Isabella

A volta de Seattle e o retorno à nossa rotina foi tranquilo, com Chloe perguntando todos os detalhes do que tínhamos ido fazer e eu e Edward editando os detalhes da história de uma maneira, digamos, adequada para crianças. A animação dela, por sua vez, fez Edward começar a pensar em uma nova viagem, desta vez em família.

Claro, ele com toda sua megalomania queria levá-la para a Disney World, para ficarmos hospedados em hoteis temáticos e ter refeições com personagens. O pacote completo. Isso estava totalmente fora de cogitação para o momento e eu tive que explicar que Chloe ainda era muito pequena para uma viagem deste tamanho, ela provavelmente nem lembraria de nada quando crescesse. Para agora, ele teria que pensar em algo que fosse: 1. mais perto de casa e 2. mais barato.

Voltar para a casa de Charlie, no entanto, teve um peso diferente dessa vez. Eu não tinha esquecido da conversa com ele na festa de aniversário da minha filha, nem das palavras afiadas de Leah quando notou a proximidade entre Edward e eu. E, se eu pretendia continuar morando ali e dividindo espaço com todos eles, algumas coisas precisavam ser esclarecidas. Por isso, novamente, escolhi o momento após o jantar - quando Chloe já estava na cama - quando todos estariam juntos na sala de tv, para falar. Não seria fácil, mas eu não poderia mais adiar.

— Eu preciso falar com vocês sobre algumas coisas — me esforcei ao máximo para manter minha voz calma, mas firme — Eu sei que tem sido complicado para todo mundo desde que Edward voltou para Forks, e sei que vocês têm as suas preocupações — fiz uma pausa e olhei para Charlie, antes de continuar — Mas eu preciso que confiem em mim e, principalmente, respeitem as minhas decisões. Eu sou adulta, e sou a mãe da Chloe. E, mesmo que eu entenda que vocês se preocupem, preciso que confiem no meu julgamento.

Charlie arqueou uma sobrancelha, prestes a falar, mas antes que ele pudesse abrir a boca, continuei.

— Não é fácil, não é para mim, não é para Edward, não é para ninguém. Mas o que eu sei é que nós estamos tentando reconstruir a nossa vida, e a Chloe tem o direito de crescer em um ambiente onde seus pais possam, pelo menos, tentar ser felizes juntos.

Leah soltou um suspiro, mais exasperado do que desinteressado, e foi então que Jacob interveio, sua voz tranquila.

— Bella tem razão, pessoal. Todos aqui se importam com ela, com Chloe, mas isso não significa que possamos controlar tudo o que ela faz.

Ele olhou para Charlie e Sue, antes de voltar a me olhar, com um pequeno sorriso de apoio. Eu esperava que isso amolecesse o coração de todos, porque Jake, que costumava ser o mais intransigente de todos nós, estava dando uma chance. Ele, a pessoa que tinha avançado em Edward no primeiro dia, entendia que essa era uma escolha minha.

Charlie foi o primeiro a falar.

— Eu não estou tentando te controlar, Bella, mas quero que você pense nas consequências. Não é só sobre o que você quer agora, mas sobre o futuro de Chloe também.

Respirei fundo antes de responder, ele ainda estava preso na conversa que tivemos no sábado.

— Eu sei que vocês estão preocupados com o futuro dela, mas eu também estou. Eu sou a mãe. Eu sei o que é melhor para ela. Vocês confiaram em mim quando eu decidi ser mãe dela sozinha, por que não conseguem confiar agora? E, por mais que isso doa a vocês, eu preciso que respeitem o fato de que, apesar de ela ter crescido aqui, Edward também faz parte da família dela, e da minha, agora.

A tensão na sala aumentou, mas eu sabia que já tinha dito o que precisava. Eu só precisava esperar a resposta deles. O silêncio se arrastou na sala por alguns segundos, o peso das palavras ainda pairando no ar. Charlie foi o primeiro a quebrá-lo, seu olhar fixo em mim.

— Eu sei que você é adulta, Bella. E eu confio em você — ele disse com a voz grave — Mas isso não muda o fato de que me preocupo com você e Chloe. Eu não quero ver vocês se machucando de novo — ele olhou para Sue, que estava mais silenciosa do que o habitual, antes de voltar a me encarar — E você sabe que o Edward…

— Eu sei o que você pensa sobre o Edward, pai. E, sinceramente, sei que não vai mudar. Eu entendo que você tem as suas reservas sobre ele, e talvez tenha razão em algumas delas. Mas ele está tentando, de verdade. Tudo que ele fez desde que voltou não é o suficiente? — eu podia sentir meu tom se elevando, mas tentei manter a calma — Nós dois estamos tentando, por Chloe. Eu só não posso deixar que o medo e a desconfiança de vocês definam a minha vida. Eu sei o que é melhor para a minha filha e o que é melhor para mim.

