De todo coração

Passado

Parte X

—Rin-chan... – Mushin, o dono do restaurante, já estava esfregando os olhos de sono provocado pela bebida – Vou deixar por sua conta hoje, okay?

—Pode deixar, Mushin-sama! – ela fez o sinal de aceitação de um comando, rente à testa.

O homem bocejou sonoramente e coçou a barriga por cima do tecido do uniforme, caminhando então para o corredor que levava à casa nos fundos do restaurante.

A jovem esperou que o chefe desaparecesse antes de começar, de forma quase automática, o trabalho ao qual já estava acostumada nos últimos meses, arregaçando as mangas da camisa:

—Vamos lá! – ela começou a organizar: registro de vendas, registro de pedidos, conferiu valores, fechou o caixa, assinou o livro de notas, o ponto, pegou a marmita, desligou as luzes, fechou o restaurante.

A última parte da noite era a mais emocionante – ela precisava se apressar para chegar até a estação e pegar o último trem da noite. Andou o mais rápido que conseguia e só suspirou aliviada quando já estava dentro do trem. Nunca havia presenciado ou passado pela experiência, mas já sabia das histórias de colegas de classe que não conseguiam voltar para casa mesmo quando já estavam dentro da estação e não conseguiam embarcar a tempo, com as portas do vagão fechando na cara da pessoa.

Mas lá estava ela com o rosto encostado no vidro da janela – cantarolando e pensando em uma pessoa que não via há dois meses e meio até chegar em casa.

Como será que está Sesshoumaru-sama...?, foi o pensamento dela enquanto via os prédios iluminados de Tokyo passando rapidamente pela janela do vagão.

o-o-o-o-o

Ao alcançar a rua onde morava, já com passos lentos e cansada, ela foi mentalmente organizando o que precisava fazer durante o final de semana: limpar o apartamento, lavar e secar roupa, costurar o quimono de formatura, mandar um e-mail para Sesshoumaru, trabalhar meio expediente... Não tinha muitas novidades para contar a ao namorado, a não ser o fato de ter decidido não viajar para Kashima por falta de tempo. Também não tinha certeza se passaria o feriado da Golden Week com a família. A amiga Ayumi havia convidado para viajar para Kyoto para as festas e visita aos templos xintoístas, e estava seriamente pensando em aceitar o convite por achar mais divertido.

Estava tão perdida nos pensamentos que passou ao lado de alguém que estava esperando por ela na frente do prédio.

—Passei tanto tempo assim longe que nem me reconhece mais?

Rin estancou ao reconhecer a voz e olhou por cima do ombro, paralisando. Apenas segundos depois que conseguiu se recompor e murmurou:

—Sesshoumaru...sama...

Sesshoumaru estava com uma mochila, sinal que passaria a noite com ela. Ele estava ali na frente do prédio aguardando por ela. Os três meses não haviam se passado e ele havia retornado antes do esperado.

—Estou de volta. – ele finalmente falou.

No outro segundo, ele sentiu o corpo dela colidir com o dele na altura da cintura e ouviu um emocionado "bem-vindo" abafado pelas roupas dele.

o-o-o-o-o

Deitados no futon e cobertos apenas com um lençol, Rin estava de bruços e com as pernas balançando para cima enquanto folheava um livro de história da moda em chinês que Sesshoumaru trouxe de presente, os dois conversando sobre os dois meses e meio que passou em Hong Kong e como havia sido a experiência de trabalhar no lugar do pai:

Êêêê... – ela murmurou quando ele terminou de narrar a rotina de trabalho em três turnos – Não é à toa que seu pai ficou doente tendo que trabalhar tanto...

Sesshoumaru, deitado de costas ao lado dela, olhava para o teto na hora de perguntar:

— Você também não está trabalhando em três turnos? – ele virou o rosto para o lado e a viu ficar constrangida como se tivesse sido pega no ato – Estive de manhã aqui também. Achei que tivesse trocado de turno hoje e voltei à tarde. Se você não aparecesse à noite, eu ia procurar você em algum hotel perto da estação fechada.

— É... bem... hmmm... – ela uniu a ponta dos indicadores timidamente – É que Mushin-sama está pagando hora extra e eu preciso juntar dinheiro para as taxas da faculdade...

Um pequeno sorriso apareceu nos lábios dele ao entender o plano dela, deslizando suavemente os dedos pelas costas dela:

— Já está pensando no ano que vem. – não foi uma pergunta dele.

— Sim... – ela voltou a folhear o livro, as pernas ainda balançando no ar – Também vou começar a mandar meu currículo para ateliês. Talvez eu consiga algo mais próximo do que eu quero trabalhar e não precise mais ficar no restaurante...

Os dedos que deslizavam pela costa dela moveram quando ela fechou o livro para deitar-se de lado, ficando os dois parcialmente cara a cara, com parte do rosto estava escondido entre o lençol e os travesseiros, sendo possível para ele ver um sorriso dela.

