"Quando me perguntarem o que eu sinto por ti, vou dizer:

"Ainda não tem nome, mas a cor é linda."

Bruno Fontes

Apesar de sua vontade incontrolável e insaciável por Hinata, Naruto tinha que sair da bolha que eles criaram para poder voltar à realidade.

A viagem havia se estendido por conta da mudança de planos. O que era para ser uma coisa de apenas duas semanas acabou se estendendo por quase dois meses.

Hinata e ele faziam as varreduras todos os dias para verificar as atividades de Kazuki pelos próximos cinco dias seguidos. Era cansativo e ele preferia que Hinata descansasse ao invés de participar disso, mas era algo da escolha dela. Ela tinha homens para fazer a varredura por ela, mas se recusava a não estar à par da situação.

No segundo e terceiro dia os resultados eram os mesmos, nada a acrescentar e nada havia mudado, mas mesmo assim eles não abaixavam a guarda. Quando o quinto e último dia chegou e foi confirmado que Kazuki não estava se movimentando, Hinata deu ordens para iniciarem a infiltração nos túneis.

Ela se encontrava em reunião com seus homens e os soldados ao lado de Naruto, Susumu e seu pai.

"Hoje daremos início a principal parte de nossa missão. Aparentemente, Kazuki ainda não se moveu, o que nos dá a entender que não fomos descobertos nem mesmo quando enfrentamos alguns de seus homens. Vamos aproveitar essa brecha para invadir seus túneis e criar um novo mapeamento, desta vez do que tem dentro deles."

Ela levanta a cabeça para todos os homens na sala. "A missão de vocês será se misturar entre os bandidos e checar as atividades dos túneis. Quero informações sobre o conteúdo das cavernas, a rotina dos homens de Kazuki, suas funções e as utilidades dos túneis. Vocês vão se passar por esses bandidos e viver a rotina deles por pelo menos uma ou duas semanas"

Os olhos astutos dela varrem a sala. "Acredito que esse é um tempo justo para vocês se adaptarem e coletarem informações o suficiente para podermos atacar em breve. Uma vez que soubermos onde os bens de Susumu-san estiverem e quais cavernas podemos usar como abrigos em caso de confronto, daremos início ao ataque."

"Como todos sabem, a intenção é encurralar o inimigo dentro do seu território e impedir que a luta estoure para fora. Vocês se infiltrarão, tomando a posição dos bandidos, coletarão informações e nos informarão quando será o melhor momento para atacarmos."

Um soldado se aproxima. "E a questão do reforço foi resolvido?"

"O reforço continua sendo discutido, mas devo alertá-los que eles só servirão para guardar as entradas já que elas ficarão desprotegidas durante a operação. Eu não quero nenhum cidadão lutando nos túneis. Essa função será apenas de vocês e por isso conto com a competência de todos. Se vocês forem bons espiões, não precisarão de reforços."

"O reforço ficará sob a supervisão dos clones do nosso agente ANBU. Por isso vou pedir para eles apenas vigiarem e não entrarem em confronto direto."

Hinata lança um rápido olhar para Naruto e ele acena para ela.

No quarto dia de varredura, Hinata ponderava sobre a conversa que teve com seu pai sobre envolver cidadãos na luta. A ideia a incomodou desde o início e a líder do clã tentava procurar uma maneira de evitar o recrutamento. Ela se abriu com Naruto quando estavam verificando os arredores do campo florido que haviam visitado dias antes.

"Susumu-kun disse que conseguiria recrutar alguns homens para a causa sem chamar muita atenção, mas ainda sim não era isso que eu queria..." Ela caminha por entre o campo tocando em algumas plantas.

"Mesmo que ele consiga fazer isso, me incomoda a ideia de envolver gente inocente. Essa luta é para protegê-los também, livrar todos das garras desse homem."

"Os seus homens eu sei que são competentes, já os de Susumu..."

"Não está ajudando, Naruto-kun."

"Você confia neles?"

"Eles são bem treinados e disciplinados, confio neles."

"Então eles podem dar conta do recado. Só o fato dos homens de Kazuki não serem ninjas já lhes dá alguma vantagem. Eles só precisam ser cuidadosos quando estiverem nos túneis. Eles vão ter a chance de fazer a limpa e diminuir a força armada dele, vai ser fácil."

Hinata remove o cabelo do rosto. "O problema é que todos estarão lá dentro e as entradas ficarão desprotegidas por não ter homens o suficiente. Poderíamos ser surpreendidos no meio do ataque."

"Eu posso ajudar com meu Kage Bunshin." Naruto sugere. "Posso deixar pelo menos uns três posicionados em cada entrada."

"Eu vou precisar de você comigo lá dentro."

"Mas eu estarei com você, os clones serão apenas para vigiar e impedir que alguém entre ou saia."

"Isso não vai lhe custar muito chackra?"

"Minha reserva de chackra é boa e eu também tenho a Kurama."

"Ela se importaria em ajudar?"

"Ela faz o que eu mando, cê sabe!"

"Pirralho!"

Naruto ri. "Claro que ela não se importaria, Hinata. Ela só me emprestaria um pouco de chackra se necessário."

Hinata se vira para sorrir para ele. "Obrigada aos dois." Mas sua expressão muda quando ela junta as sobrancelhas.

"O que houve?"

"Bom, você na verdade me deu uma ideia." Ela para no caminho. "Já que você pode usar seu Kage Bunshin, talvez eu possa recrutar alguns homens. Eles ficariam sob a supervisão dos seus clones. Pelo menos assim eu ficaria mais tranquila. Como você mesmo disse, você vale por um batalhão inteiro."

Naruto para junto dela. "Aí você está me dando valor!" Ele brinca e ela sorri pra ele.

"De qualquer maneira eles só teriam que guardar as entradas e na melhor das hipóteses eles nem precisarão lutar."

"Se a infiltração for boa, nenhuma informação irá vazar e nenhum reforço virá. Eles não vão precisar se envolver. Vai dar tudo certo, Hinata."

"Acho que assim pode dar certo. Posso deixar eles sob sua custódia?"

Naruto estufa o peito e leva as mãos até a nuca. "Não poderiam estar em melhores mãos-dattebayo!"

Ela o agradece com o olhar antes de voltar para os presentes na sala.

"Ficou tudo claro? Mais alguma dúvida?"

"Sem mais perguntas, Hinata-sama."

"Ótimo. Podem ir para seus postos. Irei checar as atividades a cada três dias. Boa sorte a todos!"

Hinata estava grata e extremamente aliviada por Naruto estar com ela em sua primeira grande missão. Se ela soubesse da real situação desde o início, teria trazido mais homens com ela, então se sentia um pouco despreparada de certa forma, pois estava sendo obrigada a usar apenas o que tinha.

O fato de Naruto estar lá para ajudá-la a deixava mais tranquila. Ela estaria sob um estresse absurdo sem a companhia dele. Hinata reconhecia o quanto a presença dele aliviava a tensão de seus ombros, principalmente quando ele estava cuidando dela.

Conforme as informações chegavam, Hinata descobria que os túneis de Kazuki eram bem movimentados. Ele tinha uma equipe própria para manter seus negócios funcionando quando ele estava fora.

As duas semanas que estavam por vir, a deixava nervosa e impaciente. Ela tinha medo de que algum de seus homens fosse descoberto e seu plano ir por água abaixo. O bom resultado dessa missão dependia mais deles do que dela no momento.

Naruto a acompanhou nas primeiras duas idas para receber as informações. Hinata tinha um shinobi que deveria cumprir com esse dever, mas ela o dispensou e resolveu receber as informações por conta própria.

"Koji irá para a coleta na próxima visita." Naruto lhe diz quando eles retornam.

Hinata o olha. "Por quê?"

"Porque você precisa treinar os homens que Susumu conseguiu reunir." Naruto a lembra e Hinata sente sua cabeça doer. Ela se apoia na mesa. "Eu quase me esqueci disso."

"Você não pode se encarregar de tudo, Hinata. Você tem uma equipe bem preparada para isso."

"Nunca foi tão difícil ser eu, sabia disso?" Ela diz divertida. "Nunca imaginei que minhas enxaquecas pudessem durar tantos dias."

Naruto se aproxima dela e remove uma mecha do lugar com o dedo indicador. "Você tem conseguido dormir?" Ela o olha com culpa nos olhos. "Não ouse mentir para mim."

O foco de Hinata era tanta que ela não conseguia descansar nem por um segundo sequer. Desde que dispensou seus homens, ela passava horas e horas repassando cada detalhe da missão para não deixar nada lhe escapar.

Ela estava sempre ocupada nas reuniões quando não estava indo coletar informações. Quando não conseguia dormir, ficava estudando sozinha para se sentir melhor preparada.

Por conta da sua tensão, ela não conseguiu passar muito tempo com Naruto da forma que desejava. Eles passavam o dia juntos trabalhando, mas a noite ficavam tão exaustos que não lhes sobrava tempo para desfrutar da companhia um do outro.

"Eu... minha cabeça está cheia. Não consigo desligar meus pensamentos para poder dormir."

"Eu vejo o cansaço em seus olhos." Sua mão acaricia ligeiramente a dela. "Não pegue tão pesado consigo mesma, Hinata."

"Eu não posso falhar."

"Você não vai!" Naruto aperta sua mão. "Estamos aqui para te ajudar, mas também precisamos de você. Você é o cérebro da operação."

"Me desculpe... eu só gosto de acompanhar tudo de perto."

