Peço desculpas pelo atraso, mas não deu para postar na segunda. Substituí meu chefe nas semanas anteriores, então não deu para escrever novos capítulos a tempo.
Enfim, curtam o capítulo... e se apaixonem!
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Capítulo 13 - Entre pesadelos e beijos
Just a kiss on your lips in the moonlight
Apenas um beijo em seus lábios ao luar
Just a touch of the fire burning so bright
Apenas um toque do fogo ardente
No, I don't want to mess this thing up
Não, eu não quero confundir as coisas
I don't want push too far
Eu não quero forçar demais
Just a shot in the dark that you just might
Apenas um tiro no escuro e você poderá
Be the one I've been waiting for my whole life
Ser o único que eu estive esperando por toda minha vida
So, baby, I'm alright
Então, querido, eu estou bem
With just a kiss goodnight
Com apenas um beijo de boa noite
(Just a kiss, "Apenas um beijo", Lady Antebellum)
O frio na espinha de Jean aumentou com a resposta de Rosmerta. Sirius já havia lhe contado sobre os dementadores e o que faziam em Azkaban. Porém, era diferente vê-los ali e sentir na pele o efeito que causavam. Eram mais aterrorizantes do que ela havia imaginado, como espectros que deslizavam pelo local e sugavam toda sua capacidade de se sentir vivo. A bruxa teve até a sensação de sua vida estar por um fio. Black estava enroscado em suas pernas tremendo e ganindo; ela nunca o viu assim, nem mesmo quando ele viu um cartaz de si mesmo sendo procurado ao entrarem juntos pela primeira vez no Caldeirão Furado.
- Sirius Black não está aqui – declarou Rosmerta com um fio de raiva na voz, mas suas mãos se seguravam na borda da mesa em que Jean estava sentada – Vão agora.
Os dementadores ainda vagaram pelo estabelecimento, olharam para o balcão – os atendentes ficaram parados, quase sem respirar, com a moça agarrando a manga da veste de seu colega – e um foi para cima, onde ficavam os quartos de hóspedes, pois o restaurante também era uma estalagem. Os membros da família que se encontravam na outra mesa se abraçavam, encolhidos pelo escrutínio de uma das criaturas.
- Saiam agora ou vou chamar uma auror! - gritou Rosmerta
Jean segurou o pescoço de Sirius, para protegê-lo e buscar segurança. Súbito, um dos dementadores se aproximou dela. Ela deu um grito, soltou o animago e encolheu-se na cadeira. O capuz escondia a face da criatura, mas era assustador do mesmo jeito, dando asas à imaginação a respeito do que havia por baixo. Mãos pálidas, longas e decompostas se aproximaram do rosto da bruxa e sua cabeça começou a rodar enquanto seu corpo tremia.
Ela gritava como nunca fez na vida. Todo seu corpo era atravessado por dores lancinantes.
- É… umaaa cópiaaa! - ela berrou
- Você está mentindo, sua sangue ruim imunda, sei que está!
Jean escutou a voz de Rosmerta se elevar e os latidos de Sirius, mas eram como ecos. O animago se afastou, ela quis chamá-lo de volta por temer por ele e por querer proteção, mas outra cena veio à mente.
Ela chorava para a floresta e sua imensidão. Ron havia ido embora. Ron a havia deixado. A ela e… outra pessoa. Chamou por ele mais algumas vezes, mas ele não retornou.
A bruxa teve a impressão de cair no chão, mas nem chegou a sentir dor, imersa naquelas cenas.
- Não consegui! - ela chorava nos braços de alguém. - Falhei com eles, Ron. Meus pais não se lembram de mim! Eles nunca mais vão se lembrar! Eu os perdi!
Jean sentiu lambidas em seu rosto. Sirius? Sim, era ele. Mas duraram pouco porque ele se afastou latindo para alguma coisa.
Como pôde fazer isso comigo? - um rapaz ruivo estava diante dela. Lágrimas deslizavam pelo rosto dele contorcido pela raiva. Ele lhe mostrava a página de um jornal - Com meu próprio irmão? Como você pôde?
Uma luz incidiu sobre o local e começou a dissipar a névoa. Um fio de consciência começou a puxá-la, mas uma última cena assomou. Parecia uma continuação da primeira.
