Os primeiros dias foram tranquilos, Hinata hora ou outra tinha que participar de algumas reuniões, mas quando estava livre de seus deveres ela buscava conhecer a cidade. Naruto a acompanhava e aproveitava o tempo para voltar a conhecê-la.

Apesar de estar amadurecida, Hinata ainda era a mesma, serena em tudo que fazia, falava ou tocava. Talvez fosse a sua nova autoconfiança adicionada na sua personalidade ou talvez fosse apenas a sua beleza que não havia perdido o brilho nem por um dia, mas andando ao seu lado Naruto percebia os vários olhares que ela recebia seja de mulheres ou homens.

Em todas as lojas que entrava ela era atendida como se ela própria fosse o senhor feudal. As mulheres admiravam seu longo e negro cabelo liso que deslizava pelos ombros até o final de sua coluna e ficavam curiosas sobre seus olhos com íris tão cinzentas que mal podia ser vistas.

O Byakugan era um Kekkei Genkai muito bonito e sempre que você olhava para aqueles olhos dotados de habilidades especiais era como se eles pudessem enxergar através de sua alma. Talvez esse seja o motivo de Naruto sempre derreter sob o olhar dela e confiar em cada palavra dita, ele sentia que Hinata o conhecia melhor do que a maioria.

Mas por serem um clã bem recluso que veio de Konoha as pessoas ficavam intrigadas ao ver algum Hyuga andando na rua como se eles fossem "gente como a gente".

Os homens perdiam a postura ao admirar o rosto pálido e reluzente e quando Hinata fazia algum movimento com as mãos dava pra sentir a vontade neles de tocá-la. Naruto pensou ter perdido alguma coisa, pois ele não lembrava de Hinata ser tão cobiçada assim antes.

De certa forma isso o incomodou em seu íntimo. Hinata era uma mulher adulta agora e muito bem resolvida, mas aos olhos dele ela ainda era pura, não conseguia adicionar malícia à imagem dela. Por tanto os olhares sedentos que seguiam em sua direção e o desejo implícito nos olhos e vozes dos homens que a cercavam estavam lhe dando náuseas.

Em uma loja de afrodisíacos derivados Hinata estava sendo apresentada aos produtos que correspondiam a loções para o corpo. O dono da loja lhe mostrava alguns aromas e Naruto quase engasgou quando ele teve a audácia de dizer.

"Tenho certeza que o seu aroma natural superaria qualquer coisa em minha humilde loja, Hinata-sama, mas um toque a mais sempre é bem-vindo."

Hinata se sente um pouco desconcertada pois o rapaz parecia ligeiramente inclinado para poder sentir de fato o cheiro dela.

E como se o comentário atrevido já não tivesse sido o suficiente, o rapaz ousa levantar a mão para acariciar a maçã de seu rosto, mas a ação é interrompida pela mão de aço de Naruto agarrando o pulso dele no ar.

"Sem toques! Protocolo." Ele meio que rosna alto e isso parece fazer o rapaz notar que ele estava ali pela primeira vez dentro dos 10 minutos que estavam na loja. Ele puxa a mão de volta e murmura repetidos pedidos de desculpas.

Talvez ele tenha exagerado ao criar um protocolo para sua função, mas de qualquer maneira eles ainda estavam em um território desconhecido e Hinata era a sua prioridade. Não havia perigo algum por perto e o ambiente parecia seguro, mas ele ainda poderia salvar Hinata dos pervertidos enrustidos da vila. Isso não tinha absolutamente nada a ver com o incômodo que sentiu com o atrevimento do rapaz.

Ele ainda não tinha um nome para aquilo, mas estava lá.

O tumulto em volta dela acabou ficando grande quando ela deu atenção demais a algumas crianças. Hinata estava parecendo uma entidade divina diante de tanta atenção, as crianças queriam tocá-la e cutucar seus olhos porque acreditavam que eram feitos de cristal.

Naruto teve que empurrar umas e chutar outras discretamente e Hinata se divertia com a situação.

"Acho que gostei do povo daqui, são bem cordiais e gentis. Não parece ser uma cidade assombrada pelo crime." Ela comenta ao lado dele caminhando de volta para a pousada.

"Com exceção daquele pervertido que tentou te acariciar, você quer dizer né?" Naruto sentiu uma veia pulsar em sua testa ao lembrar. "Que cara atrevido!"

Hinata segurou uma risada. "Fiquei um pouco incomodada, mas acho que ele não fez por mal..."

" O seu cheiro deve ser maravilhoso!" Naruto faz uma imitação barata do bajulador dela. "Ele falou com você como se fossem íntimos, sem um pingo de respeito pela dama que você é! Acho que nem o Ero-sennin seria tão petulante."

Desta vez ela não consegue esconder a risada e Naruto a olha com curiosidade. "O que foi?"

Hinata se inclina e tenta esconder a boca enquanto ri. "Me desculpe, não é nada, é só que... Jiraiya invadia casas de banho para observar as garotas, você sabe..."

