O dia amanheceu e mesmo sentindo que muito provavelmente Hinata não gostaria da sua escolta, Naruto levantou cedo para terminar de cumprir com seu dever. Após tomar um banho e vestir seu uniforme, saiu de seu alojamento e inevitavelmente a procurou pela pousada.
Na noite anterior, pouco antes de se recolher, um shinobi Hyuga veio lhe avisar que a partida deles de Kiri foi adiada por mais um dia. Eles não partiriam nessa manhã, mas sim na seguinte. Naruto já conseguia imaginar o porquê.
Hinata e ele não se falaram novamente na noite anterior após o suposto rompimento entre eles. Suposto porque eles não estavam exatamente em um compromisso para terem rompido com algo. Era engraçado pensar que romperam, afinal, nada entre eles estava definido. Nunca conversaram as claras sobre isso. Eles apenas estavam envolvidos, e Naruto, aparentemente, mais do que ela.
Ele ficou apreensivo o restante da noite, com o coração pesado, quebrado e desiludido. Se perguntando por que ele se deixou levar até esse ponto. Por que se iludiu dessa maneira com Hinata? Ela era uma amiga e nunca imaginou que ela pudesse balançar seu coração dessa maneira. Ficou surpreso quando percebeu que poderia estar se apaixonando por ela, que ela estava aos poucos, se tornando a garota dos seus sonhos.
Naruto tinha um imenso respeito por Hinata, ela lutou ao seu lado na guerra e em algumas missões para a Folha. O apreço que ele tinha por ela era maior do que por qualquer outro amigo. Gostava de ser cuidadoso porque ela era tão delicada. E talvez tenha sido esse respeito que o impedia de ter tais pensamentos sobre ela, quase a colocando como uma santa. O que ele descobriu muito prazerosamente, que não era o caso dela. Hinata era mais mulher do que ele poderia imaginar e descobrir as facetas dessa extraordinária beldade o arrebatou de tal maneira que ele não consegue prever quando vai poder superá-la.
Ela conseguiu invadir seu coração em uma velocidade imprevisível, quase como se estivesse apenas reivindicando um lugar que já a pertencia, mas Naruto não sabia. Tudo fluiu de forma tão natural que ele não parou para analisar os contrapontos apropriadamente ou de até mesmo proteger seu coração de uma possível desilusão. Assim como Naruto é desenfreado, seus sentimentos não seriam diferentes. Ele estava tão cego por ela, tão envolvido. Não pensou que algo ruim poderia sair do que começaram. Não era o que ele queria.
Após não ver sinal algum de Hinata, ficou o restante da noite em seu quarto, não querendo estar por perto quando ela fosse finalmente cortejada por Susumu e se tornasse noiva dele. Ele agradeceria se o senhor feudal arrastasse Hinata para a mansão dele para fazer o pedido, assim ele não teria que ouvir a festa que seria comemorada pelos fãs do casal.
Ele gostaria de sofrer sozinho e em silêncio, obrigado.
O gosto amargo e doloroso do fim permaneceu em sua garganta. Todo o seu ser foi invadido pelo sentimento de insuficiência, de estupidez. Naruto sabia que geralmente não era a primeira escolha das mulheres e raramente ele se sentia especial perto de uma. A sua fama na guerra o rendeu alguns interesses em sua direção, mas não era a mesma coisa. Nenhuma mulher no mundo o havia feito se sentir como se sentiu quando estava com Hinata. O sentimento que ela o envolveu foi tão grande que quando percebeu já estava fazendo planos com ela. Pensando em uma maneira de ficar com ela, de nomear o que tinham e ficarem juntos.
As coisas mudaram tão rápido, mesmo que tenham se estendido por dois meses. Os dois meses mais incríveis de sua vida.
De qualquer forma, respeitando as escolhas de Hinata, ele jamais forçaria sua presença na vida dela. Ele não iria arruinar os seus planos, eles já estavam pré-definidos antes dele retornar para sua vida. Naruto havia ficado longe por tempo demais. Hinata estava fora do seu alcance há muito tempo. Ele não tinha direito de aparecer após 3 anos e reivindicar algum direito sobre ela. Por mais que a sensação que tomou conta dele quando a reencontrou na floresta fosse de que não havia se passado nem um dia longe dela, Naruto percebeu aos poucos a encantadora mulher na qual ela havia se tornado. O fazendo lamentar ter passado tanto tempo longe. Perdendo tempo com qualquer garota aleatória quando poderia estar com ela nos braços por mais tempo.
Curioso a sensação de ser rejeitado mesmo que de forma indireta. Ela esteve em seus braços, mas não foi ele quem ela escolheu.
O pensamento o incomoda e ele tenta dispersá-lo. Tudo isso não tinha mais importância, de qualquer maneira. Eles iriam partir de Kiri e ele estava apenas esperando para deixar Hinata em sua cidade e depois retornar para Konoha. Passaria inúmeros dias tentando superar o que aconteceu e com muita sorte, tirar Hinata de seu coração.
Ele desiste de procurá-la após rodar a pousada inteira. Talvez estivesse com Susumu. Porém, indo contra todo o seu sistema, ele aborda a funcionária da pousada que costumava fazer a limpeza do quarto dela.
"Ahn… com licença. Hinata-sama, ela está em algum lugar por aqui? A procurei por toda parte…"
"Ela acabou de sair. Pediu para separar um cavalo para ela e partiu pela saída secundária."
Claro que ela sairia sem a escolta dele. A expressão de Naruto endurece.
"Ela estava sozinha?"
"Sim, estava."
"Ela disse quando retornaria?"
"Não, senhor, ela não disse."
"Certo… obrigado."
Naruto pondera se vai atrás dela. Ele não deveria deixá-la cavalgar sozinha, mesmo que a cidade esteja segura, mesmo que ela não queira sua companhia.
A quem ele queria enganar? Ele só queria vê-la, mesmo que não tivesse direito a isso. Mas se Hinata saiu para cavalgar, obviamente gostaria de ficar sozinha. Ou talvez fosse se encontrar com seu noivo em outro lugar, agora que Naruto e ela já não tinham mais encontros previstos.