"Está se desculpando por ser uma líder competente?" Naruto debocha e ela sorri para ele. "Posso falar para Susumu que você precisa descansar. Você pode treinar os rapazes amanhã."

Hinata balançou a cabeça. "Não, eu posso fazer isso. Prometi que ajudaria no treinamento."

"Tome pelo menos um chá antes de ir." Naruto a puxou até a pousada e pediu para uma das serviçais preparar um chá. "Vamos cuidar dessa sua enxaqueca primeiro."

Hinata sorri agradecida e toma o chá que lhe foi preparado. Esse era o modo que Naruto estava cuidando dela recentemente. Eles não compartilhavam uma noite juntos fazia quase uma semana. Hinata estava sob muita pressão e ele não queria ficar em cima dela feito um cachorro no cio.

Ele queria que ela descansasse, então não a incomodava pedindo que o visitasse no final da noite. Por mais que ele quisesse tê-la, ele tinha que reconhecer que no momento ela precisava de um companheiro de equipe mais do que um amante.

Eles vão juntos para o campo de treinamento secreto que o senhor feudal preparou para receber os homens que recrutou.

Todos dirigem seus olhos para Hinata quando ela surge.

Susumu a apresenta.

"Essa diante de vocês é Hinata Hyuga, a líder do clã Hyuga. Ela e seu clã, humildemente aceitaram o meu convite para conhecer a nossa pequena aldeia e compartilhar conosco um pouco do seu estilo de vida ninja. Nesse início de treinamento ela lhes dará algumas dicas de batalha para que vocês possam um dia, se for necessário, proteger suas famílias com mais eficiência."

"Nós estamos sob algum ataque?" Alguém ao fundo, pergunta.

"É por causa daquele grandalhão, não é mesmo? O que vem aterrorizando a vila ultimamente."

"Vai haver alguma guerra e não estamos sabendo?"

Hinata dá um passo à frente para conversar com o possível futuro reforço.

"Olá a todos. Sejam muito bem-vindos ao campo de treinamento do senhor feudal. Sei que devem estar um tanto confusos, mas posso lhes afirmar que não estamos em guerra. Esse treinamento será apenas para preparar melhor os homens dessa aldeia para terem a capacidade de proteger suas casas em uma situação de conflito."

Ela consegue todos os olhos em sua direção. "Acredito que o senhor feudal tenha bastante influência sobre vocês. Ele tem sido uma boa figura política?"

"Não temos muito o que reclamar, mas seria bom se ele nos ajudasse e nos livrasse daquele brutamontes que vem nos atormentando."

"Ele tem homens trabalhando pra ele, soldados treinados. Por que eles não dão um jeito naquele sujeito?"

"Ele vem e arranca de nós o pouco que conquistamos no dia. Tem sido um inferno!"

Hinata sinaliza para se acalmarem. "Sim, sim, eu estou ciente da situação. Esse homem a qual se referem tem quase dois metros de altura e muitos músculos, não é mesmo?"

Eles murmuram uma resposta entre si.

"E ele costumava usar um escudo?"

"Exato!"

"Acredito que ele não tenha cobrado os impostos de vocês há um tempo. Estou certa?"

Os rapazes se entreolharam. "Sim... parando pra pensar, faz um tempo que ele não aparece."

"Mas isso não significa que devemos abaixar a guarda. Ele vem quando quer!"

"Acho que desta vez ele não virá mesmo querendo." Hinata diz conforme anda pela sala. "Ele está preso."

"O senhor feudal conseguiu que seus homens o pegassem?"

"Mérito todo de Hinata-sama. Ela o derrotou." Susumu diz, orgulhoso.

"Ouvi dizer que a líder do clã Hyuga era mesmo formidável."

"Eu tive ajuda do meu agente ANBU." Hinata chama Naruto para mais perto. "Mas sim, o derrotamos e agora ele se encontra preso."

Ela se vira para os rapazes. "Mas ele não trabalhava sozinho, vocês sabem. Ele é apenas uma peça pequena de um grupo de bandidos que vem atormentando a vila de vocês. E devo dizer que é por essa razão que estão aqui hoje."

Ela se posiciona na frente deles. "Hoje vocês aprenderão um pouco do estilo shinobi de ser e como podem se defender. Neste exato momento os homens de Susumu-san estão trabalhando para derrotarmos essa máfia que assombra a cidade de vocês. E agora vocês terão a chance de lutar pelo lar de vocês também."

Ela lhes envia um sorriso gentil. "Nas sombras desta cidade existe um homem que atormenta muitas famílias indefesas. Nós estamos nos preparando para capturá-lo e subjugá-lo e para termos êxito em nossa missão, precisaremos da ajuda de vocês. Vocês querem uma chance de aprender a defender suas esposas e filhos?"

"Como faremos? Nunca tivemos treinamento ninja."

"Lhes ensinarei o básico e isso será o suficiente para poderem ser de grande ajuda. Vocês são grandes homens com famílias para cuidar e alimentar. E eu estou aqui para poder tirar das mãos deste tirano essas pessoas oprimidas. Gostaria de saber se posso contar com a ajuda de vocês?"

Hinata observa os rostos curiosos enquanto sua pergunta paira no ar. Eles pareciam tentados, mas um tanto confusos. Não acreditavam que poderiam se tornar ninjas da noite para o dia.

"Acho que eles precisam de um estímulo, Hinata-sama." Naruto diz ao seu lado. "Vamos mostrar a eles o básico que podem aprender."

Naruto a chama para um combate e Hinata se posiciona de frente para ele.

Os olhos de todos ficam atentos aos movimentos dos dois shinobis na sala e suas reações entregam seu interesse.

Naruto avança sobre Hinata e ela o neutraliza com movimentos simples. Eles repetem o ato alterando alguns golpes mais três vezes.

"Está dizendo que podemos fazer isso?" Um homem de cabelos loiros na fileira da frente pergunta.

"Com um pouco de treino, sim." Hinata responde feliz. "Não estamos em guerra, mas estamos prestes a enfrentar uma batalha para restaurar a ordem dessa cidade. Vocês precisam lutar por um lar mais seguro para suas famílias."

"Eu estou mais do que disposto a lutar para proteger meu lar." Depois de um minuto de silêncio, após o primeiro homem se manifestar, é seguido por ele um uníssono "eu também."

E Hinata sorri satisfeita por conseguir dar um motivo para esses homens lutarem. Ela zelaria pela vida de cada um nesse saguão e estava plenamente confiante de que Naruto cuidaria bem deles.

Eles não iriam de fato lutar, mas seriam o reforço que todos precisavam.

Ela inicia suas aulas ao lado de Naruto e é surpreendida pela empolgação dos homens. Os dois se encarregam de guiá-los durante as primeiras horas.

Susumu-san diz que quer se encarregar dessa questão. Hinata deixaria com ele um de seus homens para ajudar quando ela não pudesse comparecer e todos ficariam sob a supervisão do senhor feudal.

Ela sente que pode respirar tranquilamente pela primeira vez quando deixa o saguão ao lado de Naruto.

Estava satisfeita de ter conseguido seu reforço e isso renova sua fé na missão. Ela estava confiante de que tudo sairia como ela planejou.

"Aquela senhora agradável já preparou o seu banho." Naruto lhe diz enquanto caminha ao lado dela. "Você tem ordens para descansar imediatamente."

Ela levanta os olhos para ele. "Quem deu ordens a ela?"

"Eu!" Ele dá de ombros. "É para você não ter que escapar de novo."

Hinata leva a mão até a boca ao rir. "Tudo bem, desta vez acho que não conseguiria nem se tentasse. Estou tão cansada."

"Então tome seu banho e durma bastante. Outra parte já foi encerrada, se permita um bom descanso, Hinata."

"Obrigado por ter me ajudado com aqueles homens. A sua ideia de estimulá-los foi certeira."

"Nada estimula mais um homem a se superar do que ver uma mulher conseguir fazer o que ele não consegue."

"Acho que você tem razão."

Eles param na porta da pousada onde ela está hospedada. "Prometa que vai dormir. Esses dias ainda vão ser cansativos e você precisa se dar uma folga."

Hinata entrelaça os dedos atrás do corpo. "Quero te agradecer por estar sendo fundamental nessa missão. Eu estou imensamente feliz por você estar aqui, Naruto-kun."

Naruto a olha pela máscara. "Estou feliz em poder ajudar."

Hinata sustenta o olhar nele por um tempo antes de prosseguir meio relutante. "Descanse também, por favor. Eu preciso de você mais do que imagina."

Geralmente, a essa hora da noite, eles se enroscariam um no outro no recinto de Naruto e dava para sentir a saudades que sentiam um do outro naquele curto espaço que os separava.

Hinata sentia falta dos toques dele, do calor dele e do quanto ela se sentia bem quando estava nos braços dele. Apesar de estar imensamente cansada, ela queria tanto ir para o quarto dele e ela tenta transmitir isso pelos olhos, já que não pode falar em voz alta.

Sua mente pedia descanso, mas seu corpo gritava por Naruto. Ela estava há tempo demais sem o sentir e já estava sentindo a crise de abstinência de seus toques.

Naruto se encontrava na mesma situação e para ele era ainda pior ter que passar o dia inteiro ao lado de Hinata sem poder tocá-la da forma que ele queria. Ela estava sendo sempre requisitada dentro e fora do clã, todos queriam um pedaço dela ou precisavam dela. Eles estavam a tomando dele e isso o irritava.