Naruto sente a veia pulsar ainda mais. "Ok, não foi uma boa comparação, mas pelo menos ele tentava ser discreto na pesquisa ridícula dele. Aquele cara foi atrevido demais, quem ele pensa que é pra falar com você daquele jeito?"

"Está defendendo a minha honra, Naruto-kun?" Hinata se diverte com o tom enciumado de Naruto, mas ela sabe que isso é apenas o seu bom senso.

Naruto arregala os olhos. "Ah... não, não... quer dizer... não foi bem esse o caso e se fosse então seria sim, mas é só que... você é uma dama e merece ser tratada com mais respeito, mais cortesia." Ele acaba se enrolando nas palavras. "Desculpa Hinata, não quis parecer um pai ciumento, mas é que eu vi os olhares que você recebeu e não é difícil imaginar o que se passa na cabeça deles."

Ele solta em um tom mal-humorado porque ele mesmo era um homem e tais pensamentos estavam aparecendo pra ele também, sem nenhum aviso prévio. Ele se sente meio hipócrita.

"O rapaz foi de fato desrespeitoso, mas eu não me incomodo. Aprendi a lidar com essas situações também, não é a primeira vez que isso acontece."

Naruto se vê em choque. "Pelo amor de Deus, pelo visto existem mais como o Ero-sennin do que eu imaginava! Quer dizer, olha pra você..."

Ele se vira para ela e eles param de caminhar. Ele sabe que tinha uma linha de pensamento para proferir, mas o olhar que Hinata lhe envia o faz esquecer das palavras.

Ela pousa as delicadas mãos à frente do corpo e espera pacientemente o que ele tem a dizer. Seu sorriso é o mesmo de quando ela está fazendo sala para alguém. Seus olhos opacos piscam para Naruto e ele jura que viu a cena em câmera lenta.

"O que tem eu?" Ela pergunta ainda divertida.

"Você... bom, você é... bonita é claro." Ele se enrola de novo e sua mão automaticamente vai para a sua nuca. "Você é linda, Hinata. Mas é inteligente demais e superior demais pra esses caras. Pra ter uma chance com você eles teriam que ter no mínimo mais de 120 de QI pra merecer a sua atenção."

Naruto sabe que ele mesmo não é dotado desse número.

"Meu ponto é que eu sei que você é uma boa garota e merece ser cortejada direito e não ser vista como um pedaço de carne." Ele pigarreia para sua voz soar menos rouca e retoma a caminhada. "Desculpe de novo, eu ainda não perdi o hábito de dizer bobagens."

Ele se sente envergonhado por ter perdido a linha e ter feito papel de bobo na frente dela, mas a voz suave dela lhe diz o contrário.

"Obrigada pela sua preocupação, Naruto-kun. Você é mesmo um bom rapaz e uma pessoa melhor ainda. Fico envaidecida pelas suas exigências para alguém me cortejar." Ela solta uma risada.

"Ah, você sabe! Você é uma líder e também herói de guerra, além de ser uma kunoichi letal. O cara tem que saber se colocar no lugar dele."

"E o que eles geralmente pensam?" Sua pergunta o confunde e ele tem que virar o rosto pra ela. "O que se passa na cabeça deles?" Ela reformula a pergunta.

Naruto não acredita que aquela pergunta seja realmente inocente. "Como?"

Ele se faz de bobo, mas Hinata não recua, muito pelo contrário, ela se aproxima dele até que ele pare de andar de novo e pergunta mais uma vez o intimidando com aqueles malditos olhos brancos.

"Você disse que não era difícil de imaginar o que se passava na mente deles, quero que me conte. Você sabe?"

Naruto não se lembrava de ter se sentido oprimido por uma mulher antes na sua vida, talvez quando conheceu a vovó Tsunade, mas isso vindo de Hinata era absurdamente novo. Ele sente seu corpo esquentar na mesma hora e seus músculos paralisarem.

"Se fosse a sua mente, o que estaria passando por ela?" Ela joga de novo e essa pergunta ele julga ser mais perigosa do que a outra, péssimo momento pra brincar com a sua imaginação fértil.

Aquilo era um flerte ou só a imaginação dele?

Ela parecia tão inocente mas ao mesmo tempo tão enigmática.

Era impossível ler as suas intenções.

Hinata estava brincando com ele, só podia ser isso. Ela estava o testando pra ver se ele não era um pervertido.

Sua mente imediatamente vagou para a resposta para a pergunta dela, sem controle nenhum do garoto loiro. A imagem da perna pálida de Hinata escapando do tecido da roupa aparece em sua mente e a partir daí foi fácil lhe dar uma resposta.

Ele estaria pensando em como a pele dela parece ser pura seda, como se quando você a tocasse estivesse sentindo o mais suave tecido já existente na terra. A tonalidade extremamente branca também o cativava pois seria tão fácil marcar aquela pele com os dedos, com a boca, com os dentes...