Engolindo o bolo que desce pela sua garganta com o pensamento, ele desiste da ideia de ir atrás dela, temendo se deparar com algo que embrulharia seu estômago e trilha um caminho oposto ao dela, decidindo passar o resto da tarde meditando ou apenas correndo. Qualquer coisa que o distraísse de seus pensamentos melancólicos e depressivos até que estivesse finalmente fazendo sua viagem de volta à Konoha.
. . . . . .
Passado algumas horas, Naruto retorna. Seu coração bate apreensivo com a possibilidade de se deparar com ela pela pousada.
Ele não vê a sombra de Hinata pelo resto da tarde e decide ir verificar se ela já retornou. Simplesmente não conseguia se prevenir de se preocupar com ela. Ele ainda era o encarregado de sua segurança.
Ele se aproxima da porta de seu alojamento, mas um shinobi fazia… guarda?
"Boa tarde, ANBU."
"Boa tarde." Naruto responde incerto. "Hinata, ela…"
"Ela pediu para não ser incomodada, senhor."
"Ela está bem?"
"Sim, está, mas disse que ficaria o restante do dia ocupada e que não quer ser perturbada."
"Ocupada com o quê?"
"Assuntos com o senhor feudal Susumu, eu imagino. Ele esteve aqui mais cedo."
A sensação de derrota o invade novamente e Naruto sente seu coração despencar. Uma onda avassaladora de ciúme o atinge e ele tem vontade de arrombar a porta, mas não o faz, no entanto. Ele apenas lamenta. Por que ele foi perguntar?
"Entendo. Então, aparentemente eu não tenho permissão para vê-la, é isso?"
O shinobi parece nervoso em acenar em concordância, não entendendo por que o escolta pessoal de Hinata não tem permissão de vê-la.
"Ela incluiu todo mundo… sinto muito, ANBU. Quer que eu passe algum recado?"
Naruto balança a cabeça para os lados. "Não, obrigado. Me avise se ela precisar de meus serviços."
Ele dá as costas, inquieto e irritado. Sua vontade era de quebrar alguma coisa. Ele deveria fazer isso, era uma boa terapia. Sentia que estava sendo tomado por seu ciúme incontrolável e que esse sentimento somado aos demais o levariam a loucura. Ele não precisava perder a postura, precisava se colocar em seu devido lugar naquela situação e aceitar que perdeu. Aquele espaço na vida de Hinata não era dele.
Mas que droga!
Os pensamentos de Naruto o torturaram o dia inteiro. Não importava para onde ele corresse, sua atenção sempre voltava para Hinata. Seu interior gritando para pelo menos vê-la, necessitado de fixar os olhos na figura dela apenas para se certificar de que ela estava ali, de que o que eles tiveram não foi imaginação sua ou um genjutsu poderoso em que ele caiu. Foi real, ela era real, o que viveram foi real, os seus sentimentos eram reais.
Como ele gostava de se torturar.
Uma vez ele questionou um amor não correspondido de um colega. Se perguntou porque perder tempo desejando alguém que não o queria. O sentimento simplesmente não lhe era lógico, pelo menos não até hoje.
Qualquer um que tivesse Hinata da forma como ele teve teria o coração enlaçado para todo sempre por essa mulher. Era simplesmente impossível não a desejar, mesmo tendo a perdido. Agora ele entendia o sentimento perfeitamente.
Naruto já era inquieto de natureza, mas hoje a sua hiperatividade estava presente apenas por conta de Hinata e toda a confusão que ela o deixou. Para tentar acalmar os nervos, ele se afasta da pousada para meditar e isso o ajuda por algumas horas, quase nada. Ele tenta se enganar mais uma vez, mas ele tinha que tentar.
Escorado em uma grande rocha e assistindo o pôr do sol, uma sensação incomoda grita em seu peito, uma que ele não tem a capacidade de decifrar exatamente o que é ou o que quer dele. Mas algo estava incerto, faltando e estava o atingindo, como se não tivesse acabado ainda.
Naruto se encontrava incapaz de coordenar suas emoções, ele apenas sentia tudo lhe destroçar, lhe machucar e o destruir. Ele devia se acostumar com a sensação quanto antes, pois sentia que ela o acompanharia por um tempo. Mas um conforto nisso tudo ele tinha. Não teria que conviver com a imagem de Hinata sendo esposa de outro homem, afinal eles viviam em vilas diferentes. De repente ele agradece por ela não estar mais na Folha. Ele não teria que passar por essa tortura. Com ela longe de seus olhos, seu sofrimento seria menor.
Assim que retornasse, seu treinamento para ser Hokage se iniciaria e logo ele a esqueceria, com muito custo a esqueceria. Esse era o seu plano no momento, era tudo que ele tinha.
Seu peito dói mais uma vez e ele se frustra com a sua própria miséria. Irritado, decide voltar para a pousada e tomar outro banho somente para sair novamente antes de finalmente descansar para partir na manhã seguinte. No entanto, assim que aterrissa na entrada da pousada, o mesmo shinobi que estava fazendo guarda para Hinata caminha até ele. Naruto não consegue impedir que seu coração pule no peito.
Hinata precisava dele?
Ele vai ao encontro do rapaz e o observa fazer uma reverência, algo que Naruto dispensa imediatamente, sem entender.
"É para agradecer pelos seus serviços prestados, ANBU." Ele se justifica antes de lhe estender um pergaminho.
"O que é isso?"
"É a sua carta de menções honrosas, senhor. Assinada pela nossa líder Hyuga e Hiashi Hyuga." Naruto o olha. "Hinata-sama está lhe dispensando de seus deveres."
Sua mente e coração param de funcionar por um momento.
"O quê?"
