que chegou aos seus cento e dezoito anos sem nenhum vestígio de desgaste. Há de se ressaltar que nem mesmo se pode afirmar se a idade em que chegou era a que tinha quando visto pela última vez.

O sobrenome Chronos (latim) vem do grego (Κρόνος/Krónos/) que se refere ao deus do tempo na mitologia grega; na mitologia romana, Saturno seria o equivalente a esse deus.

John Chronos desapareceu em 1800, último ano em que foi visto no Mundo Bruxo, sem deixar vestígios. Ninguém sabe se morreu ou se foi para alguma outra época – considerando ser certo que era um Mago do Tempo. Não há registro de ter se casado e nem deixado filhos. Sua vida é tão misteriosa quanto sua origem, assim como o próprio Departamento que criou. Não há quase registro de sua existência, exceto um documento de contribuição monetária de alto valor para a criação do Ministério, e os relatos de pessoas que conviveram com ele.

Talvez a importância de John Chronos seja maior do que se registrou. Sendo Mago do Tempo ou não, pode-se dizer que foi um dos pilares do nosso Mundo Bruxo atual. Ele criou o Departamento de Mistérios e foi seu Primeiro Chefe. É considerado o Primeiro Inominável da História e ficou conhecido como o Inominável do Tempo, título que carrega até hoje. (vide mais detalhes na Seção John Chronos)

Considera-se para registro que, embora sem evidências mais concretas, os Magos do Tempo são uma realidade para o Mundo Bruxo.

Hermione fechou a enciclopédia denominada A Magia do Tempo e suas aplicações no Mundo Bruxo e virou-se de bruços para a cama.

Por mais que achasse interessante aquela seção, não era a que procurava; estava interessada sobre déjà vu. Não sabia o termo equivalente na linguagem dos bruxos, mas era o que buscava. Uma explicação científica do ponto de vista dos trouxas para o fenômeno era de ser uma pequena falha na transmissão de uma imagem no cérebro, que durava milésimos de segundos e, ao retornar, dava sensação de algo já visto. Porém, não a havia convencido.

Fazia dois meses que sentia como se revivesse uma mesma experiência; é claro que o fenômeno era muito comum para várias pessoas. O problema é que com ela era quase o tempo todo e inquietava-a. Começou logo depois de escutar a conversa dos dois bruxos sobre a utilização dos Vira-tempos para estudar.

Havia chegado na metade do livro e não encontrou ainda uma explicação sobre o que estava lhe acontecendo. Talvez porque... não fosse nada. Talvez estivesse fazendo uma tempestade em um copo d'água. Suspirou. Bom, mesmo que não encontrasse nada sobre déjà vu, ainda assim, a obra continha informações valiosíssimas como a que havia acabado de ler.

O seu exemplar de A Magia do Tempo e suas aplicações no Mundo Bruxo era similar a um que pegou emprestado na Biblioteca de Hogwarts, no qual encontrou pela primeira vez a seção sobre Vira-Tempos. Não pôde terminá-lo porque foi atacada logo em seguida pelo Basilisco e petrificada por semanas; depois veio o término do ano letivo e teve que devolver a obra. O volume pertencia à Seção Restrita e a jovem só conseguiu ter acesso usando do mesmo estratagema utilizado para conseguir o livro Poções muy potentes (que continha a fórmula da Poção Polissuco): enchendo a bola de Gilderoy Lockhart. O professor de Defesa da Artes das Trevas do período escolar anterior não achou nenhum problema em conceder mais uma autorização para sua aluna favorita sem questionar o tipo de leitura escolhida.

Agora ela tinha aquela obra , um presente dos seus pais que ela encomendou durante as férias – junto com os novos livros escolares do Terceiro Ano letivo que começaria no dia seguinte. Seus pais ainda lhe deixaram mais dez galeões de presente de aniversário antecipado para comprar outro livro, mas ela preferiu usar o dinheiro para investir em algo que estava precisando e queria há mais tempo…

Uma bola felpuda, laranja e enorme pulou em sua cama e enroscou-se em seus pés exigindo sua atenção. A adolescente riu, virou-se e aninhou um gato de pelagem fofa e espessa e de cara amassada em seus braços.