Parado na frente dela, com ela a uns centímetros maior que ele por estar no alto da escada, ele conseguiu pela primeira vez ler os sinais sutis que seu corpo enviava.

Enquanto Naruto a observava por baixo da máscara, ele viu ela puxar as mãos das costas para frente e entrelaçar os dedos um no outro, seu polegar não parava de deslizar um sobre o outro e ela não desviava os olhos dele. Ela engoliu seco algumas vezes como se estivesse com sede e um leve rubor subiu pela bochecha pálida dela quando ela desviou o olhar do dele por um segundo. Entregando que algum pensamento inapropriado passou por sua mente.

Foi quando Naruto soube.

Ela o queria.

E estava sofrendo tanto quanto ele por isso.

O sangue quente de Naruto ferve por baixo de sua pele com a ideia de Hinata estar se segurando assim como ele. Ele não consegue deixar de se envaidecer sobre o desejo árduo dela por ele. Está tão implícito que ela não conseguiu disfarçar.

Ele pode ver que ela quer que ele saiba sobre o seu desejo, sobre as suas vontades. Ela demora para se despedir e a inquietude de seu corpo lhe passa a mensagem. O calor parece irradiar de ambos os corpos e eles tentam se manter no lugar para não se atacarem no meio do pátio.

Naruto sabia que Hinata precisava descansar, mas ele não queria perder as esperanças de vê-la mais tarde se assim for possível.

Ele obriga seu corpo a recuar um pouco. "Prometo que vou tentar." Ele se afasta uns passos. "Espero ter bons sonhos pelo menos."

"E com o que você geralmente sonha?"

A resposta imediata, exatamente na ponta da língua, carregava o nome da mulher que o questionou. Naruto percebe que seus sonhos, sejam eles enquanto dormia ou estava acordado, giravam em torno apenas dela. Ele a tinha em seus braços como nunca a teve antes e esse envolvimento estava conseguindo penetrar todas as suas barreiras e desbloquear sentimentos que ele antes desconhecia.

Ele tinha que admitir que Hinata rondava sua mente por tempo demais. Ele nunca pensava sobre o que estava acontecendo fora daquele pequeno vilarejo onde estavam. Eles estavam no meio de uma missão e tudo que ele conseguia pensar era em como a possuiria quando tivesse a chance de tê-la de novo. Mas não era apenas o seu corpo que ele ansiava, mais do que isso, ele queria a companhia dela o tempo inteiro. A presença calorosa e sublime dela eram um contraste com sua hiperatividade e impaciência. E Naruto gostava desse contraste.

Se ela concordasse em dormir com ele hoje à noite, ele poderia apenas a embalar nos braços até ela adormecer. Ela não precisava satisfazer seus desejos sórdidos, ele se contentaria em apenas niná-la.

O corpo dela era quente e se encaixava perfeitamente no dele. Naruto sabia que gostava disso e honestamente, queria repetir a última noite que compartilharam quando a colocou sob seus lençóis e adormeceu com o cheiro dela.

Apesar de sentir uma vontade desesperada de dizer que era ela o objeto de seus sonhos, ele se conforma em soltar a seguinte frase.

"Com tigelas e mais tigelas do Ichiraku-ramen."

A pequena mão dela voa até seus lábios para esconder sua risada incontida. "Eu devia imaginar."

Ele sorri cabisbaixo e enfia as mãos no bolso. "Boa noite, Hinata."

"Boa noite, Naruto-kun."

Hinata sente seu coração disparado dentro do peito quando fecha a porta atrás de si. Suas costas descansam sobre o material translúcido e ela tenta retomar o controle do seu corpo que parecia entrar em combustão a qualquer momento. Estava cada vez mais difícil suprimir seus desejos por Naruto.

Ela o espia pela brecha da porta enquanto caminha até o seu alojamento e sorri quando ele dá uma pequena olhada para trás.

Ela se sentia uma adolescente de dezesseis anos, totalmente apaixonada.

O pensamento logo é repreendido assim que passa por sua mente. Ela tinha que se lembrar da real situação deles e não poderia se dar ao luxo de se iludir. Apesar de estarem compartilhando bons momentos, Hinata não se esquecia que tudo não passaria de uma aventura assim que deixassem a aldeia.

Ela não passava de um passatempo divertido para o shinobi loiro.

Agora mesmo seu corpo queimava de saudades dele. Fazia tantos dias que eles não se tocavam, se conectavam e se entregavam. Hinata tentava ser sensata consigo mesma e manter seu autocontrole para não parecer desesperada. Mas quem poderia culpá-la? Pela primeira vez ela tinha Naruto para ela, somente para ela, então obviamente ela gostaria de aproveitar cada pequena oportunidade que tivesse para estar com ele.

E isso a deixava indecisa. Seu coração e mente sempre em conflito sobre o que fazer a seguir, sempre em rumos distantes.

Por um lado, ela sabia que o fim era iminente, então não tinha porque sofrer por antecipação. Sua sensatez lhe dizia para medir seus atos impulsivos e aproveitar apenas o agora. Mas, por outro lado, um encontro com ele após os eventos atuais acenderam uma pequena chama em seu coração. Uma esperança de que talvez, apenas talvez, aquilo não precisasse terminar tão cedo.

Hinata não queria se iludir, não precisava se iludir. O processo para cortar as raízes de sua paixão por Naruto de seu coração foi doloroso e cruel. Se conformar com uma vida sem ele quase a destruiu. Não era fácil abrir mão de um amor verdadeiro. Ela nunca entendeu porque era tão difícil deixar de amá-lo. Havia tantos outros homens no mundo, homens que poderiam até mesmo lhe dar um relacionamento feliz. Mas, porque seu coração imutável e teimoso se recusava a expurgá-lo, ela não conseguia se abrir para mais ninguém.

Foi só quando se tornou líder que seus pensamentos já não estavam mais nele. Seus afazeres no clã eram tantos que sua mente se mantinha ocupada na maior parte do tempo, não lhe dando espaço para amores não correspondidos.

Deixar Konoha foi a melhor decisão que tomou. Iniciar uma nova jornada que lhe exigiria todo o seu foco e empenho a ajudaram a deixá-lo para trás. Isso a ajudou a amadurecer emocionalmente também. Quando os anos passaram, ela percebeu que talvez não fosse tão ruim assim, mas nem isso a persuadiu a estar disponível para os demais.

Hinata tinha uma boa relação com a sua solidão. Se tornara sua amiga desde muito cedo, então ela a aceitava de bom grado. Era da sua natureza sofrer em silêncio. Quando mais nova tinha consciência da garota triste que todos viam nela. A pobre e coitadinha Hyuga. Rejeitada pelo próprio pai, considerada incapaz de vencer um simples duelo com a irmã cinco anos mais nova, que lhe custara sua posição no clã. Reclusa e fechada. Incapaz de completar uma frase sem gaguejar atiçando a impaciência de todos.

Sua timidez sempre foi uma pedra no seu caminho e ela estava feliz por conseguir controlá-la.

Quando ela entendeu que não era apenas um incômodo para seu pai, mas também para as pessoas ao redor, decidiu se esconder em sua concha e ali permanecer até que eventualmente desaparecesse.

Seria tão mais fácil se ela simplesmente não existisse.

Ninguém a enxergava, mas quando o fazia, ela era criticada. Não era aceita.

O fracasso do clã Hyuga. O desperdício de talento da família principal. A escória do clã.

A incapaz. A esquisita. A chorona. A invisível. A humilhada. A inferior.

Ah, ela ouvia os boatos, claro que sim. Mas o sorriso que entregava nunca deixava transparecer os pensamentos depreciativos que a rondavam.

Talvez seus olhos assustassem à primeira vista, mas seu sorriso sempre foi genuíno.

A gentileza também era da natureza de Hinata e quando ela percebeu que poderia alcançar as pessoas através dela, isso a ajudou a sair um pouco mais de sua concha.

Ela não queria apontar o dedo de volta. Não queria julgar da mesma forma que foi julgada. Queria fazer diferente, ser diferente. Quebrar o ciclo.

Ela sabe que teve uma inspiração para se reerguer também.

Apesar de Neji, que após resolver os próprios conflitos foi capaz de ser para ela um conforto sem igual, Hinata tinha se identificado com Naruto quando o conheceu, pois eles estavam no mesmo patamar. Ele também era chamado de fracasso, de demônio, de perdedor. Mas diferente dela, que preferia se esconder e chorar, ele estufava o peito, levantava o queixo e dizia em alto e bom-tom que um dia todos iriam vê-lo com outros olhos.

O esforço árduo que ele fazia para poder provar para todos que seria um grande ninja a motivou de uma forma irreversível.

Ela o observava fascinada treinar sozinho para melhorar. Sempre se levantava quando era derrubado, se recusando a aceitar a derrota. E sempre, sempre com convicção em suas palavras de que seria o melhor.

Naruto não era apenas uma paixão de infância. Ele era um dos pilares que Hinata usou para melhorar como pessoa e ninja. Ele era sua inspiração, sua força, seu raio de esperança de que um dia poderia se superar também.

Ele tinha algo de especial e Hinata foi a primeira a enxergá-lo.

Pensando melhor, ela entendia, sim, porque nunca foi capaz de desapegar completamente de seu amor por ele.

. . . . . .

Do outro lado do pátio, se encontrava Naruto. No momento, após o seu banho, estava deitado de barriga para cima e mãos abaixo da nuca enquanto fitava um ponto no teto do alojamento. Com Hinata em seus pensamentos.