- Não se esqueça de deixar um pedacinho dela pra mim bem vivo, Senhora Lestrange – uma voz masculina, áspera e grossa ressoou no meio de mais uma sessão de dores lancinantes. - Mal posso esperar para mordê-la todinha! – sua voz assumiu um tom lascivo – E fazer muitas outras coisas deliciosas.
Um pânico se instalou nela, um desespero, porém, foi interrompido quando aquela luz inundou de vez a estalagem. Do chão, Jean viu algo parecido como um animal prateado correr, porém, não o enxergou direito, apenas sua parte inferior: cascos. Algo bloqueou sua visão, o focinho de Siris. Ele tornou a lamber seu rosto, até que sua consciência voltasse de vez. Ela se sentou devagar no chão se apoiando nele e permitiu que ele se aconchegasse em seu peito, entre suas pernas estiradas, o calor dele e sua presença a reconfortaram. A luz sumiu, bem como a forma não identificada do animal que entrou ali; olhou ao redor e tudo estava normal; os dementadores haviam desaparecido. Focou sua visão para o alto e deparou-se com o rosto preocupado de Madame Rosmerta.
- Senhorita Evans, está se sentindo bem? - Sirius saiu do colo de Jean para que Rosmerta a ajudasse a se levantar aos poucos para conduzi-la de volta à cadeira. – Sente-se aqui, querida. Dói alguma parte? – a estalajadeira procurou ver se havia algum machucado no rosto dela. Jean balançou a cabeça. – Tem certeza? Você caiu.
- N... não tem nada – Jean se apalpou para se certificar e tocou a própria cabeça. – Não... não sinto… sinto nada.
- Pobrezinha, está tremendo. – ela colocou a mão sobre os ombros de Jean – Inspire o ar e solte devagar – a moça o fez. Rosmerta acenou satisfeita – Isso – ela chamou o rapaz a seu serviço que se aproximou – Providencie um brownie e uma caneca de chocolate quente
- O que… o que aconteceu? - perguntou Jean assim que o atendente se afastou Ela voltou a si, embora estivesse um pouco confusa. Pegou seus óculos das mãos de Rosmerta que haviam caído. Sirius colocou as patas sobre seus joelhos, com uma expressão dolorida no rosto – E os dementadores?
- Ela está bem, Rosmerta? - uma voz masculina se aproximou junto com uns passos
- Um pouco abalada, mas vai ficar bem. – a estalajadeira se voltou para o interlocutor – Obrigada, Gray. – tornou a se dirigir a Jean – Eles foram embora, querida. Eu já volto.
Rosmerta se dirigiu para a família da outra mesa, a qual a outra atendente tentava acalmar. As crianças choravam enquanto seus pais ostentavam expressões zangadas e reclamavam sobre os dementadores; haviam se levantado dos lugares. Jean desviou a atenção para o homem que havia se dirigido à estalajadeira; estava parado ao lado de sua mesa: era magro, robusto, alto, de cabelos brancos e olhos castanhos e trajava uma veste marrom, um tipo de uniforme. O sujeito lhe sorriu:
- Boa noite, como se sente?
- Já estive melhor – declarou a bruxa ainda um pouco tonta, mas tentando se firmar enquanto afagava a cabeça de Sirius – Me desculpe… quem é o senhor?
- Adam Gray, a seu dispor – estendeu a mão que Jean apertou hesitante – Sou um auror a serviço do Ministério. Estou aqui para ajudar os dementadores na captura de Sirius Black.
- Aham... certo – ela soltou a mão dele rápido. O corpo de Sirius se tensionou – O senhor... até pode ser... que esteja atrás dele – ela apertou o maxilar – Quanto a eles… os dementadores... me pareceu que... que estavam mais interessados... em assustar pessoas e sugar suas energias.
- Peço desculpas por isso, senhorita...
- Er... Marlene Evans
- Senhorita Evans – ele assentiu – Os dementadores são guardas de Azkaban, mas foram criados por um bruxo maligno com o propósito inicial de sugar as boas emoções das pessoas. Só depois que foram... por assim dizer... "domesticados" a guardarem os prisioneiros que para lá são enviados. E eles querem Sirius Black de volta. O meu trabalho aqui também é lembrá-los disso.
- Parece que se esqueceram rapidinho ao me verem.
- Acho que o dementador que te atacou queria descobrir se você sabia alguma coisa a respeito de Sirius Black.
- Eles podem... ler pensamentos?
- Não, mas podem te induzir a revelar o que querem. Primeiro, sugam as emoções da pessoa até deixá-la fraca e suscetível e então a interrogam.
