As pálpebras tremulando indicam que sua consciência estava lentamente retornando. Seus sentidos se recobram no mesmo ritmo e quando a líder recém capturada tenta abrir os olhos, estranhamente, não consegue. Um pedaço de trapo estava adornando sua cabeça, exatamente na região de seus olhos, presos tão firmemente que Hinata não conseguia enxergar absolutamente nada, pois estava impossibilitada de levantar as pálpebras. Estava completamente no escuro.

A escuridão que perpetuava em sua visão lhe causa estranheza e seus sentidos entram em alerta. Levou alguns segundos para perceber que estava vendada. E amarrada.

O alerta a acorda imediatamente e Hinata tenta puxar seus pulsos firmemente presos. Sua mente é invadida com uma enxurrada de memórias recentes e uma enxaqueca lhe causa incômodo. Buscando uma melhor compreensão da situação inesperada na qual se encontra, Hinata vasculha os flashes confusos dos acontecimentos das últimas horas. Conforme o efeito da droga se dissipa, suas memórias se coordenam.

3 horas atrás.

A adorável funcionária da pousada havia lhe oferecido um chá para ajudar com sua enxaqueca. Tudo que Hinata queria era dormir. Encerrar o dia e ter pelo menos um mero momento de paz. Dentro de algumas horas estaria fazendo seu caminho de volta para casa e estava contente por estar voltando. Seu cansaço mental e emocional exigiam uns dias de repouso, em seu próprio lar.

Ela se lembra de bebericar o chá antes de se retirar para dormir. Ainda tinha que trocar suas vestes, mas então, acabou distraída com a revisão de alguns documentos que esteve analisando o dia inteiro e quando finalmente decidiu que iria dormir, ouviu um barulho.

Parecia ser algo abafado caindo contra o tatame do andar de baixo, como um corpo. Seu Obi é amarrado novamente e Hinata se prepara para descer as escadas, mas é surpreendida no meio do caminho por um homem mascarado. Seus olhos se encontram e Hinata imediatamente entra em postura de luta, pronta para neutralizar o invasor e averiguar o que estava acontecendo.

Coagida a retornar para trás, seus punhos revidam os do invasor e Hinata percebe que esta sendo encurralada por mais três, que invadiram a janela que havia fechado mais cedo.

Seu Byakugan é ativado e o horror a sua volta lhe causa arrepios. Havia muitos homens, partindo de todas as direções, todos correndo em direção ao seu alojamento, invadindo por todos as entradas possíveis.

A sensação de ser um alvo de uma captura a acometeu no mesmo instante, afinal, era um sentimento familiar. Tivera que lidar com inúmeras situações semelhantes em sua infância.

Não era um ataque. Era um sequestro. Estavam à sua procura.

Hinata era o alvo.

Decidida a neutralizar o maior número de bandidos, sua postura endurece e seu Juuken ganha mais força, atacando pontos mais precisos lhes fazendo perder a consciência ao serem atingidos.

Quanto mais ela derrubava, mais surgiam, como uma praga. Através de seu Byakugan, Hinata encontra seu pai, igualmente lutando e se desloca até ele.

Correndo pelos corredores, atravessa uma janela e acaba no telhado. Sempre sendo perseguida, seus punhos se encarregam de afastar os homens com agilidade. Hinata pula do telhado para o solo e se prepara para ir até o pai, mas é novamente interceptada e é obrigada a se defender.

Em meio ao caos, ela se questiona o motivo de uma tentativa de sequestro em seu último dia em Kiri. Seriam shinobis de Kiri ou estrangeiros que, de alguma maneira, descobriram que ela deixaria a cidade no dia seguinte e tentaram se aproveitar desse pequeno momento de transição?

Mas algo não se encaixava. Poderiam ter esperado para abordá-la no caminho de casa, na estrada. Porém, de qualquer forma, não importa qual seria a tentativa pífia de sequestro, Hinata não era mais uma garota jovem e indefesa, eles jamais conseguiriam capturá-la.

Sua única preocupação era com seu pai, que lutava arduamente, tentando os impedir de chegar até ela. Ela chama por ele e consegue sua atenção, mas no momento que tenta alcançá-lo, inúmeros pares de braços a agarram e tentam arrastá-la para floresta. Com destreza e agilidade, Hinata impulsiona suas pernas para o alto, forçando seu corpo a girar para trás em uma pirueta, os obrigando a soltá-la.

No momento que ela retorna a repeli-los, um som alto de casas sendo destroçadas a distraí e uma chama amarela incendeia o ambiente mais distante.

Sem dúvidas, era o chakra de Naruto.

O coração destroçado de Hinata sofre uma batida com a ideia dele não ter partido. E se foi o caso, ele retornou. Mas por quê?

Seu Byakugan tenta acompanhá-lo em um angulo de 90 graus conforme seus braços e pernas continuam lutando, mas era difícil focar em mais de uma coisa ao mesmo tempo. Mesmo que pudesse enxergar ao seu redor, enquanto lutava contra vários invasores, sua atenção era constantemente interrompida. A obrigando se atentar apenas nos braços que tentavam a todo custo arrastá-la para a floresta.

Hinata sente o calor inconfundível do chakra de Kurama se aproximar e seus olhos caem em Naruto ao mesmo tempo que seu nome escapa de seus lábios, o chamando, mas antes que ele dê mais um passo, seu corpo padece e seus joelhos tocam o chão. Uma atitude completamente inesperada.

A líder Hyuga tenta correr até ele, mas é impedida.

"Naruto-kun!" A preocupação é evidente em seu tom alarmante. Mais uma vez, ela tenta se esquivar para alcançá-lo, mas algo surpreendente acontece.