O desejo entre eles havia ficado evidente hoje mais cedo e Naruto estava satisfeito em ver o efeito que também causava nela. Nada do que aconteceu até agora foi imaginação sua. Desde a fonte termal ele temia estar em um Genjutsu pesado sonhando com Hinata. Mas toda vez que ela estava em seus braços, ele a beijava para ter certeza de que ela era real.

Ele a queria em seus lençóis hoje à noite, assim como em todas as outras. Dormir com o calor dela o envolvendo foi mais gratificante do que Naruto gostaria de admitir.

Então era isso a tal intimidade? A conexão que permitia que duas pessoas estivessem uma ao lado da outra de forma tão natural. Era essa a sensação de estar com alguém que você gostava tanto?

Naruto fecha os olhos para visualizar sua amante. Lentamente a imagem dela ia se formando.

Aqueles olhos opacos com cílios esvoaçantes que arrancavam a sanidade de Naruto quando eram dirigidos a ele. As bochechas magras que ganhavam uma tonalidade rosada quando ele a elogiava ou a tomava. A boca com lábios vermelhos, levemente inchados e contidos que ela sempre escondia quando se esticava em uma risada. A sua pele, tão branca quanto a neve, em perfeito contraste com os fios preto azulados que adornavam o seu rosto simétrico.

Ela era inconfundivelmente linda.

Incomparavelmente bela.

Incontestavelmente perfeita.

"Porra..." Um silvo escapa pelos lábios dele ao se atentar a sua beleza. Se Hinata participasse de concursos de beleza, varreria todos os prêmios.

Um orgulho atravessa seu peito ao saber que era ele que estava com essa beldade nos braços. Que era ele quem Hinata buscava. Mas aparentemente, não hoje.

Ele decide se render ao sono na esperança de poder passar um tempo a sós com ela amanhã. Talvez se ele a capturasse entre os intervalos das sessões de treinamento, ninguém suspeitaria.

. . . . . .

Ao acordar na manhã seguinte, Naruto percebe que se atrasou para o treinamento. Não havia se dado conta do quanto seu corpo precisava de um descanso. Ele tinha a mania de achar que teria energias pra sempre.

Ele veste seu uniforme apressado e corre até o alojamento de treinamento.

Seus olhos procuram por Hinata no caminho, mas eles só a encontram no salão de treinamento. Empunhando algumas espadas e treinando com seu espadachim. O treinamento do dia apresentaria as armas brancas.

Para este dia de treinamento, ela trajava um uniforme estilo Shinobi Shozôku para proteger-se de eventuais cortes, já que a aula de hoje seria sobre o uso de ferramentas ninjas.

O seu traje ninja era composto por um Uwagi da cor vermelho vinho, a jaqueta e parte superior do quimono junto da Hakama, a parte inferior. O Obi que contornava sua cintura e fixava o Uwagi dentro da Hakama era da cor preta, uma pequena faixa. As luvas Tekko cobriam seus antebraços e o dorso da mão, também da cor preta. Seu Hakama se conectava com o Kyahan logo abaixo dos joelhos, que tinha como função básica prender justamente a boca da Hakama. Eles serviam como uma espécie de caneleira. E em seus pés havia o Tabi, a típica meia que tinha uma divisória que separava o dedão dos outros quatro dedos e uma sandália de palha de arroz chamada de Waraji.

O cabelo dela estava preso no alto da cabeça em um rabo de cavalo e sua expressão era de pura concentração, já que estava no meio de uma demonstração.

Hinata empunhava uma katana enquanto se dividia entre se defender de seu adversário e atacá-lo em seguida.

Naruto se junta à multidão para observar a luta e cruza os braços ao se encostar na parede. Só de observar pelos primeiros dez segundos, ele sabia dizer que o adversário dela estava se contendo.

Hinata parece perceber e para no meio da luta. "Por que tenho a impressão de que está segurando seus movimentos, Ren-kun?"

Seu espadachim endireitou sua postura e arregalou levemente os olhos. "Claro que não, Hinata-sama."

Hinata estreita os olhos para ele, divertida. "Eu sei reconhecer quando estou de fato sendo atacada."

Uma elevação passa por sua garganta quando ele engole em seco. "Eu juro que estou dando o meu melhor, Hinata-sama."

Naruto teve vontade de rir diante do nervosismo do rapaz. Eles estavam dando uma pequena demonstração de como seria uma luta entre duas pessoas armadas. Fazia parte da vasta lição do dia. Os reforços de Hinata aprenderiam a se defender com ferramentas ninjas, a atacar com elas e também como evitar os ataques delas se estivessem desarmados.

O espadachim de Hinata parecia nervoso diante da multidão que os assistia. Ou era sua própria líder que o amedrontava. Naruto suspeitava da segunda opção.

Talvez ele estivesse se contendo por ser apenas uma demonstração ou por medo de machucar Hinata.

Hinata agita a katana em sua mão. "Eu não sou Hinata-sama neste momento, Ren-kun. Você está diante do seu inimigo e precisa derrotá-lo." Ela aponta a lâmina para ele. "Como vai ensinar a esses homens como duelar com katanas se você está com tanto medo de me apunhalar?"

Naruto espia a multidão e ouve risadas incontidas. Hinata sabia como divertir os homens, principalmente humilhando outros.

Seu espadachim endireitou sua postura novamente e limpou a garganta. "Mil perdões, Hinata-sama. Devo melhorar o meu desempenho imediatamente."

"Deve lutar pela sua vida." Ela o corrige. "A sua atuação aqui servirá de exemplo para estes homens. Então, por favor, não me desaponte."

Ele acena e Naruto pode ver o suor escorrendo pelo pescoço dele, tamanha a tensão que ele sentia. "C-claro, mil perdões, a senhorita está-

O pobre espadachim é interrompido pelo próximo ataque de Hinata que quase não lhe dá chance de defesa. Ele levanta sua katana e se empenha em se defender dela, que havia aumentado a rapidez e força de seus golpes. Ele consegue desviar de dois ou quatro, mas no quinto ele é desarmado e derrubado.

Sua katana voa para longe enquanto a de Hinata beija a pele de seu pescoço, o fazendo sentir a lâmina fria. Ele não consegue evitar seus olhos espantados. Nem se lembrava de quando a espada foi arrancada de suas mãos.

"Você também vai pedir tantas desculpas no campo de batalha para o seu inimigo não lhe arrancar a cabeça?" Ele a observa do chão. "Sabe, eu te disse que era seu inimigo. E você acabou de ser decepado, Ren-kun."

O jovem no chão se encontra extremamente constrangido. Ele não ousa emitir mais um pedido de desculpas, se contentando em apenas acenar para sua líder.

"Vamos, levante!" Ela se afasta e abre espaço para ele se levantar, mas assim como da primeira vez, ela avança mal, lhe dando tempo de recuperar sua espada. O espadachim é incapaz de acompanhar a agilidade dela.

Ele é derrotado pelas próximas cinco vezes.

Os rapazes presentes se encontram admirados com a habilidade da líder Hyuga. Ela era implacável quando era necessário.

"Talvez se trocarmos as ferramentas o nosso querido Ren-kun possa nos proporcionar um duelo mais interessante." Ela pisca para os homens a assistindo e arranca deles altas risadas.

Naruto treme os ombros de tanto rir do jovem estirado no chão. O pobre não tem forças nem para se levantar.

"Talvez se trocar o adversário?!" Ele sugere ao caminhar para a arena e ajudar Ren-kun a se levantar. Hinata o olha de relance enquanto deposita sua katana na mesa para pegar uma arma diferente.

"Está se oferecendo para ser meu inimigo?" Ela sorri ao pegar uma espada estilo Claymore da mesa de ferramentas. Eram, na verdade, duas, pois o seu estilo e peso exigiam o manuseio em ambas as mãos.

Naruto se dirige até a outra mesa mais próxima para pegar o mesmo estilo de arma. Ele as balança enquanto se aproxima do centro.

"Prometo que serei um inimigo digno." Naruto se posiciona. "Não tenho receio em te apunhalar."

Hinata se junta a ele também entrando em posição. "Isso se você conseguir me apunhalar."

O clima de rivalidade entre eles leva a multidão à loucura com as provocações soltadas. Seus olhos ficam atentos esperando quem vai dar o primeiro golpe.

Conhecendo seu adversário como ninguém, Hinata espera pacientemente até que Naruto avance.

Hiperatividade incontida.

Ele começa com uma rasteira para distraí-la antes de atacá-la. Hinata desvia e se defende de uma bela sequência de golpes que deixa Naruto muito próximo a ela. Para ganhar espaço, ela abre as pernas no chão, defende seu ataque cruzando as espadas em um X acima da cabeça e gira no chão com uma dança de pernas que derrubaria Naruto se ele não se afastasse.

Ela apoia as palmas no chão para se impulsionar em um salto e se levantar. Ela se reergue com um giro de espadas e desta vez é Naruto que se defende.

O som das lâminas deslizando uma na outra é tudo que pode ser ouvido.

No meio da troca ele consegue pressioná-la o suficiente para encontrar uma abertura em sua posição. Ele se prepara para desarmá-la com sua lâmina, mas Hinata prevê seus movimentos.