- Aquelas coisas falam? – ela ficou em dúvida. Sirius até disse que sim, embora admitisse que nunca havia escutado palavra alguma deles
- Muito pouco, e é quase como um sussurro. Pelo que percebi, o dementador pretendia te interrogar, mas pareceu mais interessado nas emoções que sugava de você
- Por que de mim? – sua voz estava vacilante, mas achava que o auror não ia detectar seu medo de Sirius e ela serem descobertos, devido ao que passou com o dementador. Sirius rosnou para Adam, embora fosse baixo. Jean passou a mão sobre suas costas para acalmá-lo – Ele... achou que eu estava de conluio com o Black?
- Não creio. Tem mais a ver com experiências traumáticas. Quanto mais uma pessoa tem lembranças dolorosas, mais interessante ela se torna para um dementador – ele a fitou com ar especulativo – E o que estava sobre você encontrou algo que o fez se exceder.
Jean pensou em retrucar, mas se calou. Ainda estavas perplexa pelo que aconteceu e pelas recordações perturbadoras que o dementador fez surgir em sua mente, embora bastante confusas e fragmentadas. Madame Rosmerta se aproximou mais uma vez e serviu-lhe dois brownies, além de uma caneca com chocolate quente.
- Tome, querida, para ajudá-la a se recuperar. Trouxe um para seu cachorro. É por conta da estalagem.
- Obrigada – Jean não se fez de rogada e beliscou um pedaço de seu brownie e entregou o outro para Sirius que o agarrou com a boca e colocou-o no chão, arrancando uma parte. Ele parecia um pouco trêmulo como ela, embora mais firme. A moça bebericou um gole do chocolate e reparou que a família da outra mesa não estava mais presente – Os outros clientes foram embora?
- Foram – Rosmerta fez uma expressão azeda e colocou as mãos na cintura – Fiz de tudo pra convencê-los a ficar, mas não quiseram saber. E não posso culpá-los… as crianças vão ter pesadelos com aqueles monstros. Só espero que os poucos hóspedes que tenho não saiam correndo também. - ela fitou Adam com uma carranca – Isso não pode acontecer mais, Gray! É a segunda vez em menos de duas semanas! Se aqueles sanguessugas não acharam o Sirius Black até agora na minha estalagem, não acham mais. Então pode pedir que eles parem de vir aqui?
- Lamento, Rosmerta, mas são ordens do Fudge. Ele quer de qualquer maneira encontrar Black.
- Pois até lá vou ter que fechar minha estalagem pelo jeito! - ela jogou os braços para o alto – Eles estiveram aqui uma vez antes e bastou para se espalhar que viriam de novo. Minha sorte é que o movimento não caiu no restaurante de dia. Ainda bem que essas coisas só vieram à noite. Mas se continuar assim, até os clientes de mais cedo vão sumir.
- Se serve de consolo, você não é a única que tem reclamado. Outros lojistas também – ele suspirou – Converse com Fudge. Talvez ele reconsidere.
- Pois vou mesmo. Amanhã vou mandar uma coruja – ela suavizou a expressão do rosto – Desculpe, não quis me zangar com você. Sei que só está cumprindo ordens – passou a mão por um dos cachos loiros – Ainda bem que você chegou na hora e espantou aquelas coisas.
- Que feitiço o senhor usou para afugentá-los? - indagou Jean. Sirius estava tenso junto aos seus joelhos, claramente incomodado com a presença do auror – Tive a impressão de ver uma luz prateada.
- Usei o Feitiço do Patrono. É a única magia conhecida que afeta os dementadores.
Antes que a bruxa perguntasse sobre o feitiço e pedisse uma demonstração, Almofadinhas puxou a barra do seu vestido com os dentes. Encarou-o e entendeu o que ele queria.
- Eu… adoraria conversar mais, mas vou ter que ir. Meu cachorro está muito assustado.
- Pobrezinho! - Rosmerta se abaixou para acariciar a cabeça do animago – Ele estava tremendo de medo dos dementadores. Mas quando um deles se aproximou de você e começou te afetar, ele tentou afastar a criatura de todos os jeitos. Até puxou as vestes, mas o monstro nem deu mostras de estar incomodado, aliás, nem pareceu notá-lo. Só que seu cachorro não desistiu e ainda tentava te animar - ela se ergueu e sorriu para Jean – Você tem um animal muito corajoso e leal.