"Ela me pediu para procurá-lo e lhe entregar a carta que havia prometido. Hinata-sama disse que o senhor está dispensado de seus deveres com os Hyuga e pode retornar para a Folha imediatamente. Ela humildemente o agradece pelo trabalho duro." Ele faz outra reverência e Naruto apenas paralisa no lugar.
"Eu pensei que faria a escolta dela na viagem de volta..."
"Ela disse que não será necessário. Seus serviços já foram mais que o suficiente. Está livre de sua missão. Tem permissão para retornar para a Folha quando desejar. Obrigado por toda ajuda, ANBU. Faça uma viagem segura de volta. Com licença!"
Completamente estático em seu lugar, Naruto apenas observa o shinobi se afastar. A carta mal pode ser sentida entre seus dedos, pois todo seu corpo está amortecido e sua mente se recusando a compreender o que acabou de acontecer.
Hinata o dispensou da missão e preferiu não o fazer pessoalmente. O encontro conturbado e distorcido que tiveram na noite anterior, sendo provavelmente o último entre eles. Era assim que eles encerrariam seus momentos compartilhados, dentro e fora da missão. Sem se olhar, sem se falar, sem se tocar, sem se despedir.
Naruto sentia que mediante aos recentes acontecimentos, essa atitude era esperada. Hinata e ele não tiveram um desfecho gentil e amigável. Naruto foi duro com ela e certamente deve ter a incomodado. Não agiu feito um adulto que estava ciente desse possível rompimento. Era algo possível e previsto desde o início, mas não era o que ele queria. A revolta o cegou e ele decidiu colocar um fim antes dela, a poupando de ter que dispensá-lo pateticamente, lhe dizendo que o tempo que passaram juntos foi bom, mas que ela precisava voltar para seus deveres e obrigações, para a sua vida, na qual ele não estava incluído já fazia 3 anos. O seu orgulho ferido e coração partido não o permitiu deixar que ela o rejeitasse, então, preferiu o fazer primeiro. A última coisa que ele queria era ouvir da boca dela a confirmação de que estava noiva de Susumu e por isso eles tinham que parar de se ver. Se adiantou e colocou um fim na relação deles. Hinata aceitou, sem muitos protestos.
A dualidade conflitante entre o que escapava de sua boca e o que seu coração ansiava receber o destroçaram quando seus ouvidos não captaram nenhum protesto partindo de seus lábios. Evitou encarar seus belos e envolventes olhos, mas quando o fez, esperava encontrar desespero, indicando que ela não queria o fim. Ele esperou pacientemente por uma objeção, seu coração selvagem e ansioso desejando que o som da voz dela lhe dissesse que não, não era isso que ela queria, aquele não precisava ser o fim, eles não confundiram nada, eles descobriram tudo, se amavam, se queriam, se desejavam. Ela o desejava.
Mas o olhar endurecido de Hinata e sua postura inabalável de líder logo se fizeram presente e tudo que ela fez foi aceitar de bom grado o doloroso fim, acabando com qualquer lampejo de esperança que tenha restado no pobre coração de Naruto. Quando ela virou as costas, ele sabia que havia cometido a maior burrada de sua vida, mas não tinha como retroceder. Ele queria uma mulher que pertencia a outro, ele tinha que admitir a sua derrota.
Sem nem ao menos se dar conta de como seu corpo estava reagindo àquela notícia, o pergaminho em sua mão é quase destroçado pela força de seus músculos se flexionando ao redor do material.
"Naruto!"
O aviso de Kurama o traz de volta e seus ombros relaxam, diferente de seu coração. O alojamento dela à vista o machuca e ele se lembra da vez que escalou por sua janela para poder se desculpar, não suportando a simples ideia dela o odiar nem por um segundo. Ele pensou que conseguia ganhar a sua redenção muito fácil, que tinha algum poder sobre ela. Ah, mas que ingênuo engano. Para um homem que se dizia esperto, Naruto sabe que foi o mais tolo dos homens apaixonados ao acreditar nessa mentira. O domínio sempre esteve nas mãos dela.
Sua mente fértil tenta visualizar a imagem dela dentro de seu quarto nesse momento, sentada sobre o tatame, deslizando a tinta sobre um pergaminho, um vinco de concentração surgindo em sua testa. Uma mecha do longo cabelo escorregadio e preto-azulado atrás da orelha. O pulso delicado descoberto pelo quimono de tonalidades claras que a adornava.
Inesperavelmente ele sente o cheiro dela, como se estivesse agora mesmo com o rosto enterrado na curva de seu pescoço, a atrapalhando de seus deveres. O som da risada dela invade seus ouvidos.
A imagem o perturba.
Tudo que lhe restou foi a sua memória, que se esforçou muito para gravar cada traço dela, pois sua visão não será mais preenchida pela sua silhueta.
"Acredito que esse pergaminho tenha que chegar inteiro até o Hokage."
Seus dedos com vida própria retornaram a maltratar o objeto inocente e Naruto tem que se lembrar da força anormal que possuía. Cabisbaixo, ele funga por baixo da máscara e caminha até seu quarto para pegar seus pertences.
"Estamos de saída mesmo?"
Kurama parece surpresa, mas nada acrescenta após a resposta de seu hospedeiro.
"Não temos mais nada para fazer aqui."
. . . . . . .
Ela havia saído para cavalgar cedo. Não dormiu direito.
Era difícil ser a líder Hyuga em um momento de fragilidade, ela queria um tempo para si, precisava ficar sozinha, ser a Hinata livre de suas obrigações, livre dos seus tormentos e livre das suas amarras. Ela precisava sumir.
A sensação libertadora duraria apenas algumas horas, alguns minutos, mas era uma dose bem-vinda. Seu coração não iria se curar de um dia para o outro, de qualquer maneira.
Os caminhos que havia trilhado ao lado de seu guarda pessoal foram evitados, não era disso que precisava. Dispensou a companhia de qualquer shinobi, disse que estava bem e que retornaria logo. Seu pai simplesmente pediu que não a incomodassem.