Ela tinha de fato um cheiro bom, não, bom não fazia jus a ela, ela tinha um cheiro que beirava aos jardins do paraíso. Inebriar o perfume dela o deixaria tonto e o fazendo questionar se tudo não passava de um sonho, de um delírio onde ele estava sendo abençoado por tê-la nos braços.

Era fácil se perder nessa linha de pensamento onde o único caminho o levaria direto por entre as pernas dela, seguindo o aroma que o corpo dela liberava e o atraía, o seduzia pra ela. Aquelas coxas brancas e fartas rodeando o pescoço dele tendo marcas do seu desejo na pele até ele alcançar o fruto proibido que ela guardava e que parecia chamar por ele, implorando pela atenção da sua boca e língua.

Somente a ideia de ter o rosto enterrado por entre as coxas dela o deixou tão atordoado que por um momento ele esqueceu de respirar.

Isso estava errado!

Ele balança a cabeça tentando afastar para longe os pensamentos imundos e se repreende por ter pensado assim de Hinata, parecendo exatamente os mesmos rapazes que a olhavam como um produto horas atrás.

Ele limpa a garganta e ajeita sua máscara. "Hinata, isso é... hum... isso é..."

"Brincadeira." Ela diz e ele a fita, seu sorriso no rosto a entrega. "Estou brincando com você, Naruto-kun!" Ela finalmente solta uma risada e puro alívio invade o sistema do loirinho.

"Poxa, Hinata... assim você me quebra!" Ele tenta rir com ela, mas sabe que caiu direitinho no jogo dela.

"Eu sinto muito, estava só me divertindo com você." Ela diz alegre e caminha novamente. "Mas fico feliz em ver o grande pai que você seria de uma garota, sempre a protegendo das maldades dos homens e avaliando seus pretendentes. Está vendo o quão incrível você é?"

Ele acena através da máscara que esconde o seu sorriso culpado.

Oh, sim. Claro! Ele era incrível mesmo, incrivelmente idiota.

. . . . . .

Para Naruto foi constrangedor estar na presença de Hinata nos dias que se seguiram depois da última conversa. Por mais que ela estivesse completamente alheia ao que passava em sua mente, ele sentia como se também tivesse a desrespeitado com tais pensamentos sobre ela e o corpo incrível dela.

Hinata era sua amiga, uma velha amiga. Eles cresceram juntos, fizeram missões juntos e lutaram na guerra juntos. Eles tinham um laço especial e ele não queria manchar a imagem pura que tinha dela.

Lembrando da sua jornada juntos ele recorda da sensação das mãos dela nas dele durante a guerra, quando ela mais uma vez usou as palavras bondosas de seu coração para reerguer Naruto naquele momento crítico. Ele estava abalado pela morte de Neji, se sentindo extremamente culpado e inútil por ter perdido sua resistência e isso ter custado a vida de um amigo.

Obito estava conseguindo lentamente perfurar seu espírito fervoroso de luta e fazê-lo desistir, pensando que não conseguiria derrotá-lo e salvar o restante de seus amigos, que aquilo seria o iminente fim de todos.

Mas quando a palma quente e macia de Hinata esquentou sua bochecha úmida pelas lágrimas e suas palavras penetraram em sua alma mais fundo que as de Obito, ele soube que ainda não havia acabado, a luta continuaria e ele era essencial para a vitória de todos. Todos precisavam dele e dependiam dele, ele não podia decepcionar.

Ela mais uma vez o enxergou além, viu suas fraquezas, suas inseguranças e o levantou para poderem continuar lutando, mesmo estando também sofrendo por ter acabado de perder o irmão. Ele segurou a mão dela quando se recompôs, eles levantaram juntos, de mãos dadas e mais determinados.

A mão dela era pequena, seus dedos finos e sem calos apesar de estar sempre treinando e lutando. E também quente, ela era quente e acolhedora.

Naruto nunca se esqueceu daquele momento e do quão Hinata foi importante pra ele, por isso ele sentiu a ausência dela na aldeia. Principalmente por partir sem nem ao menos falar com ele pela última vez.

Essa era a Hinata que estava em sua mente e que ele gostaria de manter intacta, intocável. Esse era o certo a se fazer pois eles eram amigos, bons amigos.

Às vezes ele se culpava por ser homem, esse era o único motivo que o levava a manchar a imagem pura de Hinata em sua mente. Era tudo culpa dele, por ele ser um homem cheio de hormônios e não perdoar nem mesmo uma velha amiga cheia de pureza.

Naruto era desprezível.

Ele joga o travesseiro em sua cara para abafar um grito frustrado. Ele se vira na cama e o enfia por entre as pernas para tentar dormir um pouco. Com uma carranca na cara e braços cruzados ele se esforça para pegar no sono e não ser mais o amigo desprezível que tem sido.

Mas quando ele entra no mundo dos sonhos naquela noite, aonde todos os seus desejos íntimos se libertam e o condenam, ele sabe que falhou, que falhou miseravelmente em sua pequena missão, pois quando ele acordou na manhã seguinte assustado pelo sonho erótico, ele vê a pequena mancha em sua roupa íntima e sente como se tivesse voltado à puberdade novamente.