Charlie parecia morder o lábio, como se estivesse processando minhas palavras. Sue olhou para ele, depois para mim, antes de finalmente dizer algo, mas a voz dela parecia pesar a cada sílaba.

— Bella, eu não duvido que Edward esteja tentando, mas você não pode ignorar os riscos. Você tem que pensar em tudo, nas consequências. O que acontece se der errado de novo? — ela balançou a cabeça, a preocupação clara em seu rosto.

Eu respirei fundo, tentando não me deixar levar pela frustração. Nós estávamos andando em círculos aqui.

— Eu sei, Sue. Eu mais do que ninguém sei o que aconteceu. Mas, no final das contas, somos nós que precisamos viver essa história.

Leah, que até então estava quieta, finalmente falou, sua voz cortante.

— Você realmente acha que isso é o melhor para ela, Bella? Trazer Edward de volta para a vida de vocês depois de tudo o que aconteceu? Não parece muito... seguro, sabe?

Eu a encarei, sentindo a tensão crescendo.

— Eu não estou pedindo a aprovação de vocês. Eu estou pedindo apenas respeito. Eu amo a Chloe, e Edward também a ama. Não importa o que vocês pensem sobre ele ou sobre o nosso passado. Eu não vou deixar ninguém fazer isso por mim. Eu vou decidir o que é melhor para a minha filha.

Jacob fez um movimento, como se quisesse intervir, mas se conteve, provavelmente percebendo que eu estava lidando com a situação, embora a frustração estivesse bem visível no meu rosto. Charlie suspirou, finalmente parecendo entender o peso das minhas palavras.

— Você está tão teimosa quanto a sua mãe, sabia? Sempre foi assim. Mas... eu entendo. Eu só... não quero ver você se machucando de novo, Bella.

A sala ficou em silêncio novamente. Era uma pausa carregada de emoções. Eu sabia que, por mais difícil que fosse, aquele confronto ainda estava apenas começando. Mas, pela primeira vez, eu sentia que talvez estivesse começando a ser ouvida. Não era o final, mas era um começo.

— Eu só preciso que entendam, mesmo que não concordem. Se eu puder contar com o apoio de vocês, ótimo. Se não, pelo menos me deixem tentar.

Eu sabia que ainda havia muito a ser resolvido, mas isso já era um avanço. Era o começo de uma nova fase, uma fase onde eu tomaria as rédeas da minha vida e da vida da minha filha. E talvez, só talvez, minha família começasse a entender.

No dia seguinte, eu estava nervosa enquanto dirigia até a casa de Carlisle e Esme. Por mais que tivesse certeza de que precisava dessa conversa com Edward, não podia ignorar a sensação de desconforto que me acompanhava. Mesmo depois de nossa viagem, de todas as lembranças boas que criamos, algo ainda estava pendente. Algo não dito, algo que precisávamos esclarecer.

Eu já conhecia aquele caminho muito bem, mas hoje parecia diferente.

— Onde nós vamos? — minha filha perguntou, do banco de trás. Nós geralmente íamos para casa depois do meu turno no restaurante, e ela estranhou o caminho.

— Estamos indo visitar o papai.

Foi o suficiente para ela se animar e olhar ansiosa pela janela.

Edward me recebeu na porta, pegando Chloe no colo e enchendo seu rosto de beijos barulhentos, fazendo ela rir.

— Eu estava morrendo de saudades do meu bebê, será que ela estava sentindo minha falta também?

O rosto dela se abriu mais ainda e ela apertou o pescoço dele com os braços. Eu amava cada segundo de interação entre os dois. Parecia certo. Eles tinham nascido um para o outro.

— Você está bem? — ele perguntou, seu tom suave, mas com uma preocupação evidente por eu ter ido até lá naquele horário.

Eu assenti, mas não foi suficiente para esconder o que eu sentia. Nós entramos, pedimos que Rosalie olhasse Chloe por um momento e fomos até seu quarto, nos sentando na cama. A última vez que estive aqui foi no meu aniversário.

— Eu só… não sei como definir o que estamos fazendo agora, Edward — minha voz saiu mais tensa do que eu queria, mas era difícil esconder o que estava se passando dentro de mim — Tudo tem sido muito bom entre nós, mas nós não tivemos essa conversa ainda, e eu acho que precisamos.

Ele franziu a testa, aproximando-se.

— O que você quer dizer com isso?

Respirei fundo, antes de continuar.

— Eu sei o que eu quero. Eu sei que estamos tentando de novo, tentando construir algo para Chloe, mas… nós dois sabemos que só o 'querer' não é suficiente. Eu não posso deixar de me perguntar: o que somos agora? Não apenas como casal, mas… o que é essa relação agora, depois de tudo o que passamos?

Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando minhas palavras. Edward não era de esconder o que sentia, mas essa era uma questão que exigia mais do que palavras fáceis. Ele finalmente falou, com a voz grave, e um olhar tão intenso que pareceu ir direto ao fundo da minha alma.

— Bella, nós não estamos mais nos escondendo atrás de desculpas. Depois de tudo o que aconteceu, nós não podemos mais ter dúvidas. Eu te amo. Amo você e a Chloe, e se há algo que eu sei agora, é que a minha vida está aqui, com vocês. Isso não é uma fase, não é uma tentativa passageira.

Eu me inclinei para trás, me distanciando, não porque não acreditasse nele, mas porque a intensidade das palavras dele me pegou de surpresa.

— Como vamos fazer isso? Eu quero estar com você. Eu quero a nossa família. Mas como formar uma família de verdade, sem o passado nos assombrando?

Eu senti um aperto no peito assim que aquelas palavras saíram da minha boca. Eu não queria que Edward pensasse que eu não acreditava nele, nem que estávamos voltando ao início, com todas as dúvidas. Eu também sabia que o passado provavelmente nunca deixaria de nos assombrar, principalmente porque ainda tínhamos muitos espaços em branco para preencher da história que nos separou.

— Você confia em mim? — ele perguntou e eu assenti prontamente — Então preciso que você acredite quando digo que nossa relação não é mais sobre o que passou. É sobre o que estamos fazendo agora. Eu quero estar com você. Eu quero construir nossa casa, nossa vida, juntos. Isso não é uma promessa vazia. Eu estou dizendo isso porque eu realmente quero isso, mas você precisa acreditar em mim. Nós não podemos correr em círculos o tempo todo.

— Eu acredito.

Ele se aproximou mais uma vez, agora tão perto que eu podia sentir o calor da sua presença. Ele pegou minhas mãos, os olhos fixos nos meus.

— Eu não estou te pedindo para confiar cegamente em mim, Bella. Eu sei que as palavras não são suficientes. Eu estou pedindo para que a gente viva isso. Juntos. Passo a passo. Sei que vai ser difícil. Sei que vamos ter que enfrentar muitas coisas. Mas eu estou aqui. E, se você me deixar, vou fazer de tudo para que funcione dessa vez.

Eu fechei os olhos, sentindo o peso das palavras dele e, ao mesmo tempo, a suavidade de seu toque. Por um momento, parecia que a pressão do mundo inteiro estivesse sobre meus ombros, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que a decisão era minha. Se eu quisesse realmente tentar, se eu quisesse que isso fosse para valer, eu teria que dar o próximo passo também.

— Eu quero tentar, Edward. Tudo que dissemos em Seattle é real para mim. Eu só... não sei como fazer isso sem perder o controle sobre o que é importante para mim.

Ele sorriu suavemente, o alívio claro em seu rosto.

— Nós vamos fazer isso juntos, Bella. Não há controle a ser perdido, só coisas novas a serem construídas.

Eu olhei para ele e vi algo muito mais sólido do que antes. E isso, por si só, já era um começo.

— Então, você quer ser minha namorada? — ele perguntou, depois de um minuto em silêncio.

Não pude conter a gargalhada que saiu instantaneamente.

— Depois de tudo, nós vamos voltar a ser tradicionais? — perguntei, me sentindo uma adolescente novamente.

— Esse é o máximo que consigo, não espere que eu vá pedir autorização ao seu pai — ele riu de novo e, naquele momento, parecia o melhor som do mundo — Não fuja da pergunta, Isabella.

— Sim, Edward. Eu quero ser a sua namorada.

Ele puxou meu rosto para o seu, selando aquele nosso compromisso com um beijo suave.

— Isso significa que agora tenho carta branca para presentes fora de datas comemorativas? Surpresas em dias comuns?

Eu ri novamente, porque isso era tão ele. Edward era desesperado para agradar, para mimar as pessoas que amava. Nossa viagem tinha sido a prova disso, e eu esperava que ele tivesse entendido que eu não era mais resistente a presentes e surpresas como a Bella de anos atrás.

— Sim, mas nada de me tornar uma garotinha mimada como estamos fazendo com Chloe — dei outro beijo na ponta do seu nariz.

Ele franziu as sobrancelhas, fingindo uma expressão de decepção que não conseguiu manter por mais que dois segundos.

— Droga, então devo cancelar a assinatura de flores com entregas diárias?

Eu arregalei os olhos

— Edward!

— É brincadeira! — foi a vez dele rir — Mas você vai continuar ganhando flores. E chocolates com amêndoas. Sempre que eu achar necessário.

Nós ficamos ali, na nossa pequena bolha de felicidade, por alguns minutos. O único som no quarto era dos nossos lábios, aproveitando com tranquilidade um ao outro. Não havia pressa, nem pressão. Éramos nós dois, e só.