A vegetação carregada de verde e campos floridos passava feito um borrão ao redor dela. Sua companheira de viagem, uma belíssima égua de penugem e crina negra, trotava a todo vapor conforme os comandos de sua passageira. Inclinada sobre o animal com sede de velocidade tanto quanto ela, a franja de seu rosto voava para os lados e seus fios longos eram varridos para trás. O vento forte beijava seu rosto e arrastava as longas mangas de seu quimono. A sensação era maravilhosa. O dia estava impecavelmente lindo e ela podia sentir o gosto da liberdade pela primeira vez em muito tempo.
Sua mente ficou em branco e tudo que ela queria era sentir que se corresse mais, poderia sair voando para fora desse plano, deixando para trás toda dor e angústia que a perseguiam.
Naruto lhe daria um sermão se soubesse a que velocidade estava correndo.
Ele jamais a deixaria sair dos limites da pousada sem ele.
Ela tenta espantar o pensamento inconsciente que a revisitou.
Ela não era mais problema dele.
A velocidade diminui e Hinata contempla o clima matinal ao seu redor.
Percebeu que talvez tenha ido longe demais, prometeu a si mesma que não se afastaria tanto, mas precisava prolongar a sensação o máximo que conseguisse.
Mesmo se esforçando, era inevitável não pensar em Naruto. A partir do momento que a corrida virou caminhada, sua mente retorna para as memórias da noite anterior e seu coração sangra.
Acabou.
Foi exatamente como ela previu no início, quando ainda estava lúcida. Eles romperiam e seguiriam seus rumos distintos, como deveria ser. Ela não deveria ter ficado tão surpresa ou chateada com a atitude de Naruto. Não era para isso acontecer desde o início?
Mas ele havia dito que a queria, ele havia implorado por noites e mais noites ao lado dela, mesmo que ela tivesse que acordar e se retirar antes dele.
Ele a fazia se sentir tão bem. O que ela teve o privilégio de sentir no íntimo de seu ser ao lado de Naruto ficaria gravado em seu corpo para todo sempre. Afinal, ela conseguiu o que sempre quis, não é mesmo?
Ela conseguiu uma parte de Naruto, porque o homem inteiro, Hinata sabia que nunca teria.
Como o esperado, ela se iludiu com os toques dele, suas palavras carinhosas, seus atos gentis e sua preocupação genuína. Ele sempre foi encantador, sempre galante, prestativo, honesto, verdadeiro e um grande amigo.
Ela se atreveu a confundir as coisas mesmo que por pouco tempo. Foi o suficiente para o lampejo de esperança em seu coração acender tão forte que ela se viu confessando seu amor para ele. Ela quase lhe contou, mas ainda bem que não o fez.
A rejeição seria ainda mais humilhante.
Odiaria ver nos olhos dele o sentimento de pena. Não se sentindo capaz de retribuir seu amor, teria que rejeitar seus sentimentos. Naruto se sentiria péssimo, ela sabe que sim. Ele se importava com todos os seus amigos e ela era uma amiga, uma que passou dos limites. Aquilo nunca daria certo, alguém sairia certamente machucado.
Obviamente que seria ela.
Ele decidiu colocar um fim imediatamente assim que o relacionamento secreto deles apresentou riscos ao seu objetivo. Ele estava certo, um escândalo desses o impediria de ser nomeado. Hinata jamais se perdoaria por tirar de suas mãos o maior sonho de sua vida.
Ela o entendia…
Mas ainda doía como o inferno.
"Nós confundimos as coisas… de qualquer maneira, estávamos caminhando para esse fim, não é? É melhor assim, antes que alguém se machuque, afinal, somos amigos…"
Ela sempre esteve machucada só de estar perto dele, principalmente quando a atenção que ela tanto desejava ter era direcionada a outra pessoa. Era um sentimento tão familiar para Hinata que ela acreditou que conseguiria ludibriar desta vez, mas se enganou.
Estava tão destruída quanto da última vez, se não de forma pior.
Ela sabia que nunca mais seria a mesma depois do que tiveram.
Por que as pessoas faziam isso? Por que o desejo ardente falava mais alto do que a razão, a sensatez, o juízo? Por que se aventurar em algo incerto sabendo do resultado catastrófico para seu coração? Condenar a sua alma por um mero momento de felicidade valeria tanto a pena assim?
Ao que parece, mesmo diante de todo sofrimento do mundo, ter o menor resquício do que acreditava ser o amor, valeria a pena.
Amor.
Cometer loucuras para senti-lo, ser amado. É isso que nos move, é isso que significa viver.
Hinata acreditou que pôde amar Naruto durante esses dois meses, mesmo que ele não tenha a amado de volta, ela ainda sentiu como era pertencer a alguém. Era nisso que se apegaria. Era o que tinha sobrado.
Seja como for, um coração partido não era o fim do mundo. A líder Hyuga tinha uma vida cheia de responsabilidades e não poderia fugir delas. Precisava se recompor e continuar vivendo como sempre fez.
Ela estava bem antes de Naruto, e retornaria para o mesmo estado.
Puxando as rédeas de sua égua, Hinata dá meia volta para trotar seu retorno para a pousada na mesma velocidade que saiu.
Ao chegar, Susumu a espera em seus aposentos, com seu costumeiro sorriso gentil no rosto. Hinata lhe devolve o sorriso e se senta à sua frente, pronta para finalizar sua última pendência.
. . . . . . .
O dia se transformou em noite e após a cavalgada, Hinata não deixou seu alojamento em nenhum momento do dia. Ela conversou com seus shinobis e estava tudo preparado para partirem na manhã seguinte. Seus próprios pertences já estavam embrulhados e esperando serem despejados na carruagem que a levaria de volta à Otahan.
Após escrever a carta de menções honrosas para dispensar o agente ANBU de suas obrigações com o clã, Hiashi foi atrás da filha para assinar o documento.
Ele a encontra em seu quarto, trabalhando.
"Aqui está o que me pediu." Ele estende o pergaminho em sua mesa. "Falta a assinatura da líder."
