Nota da autora: Bem, aqui temos uma nova história :) Tem aquele clichê básico de separação do casal por anos e um reencontro com algumas surpresas – coisa que tem bastante por aqui, eu sei. Mas vai ser minha versão 😁 Vai ter capítulos curtos e sempre alternando entre o presente e o passado (para entender o que aconteceu com eles).
Comecei a pensar na história ouvindo uma canção extremamente triste do grupo Luna Sea chamada I for you. Se puderem, ouçam e leiam também a tradução. Fiquei dias pensando nela. O título é a adaptação de um dos versos do refrão, no caso "kokoro kara..." (achei melhor deixar em português porque soou bem) 😊❤️
Espero que gostem. Mandem um comentário dizendo o que acharam pra me incentivar a continuar postando! ❤️😘
De todo coração
Capítulo I: Presente – Parte I
De um camarote do prédio da Orquestra Filarmônica de Tokyo, Taisho Sesshoumaru olhava sem muito interesse os nomes num folder de apresentações musicais de diversas escolas do Japão, de quando em quando lançando um olhar para o relógio no pulso num claro sinal de que não queria estar ali como representante da empresa do pai.
A função era muito simples: selecionar um ou dois talentos musicais para serem patrocinados pela empresa e fazer contato com eles. O secretário ficaria encarregado de explicar valores, que tipo de patrocínio receberiam e redigir o contrato.
Depois ele iria jantar fora e voltaria para casa.
Jogou o folder em cima de uma mesinha, quase tocando a haste de uma taça de vinho tinto. Depois fechou os olhos e encostou-se na cadeira acolchoada, escutando ao longe mais uma chamada de apresentação.
Desta vez, era uma menina que iria se apresentar:
— E agora, com vocês, uma garota prodígio de apenas nove anos que aprendeu a tocar violino e a compor sozinha! – o mestre de cerimônias avisou – Com vocês, Nakashima Setsuna!
O nome não chamou a atenção de Sesshoumaru, muito menos o fato anunciado de ela ter aprendido a tocar violino e a compor sozinha, claros sinais de um enorme talento.
Mas a canção que ela começou a tocar era familiar.
Abriu os olhos e desencostou-se da cadeira, procurando a criança no palco. Dali, era perfeitamente possível enxergar uma menina com longo cabelo negro preso em um rabo de cavalo e olhos fechados enquanto se concentrava na execução das notas. Usava um longo vestido azul escuro sem mangas e sapatilhas pretas.
Procurou o sobrenome no folder, com informações básicas: nome, idade, uma foto pequena do rosto dela, onde estudava, o prêmio que ganhou numa competição artística na escola, as duas composições que iria executar. A primeira chamava-se Canção de Ninar e a segunda era Coração Inabalável.
E o sobrenome...
A primeira canção terminou e houve um momento muito breve de aplausos, para então ela começar a segunda.
Nakashima era um sobrenome que, apesar de comum, ele conhecia bem.
Era muito para ser apenas coincidência. Além de ter o mesmo sobrenome, ela era extremamente parecida com...
A segunda composição acabou e ela curvou-se numa reverência para o público, recebendo mais aplausos.
Depois, sem demonstrar qualquer tipo de emoção, saiu com cabeça erguida do palco.
Sem pensar duas vezes, Sesshoumaru levantou-se e saiu do camarote, apressando o passo para procurar pela área de saída do palco, onde ela possivelmente estaria.
— Sesshoumaru-sama... – o velho assistente baixinho que o pai designou para atendê-lo na empresa interceptou a passagem dele – O senhor já vai?
— Preciso ver uma pessoa. – ele fez sinal para que saísse da frente e o acompanhasse nas passadas largas.
O assistente, porém, por conta da idade, era mais lento e ele precisou parar, levemente impaciente.
— Desculpe, senhor. – o outro percebeu o que havia acontecido – Pensei que fosse ficar até o final.
— Jaken, preciso das informações sobre uma das candidatas. – ele adiantou o interesse dele disfarçadamente – É a violinista que acabou de se apresentar. Podemos ser financiadores dela.
— Oh... – o assistente tirou uma agenda de capa preta com várias anotações e post-its grudados nas margens – Conseguirei em alguns minutos o que me pede. Devo marcar uma entrevista também com os pais dela?
A palavra "pais" fez com que ele franzisse a testa em uma leve preocupação e focasse o olhar em um ponto aleatório do chão. Ela estava casada, não? O marido poderia ter adotado o sobrenome dela, por isso a menina...
Qual era o sentido de ter que conversar com os pais? Poderia simplesmente fazer isso em perfeita discrição em segredo. Ela não precisava saber.
— Sesshoumaru-sama? – Jaken perguntou de novo.
O olhar sério subiu do chão para o rosto do assistente.
— Não precisa falar com eles. – ele deu meia-volta para retornar ao camarote – Pode fazer todos os trâmites. Só me avise se deu tudo certo.
O assistente pareceu preocupado com a atitude, vendo-o entrar novamente na área mais reservada para ficar sozinho. O chefe antes parecia determinado a encontrar alguém e agora o interesse subitamente desapareceu.