Hinata sente uma imensa e inesperada sonolência a atingir e consequentemente, seus movimentos cessam, a impedindo de sair do lugar até entender o que está acontecendo com seu corpo.

Hinata para, mas é forçada a continuar lutando, pois as incontáveis mãos não desistem de tentar capturá-la.

Tentando se concentrar, seu Juuken é ativado de novo, mas para sua surpresa, não surte o mesmo efeito costumeiro, deixando muito a desejar, quando erra praticamente todos os golpes contra seu agressor. O desespero a consome e Hinata sente suas pernas e braços perdendo as forças, como se uma espécie de veneno paralisante estivesse a consumindo, contaminando seu sistema nervoso e limitando completamente seus movimentos.

Uma névoa escura insiste em dominar sua visão. Sua cabeça balança, tentando dissipá-la, mas está cada vez maior. Ela não percebe que caiu até suas mãos tocarem o solo sujo. Seus sentidos estavam a abandonando e ela simplesmente não conseguia encontrar uma solução imediata.

Suas pálpebras pesam e seu corpo está prestes a desabafar, mas mãos fortes a agarram e a última coisa que Hinata se recorda, é de estar suspensa nos ombros de alguém.

Agora, após recobrar a consciência depois do que pareceu horas, a confusão persistia, incontrolavelmente, a atormentando.

Seus olhos estavam vendados e seus pulsos amarrados. Decerto que a venda servia para privá-la de ativar seu doujutsu, a impedindo de descobrir onde estava e o que tinha além da propriedade.

Hinata não consegue impedir que uma sensação de pavor atravesse sua espinha. Não conseguia acreditar que o sequestro foi muito bem realizado e agora estava completamente nas mãos do inimigo, seja lá quem fosse.

Usando os únicos sentidos que lhe restaram, Hinata se concentra primeiro em seu olfato. Madeira, palha, terra e também metal enferrujado. Com certeza estava em uma cela. O cheiro de mofo também a incomodava.

Usando seu tronco, se esforça para se sentar e escorar na parede, tateando com a mão tudo que encontrava. Se levantou com o apoio da parede e vasculhou o local. Suas mãos estavam presas às suas costas. Procurou por algo que pudesse libertá-la da corda que prendia seus pulsos, mas nada encontrou. Em contraponto, conseguiu se dirigir até ao que parecia ser a porta de sua cela, de onde vinha o cheiro de madeira. Enfiou as mãos pelos adornos quadrados à procura da fechadura, mas nada encontrou. A altura de seus braços não era o suficiente para alcançá-la. Se virou e enfiou o rosto por entre os vãos da porteira. Aguçou sua audição e buscou por vozes.

O silêncio propagava onde estava, mas com esforço, conseguia ouvir vozes distantes, há alguns metros. O burburinho não podia ser decodificado, estavam muito distantes. Hinata pensou em gritar, alertá-los de que acordou, mas mudou de ideia no mesmo instante. Precisava arquitetar um plano de fuga quanto antes. Mas muito não se conseguia fazer com as mãos amarradas e olhos vendados.

Parou para refletir e se questionou como estaria seu pai e Naruto. Obviamente nenhum dos dois ou o restante de seus shinobis conseguiram interceptar sua captura. Mas por quê? O que de fato aconteceu que pudesse pará-los e principalmente, Naruto?

Ela se lembra de vê-lo caído. Teria se machucado? Fora atingido? Mas ele estava coberto pelo manto da Kyuubi, tinha certeza dessa recordação. Então, o que aconteceu? E o mais importante. Como Hinata permitiu que a drogassem?

Uma onda de raiva a invade ao se lembrar que foi tão desatenta a ponto de permitir que o inimigo a derrubasse tão debilmente. Que tipo de líder ela era se permitiu ser enganada de forma tão leviana? Batizaram seu chá… a última bebida da noite.

"Por favor, deixe-me servi-la. Posso ajudá-la com isso."

Hinata se enfurece ao lembrar do rosto da criada que a serviu um líquido adulterado. Era uma das funcionárias da pousada. Como ela poderia suspeitar de suas ações? Por que baixou a guarda em seu último dia?

Um suspiro derrotado a enche de frustração, mas não há tempo para lamentar, uma vez que sons partindo do corredor parecem aumentar a cada passo e Hinata entra em alerta novamente, se afastando da entrada de sua cela.

Seu batimento aumenta e logo seus ouvidos escutam o tilintar de chaves e uma fechadura ser aberta. Passos desconhecidos se aproximam dela e mãos grosseiras e rudes a agarram pelo cotovelo, a levantando do chão bruscamente.

"Hora da conversinha com o chefe, princesa."

A líder é conduzida sem saber para onde estava indo. Sua audição sendo tudo em que poderia se sustentar. Estava sendo escoltada por dois homens agora, um de cada lado. A segurando como uma prisioneira.

Após andar o que pareceu ser uma distância significativa de sua cela, Hinata foi depositada em um assento. Seus braços ficaram esticados sobre o encosto da cadeira, ainda amarrados.

Risadas são ouvidas, além de murmúrios e mesmo vendada, ela pode sentir todos os olhares sobre si, a fazendo se sentir quase nua.

Enquanto espera pacientemente o tal chefe lhe dirigir a palavra, Hinata sente alguém deslizar a mão por seus longos fios. Seguindo as vozes, ela conseguia visualizar, não com muita precisão, suas posições. Seu silêncio não significava que estava com medo, mas analisando. Dependendo de seu único sentido útil para tal situação, ela memoriza os passos que escuta, as vozes, os sons mais distantes e faz pequenos cálculos, tentando desenhar em sua mente um mapa do ambiente.

"O chefe disse para não tocar nela." Uma voz se ergue à sua frente, a mais ou menos cinco passos de distância. Perto demais, Hinata pensou.