Hinata levanta os olhos de seu próprio pergaminho para assinar o solicitado. Hiashi a observa enrolá-lo e selá-lo antes de se levantar.
"Obrigado, otou-san."
Ele a segue pelas escadas, alcançando o andar inferior e a vê entregar o pergaminho nas mãos de um shinobi que estava fazendo guarda do lado de fora.
"Entregue isto nas mãos do agente ANBU, por favor."
Hiashi não evitou questionar-se sobre a dispensa prévia de Naruto. Acreditava que ele retornaria com eles para Otahan e, portanto, não tardou a indagar a filha.
"Você vai dispensá-lo ainda hoje? Agora?"
Hinata acena.
"Ele deveria escoltá-la de volta a Otahan amanhã e seria suspenso assim que chegássemos ao complexo."
"Kakashi-sensei o enviou uma carta avisando que seu retorno à Folha dará início ao seu treinamento para Hokage. De forma discreta, acredito que ele esteja sendo solicitado. A missão durou mais tempo que o previsto e ele não tem mais nada para fazer aqui, de qualquer maneira. A cidade está limpa, então o dispensarei. Não preciso de escolta em nosso retorno."
A ideia não o agrada. A preferência de Hiashi era manter a escolta de Naruto até Hinata chegar em casa em segurança, mas ele não se oporia às ordens da líder. Entretanto, algo lhe dizia que havia perdido alguma coisa.
"Entregue a ele e o agradeça pelos serviços prestados. O clã Hyuga agradece o esforço dedicado. Diga-o que tem permissão para retornar para Konoha imediatamente."
"Aconteceu alguma coisa?" Ele não evitou a pergunta. Foi uma atitude que ele não esperava da filha.
"Sim." Hinata deixa o pergaminho na mão do shinobi. "A missão dele acabou." E agradecendo ao shinobi, ela sorri minimamente para o pai antes de subir as escadas e voltar a trabalhar em seu quarto.
"Hinata…"
"Vou terminar meus afazeres e descansar para a viagem de amanhã, otou-san. Estou com uma leve enxaqueca." A voz dela ecoa conforme sobe as escadas, não abrindo brechas para um diálogo com o pai sobre Naruto.
Hiashi não insiste.
. . . . . .
Seus músculos dos ombros e pescoço doem quando ela decide finalmente sair da posição atual. Seus braços são levantados e seu pescoço esticado, estalando um pouco.
Ficou tempo demais trabalhando, mas foi bom, a distraiu e era isso que ela queria. Agora, no entanto, precisava realmente descansar. Arrumou sua pequena mesa e se levantou para remover a tensão do restante de seu corpo. Uma corrente de ar gelada entrou pela janela de seu quarto e Hinata estremeceu. Seu olhar se dirigiu até a janela e involuntariamente sua mente visualizou Naruto adentrando pela mesma, como havia feito umas semanas atrás.
Ele a fez prometer que deixaria a janela sempre aberta para ele.
Com um aperto no peito, ela se aproxima e segura no material deslizante, mas antes de completar sua ação, sua visão é atraída para o alojamento dele que ficava há alguns metros à frente. As luzes estavam apagadas. Hinata fecha a janela.
Ao descer as escadas, ela procura por um pouco de chá antes de se deitar para dormir.
Uma funcionária a aborda na cozinha.
"Pensei que já estivesse dormindo, Hinata-sama."
"Em alguns minutos. Estou com uma dor de cabeça que insiste em me atazanar." Ela se dirige para preparar um chá, mas a mulher ao seu lado a interrompe.
"Por favor, deixe-me servi-la. Posso ajudá-la com isso."
Hinata sorri em agradecimento e aguarda o pequeno chá. Assim que o recebe, sobe com ele para seu quarto e se prepara para dormir após bebê-lo.
. . . . . . .
Ele já percorreu um bom caminho desde que partiu. Levou cerca de quase duas horas para sair do quarto. Apesar de seu ímpeto de raiva pela atitude de Hinata, algo ainda o prendia no lugar. Queria ao menos falar com ela uma última vez, mas entendeu que ela não iria até ele e muito menos o receberia. Não havia mais nada a ser feito. Quando finalmente decidiu que deveria ir embora, pegou seus pertences e saiu portão afora.
Estava nesse exato momento em sua corrida entre as árvores, com a mente conturbada e seu chakra descoordenado. Um pequeno vinco nunca deixava sua testa, expressando sua mente atormentada, e a força usada para saltar dos galhos estava acima do necessário.
A inquietude crescendo em seu peito a cada passo que dava para longe dela.
Parecia tão errado estar aumentando a distância dos corpos, quando tudo que ele ansiava desesperadamente era diminuí-la.
Um dos galhos que usou como apoio para o impulso se partiu por conta de sua força e Naruto se desequilibrou. Conseguiu se recompor a tempo suficiente, impedindo que seu rosto atinja o chão, mas desferiu um xingamento mesmo assim, ao cair cambaleante.
"Merda!"
Removeu a mochila das costas e a jogou no chão junto de sua máscara, manifestando com ações o seu descontentamento. Suas mãos bagunçaram seu cabelo e foi nesse momento que ele percebeu que elas estavam tremendo.
Naruto tenta normalizar sua respiração, sua descompostura, mas está lhe parecendo uma tarefa impossível.
"Você está criando uma bagunça dentro de você. Se acalme, Naruto."
A voz de Kurama o alerta sobre seu chakra e Naruto respira fundo ao apoiar ambas as mãos contra um tronco.
"Eu não consigo."
"Acho que nunca te vi tão perturbado assim antes."
Ele fecha os olhos e sente seu peito doer. Sutilmente, ele percebe sua respiração ficar escassa.
Algum ponto de chakra entupiu e a culpa foi dele.
Com muito esforço, seus olhos se fecham e ele usa uma técnica de respiração que Jiraiya o ensinou há muito tempo para coordenar o chakra alterado entre outras coisas. Era uma técnica para reunir um pouco mais de chakra quando necessário, mas ajudava igualmente na situação atual.