Ela joga ambas as armas para o alto e apunhala o abdômen de Naruto com os dois pés para empurrá-lo para longe. Ao cair no chão, ela usa as mãos para impulsionar seu quadril e pernas para o alto e voltar à posição anterior em tempo de agarrar as lâminas que retornavam.

Ela as agarra e retorna para sua posição.

Um silvo de admiração é ouvido logo atrás pela plateia.

Naruto sorri sobre a máscara, completamente orgulhoso das habilidades de Hinata.

Ele se move lentamente contornando um círculo invisível entre eles e Hinata o acompanha.

"Você sabe mesmo como empunhar uma espada."

A memória dela rebatendo o ataque de Kazuki vaga em sua mente.

Hinata tinha alguns fios colados no rosto. "Elas não fazem muito o meu estilo, mas sempre quis aprender a usá-las. São mais letais."

"E ela vive me elogiando como um ninja dedicado, quando é ela quem se esforça tanto."

Naruto tenta a apunhalar mais uma vez e eles engajam em um duelo de lâminas contra lâminas. O embate fica tão disputado que a plateia acaba segurando o fôlego diante do desempenho dos ninjas.

Naruto não pretende facilitar para sua adversária, sabendo o quanto ela era astuta em ler os seus movimentos. Então ele trata de pressioná-la o máximo que pode até conseguir desarmá-la.

O seu ritmo acaba se sobrepondo ao dela e Hinata perde uma espada. Sem tempo para lamentações, ela continua se defendendo com apenas uma dos ataques de Naruto.

Ele pretende encurralá-la até que ela se canse e seus movimentos fiquem lentos. Ela começa a se esquivar e fugir, sempre tendo que esticar a espada para se defender.

Hinata dá um giro em trezentos e sessenta graus para se esquivar e tenta apunhalar Naruto ao completar a volta, mas ele se defende. A espada de Hinata contorna a dele e com um pouco de empenho ela consegue jogá-la para longe.

O jogo nivelou, mas já estava chegando ao fim.

Desta vez ela não perde tempo em atacar Naruto. Ele contorna alguns de seus golpes e consegue que a agarra de sua lâmina se enrosque na de Hinata e assim ele a puxa para perto. Ele agarra seu punho e a gira de costas para prendê-la contra seu corpo, torcendo o braço dela contra suas costas e a prendendo.

Ele empunha a espada contra seu pescoço e todos na sala enfim soltam a respiração.

"Foi interessante o suficiente?"

Hinata levanta a mão livre em rendimento. "Bom trabalho, ANBU!"

Por estar perto demais, Naruto não ouve o que ela diz, pois suas narinas são invadidas pelo aroma adocicado que emerge dela, combinada com a fina camada de suor que brilhava sob a pele. Ele se pega inalando o aroma dela de forma completamente inconsciente. Seu corpo se enche de êxtase e é como se ele estivesse consumindo a sua dose de cocaína pela primeira vez depois de uma recaída. Seu cérebro apaga no mesmo instante o fazendo se esquecer da pequena plateia que os assistia.

Hinata sente o rosto dele se aproximando de seu cangote e seu aperto se afrouxa em seu braço. O corpo dele se inclina sobre ela e para aproveitar a brecha que ele inconscientemente deu, seu primeiro movimento é usar seu braço livre para afastar a lâmina de seu pescoço. Ela puxa o outro braço de seu aperto e antes que Naruto possa reagir, Hinata empurra o próprio calcanhar no tornozelo dele o fazendo escorregar pelo piso e perder o equilíbrio. Consequentemente o peso dele cai sobre ela. E para completar o golpe, suas duas mãos agarram o braço dele no ar e o puxam, com o impulso de seu quadril para trás ela consegue levantar o corpo dele sob o dela e jogá-lo ao chão à sua frente.

Naruto bate as costas contra o tatame e quando consegue abrir os olhos, Hinata está sentada em seu peito o neutralizando no chão.

Seus joelhos dobrados prendem seus braços contra o chão. Ela tinha a espada dele na mão e um sorriso sereno nos lábios.

"Primeira regra ninja: Não se distraia diante do seu inimigo."

De onde ela tira tanta força? Ela é tão pequena...

A visão que Naruto tinha dela em cima dele não ajudou a acalmar os seus nervos. Ela estava tão ofegante quanto ele, mas sentada em seu peito, com o rosto dele há alguns centímetros longe do vão entre suas pernas.

Ele tomba a cabeça no chão: "Eu me rendo!"

Hinata sorri e abaixa sua espada. "Muito bem então. Quem será o próximo?"

Ambos são surpreendidos por quase todas as mãos estarem levantadas. Hinata acha graça, mas Naruto estreitou os olhos para os homens.

Mas é claro que desejavam estar no lugar dele.

O treinamento continuou até o fim da tarde. Hinata e Naruto deixaram os homens sob os cuidados de alguns ninjas Hyuga quando encerraram as atividades.

Hinata estava contente em poder compartilhar um pouco do seu conhecimento para os homens da vila. Ela acreditava que todos deveriam ser capazes de proteger aqueles que amam.

Ela sai do campo de treinamento ao lado de Naruto e vai direto para a sala de reuniões.

"Eu estava certa ou foi impressão minha?"

Ele se vira para ela. "Como?"

"Você se distraiu." Os olhos dela se divertem com ele.

"Foi impressão sua." Ele mente, mas Hinata continua.

"Ouvi você inalar no meu cangote."

"Foi impressão sua." Ele repete e ela sorri.

"Sorte a sua eu ter misericórdia de você. Porque você geralmente não tem de mim." Ela o provoca e Naruto sentiu seu sangue ferver.

Ela ri divertida para ele e abre a porta da sala de reuniões, não lhe dando tempo para responder.

"Como estamos?"

"Os resultados que coletamos hoje parecem promissores." Susumu se dirige a ela. "A infiltração está sendo um sucesso. Temos controle total de pelo menos três entradas já."

Hinata se aproxima da mesa. "Isso é ótimo. E elas nos levam até onde?"

"Bom, as duas primeiras são apenas túneis usados para exportação. Já a terceira é uma caverna desabrigada e fica bem perto da cidade. Seria um bom ponto para proteger a população. De fácil acesso."

"Fico feliz em saber disso. Bom que já tenhamos um ponto de abrigo. E a contagem dos bandidos?"

"Reduziu para setenta por cento."

"E quanto a Kazuki?"

"Ainda não apareceu, mas os rumores sugerem que ele volte para cá ainda essa semana. Não interrompemos a funcionalidade dos seus negócios para não levantar suspeitas. Conseguiremos manter o ritmo até ele voltar."

"Se ele voltar antes da próxima semana, então teremos que agir mais cedo."

"É uma possibilidade. Por isso o treino de hoje foi com armas. Eles precisam se preparar o mais rápido possível."

Hinata acena. "Tudo bem. Entendi. O que mais?"

"Temos uma novidade. Achamos mais do material daquele escudo que obstruiu a sua visão." Um soldado coloca a pequena amostra na mesa. "É de origem desconhecida, talvez alienígena."

"Vocês já o examinaram?"

"Sim, mas não obtivemos muitos resultados. Aquele escudo foi moldado através desse meteorito. Há apenas uma pequena quantidade nele, mas foi o suficiente para burlar sua visão."

"E isso foi tudo que encontraram?"

"Por enquanto, sim, mas a busca continua."

Naruto se aproxima para analisar o conteúdo. "Conheço alguém que pode buscar mais informações." Ele se vira para Hinata. "Mas precisaria levar até o Rokudaime primeiro."

"Isso seria de grande interesse para Konoha. Você tem permissão para levá-lo ou enviá-lo. Acredito que meus homens não avançariam com as buscas, de qualquer maneira."

"Por hoje é só. É tudo que temos."

Hinata planejava descansar após o treino, mas com a possibilidade de Kazuki aparecer a qualquer momento, ela precisava deixar o reforço melhor preparado.

"Vamos retomar o treinamento." Ela olha para Naruto. "Aumentaremos o ritmo a partir de hoje. Podemos entrar em posição de ataque a qualquer momento. Não temos tempo a perder."

O tom dela estava carregado de seriedade e determinação. Naruto apenas a obedece e a segue de volta para a arena.

No caminho de volta para o alojamento, Naruto sente a tensão irradiar de Hinata. Ela ficou apreensiva.

Antes que possam ser vistos, ele agarra a mão dela, o que a faz olhá-lo em confusão.

"Não vamos falhar nessa missão, Hinata." Ele aperta seus dedos contra os dela em uma tentativa de acalmá-la. "Você está mais do que preparada. Nós vamos pegar esse cara!"

Hinata apertou seus dedos contra os dele em forma de agradecimento e lhe enviou um sorriso. Ela caminha ao lado dele e só solta sua mão quando precisa passar pela porta.

. . . . .

O treinamento foi puxado e Hinata pegou duro com os rapazes, mas eles pareciam mais empolgados do que indispostos. A expectativa de luta os enchia de coragem e energia. O caos que a natureza de todo homem ansiava.

A notícia de que Kazuki retornaria para a vila dentro de alguns dias acionou um sino de alerta na mente de Hinata. Ainda não havia uma data específica para sua chegada e a informação ainda poderia ser equivocada. Seus informantes estavam se esforçando para dar-lhes melhores informações.

Assim que Kazuki pisasse na vila, Hinata partiria para dar um fim nisso.

A realidade do que estava prestes a acontecer caiu sobre a líder, não a permitindo controlar sua ansiedade. Sua mente inquieta a fazia ficar mais em silêncio do que o comum. Hora elaborando estratégias para o ataque e hora duvidando de si mesma.

