Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Lynne Graham, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.


Capítulo 7

- O que você está fazendo ? - Naruto perguntou assim que a viu levantar-se e apressadamente se enfiar na camisola azul-turquesa amarfanhada aos pés da cama.

O lábio superior de Hinata estava úmido por conta do suor que escapava abundantemente através dos poros dilatados pela aflição em que ela se encontrava.

Por que razão Naruto mentiria?, ela analisava. Não havia nenhum tipo de provocação no tom de voz que ele usara. Na verdade, ele mesmo ficara surpreso por ela demonstrar desconhecimento das cláusulas do contrato.

Um bebê ? Ela deveria ter um bebê e entregar a ele como parte do acordo ? Naruto deveria estar ficando louco se acreditasse que ela faria isso !

Ela terminou de vestir a camisola com as mãos trêmulas para cobrir a nudez que, de repente, se tornou mais pecaminosa do que nunca ao tomar conhecimento de que, para proteger a irmã, ela fora forçada a decepcionar Naruto. Da mesma maneira como estava se sentindo frustrada com a atitude de Akemi.


Já passava da meia-noite e Hinata sentia-se incrivelmente cansada. Mesmo assim, não conseguia dormir por causa da ansiedade que a assaltava. Estava desesperada para saber exatamente sobre o que Naruto estava falando. Contudo, a única maneira de resolver isso seria revelando a verdade de uma vez por todas. Valendo-se da súbita coragem para enfrentá-lo, ela decidiu ir até a suíte dele.

- Precisamos conversar - ela falou com a voz estremecida, notando que ele ainda não estava adormecido.

Naruto ergueu o corpo e sentou-se na beirada da cama, fitando-a com visível contrariedade.

- Não pode deixar para depois ? Está muito tarde - ele reclamou, esperando que não tivesse aberto um precedente ao confidenciar-lhe fatos sobre seu passado e que acabasse se tomando um hábito. De alguma maneira, ele sentia-se pressionado por ela e não gostava disso.

- Eu precisava lhe dizer que quando mencionou que eu deveria dar-lhe um filho, eu realmente não tinha a mínima idéia sobre o que você estava falando.

- Considerando que assinou um contrato e foi devidamente esclarecida pelo advogado sobre as cláusulas legais, acho impossível acreditar no que está me dizendo - os olhos azuis e brilhantes de Naruto agora demonstravam frieza e incredulidade - O que está tentando fazer comigo ? - ele gesticulou com raiva, erguendo as mãos no ar. Depois, se levantou da cama e caminhou na direção do closet com passadas rápidas e pesadas.

Hinata ouvia o som de portas e gavetas sendo abertas e fechadas com mais força do que seria esperado. A tensão nervosa que se espalhou pelo ar provocou-lhe um frio ria barriga. E, somente agora, que estava a ponto de revelar-lhe o segredo que guardava, é que Hinata se deu conta do enorme erro que havia cometido.

Quando ele retornou, estava usando um jeans e uma camiseta preta, porém mantinha os pés descalços.

- Agora diga o que veio para dizer.

Ela engoliu a saliva e sentiu o coração bater apressado enquanto procurava uma maneira de começar o assunto. Decidiu por ir direto ao ponto crucial:

- Foi minha irmã quem inicialmente se candidatou para o... cargo oferecido... - ela hesitou, embaraçada - Foi ela quem se submeteu às entrevistas usando meu nome e escolaridade.

Ela notou que Naruto ficou tenso e a cor saudável sumiu do rosto dele, deixando-o extremamente empalidecido.

- Sua irmã ? Está tentando me dizer que você não é a mulher que foi selecionada para se tornar minha esposa ?

- Isso mesmo. E sei que deve estar soando de maneira horrível para você. Só quero que saiba que não houve nenhuma intenção maldosa envolvida nessa troca.

Irritado com tamanha ingenuidade ou excessiva estupidez quanto à avaliação dos danos provocados, ele cerrou os punhos involuntariamente.

Naruto não queria acreditar que despendera uma fortuna para conseguir recrutar a esposa perfeita e futura mãe de seu filho e acabara com uma impostora e cúmplice de um crime vergonhoso. Só de pensar ele sentiu os nervos à flor da pele. Enganos daquela natureza jamais aconteciam com ele. Por essa razão é que ele empregara uma legião de advogados e assessores experientes o suficiente para protegê-lo de golpistas e mulheres gananciosas.