A frustração emocional de Naruto era tanta que acabou afetando sua corrente de chakra e quando isso acontece, Kurama também é afetada. Ela fica resmungando em seu ouvido e ele precisava se acalmar.
Após algumas lufadas de ar, ele sente o ponto de chakra entupido se abrir e sua respiração normalizar. Seus olhos se abrem e ele pode sentir sua mente mais clara.
"Como vamos seguir viagem desse jeito se você está sujeito a se estrepar sozinho pelo caminho?"
Kurama resmunga novamente e Naruto lhe envia um rosnado.
"Se a sua ideia é tentar me acalmar, você não está fazendo um bom trabalho."
"Eu não estou. A luta é sua, irmão. Foi você que terminou com ela."
"Kurama!"
"Você tomou uma atitude idiota e agora está aqui, completamente inapto para lidar com ela. Patético, Naruto." Kurama faz um som de reprovação e Naruto respira fundo.
"Você tem a incrível habilidade de abrir a boca em momentos errados, sabia disso? Por que não fica quietinha?"
"Eu ficaria, se meu chakra estivesse em equilíbrio, o que não era o caso. Tive que intervir. Se recomponha, Naruto, ou não chegaremos à Konoha inteiros."
O silêncio de Naruto a incomoda de alguma forma. Por estar há tanto tempo com ele, ela consegue sentir a melancolia que erradia por seu corpo, concentrado em seu peito, o que causou o emaranhado em seu chakra.
Naruto não era facilmente abalado, seus sentimentos eram quase invencíveis, portanto, vê-lo nesse estado a intrigou.
Ele nunca esteve em tão falta de sintonia antes.
Ele estava parado no lugar, fitando um ponto cego no chão, com as mãos caídas ao lado do corpo.
Sua cabeça se levanta e se vira para a direção oposta a que ele estava correndo, em direção à cidade que ele estava prestes a abandonar.
Kurama sente o peito dele aflito.
"Por que fez isso?" Ela não costuma se intrometer nos sentimentos de seu hospedeiro, mas eles estavam conectados. "Por que a dispensou?"
Ele retorna a fitar o chão. "Porque ela não me escolheu."
"Não era o que parecia quando vocês estavam juntos…"
"É, eu sei. Eu também caí nessa."
Uma indecisão parecia aumentar dentro de Naruto ao retornar a fitar o caminho que ele percorreu. Kurama podia sentir ela borbulhando dentro dele. Qualquer coisa que ressoava em seu chakra, ela sentia.
Ela decidiu compartilhar do silêncio. Não queria interferir em sua decisão, apesar de ter uma opinião sobre isso.
Após mais alguns minutos do mais absoluto silêncio, Naruto soltou, decidido.
"Vamos voltar."
Naruto agarra a alça da mochila no chão e recoloca a máscara.
"O quê? Por quê?"
Ele já estava refazendo o caminho de volta.
"Porque eu sou o merda da escolta dela e vou completar minha missão apropriadamente. Ela querendo, ou não."
Kurama nada acrescentou, mas não pôde deixar que um pequeno vislumbre de um sorriso surgisse em seu rosto quando voltou a descansar a cabeça em cima das patas dobradas.
. . . . . .
Naruto não conseguia evitar se sentir, no mínimo, patético, mas sinceramente, ele estava pouco se importando. Ele pode estar chateado ou quebrado, mas ele não acreditava estar fazendo a coisa certa ao abandonar Hinata antes de cumprir a última parte de sua missão, mesmo que ele esteja formalmente dispensado dela.
Essa nunca foi uma simples missão desde o início, então não teria por que tratá-la de forma diferente agora. Hinata ficaria surpresa de vê-lo pela manhã, pronto para acompanhá-la assim como fez quando chegaram, mas ele não mudaria de ideia mesmo se ela protestasse. Ele poderia ir em outra carruagem se ela preferisse, o que importava era estar por perto. Perto dela.
Ao retornar, deixa sua mochila em seu antigo alojamento antes de se dirigir até o dela. Não havia um shinobi fazendo guarda no momento, então ele poderia fazê-lo de bom grado.
Era estranho, mas mesmo sem poder vê-la, ele queria estar perto dela, mesmo quebrado, mesmo sabendo que isso era tortura, tudo que ele precisava era estar perto, sentir a presença dela, mesmo que algumas paredes o separassem dela. Só de saber que ela estava ali, seu interior se acalmava. Parecia loucura, mas Naruto sentia como se ele estivesse sendo atraído para ela enquanto estava se afastando. A agonia em seu peito apenas crescia a cada quilômetro percorrido para longe dela. Parecia incrivelmente errado se afastar, deixá-la para trás. Naruto não queria deixá-la. Não conseguiu deixá-la.
Talvez fosse a sua decrépita esperança de colocar os olhos nela mais uma vez amanhã, mesmo sabendo que o olhar dela o machucaria. Não importava, ele precisava simplesmente vê-la.
Suspirou com o silêncio que cercava o ambiente, já era tarde da noite e como ele estava ansioso, sabia que não iria dormir. Ele fitou a janela fechada do quarto de Hinata antes de se sentar na porta de entrada e escorar as costas na porta de correr.
Seria sua última noite como vigia, como guarda pessoal de Hinata, com ela.
Naruto respira fundo e se prepara para vigiar pelas próximas horas.
"Senhor?"
Naruto se assusta ao perceber uma mulher se aproximar, talvez uma das funcionárias da pousada.
"Boa noite!" Ele cumprimenta e corrige a postura.
"Boa noite, senhor. O senhor está de vigia?" Ela parecia confusa ao vê-lo.
"Hum… sim."
"Oh… desculpe a surpresa, é que todos presumiram que o senhor foi dispensado e estava a caminho de Konoha. Ninguém o viu a noite toda."
Então Hinata também deve ter pensado o mesmo.
"Não, eu partirei com o clã Hyuga, amanhã." Naruto explica e retorna a descansar a cabeça no encosto da porta.