Naruto não pôde deixar de perceber a preocupação em seus olhos enquanto ela treinava alguns homens. Ela não parecia distante, apenas determinada. Como se quisesse acabar com aquilo no mesmo instante.

Ela não esbanjou sorrisos ou discursos motivadores. Ela exigiu foco dos recrutas e empenho para um aprendizado rápido.

Naruto sabia que o que a atormentava era justamente aqueles homens. Hinata queria que eles estivessem preparados para o pior. Porque apesar de ter um plano para afastá-los do conflito, o envolvimento deles poderia ser inevitável.

Em questão de segundos, todos os possíveis cenários do que poderia dar errado atravessaram a mente da líder, a fazendo questionar mais uma vez sua própria competência para liderar uma missão de tamanha importância.

Foi escolha dela não recuar. Foi escolha dela dar uma segunda chance a Susumu e ajudá-lo a recuperar o controle da cidade. Ela acreditava desde o início de que conseguiria. Ela tinha que acreditar que conseguiria.

Naruto queria conversar com ela. Aliviar a tensão de seus ombros e encorajá-la. Mas Hinata se distanciava quando precisava focar em seus problemas.

Ele a observou o tempo todo até voltarem para a pousada. Hinata lhe disse que iria para um banho e que descansaria o resto da noite, mas Naruto sabia que era mentira.

Ela já não estava dormindo apropriadamente nesses últimos dias. Hoje, ele tinha certeza de que ela não conseguiria pregar os olhos.

Ele queria oferecer a sua ajuda, mas não queria forçá-la a ficar na companhia dele por mais tempo. Talvez ele mais atrapalhasse do que ajudasse.

Ela mal o olhou nos olhos quando se despediu, indo direto para seu alojamento. Naruto viu a ansiedade transbordando dela quando a assistiu remover seus protetores de braço ainda a caminho do banho e soltar os cabelos que estavam presos.

A mente dela estava sendo atormentada e ele queria mais do que tudo ser a cura para seus demônios.

Naruto tenta relaxar o resto da noite após o seu banho, mas tudo que ele consegue é um emaranhado de lençol ao seu redor por não conseguir parar quieto na cama.

Ele decide se dar alguma tarefa, qualquer coisa que o distraísse de seus pensamentos e na melhor das hipóteses, que os suspendesse.

Ele se senta na mesa e começa a afiar suas kunais e sua espada. Uma recontagem das suas shurikens é feita mais de uma vez. Ele decide limpar sua máscara da raposa, mas quando a encara nas mãos se lembra dela no rosto de Hinata.

Ela certamente seria uma ANBU acima da média.

Naruto tentava controlar a sua vontade de invadir o quarto dela para verificar se ela estava bem. Não lhe agradava saber que Hinata estava enfrentando suas inseguranças sozinha.

Exasperado por não poder tomar atitude alguma, suas mãos voam para seus fios loiros e rebeldes, os bagunçando em uma tentativa inútil de afastar os pensamentos dela por alguns momentos.

O cabelo dele havia crescido alguns centímetros desde que iniciou sua missão com Hinata. Ele já estava fora fazia um tempo quando retornou para Konoha e aceitou a nova missão. Não teve tempo de aparar o cabelo. Ele percebe as pontinhas roçando em sua orelha e sabe que dentro de mais uns dois meses, talvez ele voltasse a ter o cabelo que adotava aos seus dezesseis anos.

A ideia não o agrada muito. Ele não tinha mais o rosto juvenil da época, então acreditava que a franja grande não lhe cairia bem.

Quando pensou que havia se distraído, uma pergunta involuntária surgiu dos confins de sua mente.

Será que Hinata teria uma opinião sobre isso? Ela iria preferir fios longos ou curtos?

Ele é interrompido de seu devaneio quando alguém bate na porta.

Já se passavam das 23h da noite e o serviço da pousada parava de funcionar às 22h.

O que significava que só poderia ser uma pessoa batendo à sua porta.

Ele corre para abri-la em ansiedade e seu sorriso se estende pelo rosto ao ver a pequena figura à sua frente.

"Hinata!"

"Boa noite, Naruto-kun! Atrapalho?"

"Não, claro que não. Entra!" Naruto a puxa para dentro e verifica se ninguém a viu antes de trancar a porta.

Ele percebe a sua postura acuada. Não era a mesma que ela adotava na maioria das vezes que estava em seu alojamento.

"Está tudo bem?" Ele procura por seus olhos, que insistem em fitar o chão.

Ela remove o capuz e lhe joga um sorriso inseguro. "Sim... estou bem..." Seus dedos se contorcem um no outro. "O que estava fazendo? Interrompi seu sono, não é mesmo? E-eu sinto muito! Posso voltar outra hora..."

Naruto agarrou os ombros dela, quando ela tentou se dirigir até a porta. "Não, eu não estava fazendo nada. Não consegui dormir, então fiquei de bobeira. O que houve?"

Hinata não entendeu muito bem como seus pés a levaram até o alojamento onde Naruto estava hospedado. Ela se lembrava de estar verificando pela décima vez as informações que recebeu até agora, quando no próximo segundo sua mão já estava batendo contra a porta dele. Desejando que ele não estivesse dormindo para poder conversar com ela. Seu coração inquieto de alguma forma sabia que ele conseguiria acalmá-la.

Ela não queria admitir que estava aflita com a missão se aproximando. Talvez Naruto não a respeitasse mais como líder se soubesse que ela, em alguns momentos, ainda era a garota insegura de anos atrás.

Nem sempre ela conseguia sustentar a pose de durona. Em sua posição, admitir suas fraquezas era algo inaceitável. Sendo líder de um clã respeitado como os Hyuga, demonstrar fraqueza ou incertezas era um luxo que ela não poderia se dar. E nesse momento, muitos dependiam dela. Ela tinha que ser a dama de ferro inabalável que os levaria para vitória. Não havia espaço para receios.

Mas antes de ser uma líder, ela era humana, cheia de fraquezas, inseguranças, incertezas e descrevibilidade em si mesma. Algo que assombrou a sua infância toda.

O fracasso era um sentimento do qual estava familiarizada.

Uma sombra com raízes profundas que agora, mais do que nunca, a perseguia por conta de suas novas responsabilidades.

"Eu também não consegui dormir." Ela ri pelo nariz. "Na verdade, tem dias que eu não sei o que é dormir. Por mais que eu me esforce, minha mente se recusa a desligar. Eu tenho medo de perder algo enquanto durmo..."

"Você está nervosa com a missão se aproximando."

Os olhos dela se arregalaram e ela o pergunta com tristeza. "Está tão na cara assim?"

"Não, só da para ver que você está fragilizada agora. Durante o dia senti sua tensão, mas isso é porque eu te conheço melhor do que a maioria. Consigo te ler algumas vezes."

Hinata abaixa os olhos. "Eu não deveria estar tão nervosa." Ela ri de si mesma. "Estava confiante até alguns dias atrás e agora pareço uma líder de quinta categoria. Uma figura mentirosa e sem credibilidade."

"Não, não, não. Isso não é verdade. Venha aqui!" Naruto segura em seu pulso e a puxa para se sentar ao lado dele na beirada da cama. Ele coloca as mechas escuras atrás das orelhas dela para poder enxergar seu rosto melhor e levanta o pequeno rosto dela em suas mãos grandes.

"Como pode dizer isso de si mesma depois de tudo que você tem feito? É completamente normal você estar nervosa com a ideia de entrarmos em posição de ataque a qualquer momento. Seria imprudência se não estivesse."

Os olhos dela se deslocam pelos deles de um lado para o outro, procurando conforto. "E-eu não quero duvidar de mim mesma, eu só temo que as coisas não saiam como planejamos... que todo esforço, todo empenho, seja em vão…"

"Está tudo indo exatamente como queríamos. Quando o momento chegar eu sei que você vai estar preparada. Nós estaremos. Você está treinando aqueles homens com tanto afinco. Temos um reforço muito bom. Não tem com o que se preocupar."

"Eu nunca tive tanta gente dependendo de mim antes. Acho que a ideia me apavorou um pouco."

Naruto acaricia a bochecha dela com o dedão. "Não existe pessoa melhor para liderar essas pessoas do que você." Naruto a diz sorridente. "Você é a pessoa mais responsável que eu conheço. Se preocupa tanto com os outros, mais do que com você mesma. Eu sei que você sabe muito bem o que está fazendo. Não coloque a sua habilidade como líder à prova por conta da sua ansiedade. Nervosismo significa que você se importa."

Naruto encara os olhos inseguros dela e sua expressão abatida. As sobrancelhas unidas em preocupação.

"Naruto-kun, às vezes eu não sou capaz de decidir nem que roupa usarei para começar o dia. E acredite, isso acaba comigo!"

Naruto acaba rindo do desabafo dela. "É sério! Isso me frustra tanto! Como vou decidir algo pela vida dessas pessoas?"

"Hinata, você parece que se esqueceu de que não está sozinha nessa. Isso é um trabalho em equipe, ou seja, só vai dar certo se trabalharmos todos juntos. Não coloque todo o fardo da missão em seus ombros só porque você está na liderança. Uma missão bem sucedida é o resultado do bom trabalho em equipe e estamos todos dando o nosso melhor aqui."

As palavras dele parecem a atingir.

"Acho que você tem razão..."