Hinata sentia o coração dilacerado ao ver que ele silenciara e, ao mesmo tempo, ansiava por dizer algo que o acalmasse. Com passos inseguros ela aproximou-se um pouco mais e revelou:

- Eu e Akemi somos irmãs gêmeas idênticas.

A repentina confissão caiu como uma bomba na cabeça de Naruto. Então, era por isso que ele se surpreendera ao vê-la pessoalmente, quando a foto não lhe agradara tanto. Ele deveria ter permitido que o advogado prosseguisse na investigação pessoal que estava fazendo sobre a candidata, como era de praxe e cujo procedimento sempre o mantivera a salvo de situações constrangedoras como agora estava acontecendo. Entretanto, a atração sexual que sentira por Hinata assim que a vira o deixara cego e vulnerável. Naruto concluiu e praguejou algo que ela não entendeu.

- Por acaso tem idéia de que você e sua irmã cometeram uma fraude ?

Hinata empalideceu diante da acusação de haver cometido um crime e sentiu os pensamentos se tomarem confusos. Com um olhar de espanto, ela repetiu:

- Fraude ?

- Sim. Fraude. Quem se apresentou para candidatar-se à função oferecida ?

- Akemi.

- E ela também acompanhou todos os procedimentos determinados pelos advogados ?

Hinata assentiu com um gesto de cabeça, confirmando que fora a irmã quem perseverara na conquista da posição oferecida. Os olhos repletos de ansiedade.

- E quem foi que assinou o contrato ?

- Akemi. Em meu nome. Ela forjou minha assinatura.

Procurando controlar a raiva que, se explodisse, faria com que a expulsasse para fora do quarto, Naruto analisou que, apesar dos fatos que ele acabara de ouvir, impostora ou não, ela ainda era legalmente sua esposa. E, repousando o olhar na figura franzina de Hinata, ele decidiu que não poderia permitir que ela sumisse de suas vistas nem por cinco minutos. Para evitar qualquer risco de fuga, ele apanhou o celular e avisou Kakashi Hatake, o chefe dos seguranças, e ditou-lhe inúmeras e detalhadas instruções. Incluindo o pedido de relatórios específicos sobre os antecedentes de Hinata e Akemi. Também determinou que as ligações de Hinata fossem gravadas e todos os seus movimentos fossem cuidadosamente vigiados.

Com a respiração acelerada, Hinata aguardava pacientemente que Naruto retomasse a atenção para ela. Fraude era uma acusação muito séria e ela se sentiu tremendamente estúpida em não esperar que ele lhe fizesse aquela acusação.

Quando ele finalmente encerrou a ligação e retomou o olhar para Hinata, asseverou com uma entonação fria na voz:

- Nunca imaginei que estivesse lidando com uma mentirosa.

Ela mordiscou o lábio inferior para impedir uma resposta rude. Preferiu aguardar alguns segundos antes de afirmar com segurança:

- Eu não lhe disse nenhuma mentira !

- Ah, não ? Então o que me diz de ter se passado por sua irmã logo no primeiro dia em que nos conhecemos ? - ele reforçou a acusação - Por que fez isso ?

Hinata nunca esteve tão consciente do tamanho dele quanto naquele momento em que Naruto quase se curvava sobre ela, abrasado pela raiva. Ela deu uma pausa para respirar e tomar fôlego.

- Enquanto Akemi estava se submetendo aos testes para concorrer ao acordo oferecido, ela conheceu alguém e acabou engravidando. E só tomou conhecimento disso depois de saber que havia sido escolhida como finalista e ter recebido o adiantamento oferecido como parte do pagamento. Ela não poderia prosseguir com o acordo e se casar com você estando grávida de outro homem, e o pior era que já havia gasto o dinheiro e...

Naruto a interrompeu com assombro.

- O quê ?! Nem o maior esbanjador do mundo conseguiria gastar uma quantia daquelas em tão pouco tempo !

- Você não conhece Akemi. Nunca deveria ter posto tanto dinheiro na mão dela.

- Eu é que tenho a culpa, afinal ? - ele berrou - Não se faça de inocente ! Você e sua irmã devem ter montado um bom esquema e dividido aquele dinheiro. E, para que fique avisada, saiba que não sou o tipo de homem que permite ser enganado e deixa o criminoso escapar impune.