— Eu estava morrendo de saudade. – ela confessou.

Os dedos pararam de acariciar a pele para que a mão espalmasse na lombar para puxá-la para mais perto dele, sem qualquer espaço separando os corpos.

— E eu não quero mais falar sobre a viagem. – ele sussurrou.

Rin deixou que o sorriso alargasse para aproximar o rosto do dele e beijá-lo. Ela também não queria falar sobre o tempo que ele ficou fora. Sesshoumaru estava de volta e parecia que tudo ficaria bem de novo.

o-o-o-o-o

Ginza era um bairro conhecido pelas lojas de marca visitado frequentemente por Rin na época que precisava de ideias para desenhar croquis para algum trabalho. Primeiro ia sozinha, depois passou a fazer o passeio com Sesshoumaru.

E, naquela manhã, lá estavam eles novamente andando de mãos dadas pelas ruas de Ginza depois do retorno de Sesshoumaru de Hong Kong, como faziam quando os dois ainda estavam estudando na mesma escola.

— ... E Ayumi-chan decidiu mudar pra Osaka e estudar culinária lá. – ela fez um biquinho infantil – Mas isso é só ano que vem, então vamos passear bastante juntas...

— Você pode visitá-la, não? – ele sugeriu ao conduzi-la à sorveteria favorita dela. O atendente os reconheceu imediatamente já que frequentemente passavam lá, e ele pediu o sorvete favorito dela.

Ao entregar sem dizer nada, ela deu um sorriso.

— Meu favorito... – ela gemeu de satisfação – Acho que da última vez que tomei um desses foi com você.

— Isso foi há meses, Rin. – ele parecia surpreso. Como não podiam andar pelas ruas comendo, eles decidiram ocupar um dos bancos próximos para ela poder saborear o sorvete preferido.

— Não tive mais tempo de vir a Ginza. Preferi ficar trabalhando no restaurante. – ela lamentou com um suspiro depois que voltavam a andar juntos – Mas eu gosto mais de vir aqui com você. Seria sem graça vir aqui sozinha...

Os dois passaram juntos na frente do teatro kabuki do bairro e, mais alguns metros depois, alcançaram ao shopping Ginza Six.

— Quero só ver as vitrines porque estou fazendo um vestido. – ela piscou para ele, andando de costas para encará-lo enquanto passavam pelas portas e subiam as escadas rolantes.

Quando ela chegou ao primeiro andar, virou-se novamente para andar agarrada ao braço dele.

— Minha mãe gosta bastante de vir aqui. – ele comentou repentinamente.

— Queria muito conhecê-la um dia... – ela deu um sorriso e sentiu o rosto ficar levemente quente – Imagino que seja uma mulher muito elegante.

Sesshoumaru nada comentou, optando por apenas acompanhar Rin pelos corredores e olhadas de vitrines. Ela parava, observava algumas peças, passava para outra loja, como se procurasse alguma coisa.

— O que está procurando? – ele finalmente perguntou.

— Um símbolo. – ela respondeu simplesmente, sem tirar os olhos das peças expostas em na loja de uma marca britânica – Digo, uma ideia para um símbolo. Quero criar uma marca um dia e quero que todos reconheçam pelo símbolo.

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha, apenas acompanhando-a.

— Ah! – ela exclamou ao lembrar-se de algo – Tem uma livraria aqui, né? Queria procurar outro livro lá.

— Sim. – ele olhou para o alto – No último andar.

Momentos depois, eles estavam na livraria do Ginza Six, onde era possível encontrar livros de arte e outros materiais para quem gostava de trabalhar na área.

Enquanto Rin procurava um livro na parte de moda, Sesshoumaru observava alguns itens de escritório, principalmente a parte de agenda e canetas.

— Achei! – ela falou ao puxar um livro sobre a história dos quimonos japoneses da estante, abraçando o volume com carinho – Tem uma edição dessas na biblioteca, mas quase sempre está emprestado.

Ao notar o olhar dele sobre ela, Rin deu um sorriso e o puxou de volta para a seção que ele estava vendo antes.

— Você agora gosta de itens de escritório? – ela quis saber.

Em silêncio, ele pegou uma das canetas de luxo de bico fino e manuseou entre os dedos, habilmente deslizando-a entre o indicador, dedo médio e anelar. O valor dela era praticamente seis meses de salário de Rin.

— Eu usava uma dessas na empresa de Hong Kong.

—É linda. Combina muito com você. – ela comentou.

Sesshoumaru virou o rosto de lado e observou o sorriso dela:

—Quando eu for uma estilista, vou comprar uma pra dar de presente pra você.

Ao dar-se conta que ela projetava um desejo futuro, insinuando que eles continuariam juntos por vários anos, ela arregalou os olhos e tentou disfarçar olhando para os lados:

—Eu... Eu... Acho que vou levar esse livro aqui! – ela sentia o rosto vermelho – V-Vou pagar agora.