- Bom saber – Jean sorriu para Sirius. Não que duvidasse dele, mas se inteirar do que ele fez por ela, mesmo com tudo que passou por causa dos dementadores, fez seu coração palpitar. Engoliu em seco com o olhar caloroso do animago. Ela se ergueu – Bem, eu me vou.
- Mas você nem terminou o chocolate!
- Eu... não estou com mais vontade. Desculpe.
- Tudo bem. Mas você está melhor?
- Sim, obrigada.
- Quer que eu a acompanhe até sua casa, Senhorita Evans? - indagou Adam
- Não, obrigada. Vou aparatar junto com meu cachorro
- Espero que você não deixe de frequentar meu estabelecimento por causa daqueles monstros. - tornou Rosmerta
- Pelo menos de dia não. - ela se dirigiu ao auror – Foi um prazer conhecê-lo, Mr. Gray.
- Igualmente, Senhorita Evans.
Ela se despediu dos dois, saiu do Três Vassouras com Sirius e aparataram de volta ao chalé. O bruxo nem esperou entrarem para voltar à sua forma; pegou nos ombros de Jean com firmeza e virou-a com cuidado. Fitou-a com os olhos arregalados e a preocupação estampada no rosto:
- Jean, você está bem?
- Sim, Sirius, estou bem – engoliu em seco pela intensidade do olhar dele e pelo modo como segurava seus ombros - Não se preocupe.
- Como não vou me preocupar? Aqueles malditos dementadores foram pra cima de você e não pude fazer nada!
- E o que você poderia ter feito? Voltar à sua forma e lutar contra eles sozinho? – o bruxo abriu a boca para retrucar, mas ela colocou a mão em dos seus braços – Você não poderia ter feito nada. A única coisa que teria conseguido era fazê-los nos atacar mais já que teria se revelado. Eles te apanhariam e te levariam de volta para Azkaban.
-Teria sido bem feito para mim! Foi por minha culpa que você foi atacada por aqueles abutres! Você me disse que era uma imprudência sairmos com toda a Inglaterra à minha procura e eu insisti – ele suspirou – Você tem razão. Minha forma animaga devia ser de uma mula.
- Ei, Almofadinhas, pare com isso. - ela sorriu e tocou no rosto dele. Percebeu seu erro ao escutar o arquejo na respiração do Maroto, mas não afastou a mão – Não tinha como adivinhar que os dementadores viriam pra cá. Eu estou aqui e bem.
- Não graças a mim, mas ao tal auror Gray. - declarou num tom amargo.
- Aliás, temos que conversar sobre isso – ela retirou a mão do rosto dele e olhou as redondezas – Mas não aqui fora.
Sirius a mirou por alguns segundos, mas assentiu e afastou os braços, embora a contragosto. Tocar na pele dela, sentir seu calor e cheiro tão próximos era como um convite tentador. Porém, não se aproveitaria de sua vulnerabilidade. Entrou no chalé depois dela.
Após iluminar a sala, Jean tirou os óculos, voltou seus cabelos e sobrancelhas na sua cor natural e acomodou-se no sofá. Ainda estava tensa e perturbada pelo efeito causado pelos dementadores e os fragmentos de memória que vieram à sua mente. Tentava não transparecer em seu rosto, para não deixar Sirius mais aflito e culpado. Quando estivesse deitada, se permitiria analisar tais recordações. Contudo, Black havia notado; ele suspeitava que as criaturas a haviam afetado mais do que ela queria admitir, porém, escolheu respeitar seu silêncio e apenas se sentou ao seu lado.
- Aquele... auror... deu a entender que vai ficar aqui por um bom tempo junto com os dementadores – Jean disse para Sirius, mas não o fitou diretamente. Entrelaçou as mãos trêmulas. Sirius bufou – Pelo menos até sua captura – por fim, encarou-o – Percebe o perigo que você corre?
- Não há perigo. – ele revirou os olhos – Amanhã vou pra Hogwarts. Só virei aqui uma vez por semana. Lembra?
- Sirius, os dementadores devem ir pra lá também. A própria Madame Rosmerta nos contou – ela suspirou – Mas como descobriram?
- Os dementadores devem ter me ouvido – ele suspirou – Talvez na minha fixação de pensar em Pedro eu tenha deixado escapar pra aonde iria enquanto dormia… ou quando falava comigo mesmo… Só pode ser.
- E você vai ter coragem de ir pra lá com uma horda dessas criaturas?