Uma risada é ouvida do homem à sua direita, o mesmo que ousava tocar-lhe os cabelos.

"Os rumores não eram exagerados, hein. Ela é algo a se admirar." Seu rosto se aproxima e Hinata sente sua respiração em seu cangote, inalando o cheiro de seus cabelos. "Tá nervosa, princesa?"

"Para com isso, cara! Quer levar uma erguida? O chefe disse para não encostar nela."

"Você é meu chefe, por acaso, porra? Ele nem tá aqui. A gente poderia brincar um pouco enquanto ele não che-"

"Eu quebrarei todos os seus dedos se você encostar em mim."

Hinata consegue sentir o sorriso no tom de voz dele diante da ameaça.

"É mesmo, princesa? E vai fazer isso como, exatamente? Aí, ta vendo só? Ela é marrentinha!"

Seu desdenho é acompanhado por seus dedos que, ignorando a ameaça clara da líder, deslizam por sua pele alva, afastando os cabelos para o lado. Ele se posicionou atrás dela, se curvando sobre a cadeira para encostar o nariz em sua tez tão branca quanto a neve e inalar seu cheiro natural.

"Acho que nunca vi uma mulher tão cheirosa antes." Hinata pode sentir o sorriso em seu tom. "Será que seu gosto é tão bom quanto o se-ARGH!"

Uma cabeçada atinge o nariz pontudo do homem atrás de Hinata, que confiante de sua imobilidade, não esperava um ataque. Não desejando perder tempo por conta da sua falta de percepção clara de posicionamento, a líder se coloca de pé, levantando com ela a cadeira e em um giro, acerta uma rasteira no homem atordoado atrás de si, o desequilibrado a ponto de cair no chão. Ao sentir que seu calcanhar tirou seus dois pés do solo, resultando em sua queda, Hinata se joga em cima de seu corpo, estraçalhando a cadeira com seu peso e o esmagando no processo.

A ação foi rápida, ela acreditou que teria tempo de quebrar-lhe os dedos, mas se precipitou. Cinco passos era muito perto e por conta disso, o outro homem presente conseguiu impedi-la de cumprir com sua ameaça.

"Mas que porra!"

Seu corpo é agarrado e arrastado para longe.

Mãos fortes agarram seu pescoço e Hinata se vê presa nos braços de outro capanga.

"Porra! Caralho! Porra! Essa vadia deslocou o meu nariz!"

"Eu não mandei você ficar na sua, caralho?"

"Vai se foder!"

Eufórica, Hinata ainda tenta analisar suas posições, mas sente o aperto em seu pescoço aumentar.

"Se tentar mais uma gracinha, eu não serei gentil com você."

O terceiro homem presente, que ela não conseguiu identificar, pois não havia feito ruídos, a ameaçava enquanto a enforcava.

"Você é um bosta mesmo!"

"Vai se foder, caralho. Me dá a merda de um pano. Tá sangrando pra caralho…"

Hinata é arrastada e jogada contra outra cadeira, onde seus ombros estão sob as mãos do rapaz, que agora se certificava de que não tentasse agredir mais alguém.

Ainda ouvindo os outros dois ao longe, o ruído de uma porta sendo aberta lhe chama a atenção e o silêncio na sala se faz presente.

Ela presumiu que o tal chefe havia chegado para se juntar à reunião.

Seus passos lentos são calculados atentamente conforme ele adentra o recinto.

Ele para.

"O que foi isso?"

Um arrepio horripilante atravessa todo seu sistema nervoso quando ela pensa reconhecer aquela voz.

"Aquela puta!"

"Eu não mandei ficar longe dela?"

"Ela tava amarrada… eu não pensei que-"

"Que ela fosse lhe quebrar o nariz?"

"Essa desgraçada!" Hinata pode ouvir os passos apressados em sua direção e a queimação que sente a seguir em seu rosto a faz segurar um gemido de dor. Um tapa agressivo é desferido contra sua bochecha esquerda, a fazendo virar o rosto bruscamente. Um corte é aberto em seu lábio devido à violência do ato.

"Se acha esperta pra caralho, né? Vagabunda!"

Ela conseguiu enfurecer o rapaz.

Atordoada e com o rosto doendo, levanta lentamente o queixo, se atentando a voz que preenchia o ambiente.

"Vai tratar desse nariz. Saia!"

Uma risada ecoa e Hinata torna a sentir um pavor a atravessando.

Os passos dele os levam até ela.

Seu coração bate frenético no peito, tentando buscar compreensão de tudo que acontecia ao seu redor.

Hinata o sente se ajoelhar em sua frente, pois quando sua voz ecoa novamente, parecia vir de baixo.

"Você é mesmo uma mulher e tanto."

Seu movimento de cabeça é involuntário. Ela não acredita no que esta ouvindo. Precisava ver com os próprios olhos.

"Acredito que esteja me reconhecendo, mesmo que apenas pela voz."

Sua respiração engata.

"Vamos, pode perguntar. Eu sei que você quer."

"Ka-Kazuki?" Seu tom sai desacreditado. Incerto. Mas a voz era inconfundível.

"Devo dizer que é um prazer revê-la, Hinata-sama?"

Sua expressão confusa não é capaz de evidenciar apropriadamente o seu pavor. No entanto, ela se agita e tem que ser contida no lugar pelo seu guarda.

"Como… como isso é possível? Era para você estar-

"Morto? Sim, era. Mas não estou. Curiosa?"

"O que… como? Isso não é possível. Você morreu!"

"É mais possível do que imagina. Apesar de você ter se mostrado uma líder excepcional, ao que parece, seus olhos especiais não podem ver tudo."