"Entendi…" A mulher acena e sorri minimamente, antes de olhar para os lados. Naruto tenta se lembrar do rosto dela, mas todas as mulheres daquele lugar pareciam iguais. Sempre com o mesmo cabelo e mesmas vestimentas. Ele só reconhecia a velha ranzinza porque era a única idosa do local. Essa deve ser uma das que cuidava dos alojamentos mais afastados.
"O senhor precisa de alguma coisa?"
"Não, estou bem, obrigado."
Ela acena mais uma vez e um tanto relutante, se afasta do shinobi.
Naruto passa os olhos pela floresta mais a frente, divagando. Seu coração palpita novamente com a mesma voz, o alertando cinco minutos depois.
"Para ajudar na vigia." Ela sorri um tanto nervosa, enquanto segura uma pequena xícara de chá, a estendendo para Naruto.
Ele ia protestar que não precisava, mas ela foi mais rápida.
"É a sua última noite conosco, vai sentir falta do nosso chá de jasmim."
Ela foi convincente e Naruto aceitou murmurando um agradecimento.
Seria bom de qualquer maneira e o aqueceria do frio da noite.
Após bebericar do conteúdo da xícara, Naruto descansa os cotovelos nas coxas e esfrega os cabelos loiros. Um suspiro escapa de seus lábios cinco minutos depois. Seus olhos azuis fazem uma varredura mais adiante e Naruto pensou ter visto uma sombra se mover por entre as árvores. Apurou sua visão e fez uma varredura minuciosa. Acreditou ter visto mais um vulto à direita e seus sentidos ficaram em alerta. Se levantou e caminhou para a direita, contornando a pousada enquanto tentava detectar mais algum movimento. O silêncio que o cercava ainda era o mesmo, tudo que ele ouvia eram os sons dos animais noturnos. Poderia ser apenas um animal perdido, se fosse o caso, ele apenas o espantaria para longe.
Chegou nos limites da pousada e encarou a escuridão adiante, esperando algum movimento. Após dois minutos completamente imóvel, estava quase rumando de volta para seu posto de vigia, quando seu ouvido esquerdo detectou previamente o som metálico de uma kunai voando em sua direção e Naruto a aparou. No segundo seguinte, bem diante de seus olhos, uma sombra surge das árvores e tenta o apanhar, mas Naruto o neutraliza facilmente.
Sua mente trabalha rápido ao analisar a situação e imediatamente ele ativa o modo Sennin. O que ele sente ao seu redor arrepia todos os pelos de seu corpo.
A pousada inteira estava cercada para ser atacada com homens vindo de todas as direções, porém, antes que ele pudesse sequer pensar novamente, um grito vindo de dentro do alojamento de Hinata o assusta e então a compreensão o atinge.
Hinata!
"Kage Bunshin no Jutsu!"
Seus clones correm para todas as direções para impedir o máximo possível do ataque enquanto Naruto corre novamente para o alojamento de Hinata.
Ao adentrar, se depara com homens mascarados invadindo o recinto e subindo as escadas. Algumas funcionárias estavam ao chão, desacordadas. O grito viera de alguma delas. Ele neutraliza o bandido que tentava subir até o segundo andar, mas não consegue seguir adiante, pois mais homens tentam o impedir de se mover.
Enquanto lutava, Naruto escutava barulhos vindo do segundo andar, onde Hinata se encontrava. Ele tenta ouvir sua voz, mas não a encontra. Se livrando dos homens mascarados que tentavam o derrubar, um estrondo é ouvido à sua esquerda e parte do alojamento é destruído por um fuuton. Naruto corre para aquela direção e se depara com Hiashi, igualmente lutando. Seus olhos se arregalam em alívio ao ver Naruto.
"Hinata! Eles estão a levando!"
É tudo que sai da boca de Hiashi ao vê-lo e Naruto ativa imediatamente o Modo Kurama para poder ir atrás de Hinata. Suas vestes ficam em um amarelo intenso e seu chakra se sobressai. Usou o modo sábio para poder rastrear Hinata e a sente há alguns metros de distância, sendo levada para a floresta.
Do telhado, consegue ver um vislumbre de suas vestes brancas, um contraste com a escuridão enquanto ela lutava bravamente para se libertar das garras que tentavam arrastá-la. Ela era majestosa em seus movimentos e derrubava uma quantidade incrível de homens em pouquíssimo tempo.
Saltando pelos telhados, seus pés apressados o levam até ela. Hinata consegue escapar e corre para a esquerda, porém Naruto é impedido de alcançá-la ao ser agarrado por mais três homens. Ele cai no chão e rola para se levantar. Está cercado por cerca de vinte deles, mas isso não é problema.
Usando o poder de Kurama, seu punho cresce de tamanho e antes que os bandidos consigam encostar nele novamente, são varridos para longe com a força do braço de Naruto. Ele não perde tempo e corre atrás de Hinata novamente e consegue vê-la lutando de novo. Sendo cercado em seu trajeto, é forçado a lutar, mas quanto mais homens ele derrubava, mais aparecia. Estava fugindo da compreensão de Naruto o motivo daquele ataque estar sendo realizado e justamente no que deveria ser a última noite deles na cidade. De onde esses homens sugiram? Por que estava tentando raptar Hinata? Quem eram eles?
As coisas mudaram muito rapidamente e lhe faltava tempo para analisar a situação com destreza. Tudo que sua mente gritava era que Hinata estava em perigo e ele precisava chegar até ela. As perguntas poderiam ficar para depois.
A confusão ao redor contrastava com a em sua mente e enquanto ele se esforçava para lutar, se defender, manter os clones lutando, seguir o rastro de Hinata para não perdê-la de vista e entender o ataque, em um movimento não premeditado, ao lutar com um bandido que o cercava, Naruto acabou removendo o capuz que cobria seu rosto, deixando apenas os olhos descobertos.
A ação pareceu paralisar o homem, que arregalou os orbes para o shinobi quando os olhos do mesmo analisaram suas feições, agora, desnudas.