"Palavras do Shikamaru." Um sorriso travesso passa por seus lábios. "Fizemos muitas missões juntos, então acabei pegando um pouco dos discursos dele. Ele sabe ser motivador quando quer."

O peito de Naruto se enche com o sorriso tímido que ele consegue de Hinata.

"Shikamaru sempre tão sábio. Sendo sua ou dele, agradeço por compartilhar o pensamento comigo. Você tem razão, estamos todos dando o nosso melhor e nossa equipe é grande. Estão todos muito envolvidos. Estou imensamente orgulhosa do esforço de todos. Não tenho do que reclamar nesse quesito."

Ela levanta os olhos para ele. "E é claro, tenho que me lembrar de que não estou sozinha." Seu sorriso envia pontadas no peito do shinobi loiro e Naruto sorri de volta.

Hinata pousou a palma em cima da mão dele em seu rosto. "Desculpa te aborrecer com minha insegurança. Não queria que você tivesse um vislumbre da antiga Hinata... sempre duvidando de si mesma."

Naruto a impede de desviar os olhos dele. "Eu gostava da antiga Hinata." Ele transmite sinceridade em suas orbes azuis. "Assim como também gosto da atual. Nunca vi nada de errado em você. Acha que eu não sou o antigo Naruto às vezes? Porque o que eu mais escuto é que eu nunca mudei. Sempre o lerdo e idiota Naruto!"

"Eu discordo. Você mudou sim!"

"É mesmo?"

"Sim, está mais alto agora." Ela brinca. "E mais bronzeado."

Naruto revirou os olhos, mas ficou feliz com a risada tímida dela. Ele estava conseguindo acalmá-la.

"Tá bom! Mérito todo meu, pelo menos." Ele brinca de volta. "Mas é só isso? Eu não melhorei em nada na sua opinião? Ficamos quase quatro anos sem nos ver e você só tem isso a dizer?"

"Bom..." Ela o analisa minuciosamente. Naruto escorrega as mãos do rosto dela, quando ela faz menção de tocar o dele. Hinata desliza a ponta dos dedos nos traços do seu rosto. Contornando a linha firme de seu maxilar definido. As invisíveis linhas de expressão em sua testa. Suas sobrancelhas, que pareciam brilhar de tão loirinhas. Ela cutuca a ponta do seu nariz arrebitado e espalma as mãos até suas orelhas. Ela esfrega os polegares em suas bochechas, contornando seus famosos bigodes de raposa e com o restante dos dedos acaricia atrás de sua orelha e sua nuca.

Naruto apenas a observa enquanto ela o analisa. Mas sem deixar de se deliciar com o toque carinhoso e gentil dela.

"Eu gostei do novo corte que você aderiu." Ela assume. "Seu cabelo nunca deixa de ser rebelde, mas assim parece comportado." Ela ri baixinho. "Mas está crescendo novamente." Ela percebe ao puxar as pontinhas que há alguns minutos, Naruto também estava puxando.

"Se essa missão se prolongar por mais alguns meses, eu terei o mesmo cabelo dos meus 16 anos." Ele sente as mãos de Hinata pararem com o carinho e abre os olhos. "O que foi?"

"Ahn? N-nada!" Hinata foi pega de surpresa com a ideia de Naruto voltar com o mesmo corte de antes. Com a franja grande quase cobrindo seus olhos, os fios ultrapassando a nuca e fugindo da sua bandana, apontando para todas as direções.

Ela não sabe dizer se conseguiria lidar com essa visão. Talvez fosse demais para seu pobre coração aguentar.

Ela sabe que aos seus olhos, Naruto nunca deixaria de ostentar a beleza que possuía. Não importa com qual corte de cabelo ele decida aderir.

Mas o Naruto com madeixas grandes mexia mais com seus sentimentos por ser o garoto com quem ela sonhou por muito tempo.

A ideia de vê-lo da mesma forma arranca ar de seus pulmões. Ela admitia que gostou da ideia, mas também torcia para nunca ter que realizá-la.

"Não acha que ficaria legal? Tava me perguntando isso hoje mesmo. Porque às vezes acontece de eu ficar muito tempo fora em missão e quando retorno para vila, meu cabelo está maior que o normal."

"C-claro que ficaria bom. Você ficaria lindo de qualquer forma, Naruto-kun."

O sorriso que ele a envia parecia imensamente satisfatório, o que confunde Hinata, mas ela decide não elaborar.

"Você também está mais bonita." Ele diz de repente. "Você sempre foi bonita. Estonteante, na verdade. Mas te ver depois de um tempo me fez ver isso com mais clareza. Você é linda!"

Ele acaricia a bochecha dela. "Mas não, não está mais alta, continua uma tampinha de tão baixinha. Como você não cresceu um centímetro sequer durante todo esse tempo?"

Hinata nem tem tempo de se envergonhar pelo elogio dele, pois trata de se defender. "Ei! Eu não sou tão baixinha assim! Você que é... exageradamente alto." Ela foge do olhar dele. "Não sei para que pernas tão longas!"

"Para poder te capturar quando você inventa de fugir de mim."

Hinata vê a diversão no rosto dele. "Não vai ser tão fácil na próxima vez."

"Que bom, porque eu estou sedento por uma próxima vez."

O olhar felino que ele lança para Hinata brilha em seu rosto. Ele estava falando a verdade. Adoraria se divertir com ela na floresta mais uma vez.

"Se me lembro bem, você não estava animado para jogar naquele dia."

"Eu descobri que você consegue deixar tudo mais interessante. E você sabe que eu adoro um desafio."

"Claro!" Hinata junta os dedos em seu colo. "Obrigada, Naruto-kun. Eu estou me sentindo melhor."

Naruto tem um sorriso sereno, um sorriso que geralmente gruda em seu rosto quando Hinata estava na sua frente. Aparecia sem ele perceber.

"Sabe que pode contar comigo."

Ele a observa fitar seus dedos enrolados um no outro e sabe que ela está prestes a ir embora. Está procurando uma maneira de se despedir.

Invadido pela vontade de passar mais uma noite com ela em seu peito, ele adquire coragem para fazer-lhe o seguinte convite.

"Hinata?"

Ela se vira para ele. "Sim?"

"Quer passar a noite?"

Ela não esperava pelo convite. Suas bochechas ficam em um tom carmesim no mesmo instante. "Ah… não, e-eu não quero te incomodar, Naruto-kun..."

"Eu aposto que consigo te fazer dormir feito um bebê. Você nunca me atrapalha e sabe disso."

"Eu não sei, Naruto-kun... na verdade eu ainda tenho algumas papeladas para revisar..."

"Você quer que eu implore?" Ele cobre as mãos dela. "Porque eu posso implorar."

"N-Não, não precisa disso!"

"Então diz que vai ficar." Ele aperta a sua mão. "Eu prometo que não vou te atacar durante a noite. Vamos só dormir, nada mais."

Hinata não sabe se fica contente com a informação. Ela morde o interior da sua bochecha enquanto se decide.

"Eu sei que eu geralmente sou muito bom em te manter acordada..." Ele a provoca com o rosto a centímetros do dela. "... mas essa noite eu prometo que vou apenas te colocar para dormir."

"Você não precisa fazer isso..."

"Preciso e quero. Você queria a minha ajuda, então agora você a tem. Venha!"

Hinata é puxada por Naruto e deixa ele remover o sobretudo que ela usava para não ser vista caminhando até o quarto dele.

Ele a senta na cama novamente e agarra seus tornozelos para poder remover a sandália.

Hinata puxa o pé em reflexo quando os dedos dele roçam a sola do seu pé.

"Cócegas!"

Ele sorri ao ouvir a risada dela e leva o pé dela até o seu ombro. Ele acaricia seu tornozelo antes de depositar um beijo no mesmo lugar e fazer uma pequena trilha com a boca até o pé.

"Eu nunca vi um pé tão bonito em toda a minha vida."

Hinata solta uma risada quando Naruto esfrega sua bochecha contra o pé dela.

"Naruto-kun! Pare com isso!"

O rosto dela já estava esquentando novamente com o caminho que a mão dele trilhava do seu tornozelo até seu joelho, sendo seguido pelos beijos dele.

"Você precisa de uma boa noite de descanso. Então eu me encarregarei disso, Hinata-sama."

Hinata o observa levantar e sente as mãos ávidas dele encaixarem embaixo de seus braços e a levantando na cama para poder fazê-la se sentar mais ao meio dela.

A pequena líder se sente constrangida pela facilidade que ele a pegou, como se não fosse preciso usar muito de sua força. Como se ela tivesse o peso de uma criança de doze anos.

"Naruto-kun, o que você está fazendo..."

Hinata se senta mais para trás quando ele sobe na cama. Ele fica sob seus joelhos e agarra o tornozelo dela novamente.

"Hoje, para nossa hóspede especial, como cortesia da casa, vamos lhe oferecer um kit de massagem completo para uma melhor experiência dos nossos serviços Uzumaki."

A voz atuante dele saiu esganiçada, o que arranca uma risada de Hinata.

Ela afunda as palmas na cama atrás dela e vê as mãos de Naruto trabalharem em uma massagem em seus pés.

"Esses lindos e pequenos pés precisam de cuidados, sabia? Eles carregam todo o peso da sua realeza. Merecem um mimo."

Ele dá um pulo da cama somente para poder pegar um dos óleos relaxantes na prateleira do banheiro e logo retorna para Hinata.