Hinata deixa que seu folego escape, completamente atordoada dos fatos diante de si.

"Você… você foi soterrado. A caverna, as minas explodiram, por culpa sua! Seu capanga ativou os explosivos."

"Exatamente como eu queria." Seu tom era estranhamento calmo. "Você chegou exatamente onde eu queria, mas não acabou soterrada, como eu também desejava. Aquele seu shinobi de cabelos loiros e máscara de raposa foi muito perspicaz ao te salvar. O ato dele beirou ao heroísmo de um ser humano fora do comum. Nenhum simples homem seria rápido o suficiente para impedir que você fosse esmagada pelas rochas. Ele, no entanto, foi."

O ar fica preso em seus pulmões e Hinata sente que está a beira de um precipício.

Estava descobrindo que a explosão na mina, além de não ter matado Kazuki, fazia parte de seu plano para enganá-la. E que ele era o responsável pelo seu sequestro.

Sua confusão apenas aumentava, assim como sua ansiedade.

"Você ainda não acredita? Precisa ver com seus próprios olhos?" Ele zomba de sua situação. "Pode remover a venda." Sua ordem é passada ao homem que a segurava no lugar. "Mas, senhor…"

"Está tudo bem. Ela não vai fazer nada."

Hinata sente a venda ser afrouxada e assim que recupera sua visão, fita o homem bem diante de si com seu Byakugan já ativado, em puro ódio.

Kazuki sorri para sua expressão furiosa, enxergando com admiração as veias saltando para fora de seu rosto, ao redor de seus olhos mais ferozes do que costumavam ser.

"Satisfeita?"

Seu olhar cai para seu braço direito, analisando o local onde deveria ter uma mão.

Kazuki levanta o braço para ela, respondendo sua pergunta silenciosa.

"Acharam o que deixei para trás?" No lugar de sua mão, se encontrava um gancho. "Esse foi o preço que tive que pagar para enganar vocês. Perder minha mão."

"Você fez isso de propósito?"

"Foi uma estratégia um tanto arriscada e incerta, mas funcionou. Não foi? Vocês acreditaram que tinham me vencido."

"Como você escapou? Como? Seria praticamente impossível fugir."

"Eu conhecia aquelas minas melhor do que você imagina. Você acredita que chegou preparada, mas eu ainda tinha uma última jogada. E funcionou. Se você tivesse morrido naquele dia, eu ainda iria atrás de seu clã e dizimaria todos eles com o restante da vila. Mas você sobreviveu. Milagrosamente."

Seus olhos se estreitam para a líder.

"Engraçado. Quem diria que o seu agente ANBU seria ninguém menos que o famoso Naruto Uzumaki. O portador das Nove Caudas."

A expressão de Hinata acaba por confirmar sua teoria.

"Mas é claro. Somente alguém com esse poder poderia impedir o desastre que seria a sua morte. Falhei em minha lição de casa, Hinata-sama. Não sabia que você tinha vínculos com o maior shinobi da Folha."

Vínculos?

O cenho de Hinata franziu com sua insinuação e ele não tarda a se explicar.

"O que houve? Surpresa por descobrir que seu segredo não está tao bem guardado assim?"

"O que está insinuando?"

"Nada. Até porque todas as suspeitas já foram confirmadas. Me diga, Hinata-sama. Por quais motivos um agente ANBU dispensado formalmente de sua missão, retornaria para ela, sem qualquer necessidade ou obrigação?"

"Como você sabe disso? Como sabe que o dispensei?"

"Tenho olhos e ouvidos em muitos lugares e em um deles, é a pousada onde esteve hospedada."

Hinata o encara, horrorizada.

"E esses mesmos olhos e ouvidos, me trouxeram informações valiosas, como esta. De que a líder Hyuga havia dispensado seu agente ANBU e ele seguiu seu caminho para Konoha no mesmo dia."

Naruto chegou a ir embora? Ele realmente ia voltar para Konoha… mas por que, por que voltou?

"No entanto, minha informante o viu fazendo guarda, ocupando seu posto informalmente. O que me fez pensar. Por que ele voltaria? Agentes ANBU são a elite de Konoha e seguem ordens restritamente. Por que o seu, no entanto, não seguiu?"

O olhar de Hinata acaba vacilando por uma fração de segundos, apesar de tentar manter a postura firme diante de seu inimigo. Ele estava se revelando, lhe entregando todos os passos que deu para conseguir capturá-la. Não sabia o que esperar disso ou qual próximo passo tomaria, mas não poderia perder a compostura.

Kazuki sorri para ela.

"Aí está, o vínculo." Ele se levanta após confirmar suas suspeitas. Caminha pelo ambiente e puxa uma cadeira para se sentar na frente da líder.

"O que você fez com ele? O que fez com meu pessoal? Meu pai?"

"Está preocupada com seu agente?"

"Você não teria forças para pará-lo, não alguém como Naruto-kun. O que você fez…"

"Realmente, eu não tinha e o fato dele ter retornado quase arruinou meus planos, se não fosse pela minha adorável Kenya. A criada infiltrada que se encarregou de cuidar da situação para mim. Você mesma facilitou meu trabalho quando planejei raptá-la, dispensando o único empecilho do meu plano. Certamente, eu não teria tido sucesso se o Jinchuuriki estivesse presente, mas então, a minha fonte de informação foi brilhantemente útil em encontrar uma alternativa rápida e eficiente. Uma forma de tirá-lo do caminho na última hora. O envenenando."

O ar foge dos pulmões de Hinata e seus olhos aumentam de tamanho. Sua evidente preocupação diverte Kazuki.