- Ô, Bichento, o que foi? Já está com fome, seu gatinho guloso?

O felino miou e coçou a cabeça na barriga da garota, fazendo-a rir mais.

- OK, seu danadinho. Já entendi. Mas pare com isso que faz cócegas – largou a enciclopédia e levantou-se da cama trazendo o animal – Vamos ver o que temos para você.

A bruxa havia adquirido o gato na Loja Animais Mágicos do Beco Diagonal naquela manhã em que se encontrou com Harry, Ron e toda a família dos Weasley. Estavam todos hospedados no Caldeirão Furado – onde os pais de Hermione a deixaram sob os cuidados de Artur e Molly – e os três adolescentes fizeram suas compras escolares juntos.

Na loja, Hermione decidiu investir seus galeões ao comprar um bicho de estimação. Uma vendedora havia contado que o animal era uma mistura de um gato doméstico com uma raça mágica chamada Amasso, um tipo com uma inteligência superior à dos demais felinos. Mesmo sendo um Meio-Amasso, Bichento ainda era inteligente e Hermione se apaixonou por ele no instante que o viu, ainda mais por saber que estava na loja há muitos anos e que ninguém o quis. Preferiu não mudar o nome dele, achando-o muito fofo.

Quem não gostou nem um pouco da ideia foi Ron, por causa de seu rato Perebas, que estava adoentado desde a viagem no Egito.

- E o que vai ser do Perebas? - declarou o garoto irritado – Ele precisa de descanso e sossego! Como vai ter isso com esse bicho por perto?

Hermione garantiu que não havia razão para se preocupar, já que seu gato ficaria com ela no dormitório feminino da Grifinória. Se Ron ainda ficasse zangado por conta disso, paciência! Não renunciaria a seu novo companheiro.

A bruxa deu a Bichento os restos da comida do jantar que teve junto com Harry, Ron e os Weasleys no saguão da hospedaria. Enquanto seu gato se alimentava, ela se lembrou de um fato curioso ocorrido naquela manhã ao ir com a família de Ron ao Banco Gringontes.

Ao ser atendida por um duende no balcão para trocar suas notas por dinheiro bruxo, o ser a fitou como se estivesse olhando para alguma assombração.

- Algum problema, senhor? – ela estranhou o olhar demorado e analítico da criatura

- Não… está… está tudo em ordem.

Ele mexeu nos óculos do rosto e voltou-se para um funcionário providenciar a troca do dinheiro. Enquanto Hermione aguardava, ela notou outro duende que a observava também de maneira esquisita. Ao se virar para ele com o cenho franzido, este desviou o olhar e foi atender a um chamado de outro balconista.

A garota comentou com os dois garotos enquanto desfrutavam de seus sundaes na Sorveteria Florean Fortescue, onde Harry encontrou a ela e a Ron. Haviam conversado antes sobre vários assuntos, incluindo a fuga de Harry da casa dos tios trouxas, e então Hermione introduziu a estranha ocorrência.

- Engraçado. – comentou Harry com ar intrigado – Comigo aconteceu algo parecido quando fui sacar meu dinheiro lá há alguns dias.

- Te olharam estranho também? - perguntou Granger

- Foi mais o que disse o duende do balcão. Ele me perguntou se eu precisava mesmo de mais dinheiro. Se já não tinha o suficiente.

- Como assim?

- Também não entendi. Ia perguntar o que ele queria dizer, mas ele murmurou algo como "Desculpe, não é da minha conta" e chamou outro duende pra me acompanhar até o meu cofre. Esse outro era o Grampo, o mesmo da primeira vez que fui em Gringontes. Ele também me ficou olhando, mas não disse nada - Hermione descreveu os que lhe atenderam. Harry assentiu – Ah, então são esses dois mesmos.

- Que esquisito!

- Ah, vocês vão dar bola pra esses caras? - interrompeu Ron – Duendes são esquisitos mesmo. Não façam caso.

Os três encerraram o assunto, pagaram seus sorvetes e foram à loja de animais.

Bichento desviou a atenção de Hermione ao lamber seus dedos. Ela abraçou o gato com cuidado e colocou-o no colchão aos seus pés.