- Eles não me afetam tanto quando estou na minha forma animaga. Não te contei que eles mal me percebiam a maior parte do tempo por eu estar transformado? Foi por isso que consegui não enlouquecer lá… e depois fugir. Vou ficar transformado o tempo todo, Jean.
- Ainda acho que você não deveria ir. Sirius, você não percebe…?
- Eu vou, Jean – ele fechou o rosto – E nada vai me impedir. Nem auror Gray e nem esses viscosos – abriu um sorriso zombeteiro – Concordamos que sou uma mula. Não?
- E é mesmo – ela bufou. Sirius riu e a bruxa revirou os olhos – Está bem. Seja o que Merlin quiser!
- Não se preocupe, Sereia – ele assumiu um tom sério e fitou-a com calor. Jean sentiu o rosto esquentar – Vou ficar bem.
A mão dele foi para o coque da bruxa e soltou-o. Os cabelos dela caíram pelos ombros e ele apanhou um cacho. Jean se esqueceu de respirar por alguns segundos ao ver os olhos de Sirius escurecerem e intensificarem o brilho.
- Eu te disse o quanto você ficou linda com esse vestido? – ela assentiu, a respiração mal saindo. – E o quanto você é linda?
O olhar dele vagava por seus lábios. Ela estava paralisada e, de repente, viu-se desejando que ele se aproximasse. Sim, queria que ele a beijasse e estava quase virando o corpo por completo na direção dele. Súbito, o rosto do bruxo de suas recordações lhe veio à mente, bem como seu nome.
Ron.
Estremeceu e desviou o rosto antes que Sirius aproximasse o dele. Afastou-se do toque em seu cabelo
- Jean? – a voz dele continha um misto de preocupação e confusão
- Eu... eu preciso dormir, Sirius. – ela se levantou sem olhar para ele – Foram... foram muitas emoções.
Por alguns segundos, houve apenas o silêncio entre eles.
- Você está certa – Sirius também se ergueu. Sua voz estava em um tom um pouco mais baixo, como se reprimisse algo – Na verdade, houve emoções demais para os dementadores.
- Não tem graça
- Não, não tem – ele riu num tom amargo, mas depois seu semblante tornou a ficar sério – Mas sim, você precisa dormir, Jean. – ele se aproximou e olhou-a de novo. Por um minuto, ela pensou que fosse tentar lhe beijar, porém, ele apenas a mirou de frente. Mesmo assim, deixou-a sem ar. – Boa noite.
- B... boa noite
Ela disse em atraso quando ele já tinha lhe dado as costas.
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- Saiam daqui! Se afastem!
Jean acordou assustada. Alguém havia gritado e veio de dentro do chalé.
- Nãaao! Tiago! Lílian!
Era Sirius. Estava tendo algum tipo de pesadelo. E devia ser bastante perturbador para gritar daquele jeito.
Os dementadores. Eles o afetaram.
Por mais que o bruxo afirmasse que em sua forma animaga as criaturas não o influenciavam tanto e, mesmo que já não estivessem presentes, não significava que algum efeito não teriam sobre ele. O próprio havia admitido que tinha dificuldade para dormir por causa do medo que permaneceu daqueles seres e, no pouco que conseguia, tinha sonhos ruins. Porém, era a primeira vez que Jean o escutava gritar por causa de um pesadelo; ele nunca o fez no meio da noite, nem mesmo quando compartilharam o quarto na hospedaria do Beco Diagonal. O encontro com os dementadores devia tê-lo perturbado.
Ela mesma custou a dormir, ainda impressionada pelo aspecto daquelas entidades e do que lhe provocaram. E por tentar juntar os fragmentos de memórias que vieram à tona por conta do dementador que a rondou. Não conseguiu se lembrar de muita coisa, mas, o que pôde concatenar, forneceu-lhe conclusões, uma mais perturbadora do que a outra.
Havia sofrido algum tipo de tortura causada por uma mulher, a mesma do pesadelo que teve na hospedaria. E talvez fosse ela a responsável por sua cicatriz no braço, já que a chamava de "sangue-ruim."
Alguém a ameaçou de estupro enquanto era torturada. Se o sujeito conseguiu, aí não podia dizer. Pediu a Merlin e a todo Poder Superior que não, que houvesse escapado de tal sofrimento. Ou que nunca se lembrasse se havia mesmo ocorrido.