"Kenya é tão boa no que faz, que se precaveu. O veneno não foi descartado apenas porque ele havia ido embora. Ela o tinha em mãos e conseguiu convencê-lo a tomar sem levantar suspeitas. Devo admitir que seu agente não foi tao profissional, não é mesmo? Ou estaria com a guarda tão baixa quanto a sua? Sabe, algo nessa história não bate… seria uma forte e bonita amizade que existe entre vocês, ou algo maior?"

Seu sorriso amarelo a causa enjoos.

"Você envenenou meu clã?"

"Não, não era necessário. Meu alvo era apenas você e quando seu amiguinho tentou cuidar do caso, o efeito do veneno se fez presente e ele falhou em sua missão. Eu só queria você."

Hinata engole em seco, não se sentindo confortável com o rumo da conversa.

"O que você quer? O que quer de mim? Vingança por ter conseguindo destruir seu império em Kiri? Você não pode mais recuperar o que perdeu. Susumu-san já reestabeleceu a ordem."

"Sim, você esta certa. Não tenho mais como recuperar o que foi perdido. Você e seu clã fizeram um bom serviço, devo admitir. Destruíram meus negócios e me arruinaram. Prenderam e dizimaram muito de meus homens, mas como pode ver, não era tudo que eu tinha." Ele apoia os cotovelos nas coxas para se aproximar. "Mas eu não vim recuperar nada, apenas vingar o que foi tirado de mim."

Seus olhos ascendem em uma chama de fúria.

"Não foi fácil arquitetar uma forma de sequestrá-la e paciência não é uma de minhas virtudes, mas quando me reuni com meu pessoal daqui, fui instruído a esperar e vigiar. Perder uma mão no processo para deixar como evidência de minha derrota foi um preço a se pagar, mas acredito que valeu a pena. Com a equipe que me sobrou, eu não tinha como contra-atacar e impedir que Susumu conseguisse recuperar seus bens, então minha única alternativa era pelo menos me vingar da maior responsável pela minha ruína. Você!"

Hinata se contém. Mas sua garganta quase solta um rosnado de fúria, respondendo claramente à ameaça a sua frente. Não abaixaria a cabeça diante de seu inimigo, mesmo que estivesse em clara desvantagem.

Seus olhos opalinos parecem conseguir penetrar sua alma e suas veias ao redor dos olhos quase saltam de seu rosto. A imagem, além de assustadora, é tudo que Kazuki espera. Seu sorriso demonstra seu claro contentamento em ter conseguido enfurecê-la. Afinal, ele estava mais do que disposto a fazê-la pagar por arruinar sua vida.

A visão de seu rosto jovial e belo, contorcido em puro furor, o excita. Ele pode sentir o gosto da vitória.

"É exatamente esse olhar que eu procurava nesse rosto tão lindo e simétrico." A mão que lhe restara apanha o maxilar travado de Hinata e a obriga olhá-lo nos olhos. "Sabe, eu poderia ter me vingado de todo seu clã. Batizado a comida de todos vocês, para todos morrerem envenenados. Mas a minha vingança é muito mais do que isso. Isso seria superficial demais, fácil demais e eu gosto de grandes espetáculos. Sou um tanto exibido. Gosto que testemunhem."

Seu hálito bate no rosto de Hinata, que tenta usar a força nos músculos de seu pescoço para se afastar. Os dedos dele afundam nas maças de seu rosto, a machucando.

"Se eu sou o seu principal alvo, peço que deixe o restante do meu pessoal em paz. Você já tem a líder em suas mãos. Terá sua vingança, mas não os envolva nisso."

"Você não me diz como vou elaborar minha vingança, Hinata-sama."

"Você pode ter envenenado o Naruto-kun, mas saiba que esse tipo de composto não é o suficiente para matá-lo. Kurama não o deixaria morrer. Você é estupido?"

Seu sorriso amarelo ressurge e seus olhos dançam nos lábios pálidos de Hinata.

"Ele virá atrás de você e nem precisaria de meu clã, ou o exército de Susumu-san. Sozinho ele aniquilara todos vocês!"

"Sei muito bem do que o herói da Guerra Ninja é capaz de fazer, mas como lhe disse, ele é o menor de meus problemas no momento. Agora mesmo, ele ainda deve estar sob os efeitos do veneno. O que, claro, não o matará, mas com certeza o impedirá de chegar até você a tempo. Ah, Hinata-sama. Você ainda me subestima, não é mesmo? Você nem ao menos sabe onde estamos. Seu agentezinho ANBU levaria horas para nos encontrar e acredite em mim que quando ele chegar, será tarde demais."

"O que você quer? Diga o que quer e eu te darei, mas não mexa com meu clã. Poupe-os!"

"O que eu quero? O que eu realmente quero você não pode me dar, mas podemos trabalhar em algo que vá me satisfazer de alguma maneira." Seus dedos descem de suas bochechas para adornarem o pescoço de Hinata. "Preparei uma surpresa adorável para você."

Hinata resmunga em suas mãos.

"Eu te contarei cada passo em breve, Hinata-sama. Por hora, irei me preparar para que o espetáculo comece e que todos possam participar, menos sua equipe, porque estarão ocupados demais procurando por você."

"O que…?"

Com um sorriso maléfico, ele a solta bruscamente e se levanta. "Levem-na de volta. Vendada. Estou terminando de reunir o pessoal e todo o equipamento. Partiremos em menos de três horas."

"O que você vai fazer, seu monstro?"

Kazuki se vira.

"Não se preocupe, querida. Você assistirá tudinho."

Antes que Hinata pudesse responder, seus olhos são novamente vendados. Ela é arrastada de volta para sua cela e jogada contra o chão.

O desespero toma conta de seu fragilizado corpo e Hinata sente vontade de chorar.