Trocou de roupa e preparou-se para dormir, mas o sono demorou por causa do seu entusiasmo de tudo que a esperava no ano escolar: voltar ao Castelo de Hogwarts; frequentar as aulas, visitar Hagrid, e o mais importante, descobrir se seu pedido do Vira-Tempo havia sido aprovado e se o receberia das mãos da Professora Minerva.

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- Estou pronta – disse Jean ao aparecer na sala – Demorei muito?

Que Merlin me proteja e me lance uma rajada de vento frio! pensou Sirius ao contemplar a bruxa diante de si.

Jean trajava um vestido vermelho de mangas curtas que emoldurava seu corpo e que se estendia até os joelhos, deixando suas pernas à mostra, que ele adoraria tocar.

- Acho que… vou me trocar – ela ficou sem graça por causa do silêncio de Sirius – Esse vestido é muito chamativo, não é?

- Não, está perfeito! - declarou o bruxo – Você está… linda.

Você é linda, completou em pensamento

Terminou de admirar seu look: Jean usava sapatos de couro de dragão da mesma cor. Seus cabelos estavam presos num coque atrás da cabeça, mas alguns fios estavam soltos de lado; ela quase não usava maquiagem, a não ser um discreto batom cor-de-rosa, mas não precisava por causa de sua beleza natural.

-Ahm… obrigada – Jean corou pelo elogio e pelo olhar predador do homem, mas emulou um leve sorriso. Pegou a varinha para escurecer os cabelos bem como as sobrancelhas, tornando-as mais grossas. Em seguida, colocou os óculos. – Vamos?

- Vamos…

Mesmo com a transfiguração em sua aparência e as lentes sem grau sobre o rosto, Jean continuava bela para Sirius. Ele se transformou e a bruxa trancou a porta do chalé.

- Ainda acho essa sua ideia louca – ela o repreendeu – Como todas as que você tem – ele latiu. Ela balançou a cabeça aos risos – Mas você está certo. Merecemos nos divertir um pouco... – o sorriso se desvaneceu –... e aproveitar sua última noite aqui.

Sirius e Jean estavam alojados em um chalé em Hogsmeade há duas semanas. A moradia era a mais afastada do centro do Vilarejo. Ficava próxima a dois metros de uma escadinha que dava para um morro coberto de um matagal onde se localizava uma caverna bem acima. O lugar era perfeito para eles que precisavam se manter isolados da vizinhança; havia outros chalés em torno, mas afastados; o mais próximo ficava a trinta metros.

A habitação era feita de pedras lapidadas e toda mobiliada: possuía dois quartos com banheiros, uma sala de estar, outra de jantar, cozinha, um banheiro social e mais uma pequena biblioteca com seis estantes bem abastecidas. Os livros, segundo o locatário, foram doações de um antigo morador que ali viveu até os últimos dias e preferiu deixar suas obras, por não ter nenhum parente. Para Jean, as obras foram a cereja do bolo de tudo o que considerava de mais agradável em seu novo recanto. Até mesmo Sirius adorou o bônus.

O chalé era um pouco menor do que a cabana de Sirius, mas suficiente para a comodidade de ambos. O lugar tinha lareira, mas não era conectado à nenhuma Rede de Flu, pois o último habitante foi um eremita que detestava interagir com as pessoas.

- Ainda bem para nós – retrucou o Maroto quando Jean o informou – Comunicação é o que menos precisamos.

Depois que se mudaram, estabeleceram uma nova rotina: bem cedo, Sirius se transformava, ia para os arredores da caverna e ficava por lá a manhã toda; quanto a Jean, caminhava pelos campos e jardins uma parte da manhã; a outra, debruçava-se sobre algum livro da biblioteca e, depois, preparava as refeições. Ela descobriu para sua surpresa – e alegria de Sirius – que sabia cozinhar e o fazia muito bem. À tarde, após o almoço, Sirius e ela praticavam mais alguns feitiços, principalmente de combate. Seria muito útil para a bruxa, já que se aproximava o primeiro dia de aulas em Hogwarts, e ela ficaria a maior parte da semana isolada e sem companhia enquanto o Maroto estaria nos terrenos da Floresta Proibida da escola, espreitando uma oportunidade de chegar até Pedro. Jean conseguiu derrotar Sirius com um desses feitiços pelo menos três vezes.