Aconteceu alguma coisa com seus pais. O que foi, ela não compreendeu muito bem. Veio algo relacionado à memória deles, de não se lembrarem dela. Será que também haviam sido torturados pela mesma mulher e não aguentaram a provação? O ato afetou a mente deles? Talvez explicasse o fato de ninguém ter colocado um anúncio de desaparecimento dela no Profeta Diário.
Agora o que mais lhe intrigava era a figura do homem que apareceu em três dessas lembranças.
Ron. Era esse o nome do homem.
E havia aquela primeira lembrança de quando Sirius lhe mostrou a foto do recorte com Pedro Pettigrew na forma animaga. A de estarem fazendo amor.
Quase todos os dias se recordava dessa cena, embora curta. Evocava uma sensação boa, de muito prazer. Não teve coragem de compartilhá-la com Sirius por ser muito íntima. E era um dos motivos pelos quais estava resistindo aos flertes dele. Porque não tinha certeza se ainda estava em um relacionamento com o homem que viu.
Ele a amava? Ela o amava? Pela lembrança, parecia que sim. E pela outra, a de confortá-la enquanto chorava pelos pais.
No entanto, as outras duas lembranças contradiziam essas. Na primeira, Jean estava em algum lugar, uma floresta, chamando por ele aos prantos, como se a houvesse abandonado. Na segunda, quem chorava era ele, mostrando um jornal para ela. Não fez nenhum sentido, mas pelo pouco que notou, Ron estava muito bravo. O que ela havia feito com ele?
Como pôde fazer isso comigo? Com meu próprio irmão? Como você pôde?
Ela o havia traído? E com o próprio irmão? Oh, Merlin, se fez isso, que espécie de mulher era?
A noite toda Jean havia se debatido com esses pensamentos e só foi dormir tarde da noite. No relógio da cômoda, viu que era uma da manhã. Havia dormido apenas uma hora e meia e acordado com os gritos de Sirius.
- Não! Não!
Jean não pensou duas vezes; ergueu-se, vestiu o robe e dirigiu-se ao quarto de Sirius; os gritos eram agonizantes e cortava sua alma saber que ele estava revivendo os sofrimentos pelos quais passou em Azkaban. E como ele deve ter sofrido! Muito mais do que quis lhe transparecer e mais do que ela podia imaginar. Com certeza, a amostra que a bruxa teve no Três Vassouras não devia ser nem um décimo do que o Maroto devia ter passado com aqueles dementadores, mesmo em sua forma canina.
Saiu do quarto, atravessou a sala e deparou-se com a porta do quarto do bruxo. Hesitou. Será que era uma boa ideia? O que ele pensaria dela se a visse em seu quarto? Outro grito de agonia varreu qualquer dúvida de sua mente. Além disso, devia a Sirius por tentar lhe defender do maldito dementador. Abriu a porta e entrou.
O cômodo estava escuro, a lua cheia o clareava parcialmente. Jean usou a varinha para iluminar todo o recinto e apenas relanceou o olhar; havia visto o recanto antes com detalhes quando veio junto com o dono do chalé para ver se alugava a habitação, porém, era primeira vez que entrava ali com Sirius instalado. Ele se retorcia em uma cama de casal, virava e revira-se enrolado em um cobertor.
- Nãooo!
Jean foi imediatamente para perto dele, tomando cuidado para não fazer muito barulho e acordá-lo de maneira brusca; pretendia fazê-lo com suavidade.
- Tiago! Lílian! Harry!
- Sirius – sussurrou e inclinou-se sobre ele – Sirius – porém, o bruxo não deu mostras de escutá-la e continuou a se revirar. Jean viu seu rosto contorcido e seu coração doeu por ele. Pôs a mão em seu ombro – Sirius. – elevou um pouco mais o tom
- Jean! Jean!
Ela recuou um pouco ao escutá-lo chamar seu nome. Será que estava sonhando com o que aconteceu no Três Vassouras? Então, ela se sentou na beira da cama e começou a balançá-lo.
- Sirius! Sirius!
Black se ergueu de uma vez, puxou o cobertor, sentou-se na cama e recuou para a cabeceira. Jean também recuou sobressaltada com sua reação, mas antes que lhe dissesse algo para tranquilizá-lo, Sirius a agarrou e puxou-a até ele. Ela deixou a varinha cair pelo movimento repentino.