Naruto foi envenenado. Ansiava desesperadamente para que estivesse bem, apesar de confiar nos poderes curativos de Kurama. Então foi isso que o parou naquela noite, quando o viu cair sobre seus joelhos. Ele estava adoecendo rapidamente, mas Hinata não teve tempo de analisar a situação, pois os efeitos do sedativo estavam a dominando também.

Kenya. Ele revelou o nome de sua informante. Não era esse o nome que ela apresentou na pousada, mas Hinata se lembrava de seu rosto.

Ela a drogou e envenenou Naruto, que havia retornado para acompanhá-la no dia seguinte, ignorando sua dispensa.

Ele voltou por ela?

Uma lágrima escapa de seus olhos e Hinata se lamenta por suas últimas atitudes.

Seu peito arde em queimação e seu corpo se contorce no chão frio da cela. Ela estava perdendo o controle.

Ela foi tão injusta com Naruto. Tão insensível, tão covarde, tão estúpida.

Ela o dispensou sem nem ao menos olhá-lo nos olhos. Se escondendo em sua posição de líder para não ter que encará-lo. O impedindo de chegar até ela. Fugindo. Se acovardando. Se refugiando em sua própria dor.

Não se importou com os sentimentos dele. Não se importou se ele tinha algo a dizer. Simplesmente o dispensou como faria com qualquer outro shinobi que tivesse cumprido com seu dever. O tratou como qualquer um, um mero servo. Sem importância ou significância. Como se não tivesse compartilhado dois meses incríveis ao lado dele.

Hinata repudiava suas últimas ações.

O fato dele ter voltado, a fez remoer de arrependimento.

Apesar de tudo, ele ainda se importava genuinamente com ela, como sempre o fez.

Naruto sempre foi leal a ela e não deixaria que isso mudasse somente por sua atitude egoísta e covarde.

Ele era um homem íntegro. Com princípios e bondade infinita. Naruto não era capaz de trair a si mesmo e muito menos as pessoas com quem se importava, por isso voltou.

Hinata se sentia a pior pessoa do mundo.

Naruto, seu pai, seu clã e possivelmente a vila de Kiri, iriam pagar por seus pecados. Por ter se envolvido com um homem perigoso feito Kazuki.

Ele se infiltrou na pousada com êxito e conseguiu executar seu plano com precisão. Ela estava em suas garras neste momento, incapacitada de fazer qualquer coisa.

Como sairia dessa situação?

Como retornaria para seu pai e para Naruto?

Após sucumbir ao desespero por alguns minutos, Hinata engole o choro e busca retomar seu controle. O pouco que resta de sua sanidade. De nada adiantaria imergir no poço do desespero. Estava detida, mas ainda era uma kunoichi. Poderia encontrar uma solução e fugir daquele lugar. Descobrir os planos de Kazuki e impedi-lo, mais uma vez. Porém, desta vez, teria que agir sozinha.

O problema era que Kazuki estava certo. Ela não tinha ideia de onde estava.

A varredura que fez com o Byakugan não foi muito precisa. Seu emocional foi abalado, o que a distraiu de suas funções secundarias. Aquela que geralmente executava com perfeição. Tentou criar um mapa mental do local onde estava e enxergar além das extremidades, mas Kazuki conseguiu desconcentrá-la o suficiente mencionando Naruto e seus planos. Não fez uma varredura precisa e não enxergou muita coisa além das paredes. Parecia um local isolado, rodeado de uma imensa vegetação.

Era grande, com cerca de 3.000 metros quadrados e tinha muitas elevações. Construções sólidas, mas de madeira. Com direito a um cercado de troncos retalhados com pontas afiadas para proteger a área.

Se concentrando no pouco que viu, Hinata enxergou estruturas de dois andares. Pontos de vigia, quatro no total. Mais celas parecida com a qual se encontrava e armamento militar pesado.

Tendas montadas, suprimentos, barris de pólvora, equipamento de artilharia.

Seu coração afundou quando entendeu a situação e conseguiu criar uma imagem clara de onde estava.

Muito distante de Kiri, nos confins de alguma colina, Hinata percebeu que estava sendo mantida como prisioneira em uma fortaleza japonesa fortemente equipada. Aparentemente, pronta para entrar em guerra. E estava cercada, rodeada por, em média, centenas de homens.

. . . . . .

Três horas haviam se passado e até o momento não se tinha nenhuma informação sobre o paradeiro de Hinata.

Naruto foi obrigado a descansar enquanto Hiashi e Susumu se encarregavam pelas buscas. Mas sempre se infiltrava entre os soldados para obter informações, não tendo paciência o suficiente para aguardar sentado.

Seu corpo ainda estava enfraquecido, mas os enjoos haviam diminuído e o pouco de energia que lhe restava, Naruto usava para correr atrás de informações.

Agora que todos sabiam de sua identidade, suspendeu o uso da máscara. De qualquer maneira, ele não estava mais prestando os serviços de um ANBU, estava ali como amigo de Hinata. Como alguém que abandonaria qualquer posto para poder ajudá-la.

A conversa breve que teve com Hiashi perpetuou em sua mente. Naruto não sabia o que exatamente Hinata e ele conversaram no dia em que foram flagrados pelo mensageiro Hyuga. Mas se lembrava de Hinata ter dito que havia resolvido a situação com o pai. Todavia, não sabia o que aquilo significava. Afinal, Hiashi sabia sobre o envolvimento deles ou não?

Sentiu que estava sendo testado ao ser questionado sobre o que aconteceu entre Hinata e ele. Se certificando de não manchar a imagem da líder, Naruto mentiu. Mas suspeitava que Hinata fez o mesmo.

Outra dúvida rondava sua mente perturbada, mas Naruto não tinha culhões para ir atrás da resposta.

Susumu fez o pedido de casamento a Hinata? Se o fez, ela aceitou?