- Te disse que ia te derrubar – ela empinou o nariz na primeira vez que o fez, mal escondendo a satisfação

- Há! É só porque estou pegando leve com você, garota – retrucou o Maroto com ar desdenhoso, mas no fundo admirado pelo desempenho dela – Não pense que vou facilitar mais.

Não facilitou, porém, não se impediu de ser surpreendido mais duas vezes.

Quanto à noite, os dois se reuniam na sala de estar ou na própria biblioteca e conversavam sobre tudo; das coisas que liam – Sirius não era tão ávido quanto ela por livros, mas apreciava muito - até os fatos da vida do bruxo. Black relatou tudo sobre sua infância difícil com a família: a educação rígida e sem amor dos seus pais; a ideologia preconceituosa e purista do qual não concordava; o afastamento de seu irmão caçula e o desaparecimento deste, talvez morto por Voldemort, por ter se acovardado com o que teve que fazer como Comensal. Também lhe contou mais sobre seus antigos amigos e os anos escolares em Hogwarts: as aulas e os professores da escola; as brincadeiras e travessuras dos Marotos e até mencionou ter saído com algumas garotas, sem dar nomes e entrar em detalhes. Falou sobre sua amizade em particular com Tiago; de ter ido morado com o amigo e os pais dele; sobre Lílian Evans; de se tornar padrinho de casamento do jovem casal Potter e de batismo de Harry. Deu mais informações sobre a Ordem da Fênix e seus integrantes; algumas batalhas e, por fim, sua prisão em Azkaban e de como era o lugar.

Jean o escutou, sem nunca o interromper, a não ser para esclarecer alguma informação. Sirius se abriu para ela de uma forma como não fazia com ninguém há muito tempo, desde Tiago, embora com este não tivesse vergonha de mostrar seus sentimentos e dores. Com a bruxa, evitava demonstrar suas emoções e o quanto estava quebrado por dentro, só se mantendo motivado por sua vingança. Não queria revelar sua vulnerabilidade e causar pena nela; porém, tudo o que viu em seu rosto foi solidariedade e empatia, como se a mulher enxergasse mais do que ele transparecesse.

Jean também admitiu suas próprias dores, o medo de nunca recuperar sua memória e a ânsia de descobrir sobre sua família, amigos... e outros tipos de laço.

Sirius entendeu muito bem o que ela quis dizer com "outros tipos de laço" e a ideia não lhe agradava: ela ter alguém, um namorado ou algo mais à espera. O Maroto, finalmente, havia admitido para si que estava apaixonado pela bruxa. Ele não a desejava apenas para sexo; via muito além de seu belo rosto e corpo; enxergava sua ternura, admirava sua inteligência e sua inocência o cativava. Ele queria protegê-la de qualquer ameaça e faria qualquer coisa para vê-la bem. Porém, lutava contra aquele sentimento, pois o assustava a intensidade com que estava se alastrando dentro dele. Além disso, o que tinha a oferecer para ela a não ser uma vida de fugas?

Seu plano de acabar com a raça de Pedro Pettigrew e, depois, enviá-la para Alvo Dumbledore, caso ela não recuperasse suas lembranças, ainda estava de pé. Apesar dessa resolução, enfrentava um dilema interno: por um lado, deveria fazer de tudo para ajudar a jovem a se recordar de quem era; por outro, evitava qualquer possibilidade que a levasse nessa direção. Tanto que desistiu de ficar com a varinha dela somente para si, pois ainda compartilhavam o artefato. Jean ofereceu entregar sua varinha a Sirius, para ela solicitar outra na Olivaras, loja que descobriu vender esse tipo de objeto mágico ao ler a fachada em uma de suas idas e vindas no Beco Diagonal. Black declarou que não era necessário; ele não precisaria do artefato na Escola, até porque estaria em sua forma animaga e não poderia chamar muita atenção sobre si.

A verdade é que Sirius temia que Garrick Olivaras identificasse a bruxa, pois o lojista tinha uma memória invejável de cada criança mágica que havia atendido e era provável que Jean havia adquirido sua varinha com ele. É claro que o Maroto não contou a ela que o fabricante de varinhas tinha essa habilidade.