Ajeitou então o nó da gravata e afastou-se para tomar as providências solicitadas.
o-o-o-o-o
Ao final de todas as apresentações, Sesshoumaru dirigiu-se sozinho para a saída do prédio ligado à garagem, pensando ainda na situação da violinista. Jaken conseguiria todas as informações e ele faria o possível para que ela tivesse um bom financiamento para continuar os estudos até alcançar a idade adulta.
Será que os pais estavam com dificuldades financeiras, por isso a menina precisava correr atrás do patrocínio?
Ao passar pela multidão, os olhos foram atraídos para um ponto próximo a uma saída que ligava à estação de trem e metrô.
A violinista estava parada na entrada, o estojo com o instrumento às costas, conversando com uma mulher de cabelo negro, um pouco curvada para ficar da mesma altura da criança. A menina parecia feliz e concordava com a cabeça várias vezes durante a conversa.
Parou. Olhou. Pensou.
Cinco segundos depois, os pés foram em passos largos e calculados na direção de mãe e filha, parando a pelo menos um metro da mulher, que estava de costas para ele usando um vestido florido de mangas curtas que ia até a altura dos joelhos, um lenço grande azul para cobrir os ombros e sapato social com um salto pequeno.
Era ela.
Os lábios moveram quase automaticamente para pronunciar o nome com uma voz grave:
— Rin.
Viu a mulher parar de rir e ficar paralisada por alguns segundos. A menina foi a primeira a encontrar o olhar dele, arregalando os olhos, aparentemente assustada.
Depois a mãe olhou por cima do ombro, até virar o corpo completamente para encará-lo.
Mais alguns segundos se passaram até ouvi-la falar:
— Sesshoumaru... – a voz saiu num tom sussurrado, quase como se não acreditasse que ele estava ali.
Os dois ficaram frente a frente pela primeira vez em dez anos e pareciam não ter a menor habilidade para conversar. Rin moveu os lábios duas vezes, ainda surpresa, até forçar um sorriso educado, colocando a mão em frente ao corpo em sinal de humildade:
— Há quanto tempo, Sesshoumaru.
Quebrando o olhar por um segundo para limpar a garganta, ele começou:
— Vi a apresentação da sua filha. Espero que ela consiga o patrocínio. – ele mantinha um tom cordial, decidindo esconder o fato de já haver decidido ajudar naquela parte. Ela não precisava saber.
Rin nada falou, apenas piscou os olhos suavemente como se estivesse absorvendo a informação.
Depois deu um sorriso e virou-se para falar com a menina:
— Setsuna, pode procurar Towa-chan, por favor? Podem ir na frente e me esperem na frente da estação.
A menina desviou o olhar assustado do estranho e olhou para a mãe, concordando brevemente.
— Já tô aqui! Encontrei meu celular! – outra menina se juntou ao grupo agitando o aparelho em mãos para demonstrar uma pequena vitória por ter encontrado algo que estava aparentemente perdido – Desculpe, mamãe.
A menina em questão, usando um macacão jeans com uma camisa listrada, tênis e cabelo longo prateado preso por uma liga, percebeu que tinha interrompido alguma coisa e olhou por cima do ombro para ver com quem a mãe estava falando.
E nada preparou Sesshoumaru para praticamente ver-se nos olhos e rosto da menina. Eram praticamente os olhos dele. E mesmas linhas do rosto. Até o cabelo era o mesmo.
— Vamos, mãe. – a garota Towa ignorou o desconhecido e puxou a mãe com força, tentando levá-la em direção da saída.
— Rin, espere! – Sesshoumaru estendeu o braço para segurar o dela.
Segundos antes, porém, a mão dele foi afastada com um tapa inesperado de Towa.
— Desculpe... – a menina falou numa voz educada, evitando encontrar o olhar dele – Vamos perder o trem pra nossa cidade.
Sem muita reação, Sesshoumaru viu Rin ir embora acompanhada das duas meninas, ambas da mesma altura e provavelmente mesma idade. Tinha ouvido na apresentação que Setsuna tinha nove anos, então elas...
... Gêmeas?, ele concluiu.
— Sesshoumaru-sama? – o assistente apareceu atrás dele, tirando-o do transe momentâneo em que se viu – Está tudo bem?
Olhou por cima do ombro para Jaken. Provavelmente ele estava ali há algum tempo sem reação e nem percebeu a presença do outro.
— Jaken. – ele começou num tom de ordem – Conseguiu os dados da menina?
— Consegui tudo. – ele tinha a agenda de novo em mãos – Vou passar para o departamento responsável amanhã.
— Preciso do telefone agora.
— Se quiser, eu posso ligar para...
— Preciso do número agora. – ele enfatizou a urgência na última palavra.
Jaken apenas se curvou brevemente e falou:
— Vou passar no carro durante o caminho.
o-o-o-o-o-o
Rin e as filhas chegaram em casa em um clima silencioso. Depois de saírem apressadas, elas pegaram o último trem da noite para Takasaki e comeram num pequeno restaurante perto de onde moravam para "comemorar" a apresentação de Setsuna, um jantar simples em que teve que forçar um sorriso de tranquilidade o tempo todo para tentar disfarçar a leve inquietação despertada após o encontro acidental com Sesshoumaru depois de tantos anos.