Mesmo que o clã Hyuga estivesse de fato partindo no dia seguinte, isso não era garantia de que ela havia recusado. A dúvida o martirizava e a presença de Susumu o irritava.

Se ele suspeitava de algo antes, após o descontrole emocional de Naruto, o senhor feudal com certeza teria uma opinião sobre sua relação com a líder Hyuga.

Naruto teme que sua reação tenha reforçado os rumores que poderiam se espelhar sobre eles, no entanto, de nada adiantava se lamentar. O sequestro de Hinata acabou passando por cima de qualquer fofoca e o mais importante agora era descobrir para onde a levaram e resgatá-la em segurança o mais rápido possível.

Mesmo que o encontro entre eles fizesse o estômago de Naruto se revirar sem ter ideia do que esperar, nada o impediria de ir atrás dela. Ele a traria de volta e em segurança, mesmo que após esse episódio, Hinata nunca mais quisesse vê-lo novamente.

Sua perna direita balançava freneticamente enquanto aguardava Hiroshi-san retornar com o resultado dos últimos exames que fizera. Pacientemente, lhe foi pedido para esperar, mas Naruto não queria esperar. Estava pouco se importando com a própria saúde. Se sentia bem o suficiente para sair em disparada e partir atrás de Hinata. Embora assumisse sua respiração ofegante quando ativava o modo Sábio.

Seu chakra estava sendo consumido rapidamente, pois seu corpo ainda se recuperava. Aterrado como sempre, ele decidiu por si mesmo fazer uma pequena varredura pela área quando estava se sentindo melhor. Mas quando seu coração acelerou e sua visão turvou, Naruto teve de reconhecer que ainda não estava pronto.

Irritação irradiava por suas veias tamanha a sua ansiedade. Sentia que a cada segundo que passava, estava perdendo tempo.

Hinata precisava dele. E ele, mais do que tudo, precisava dela.

"E então?" O movimento rápido do pescoço para encarar o doutor que adentrou a sala o deixou atordoado. "Tudo certo?"

"Ao que parece, sim. A fadiga deve passar em algumas horas, mas tirando isso, seus órgãos estão bem. O repouso ainda é aconselhável, Naruto-san."

"Sem tempo para isso. Onde está Hiashi?"

"Interrogando os funcionários da pousada."

Sem dar ouvidos às advertências do médico, o agente sai em disparada à procura de Hiashi.

"Alguma novidade?"

"Sim." Hiashi dispensa o interrogado e Naruto o observa remexer na papelada à sua frente. "Parece que uma funcionária que trabalhava no turno da manhã, trocou o turno pelo da noite no dia do incidente. Mas conforme a escala, nada fora acordado. E para nossa surpresa, descobrimos que a funcionária em questão ao menos sequer foi vista pelos colegas naquele dia. Ninguém a viu."

Naruto franziu o cenho. "Era a impostora?"

"Acreditamos que sim." Hiashi verifica sua ficha. "Ela roubou a identidade de outra e arrumou uma forma de trocar os turnos."

"E onde ela está?"

"Não a encontramos." Um suspiro frustrado parte de Hiashi. "Sinceramente, a essa altura ela já deve ter partido de Kiri."

"Ou está a caminho! Você não ordenou que interditassem as saídas da cidade?"

"Sim, eu ordenei…

"Então, o que estamos esperando para ir procurá-la?"

"Não temos descrições dela, Naruto. Estamos esperando a funcionária que teve a identidade usurpada chegar para a interrogarmos também."

"Hiashi, eu posso ir procurando por rastros enquanto-

"Não, Naruto. De nada vai adiantar. Sinto que nossa única fonte de informação partirá dessa mulher e precisamos ouvi-la."

"Como ela vai ajudar se nem esteve aqui?"

"De acordo com um colega de trabalho dela, ela passou mal no dia anterior e por isso não pôde vir trabalhar. Parece que passou mal após uma má digestão." O olhar de Hiashi endurece. "Ela foi drogada um dia antes para que a impostora pudesse trabalhar no seu lugar. Ela deve tê-la visto ou ter alguma informação relevante."

Naruto solta um suspiro impaciente.

"Se acalme, ela já está chegando. Meus homens foram buscá-la."

"Como ela não está morta se também foi envenenada?"

"Parece que o único alvo mortal era você."

A conversa foi interrompida com a chegada da mencionada. Ela estava acompanhada do marido e parecia debilitada.

"Espero que o assunto seja mesmo urgente para terem retirado minha esposa enferma de dentro de casa!"

"Nós seremos breves, eu prometo." Hiashi se adianta. "Mas para início, o que ela tem?"

"Comeu comida estragada. Isso quase a matou. Tem vomitado o dia inteiro."

"Você é a senhorita Misaki, certo?" A jovem acena. "Você não veio trabalhar ontem por conta de sua condição?"

"Sim, senhor."

"O que a fez adoecer?"

A jovem tosse antes de responder.

"Eu não sei ao certo, Hiashi-sama. Eu estava bem, trabalhando normalmente. Raramente tenho intoxicação alimentar, mas desta vez pareceu ser mais do que isso."

"Foi ao médico?"

"Sim, senhor. Assim que comecei a passar mal, meu marido me levou ao médico e lá fui tratada."

"A senhorita passou por exames?"

"Por que esse interrogatório todo sobre a condição dela? Não acredita que um funcionário pode ficar doente? Tudo isso porque ela faltou um dia?" O marido exaltado da jovem Misako se incomoda com o questionário. Não entendendo onde Hiashi pretendia chegar com isso.

Naruto toma a dianteira, tão impaciente quanto.

"Não interrompa se não quiser ser enxotado daqui. A conversa é com sua esposa, não com você."