Black se sentiu mal ao tirar essa possibilidade dela, mas procurou se justificar ao dizer para si mesmo que a estava protegendo de sair por aí e enfrentar os mesmos perigos de antes e ele não estar por perto para defendê-la, já que estaria focado em seu objetivo. Além disso, ninguém até aquele momento havia declarado o sumiço da bruxa.

Não houve nenhum anúncio sobre Jean na seção de desaparecidos do Profeta Diário, desde a edição da fuga dele. Haviam vasculhado e continuavam buscando nos exemplares que ela adquiria. Era estranho ninguém a procurar, pelo menos não pelo jornal, o que seria o meio mais rápido e eficiente.

- Será que não é para me colocar em perigo? – ela o questionou um dia – Ou se colocarem em perigo?

- Pode ser – ele assentiu sem muita certeza

- Ou talvez eu não tenha ninguém me esperando – ela suspirou – Talvez eu seja mesma sozinha

Nessas horas, Sirius tinha vontade de acolhê-la em seus braços e confortá-la até que se sentisse bem, mas se continha. Ao mesmo tempo, torcia para que fosse verdade, que ela não tivesse mais ninguém no mundo.

Mesmo com a consciência pesada de tal pensamento egoísta, ele desfrutava da companhia de Jean e de sua amizade. Seu corpo ainda gritava pelo dela, mas estava conseguindo reprimir o desejo intenso para não a assustar e estragar o que estavam construindo juntos. Porém, ele não resistia com seus flertes, ainda que em um tom de brincadeira. Notava que a bruxa também ansiava por ele, pois tremia só de fitá-la ou flertar com ela. Se havia algum sentimento por parte da mulher além de atração física, aí não saberia dizer. Contudo, viveria o que fosse com Jean se houvesse oportunidade. Resistiria aos próprios impulsos de se declarar, mas se ela lhe desse carta branca, mandaria seus escrúpulos para o inferno.

Havia chegado o último dia de agosto e, na manhã seguinte, os alunos de Hogwarts embarcariam na Estação 9 , dentre eles Harry... e o menino Weasley com Pedro a tiracolo. Mesmo que chegassem apenas à noite, Sirius tinha que estar na Escola já bem cedo para explorar o terreno, o melhor local para se esconder e aguardar a primeira oportunidade que tivesse de apanhar o rato. Estaria à espreita para a chegada dos estudantes e se conseguiria localizar o "dono" de Rabicho entre eles.

Só que Sirius não queria deixar Jean, não apenas por sua segurança, mas por sua companhia. E ela tampouco parecia satisfeita que ele fosse.

- Você tem certeza disso? - ela lhe perguntou em mais de uma ocasião.

- É o único jeito – ele deu essa mesma resposta.

Sim, estava decidido a cumprir sua vingança; nem ela o faria mudar de ideia. Seu consolo era que retomaria pelo menos uma vez por semana ao chalé para checar como ela estava e se reabastecer de alimentos.

Já que teria que ir, ao menos, passaria a última noite com ela desfrutando de uma cerveja amanteigada no Três Vassouras, lugar que muito frequentou com seus amigos na juventude. Foi o que propôs a Jean, que protestou e deu sua opinião de "ser imprudente" mesmo com ele na forma animaga, mas, no fim, concordou.

Sirius insistiu também para que a bruxa comprasse um vestido para a ocasião, já que ela não adquiriu trajes no Beco para sair, apenas roupas do dia a dia. A moça era bastante econômica, especialmente com o dinheiro dele, e quase nada gastava, apenas no necessário, como alimentos e os itens de higiene, à medida que iam os consumindo. Porém, o Maroto declarou que por ser uma noite especial, deveriam aproveitá-la com estilo.

Apesar dos seus protestos, Jean se deixou convencer outra vez e comprou a vestimenta em uma loja do Vilarejo. A princípio, não queria aquele vestido tão chamativo e provocante, além do preço mais dispendioso, porém, a dona da loja foi tão convincente que a bruxa não conseguiu se negar. O que a preocupava era o que Sirius pensaria dela se a visse metida naquela roupa. Por mais que ele deixasse claro que não era um encontro, apenas uma noite de amigos e uma pequena despedida de alguns dias, o clima e a tensão sexual entre eles estariam presentes.