"Óleo de amêndoa para relaxar os músculos e dar a sensação de leveza." Ele faz sua propaganda do produto antes de depositar o conteúdo na mão e espalhar pelo pé de Hinata.

A morena não consegue evitar sorrir diante da atenção que estava recebendo dele.

Naruto estava provando que realmente era habilidoso com as mãos. Não que fosse novidade para sua companheira, já que ela descobriu suas habilidades há umas semanas, no meio da floresta.

O pensamento quente faz as bochechas dela se avermelharem e Naruto percebe.

"Estou lhe causando cócegas?"

Ela solta o lábio que estava preso entre os dentes. "Não. Você tem boas mãos. Não sabia que você tinha dons como massagista."

Naruto pressiona alguns pontos na sola do pé dela e Hinata consegue relaxar.

"Nem eu sabia, estou descobrindo agora." Ele pisca para ela. "Você é a primeira que está usufruindo dos serviços especiais Uzumaki. Espero estar atingindo suas expectativas."

"Levando em conta que nunca recebi uma massagem antes, o serviço está do meu agrado."

Naruto faz um bico nos lábios. "Eu poderia passar a noite inteira adorando esses pés de princesa. Nem parece que você passa o dia inteiro treinando." Naruto a olha. "Assim como poderia passar a noite inteira adorando o restante do seu corpo também."

A provocação surtiu efeito em Hinata. Ele consegue ver ela desviar o olhar, envergonhada.

"Mas hoje você disse que apenas se empenharia em me ajudar a dormir."

"E é exatamente isso que estou fazendo." Ele troca de pé e refaz todos os passos do primeiro. "Vamos te relaxar primeiro e depois te colocar para dormir."

Após terminar a massagem nos pézinhos pequenos de Hinata, o loirinho troca o pote na prateleira e retorna para a cama.

"Você confia em mim?" Ele pergunta e Hinata acena com uma mãozinha no peito em apreensão.

"Se vire de costas pra mim." Naruto ordena e mesmo um tanto confusa, ela o obedece. Ela gira no colchão e espera por mais instruções.

Ela sente o colchão afundar atrás dela e os braços de Naruto ao seu redor. As mãos dele desfaz o nó de seu Obi. Ele puxa a faixa e a deixa ao seu lado na cama.

Para resistir à tentação que o ronda, Naruto dá a Hinata mais uma instrução antes de continuar.

"Se deite de bruços."

Hinata se espalha na cama para poder se deitar. Ela sente Naruto passar as pernas ao redor de seu quadril e se sentar um pouco abaixo de sua bunda. Ele se inclina sobre ela para puxar o tecido de seus ombros e Hinata desce os braços para ele poder removê-lo completamente.

O coração dela já bate um tanto descoordenado no peito, mas ela tenta não transparecer.

Ela sente um frio em suas costas, agora nua. Seu quimono foi puxado até o seu lombar. Ela descansa os braços ao lado da cabeça e sente Naruto se aproximar de sua nuca quando ele junta o amontoado de seu cabelo e a coloca de lado.

A ponta do nariz dele desliza pela sua orelha e Hinata se contorce por conta do arrepio que a atravessa. Ele sorri da reação dela e desce por seu pescoço. As lufadas de ar que escapam de seus lábios enviam mais arrepios ao corpo de Hinata e ela se repreende por esperar que Naruto não cumpra com sua promessa de mais cedo.

Sentir os lábios pecaminosos dele trilharem um caminho por sua nuca, ombro e costas estavam causando sensações nela. O calor começava a irradiar e seu pulso acelerar.

Naruto inspira todo o aroma adocicado que emana de Hinata conforme adora suas costas com a boca. Ele passa por suas omoplatas e deixa um rastro pela sua espinha até seu lombar.

Naruto se obriga a desgrudar sua boca da pele macia dela. Mais uma vez, ele espalha outro tipo de óleo na palma das mãos e começa a espalhar o conteúdo pelas costas dela.

Hinata solta um suspiro quase que instantaneamente quando ele começa a massagear seus ombros, aliviando uma tensão deles que ela nem percebeu que estava lá.

Ela fecha os olhos e relaxa seus músculos, os deixando sob os cuidados de Naruto. Os pelinhos de seu corpo inteiro se arrepiam com os apertos que ele deixava, agarrando um punhado de carne e a massageando. Pressionando alguns pontos com os dedos e deslizando em movimentos circulares.

Ele desce para seu lombar e coloca mais pressão na região, o que arranca um pequeno gemido de Hinata.

Naruto a fita, intrigado, mesmo que ela não consiga o olhar de volta. "Muita tensão aqui, hein?!"

Ele agarra sua cintura e volta a subir por sua coluna. Seus dedos pressionam novamente seus ombros e escorregam por seus braços.

Naruto espia o rosto dela e percebe a sonolência tomar conta dela. Ele finaliza sua massagem com beijos e mais beijos por seus ombros e nuca e ouve Hinata ronronar abaixo dele. Ele a veste novamente e amarra seu quimono. As luzes são apagadas e ao se deitar ao lado dela, ele a puxa para seu peito.

Hinata se aconchega nos braços dele e enterra o rosto na curva do pescoço de Naruto. Ele entrelaça os longos dedos nos fios preto azulados do cabelo dela e massageia seu couro cabeludo.

Ele não tem certeza se ela já estava dormindo quando a ouviu dizer com a voz arrastada de sono e cansaço. "Obrigado por tudo, Naruto-kun..." Mas ele sabe que o peito dele se apertou e com isso um sorriso cresceu em seus lábios.

O carinho dele somado aos seus cuidados anteriores levaram Hinata deste mundo em um piscar de olhos. Naruto soube que ela adormeceu quando o corpo dela pesou mais em cima do dele. Os ombros e peito dela se elevam um pouco a mais por conta da sua respiração pesada.

Naruto não consegue desviar os olhos do corpo dela encaixado no dele sob a penumbra da noite. Ele acaricia a coxa desnuda que ela havia inconscientemente deixado em cima de sua barriga. Ele abre a mão dela fechada em punho em seu peito e com os dedos envoltos aos dela, ele os descansa em seus próprios lábios enquanto sua segunda mão brinca com o cabelo dela escorregando pelos dedos.

O destino tinha uma maneira engraçada de descoordenar nossos caminhos, e uma forma mais intrigante ainda de cruzar esses caminhos com os de outros. Os encontros e desencontros da vida nem sempre eram explicados, mas temos o costume de pensar que aconteciam por alguma razão. Romantizamos o acaso. Temos essa mania de ter fé nos acontecimentos aleatórios e pensar que talvez o universo esteja querendo nos dizer algo, nos enviar algo, nos ensinar algo. Não gostamos da ideia do acaso ser simplesmente o acaso. Sem mais e nem menos.

Tudo que nos acontece tem que ter um motivo. Algo maior do que nós mesmos e que vai além da nossa compreensão, mas que acontece por um motivo, por menor que ele seja.

Nem tudo tem que ser explicado, mas com certeza tem que ser sentido.

Porque através do sentimento alcançamos o entendimento.

E o entendimento estava prestes a cair sobre Naruto à medida que ele pensava sobre como seu corpo reagia quando tinha esse pequeno ser em seus braços. Como sua mente fazia um esforço maior para gravar cada traço dela em sua memória, só porque não queria perder nada. Como sua caixa torácica parecia que ia ser rasgada ao meio quando ela o procurava, o tocava, o queria, o buscava e o completava. Como ele se sentia o homem mais sortudo do mundo quando ela o desejava ou quando permitia que ele a adorasse.

A onda avassaladora que estava invadindo seu sistema, derrubando suas fronteiras e destruindo suas defesas estava avançando em níveis catastróficos e perigosamente evoluindo sua afeição por Hinata para algo maior, mais arrebatador, mais intenso.

Essa enxurrada de sentimentos semi descobertos estava se infiltrando por suas entranhas e tomando conta de todo o seu coração, ganhando forças e atingindo a compreensão de Naruto. E por mais que ele estivesse confuso no início, agora estava tão claro quanto a luz do dia. Agora ele sente. E por ele sentir, ele sabe.

Naruto sabe que possivelmente, apenas possivelmente, sua velha amiga de infância esteja acendendo as chamas da paixão em seu tórrido e confuso coração.

Naruto sabe que as chances eram grandes, que os sinais estavam cada vez mais claros e que ele precisava admitir isso para si mesmo antes de qualquer coisa.

Seus batimentos sobem e sua respiração engata quando o pensamento surge. Ele estava prestes a admitir. E uma vez admitindo ele teria que agir.

A antecipação ataca sua ansiedade e ele aperta o pequeno ser contra o peito. Ele inala o cheiro de seus cabelos para acalmar os nervos e sente as raízes daquele novo sentimento se instalarem em seu interior.

Ele enfim admite o que estava bem diante dos seus olhos desde o início.

O que se tornou inevitável desde que a tocou pela primeira vez.

Desde que a provou pela primeira vez.

Desde que a tomou pela primeira vez.

Desde que a adorou pela primeira vez.

Não havia mais motivos para lutar. Ele decidiu se render.

E uma vez rendido, era um caminho sem volta.

Com seu coração batendo alto no peito, tão alto que ele teme despertá-la de seu sono, Naruto finalmente aceita o mais novo sentimento que bateu na sua porta sem pedir licença.

Com o calor dela aquecendo seu peito, Naruto enfim abraça o incontestável fato de que ele possa estar, inevitavelmente, se apaixonando por Hinata Hyuga.