Seu tom cortante foi o suficiente para fazer o homem recuar.

"Só… só gostaria de saber por que ela esta sendo interrogada como se tivesse cometido um crime."

"Porque um crime de fato aconteceu e talvez sua esposa possa ajudar a desvendar o ocorrido." Hiashi continua. "Perguntei sobre os exames porque talvez você possa ter sofrido uma tentativa de envenenamento."

Os olhos de Misako se arregalam.

"Vou ser mais direto. A senhorita não veio trabalhar ontem, mas a sua presença foi marcada. Outra pessoa se passou pela senhorita e participou do sequestro de minha filha, a líder Hyuga."

"Hinata-sama?"

"Exatamente!"

"Oh meu Kami!"

"Precisamos de informações para poder descobrir o paradeiro dela. A senhorita sabe ou suspeita de alguém que possa ter adulterado sua comida?"

Misako parece refletir por um instante. Seu corpo ainda estava frágil e sua mente confusa.

"B-Bom… eu pensei que a própria comida da pousada havia me feito mal, pois foi a última coisa que comi, mas… pensando melhor, antes da refeição, comi um pãozinho Anpan que uma moça me ofereceu."

"Uma moça?"

"Sim, ela disse que estava oferecendo amostras grátis de seus lanches para poder vendê-los. Eu aceitei, não imaginei que estivesse adulterado."

"Você consegue descrevê-la para nós?"

"Hum… creio que sim."

Juntamente de mais dois ninjas, Hiashi cria o retrato falado da suspeita. Com um rosto para procurar, uma equipe do clã Hyuga em conjunto com os homens de Susumu foi enviada às estações da cidade para procura-lá e impedi-la de deixar a cidade.

Impedido novamente de se locomover, Naruto teve que esperar pela volta da equipe, ao mesmo tempo que lidava com uma impaciência infinita.

Enquanto andava pelo alojamento, tanto para se distrair, quanto para auxiliar em algo nas reconstruções das casas destruídas, evitava a todo custo se deparar com Susumu.

Seus olhares acabavam se cruzando quando Naruto passava perto, mas aconselhado por Hiashi, o líder feudal manteve distância do agente.

Apesar de estar imensamente frustrado por ter sido acusado de conspiração com o inimigo, Susumu compreendia que Naruto não estava aberto a uma conversa no devido momento. Todos estavam com os nervos a flor da pele, aflitos pelo desaparecimento de Hinata, e dando igualmente o melhor para encontrar o rastro que os levariam até ela. Concentrando-se nisto, decidiu ignorar a presença supressora do Jinchuuriki, mesmo sendo impossível não sentir seu olhar flamejante o perfurar a espinha.

Naruto, por sua vez, buscava tentar amenizar o furacão que insistia em bagunçar todo seu interior. As distrações não surtiam o devido efeito, e ao primeiro passo parado, a inquietude apenas crescia e sua raiva aumentava. A desordem que o consumia estava maior se comparada ao seu momento de frustração quando estava deixando Kiri, deixando Hinata.

Ele havia voltado, decidido a ficar ao lado dela. Porém, não conseguiu protegê-la como pretendia. Assim como em todo o resto, falhou com ela.

Quando Naruto aprenderia a acertar?

Por que quando se tratava de Hinata, ele sentia-se como uma criança perdida? Inseguro e patético?

Ela era uma mulher sem igual e sua grandeza o assustava. Ele se sentia pequeno perto dela, resumido a nada, somente por sua presença esmagadora, imponente e graciosa. Jamais se oporia em ser consumido por tudo que se resumia a Hinata. Se ela fosse um buraco negro, ele a deixaria o desintegrar até virar pó estelar e que ela levasse toda sua luz, pois ele entendia que sem ela, a sua luz não cintilava.

A amargura pelos recentes acontecimentos, principalmente o término precoce e torto que tiveram, o fazia se arrepender profundamente de suas últimas ações. Por mais que Hinata não tivesse a intenção de permanecer com ele após seu retorno a Otahan, Naruto poderia ao menos preservar a amizade deles. Porém, foi imaturo o suficiente para deixar o ciúme tomar conta de si e cortou relações com ela.

Ao menos precisaria se desculpar.

E para se desculpar, precisava salvá-la. A trazer de volta e quanto mais tempo passava naquela maldita pousada, retomando as imagens dela sendo levada, mais sua fúria aumentava. Talvez seu próprio estado emocional caótico estivesse atrapalhando seu processo de recuperação, pois seu chakra estava lutando para não se desalinhar. Ou melhor, Kurama estava lutando para que isso não acontecesse. Mas cansou de tentar convencer Naruto que tudo daria certo. Ele era irredutível quando queria.

Nada seria capaz de acalmá-lo, nada além da visão de Hinata à sua frente.

Quando estava prestes a extravasar sua fúria no tronco de alguma pobre árvore, ouviu uma agitação na entrada da pousada. Os soldados e shinobis haviam retornado.

Hiashi apareceu ao seu lado para recebê-los e os olhos de Naruto, cujas íris já se pigmentavam em um tom perigoso escarlate, apenas se escureceram mais ao avistar a mulher que estava sendo trazida algemada.

A expressão assustada estampada no rosto dela não o comoveu por nem por um segundo. As descrições batiam perfeitamente, era possível reconhecer os traços desenhados. Ademais, o pavor em seus olhos por ser capturada denunciavam sua cumplicidade com o inimigo.

Hiashi dá um passo a frente para ouvir o relatório do ninja que a segurava e a apresentava.

"A encontramos, Hiashi-san." O shinobi retira do bolso de seu uniforme um documento e o lê antes de continuar. "Essa é Kenya, a suspeita de participar do sequestro de Hinata-sama."