Ainda assim, estava satisfeita por tê-lo impressionado a ponto de fazê-lo emudecer e intensificar aquele olhar predatório dele. A bruxa também o contemplou: ele usava uma camisa azul celeste com calças azul-marinho e sapatos pretos. Estava um gato! E os braços nus revelavam algumas de suas tatuagens que a deixavam louca. Embora ele não pudesse se mostrar daquela forma, a breve visão que Jean teve foi o suficiente para quase fazê-la suspirar.

Jean tocou na cabeça do cão e aparatou-os na porta do Três Vassouras. O local estava vazio ainda, exceto pela estalajadeira e dois atendentes (um rapaz e uma moça). A bruxa estranhou, pois de dia o estabelecimento estava sempre lotado à hora do almoço; concluiu que se encheria de clientes mais tarde.

- Seja bem-vinda, Senhorita Evans – declarou Madame Rosmerta ao ver a bruxa entrando. Jean ainda estranhava ser chamada por aquele sobrenome – E quem é esse seu amiguinho?

- Meu cachorro de estimação – respondeu Jean – Ele pode entrar comigo?

- Ele é manso?

- Sim, é – Jean acariciou a cabeça de Sirius que fez um uivo baixinho – Não vai causar problema.

- Posso? - a mulher estendeu a mão para o cachorro que já se adiantou em receber a carícia

- Pode - Jean revirou os olhos para a atitude descarada do animago

- Nossa, ele é uma graça – Rosmerta coçou as orelhas de Sirius. Jean não sabia se ria do jeito pedinte dele ou se o repreendia – Qual é o nome dele?

– Er… Almofadinhas.

- Como? - a mulher ficou em choque

- Almofadinhas – repetiu intrigada – Algum problema?

- Não… é que… conheci uma pessoa que tinha esse apelido. Er... pelo menos eu escutava os amigos dele o chamando assim quando vinham aqui – olhou para Jean – Infelizmente, ele se voltou para o lado das trevas. - Rosmerta fechou o rosto enquanto Jean fitou Sirius com compreensão. Este murchou as orelhas e a cabeça – Enfim, seu cachorro não tem culpa do homem com esse apelido ser um malvado. É um animal inocente – ela se voltou para o animago e afagou-o com duas mãos. – E um fofo. Não é, Almofadinhas? - Sirius aceitou as carícias, mas permaneceu com a cabeça baixa. A bruxa os levou até a uma mesa a um canto. Jean se acomodou na cadeira enquanto Sirius se sentava diante dela nas patas traseiras – O que você vai querer?

- Duas cervejas amanteigadas – Rosmerta olhou para ela em dúvida. Jean sorriu já com uma resposta na ponta da língua – Almofadinhas é um cachorro com um gosto peculiar

- Imagino que sim e com esse tamanho. – riu – Algo para comer?

- Por enquanto não, mas vou escolher. - Jean olhou ao redor – Me desculpe, mas fica vazio a essa hora?

- Na verdade, costuma não ter mais nenhum lugar. Mas por causa de Sirius Black estou tendo problemas aqui. - a mulher não conseguiu reprimir a raiva na voz – Por causa dele a maioria dos meus clientes se afastou.

- Por quê? Estão achando que ele pode aparecer aqui e atacar todo mundo? - Jean não conteve uma leve irritação por Sirius. O Maroto balançou o rabo ao perceber – Não tem lógica alguma.

- E desde quando um louco age com lógica? – bufou a mulher – Mas não. Ele não vem pra cá, pelo que dizem. Mas num lugar bem próximo. Soube que ele pretende ir para Hogwarts... se já não está lá

- É mesmo? Quem disse? - Jean se fez de indiferente. Sirius tensionou o corpo – Pode ser um boato.

- Um auror esteve aqui em Hogmeade e avisou a todos os lojistas e moradores.

- Os aurores estão patrulhando a Vila?