Entraram e tiraram os sapatos sem fazer maiores comentários sobre o que havia acontecido na saída do prédio da Filarmônica. As gêmeas também sequer fizeram perguntas ou pareciam curiosas.
Towa foi a primeira a subir do genkan e a entrar no pequeno apartamento habitado pelas três.
— Ah, tem mensagem na secretária! – ela avisou, correndo na direção do aparelho.
— Não mexa nisso agora, Towa-chan. – a voz gentil da mãe a parou antes de tocar no botão.
— Mas... – ela começou.
Rin entrou no apartamento dobrando cuidadosamente o lenço que havia jogado por cima dos ombros para proteger-se melhor do frio.
— Escovem os dentes e se arrumem para dormir. Amanhã tem escola cedo. – falou no mesmo tom.
Towa desistiu de tocar no aparelho, recolhendo a mão e olhou para Setsuna, que confirmou com a cabeça.
De mãos dadas, as duas foram para o quarto e deixaram a mãe sozinha na sala, finalmente dando um segundo para que Rin soltasse um profundo suspiro de cansaço.
Colocando o manto em cima da pequena mesa da sala, Rin arrumou um espaço para abrir o sofá-cama onde dormia. O único quarto da casa era das filhas e a ela restou apenas fazer da sala o próprio quarto.
Ficou sentada na beirada da cama, olhando de vez em quando para o aparelho que tinha uma luz vermelha piscando sem parar e dando outro suspiro, mais profundo que o anterior.
Esticou o braço às costas para alcançar o fecho do vestido e começar a deslizar lentamente o zíper para abri-lo, afastando as alças para tirar a peça.
Em poucos minutos, já estava com um roupão de algodão, aguardando as filhas saírem do banheiro para tomar um banho.
Algum tempo depois, elas apareciam novamente na sala já usando uma roupa limpa para dormir – Towa de pijama de calça curto em azul claro, Setsuna com um pijama de calça mais longa em tom lilás.
— Boa noite, mamãe. – elas falaram ao mesmo tempo, aproximando-se de Rin para beijar os lados do rosto.
— Boa noite, meus amores. – ela deu um abraço forte nelas e as viu irem para o quarto.
Esperou alguns segundos depois de ouvir a porta fechar e foi até o telefone. A luz vermelha continuava piscando e ela queria dormir sem qualquer coisa que a perturbasse.
Aproximou o dedo do botão que apagava tudo, parando a milímetros para decidir-se se era mesmo necessário ouvir a mensagem.
Já sabia quem tinha ligado e deixado um recado.
Balançou a cabeça e resolveu tirar o telefone da tomada para apagar aquela luz piscante, andando até o sofá-cama para deitar-se.
Olhou para o teto por vários minutos, lembrando-se da expressão dele ao ver Towa.
Era óbvio que ele tinha notado. Quando viu Setsuna, ele não devia ter percebido nada porque era praticamente uma cópia dela... Mas os traços de Towa eram inegáveis.
Será que ele realmente queria conversar?
Depois de tanto tempo, talvez ele só quisesse...
Pulou da cama e ligou novamente o telefone na tomada, apenas para, segundos depois, ele tocar, forçando-a a atender imediatamente para não acordar as filhas.
— Nakashima. – ela falou numa voz sem emoção que saiu quase como um sussurro.
— Quero conversar com você. – a voz de Sesshoumaru soou do outro lado sem perder tempo com demais cumprimentos – O mais cedo possível amanhã.
Rin levou alguns segundos para saber o que falar, olhando para um ponto da parede decorada com fotos dela e das filhas ao longo dos anos como se ajudasse a pensar.
— Amanhã eu trabalho o dia todo, mas podemos nos ver no meu horário de almoço.
Desta vez, quem ficou sem falar foi ele.
— Eu geralmente almoço num restaurante perto de onde trabalho. É uma escola...
— Em Takasaki. Eu vi a ficha da menina. Vou pedir para procurarem o endereço. Qual é o horário?
Ainda há tempo de desistir, ela pensou.
— O horário, Rin. – ele insistiu.
Não vai adiantar nada, o pensamento continuou.
— Você quer conversar sobre isso mesmo? – ela resolveu perguntar.
— Que pergunta é essa? É claro que quero conversar. – ele soava irritado na linha – E qual é o nome do local?
Talvez ele não queira nada depois, ela concluiu, fechando os olhos.
— Restaurante Eijutei. Meu almoço começa ao meio-dia e meia. – ela avisou.
— Ótimo. – ele aparentemente estava anotando o nome e o horário – Até amanhã.
Depois de alguns segundos, ela devolveu:
— Até amanhã, Sesshoumaru. Boa noite.
Não teve retorno dele, que simplesmente desligou depois de ela gentilmente desejar que tivesse uma noite melhor.
Colocou o telefone no gancho e voltou para a cama, deitando em posição fetal.
Apenas meia hora depois ela conseguiu adormecer.