Uma leve compreensão o invade e ele sente que já viu esse rosto antes, mas… impossível.
Um vinco se forma em sua expressão confusa ao se recordar daquele rosto, mas algo não encaixava.
Se sua mente não estiver o pregando peças, era para aquele homem à sua frente estar soterrado por mais de cinquenta toneladas de rocha.
Como era possível ele estar bem diante de seus olhos?
O que caralhos estava acontecendo?
No próximo segundo, o homem correu de sua vista, recolocou o capuz e fugiu. Naruto até pensou em persegui-lo, mas um grito de Hinata o atrai para ela novamente e imediatamente apressa os passos até ela.
Ele grita por ela quando está perto o suficiente e ela o escuta, mas quando tudo que ele tem que fazer é dar mais dois saltos para chegar até ela, um sentimento inesperado o atravessa e seu coração parece falhar uma batida. Um calafrio atravessa seu corpo, o enfraquecendo na mesma hora.
Seu sistema nervoso é atingido e uma tossida escapa de sua boca, suas pernas falham, o fazendo cair pelo caminho. Naruto se ajoelha e sente sua respiração falhar. Seu corpo inteiro está formigando e seu coração dispara no peito.
"Kurama…"
"Tem alguma coisa errada, Naruto!"
O tom dela o assusta ainda mais e Naruto tosse novamente. Sua cabeça começa a rodar e ele pode sentir as gotículas de suor se formando em sua testa e pescoço. Seu corpo está reagindo a algo, mas ele não consegue identificar exatamente o quê.
"Naruto-kun!"
É a voz de Hinata. Ele levanta os olhos para ela e a vê correr em sua direção, mas está sempre sendo interceptada. A raiva o consome e ele se levanta, disposto a salvá-la. Ele ataca mais alguns homens durante o caminho enquanto tenta alcançá-la, mas os dois modos que estavam ativados, tanto o Sennin quanto o Kurama, são desativados sem seu consentimento e Naruto enfraquece novamente, caindo de joelhos no chão quando uma dor aguda invade todo o seu corpo.
Sua garganta parece querer expelir algo e quando ele o faz, vê sangue diante dele.
Seus clones são dispersados involuntariamente e Naruto começa a sentir tonturas.
"Mas que droga… O que está acontecendo-
"Veneno, Naruto, isso é veneno. Você foi envenenado e está se espalhando pelo seu corpo!"
Seus olhos lacrimejados pelo mal-estar procuram por Hinata novamente, mas desta vez ele não a vê lutando, a vê debruçada contra o chão, parecendo estar no mesmo estado que ele.
"Hinata…"
Ele tenta chamá-la, mas ela parece não ouvir, ainda estava longe, ele não conseguiu chegar perto o suficiente.
Ele a observa balançar a cabeça como se estivesse tentando dispersar uma névoa inebriante. Ela se levanta ao ver um bandido se aproximar e, para a surpresa de Naruto, erra todos os golpes de seu Juuken. Seus punhos estão lentos e descoordenados, ela parece sonolenta, fraca, abatida.
Suas pernas falham e um de seus joelhos vai ao encontro do chão novamente. Um bandido se aproxima dela e passa os braços por baixo dos dela, a agarrando.
"NÃO!"
Naruto ativa o modo Kurama novamente e tenta sair do lugar. Dois passos foi tudo que ele conseguiu antes de cair contra os destroços da luta, sentindo todo seu corpo esquentar e enfraquecer. Sua corrente sanguínea estava sendo contaminada a cada segundo e os efeitos estavam o adoecendo rapidamente.
"Naruto, não se mova!" Kurama o alerta. "Você foi envenenado, Naruto. Não se mexa ou vai espalhar o veneno mais rápido."
"Hinata…" Ele observa do chão, sôfrego, ela ser carregada por dois bandidos, desacordada. Seu coração sofre um milhão de pontadas quando ela é levada para longe, em direção à floresta, sendo acompanhada pelo restante do bando, saindo em retirada, tendo alcançado seu objetivo com sucesso.
Ele tenta levantar novamente, mas Kurama grita.
"Se você der mais UM PASSO, seu coração vai parar de bater NA MESMA HORA! Naruto, não somos imunes a veneno. NÃO SE MOVA! Estou fazendo o que posso, mas está se espalhando muito rápido…"
Ele tosse mais sangue que sujam suas vestes e seu queixo. Uma dor excruciante o invade e Naruto sente que vai sufocar a qualquer momento. Sua cabeça queima e seus músculos se paralisam. A queimação o invade completamente e ele grita de dor. A luta que seu corpo travava contra o veneno está sendo vencida e aos poucos, Naruto sente suas forças o abandonarem.
A sensação era horripilante.
Mesmo não querendo se entregar ao cansaço, sua cabeça tomba em seu braço estendido enquanto sua visão fica embaçada aos poucos.
"NARUTO. NÃO ADORMEÇA. FIQUE ACORDADO. NÃO DURMA, NARUTO! VOCÊ NÃO PODE APAGAR, ACORDE!"
O sentimento de insuficiência e frustração gritante nunca foram tão esmagadores como naquele instante, enquanto ele se dava conta de que falhou com Hinata não uma vez, mas duas e sabe lá quantas mais vezes ele o faria. Naruto não tem mais controle do próprio corpo e consciência e a voz de Kurama vai se esvaindo para longe de seu consciente, fazendo de seus alertas um mero sussurro.
A última coisa que ele se lembra antes de apagar completamente é de seu coração sangrando incessantemente ao ver o borrão do quimono branco de Hinata ir sumindo de sua visão e ele incapaz de ir atrás, incapacitado de fazer qualquer coisa. Ela estava sendo sequestrada e ele não podia fazer nada além de assistir. Seu coração grita o nome dela antes de falhar mais uma batida e a dor excruciante que o invadia finalmente o arrastar para a escuridão.
Naruto não escuta a voz de Hiashi o chamando ao perceber seu corpo caído em meio aos destroços.