Antes que se afastasse, Sesshoumaru segurou o braço dela e aproximou o rosto para falar na orelha dela:

—E eu vou usar tudo o que for da sua marca.

Rin ficou mais vermelha e ele aproveitou para tirar o livro dos braços dela, dando as costas para ir ao caixa mais próximo:

—Vou pagar isso aqui. – disse ele.

Ainda se recuperando, ela bateu nas bochechas para "acordar" e deixá-la menos vermelha e constrangida. Ela tinha acabado de falar sobre o futuro deles. Ele também. Será que um dia eles iriam ficar juntos do jeito que ela estava pensando? Será que ele não a achava muito precipitada?

Minutos depois, ele voltava com o livro embalado em papel pardo dentro de uma sacola com o nome da livraria.

—Para você.

—Obrigada. – ela aceitou mais um presente dele de bom grado, ficando na ponta dos pés para dar um beijo no rosto dele – Adoro esse seu lado gentil.

Rin ouviu um leve "hunf" por parte dele porque ele não acreditava ser tão gentil assim.

— Você vai dormir hoje comigo de novo? – ela perguntou, vendo-o concordar com a cabeça.

— Você vai chegar naquele horário de novo?

— Muito provavelmente sim. – ela deu um suspiro cansado – Mas posso conversar com Mushin-sama e ele fica acordado pra eu poder sair mais cedo.

Os dois deram as mãos e voltaram a andar juntos pelos corredores.

— Vou esperar você na frente do prédio, então.

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Depois de almoçar com Rin, Sesshoumaru voltou para a casa da mãe já pensando em antecipar alguns planos antes de encontrar a namorada novamente à noite, depois do expediente dela no restaurante.

Entrou sem se anunciar e nem se incomodou em saber se a mãe estava em casa. Normalmente, quando estava, ela costumava ficar no escritório tomando chá ou conversando com os amigos por telefone.

No entanto, ao subir as escadas para ir ao quarto, ele viu, de relance, um homem, que ele já tinha visto na casa do pai, entrando no escritório da mãe acompanhado do secretário dela.

Tentou, por um momento, lembrar-se do nome da pessoa, mas a memória não ajudou.

Ignorou-os e continuou a subir as escadas, tentando afastar uma sensação estranha que surgiu ao ver a presença daquela pessoa ali.

o-o-o-o-o

À noite, saindo da estação, Rin encontrou Sesshoumaru aguardando por ela em uma das saídas. Ele tinha uma mochila às costas, indicando que passariam a noite juntos.

— Que bom que recebeu minha mensagem avisando que ia sair mais cedo. – ela levantou as duas mãos para exibir as marmitas do restaurante que seriam para o jantar deles – Mushin-sama notou logo que você tinha retornado, sabia?

Sesshoumaru ergueu uma sobrancelha, gentilmente pegando uma das marmitas para carregar. Além de alcoólatra, o homem também fazia observações e comentários indiscretos na frente de Rin?

— E como ele notou isso? – ele quis saber.

— Ele disse que estou sorrindo mais hoje. – ela completou com um sorriso, segurando a mão dele.

—Ah, é? – ele respondeu. Pelo menos não era um comentário indiscreto de bêbado. Rin precisava prestar mais atenção na própria segurança quando o dito chefe estava naquele estado, ainda mais que era, aparentemente, a última funcionária a sair do estabelecimento.

—Sim. – ela deu um beijo no rosto dele.

E eles se dirigiram de mãos dadas para o prédio dela para ela poder ouvir mais relatos da viagem e dormir nos braços dele.


Nota da autora: VOCÊS ACHARAM QUE ELE IA EMBORA DE VEZ, NÉ? Mwahahhaha. AGUARDEM!

Muito obrigada pelos comentários sobre a parte do presente! Eu já comecei a escrever a próxima parte. Pensei também em um outtake sobre a situação da Towa na escola, mas estou decidindo ainda um detalhe... Mas eu aviso no capítulo que vem se terá ou não 😜

Obrigada a todos que estão lendo e comentando: Iza Raissa, Valgv9, DindaT, Cloudiedays e DR ❤️ Meu desejo é acabar a história até metade do ano (junho/julho) e os comentários ajudam demais 💕

Muchas gracias por los comentarios, me alegra mucho ver que tanta gente esté leyendo la historia. Más aún es ver a tanta gente a la que le gusta SessRin y quiere verlos juntos ❤️

For those reading in English: Thank you for reading! I wish I had time to translate into English and/or Spanish since the beginning of this story. I had even put it on my "to-do list", but I couldn't because of work and family. I have only been able to publish in Portuguese so far. I'll do my best to ensure that the automatic translation does a good job! 😁

Até semana que vem! 😘