- Jean? – os olhos dele se arregalaram ao ver a bruxa. Ele pareceu se recompor e ficou em silêncio por alguns segundos assim como ela. A mulher estava ofegante e trêmula, não apenas pela reação dele, mas pelos braços que a seguravam – Você... você está bem? - ela assentiu e inalou seu cheiro gostoso. Sirius ficou calado por mais alguns instantes. Ele piscou – Eu… eu estava tendo um pesadelo?
- S...sim – a resposta mal saiu dos lábios dela. Labaredas a incendiaram pelo contato com as mãos do homem em seus braços. Os olhos dele escureceram ao mirá-la. A respiração dele se ofegou assim como a dela – Eu…
As palavras de Jean morreram quando o rosto de Sirius se aproximou e os lábios dele tocaram os seus. O choque a paralisou e ela não conseguiu ter nenhuma reação, a não ser arfar. Sirius não fechou os olhos, tampouco ela; nenhum dos dois se afastou, como se aguardassem o próximo movimento um do outro. Mesmo aquele simples contato dos lábios produziu faíscas em seus corpos. Foi Sirius que deu continuidade tanto ao beijo como aquele calor escaldante que os envolvia. Ele fechou os olhos e deslizou os lábios de leve em sua boca; foi como sentir uma brasa quente. Sua pulsação acelerou tanto pelo fogo quanto ao perceber o corpo da bruxa reagir àquele simples toque. Jean se rendeu a ele e fechou os olhos; seu corpo tremia e esgueirou-se um pouco mais perto dele. Sirius a puxou mais e seus braços envolveram o tronco da mulher, alcançando sua cintura e costas; ambos suspiraram.
Quando a língua de Sirius mergulhou para dentro de sua boca, Jean gemeu. A mente do bruxo foi à loucura com aquela reação e às próprias sensações. Moveram as bocas um sobre o outro e Jean estendeu as mãos para o pescoço dele, puxando-o mais para si. Tudo o mais desapareceu para Sirius quanto mais aprofundavam àquele beijo; ele teve a impressão de que seu núcleo mágico acendia uma luz dentro dele. Ou melhor, era como se aquela luz viesse da bruxa em seus braços. Ele sentiu como se perdesse a própria noção de si e se fundisse a ela; não sabia onde ele começava e terminava ou onde ela começava e terminava; com Jean se passava o mesmo. Ambos estavam consumidos por dentro e era como se o tempo houvesse parado.
O fogo, a eletricidade e o desejo de união entre eles se tornaram insuportáveis, porque ambos queriam mais, e o beijo não era suficiente. Sem se conter, Sirius puxou Jean de uma vez para seu colo, interrompendo por um momento o contato entre suas línguas; ela foi sem pestanejar. Arfou ao sentir a ereção dele sobre suas nádegas, mas continuou aos beijos com ele.
As mãos de Sirius passearam por seu cabelo e depois por suas curvas enquanto continuavam a se beijar. Ele abandonou sua boca e atacou seu pescoço; ela estremeceu pelas mordidas suaves e os chupões que ele dava. Os gemidos de ambos e suas respirações aumentaram. Ele tornou a beijá-la, mas uma de suas mãos alcançou um seio de Jean e apalpou-o sobre sua vestimenta. Os sinos de alerta ecoaram na mente de Jean, que interrompeu o beijo e afastou-se de Sirius, empurrando seu peito.
- Não! - ela deslizou do colo dele e caiu sobre o colchão do outro lado
Sirius a fitou entre espantado e embevecido; ela também o estava; ambos se olhavam sem conseguir emitir qualquer palavra; apenas o som de suas respirações ofegantes cortava o silêncio; era como se tentassem entender o que haviam acabado de experimentar. Por fim, Sirius despertou daquele transe mútuo.
- Jean, eu… - ele estendeu a mão.
- Não – ela se afastou de repente e saiu da cama – Eu… eu tenho que ir.
Saiu do quarto dele, tonta, guiando-se apenas pelos objetos e contornos, abandonando sua varinha e a ele.
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Não me matem, gente! Nem matem a Hermione por fugir do Sirius. Lembrem-se de que ela está confusa com tudo o que está acontecendo e não tem certeza se está livre para ficar com o Sirius. Tem também a questão da situação instável dele por ser um fugitivo.
Ela vai resistir um pouco, mas em breve estará nos braços dele. Ainda vai rolar outro beijo entre eles antes disso. Tenham paciência, sim? Vai compensar um pouco a espera.
Comentem! Até a próxima!