- Há uma ronda só por precaução até as aulas da Escola começarem, mas não são os aurores. – suspirou – Antes fossem ele, mas… - Rosmerta se interrompeu ao ver um grupo de quatro pessoas, composto de um casal e duas crianças entrando no estabelecimento – Ah, desculpe, vou ter que atendê-los. Depois conversamos

- Sem problema – assentiu Jean. Assim que a estalajadeira se afastou para atender a família, a bruxa sussurrou para o animago – Você está ciente do quanto vai ter que ser cuidadoso, não?

Sirius mexeu o rabo para cima e para baixo como para afirmar.

- Tem certeza de que ninguém, exceto Pedro, Remo e eu, sabe que você é um animago?

O maroto repetiu o movimento.

- E Madame Rosmerta? Ela sabe do seu apelido.

Sirius balançou o rabo para os lados.

- Como será que descobriram dos seus planos para Hogwarts?

Almofadinahs fez um movimento na coluna como quem diz "Não faço a menor ideia"

- Acho que você deveria desistir de ir pra lá amanhã.

O animago soltou um rosnado baixo e curto.

- Pelo menos, espere uns dias. Se não virem você lá, talvez se convençam que foi um palpite errado e não fiquem na escola e nem aqui na Vila.

De novo, o Maroto rosnou e depois ganiu. Os quatro membros da família olharam em sua direção

- Está bem, está bem! Mas fique quieto – a bruxa suspirou – Você é mais teimoso do que uma mula. Na verdade, sua forma animaga devia ser essa.

Em resposta, Sirius latiu em diversão para ela e avançou em seu colo

- Sir… Almofadinhas, não! - gemeu a jovem e afastou as patas do cão. Olhou para a bainha da roupa – Veja só! Você sujou meu vestido! - porém, o Maroto pôs a língua para fora e cutucou as pernas da bruxa com o focinho, fazendo-lhe cócegas – Deus, não...- ela acabou rindo – Pare com isso! - quanto mais ela pedia para ele parar, mais o Maroto cutucava suas pernas, até que ele as lambeu e tentou meter a língua no meio. Jean o empurrou com força – Ah, não! Agora você está sendo safado!

Sirius se deteve, mas continuou a fita-la divertido. Fez uma expressão de pidão que Jean não resistiu e acabou por acariciar sua cabeça. Ele encostou a cabeça nos joelhos dela e ficou quieto.

- O que eu faço com você, hein, Almofadinhas?

Com frequência, Sirius se transformava e brincava com Jean como se ele fosse um cachorro de verdade. Por mais que soubesse que era o bruxo, Jean ficava muito mais à vontade com ele em sua forma animal e permitia-se tocá-lo e até abraçá-lo. Não sabia se atiçava mais o desejo no homem, porém, não resistia em fazê-lo. Talvez fosse uma maneira que ele encontrou de consolá-la e lhe dar carinho e, ao mesmo tempo, recebê-los também, sem que ambos se sentissem constrangidos.

Madame Rosmerta se aproximou e entregou as cervejas. Jean apanhou uma caneca e colocou-a no chão para seu amigo. Ele enfiou a cara na jarra se deliciando como uma criança; ambas as mulheres riram.

Súbito, um clima frio se instalou no estabelecimento e as risadas das bruxas cessaram, bem como a energia do cachorro. Jean sentiu uma opressão no peito e fitou a estalajadeira cuja expressão risonha também se desfez. Quanto a Sirius, ele congelou onde estava.

Uma névoa estranha penetrou no estabelecimento e, no meio dela, cinco figuras de formas humanoides, mas nada parecendo humanas, adentraram. Eram altas e esticadas, cobertas por mantos encapuzados e escuros de pano preto, longo e rasgado. Respiravam o ar com uma lentidão enervante, como se sugassem tudo ao redor, inclusive o ar dos pulmões de quem estava dentro. E a alegria.

Sirius soltou um ganido alto e escondeu-se debaixo da mesa; as crianças que acompanhavam o casal se agarraram aos pais e começaram a chorar

- O que… que… - Jean se sentiu sufocar – Que coisas são essas?

- Dementadores – respondeu Rosmerta – Estão atrás de Sirius Black.

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Pois é, gente! E agora? Sirius tá lascado! Bem, veremos que ele e a Hermione se saem dessa situação. E no próximo capítulo tem beijo! E vai ser aquele beijo!

Espero que tenham gostado! Até a próxima!