Hinata sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha enquanto Naruto fazia aquelas ameaças.

- Acontece que não houve intenção de enganar você de maneira ardilosa !

- Então, como explica o fato de eu ter pago por uma impostora que nem mesmo conhece as cláusulas do contrato que a irmã assinou em nome dela ?

- Eu nem mesmo tive a chance de ler o contrato ! - ela defendeu-se.

Como resposta, Naruto pediu que ela o acompanhasse até a escrivaninha posta num canto do aposento e, após abrir o laptop que mantinha sobre a mesa, exibiu o documento na tela do computador.

- Pronto ! Aqui está o contrato. E, se é que está me dizendo a verdade, o que eu duvido, aconselho que o leve e leia com atenção - avisou e entregou-lhe o laptop - Não acha que assinar um documento sem primeiro ler o que está estipulado é algo muito estúpido de ser feito ?

- Mas não fui eu quem assinou o documento original !

- Quem usou o dinheiro ?

- Akemi se utilizou de uma parte dele para pagar a parte de meu pai por causa do divórcio e assim manter a casa e a loja em favor da nossa mãe.

- Nossa ! Quanta bondade ! Se estiver pensando que isso irá me comover, poupe seu fôlego. Histórias tristes me deixam ainda mais indignado.

Hinata abraçou o laptop e empinou o nariz:

- Eu não tenho mais nada para lhe dizer. Só quero que saiba que Akemi é uma mulher honesta. E, se não estivesse grávida, teria prosseguido com o acordo e se casado com você.

- Tente juntar as peças por um segundo - ele a advertiu com um sorriso de escárnio - Como acha que isso seria possível ? Se for verdade que sua irmã usou o seu nome e seus dados pessoais para preencher o formulário, seria impossível legalmente se casar comigo se utilizando do nome real dela.

- O que você quer dizer com isso ?

- Que Akemi não planejava cumprir o acordo desde o início.

Apesar da aparente lógica com que Naruto argumentava, Hinata o fuzilou com o olhar diante daquela insinuação. Apesar de estar decepcionada com tudo o que estava acontecendo, ela duvidava que a irmã traísse a lealdade que sempre fora um estandarte da família.

- Acho que já falou o bastante e...

Naruto abriu a porta de comunicação entre as suítes em um convite silencioso para que ela saísse.

- Eu estou apenas começando.

- E o que pretende fazer ? - ela quis saber.

- A única coisa de que tenho certeza é a de que não serei o perdedor nessa batalha. Talvez eu processe você e sua irmã por fraude.

Hinata usou um tom de voz suave e tentou comovê-lo por uma última vez:

- Por favor, Naruto. Ninguém pretendia lhe causar mal algum. As coisas só tornaram um rumo inesperado e Akemi entrou em pânico.

Naruto mantinha as linhas bonitas do rosto enrijecidas e um olhar impiedoso.

- Se você não está preparada para cumprir as cláusulas do contrato no lugar da sua irmã, eu me considero enganado e tomarei as providências que forem necessárias para recuperar minha auto-estima. Amanhã eu a avisarei sobre a minha decisão.

A maneira fria como ele falava fez o sangue de Hinata congelar nas veias.

Mesmo assim, ela se arriscou a perguntar:

- Akemi realmente concordou em ter um bebê com você ?

- Não só em ter um bebê comigo, mas em gerar um bebê para mim. Estude o contrato. E considere-se uma mulher de sorte por eu não atirá-la na rua agora mesmo ! Por tudo que ouvi, você não passa de uma mentirosa e trapaceira.

As palavras duras de Naruto a magoaram profundamente. E, enquanto ele batia a porta de conexão ela dirigiu-se para a própria cama, decidida a ler o contrato nos seus mínimos detalhes.


Hinata perdeu as contas de quantas vezes lera e relera as cláusulas mais complexas do contrato, e ficara abismada de comprovar o número de omissões que Akemi cometera a fim de convencê-la a tomar o lugar dela. E pelo menos em uma coisa ela tinha que concordar com Naruto: Akemi conseguira gastar uma enorme quantia em dinheiro muito além do que Hinata imaginava. Pelo montante que a irmã recebera, ela teria usado apenas um quarto da fortuna para resolver o problema financeiro da mãe delas. E isso significava que a irmã usara uma soma fantástica em proveito próprio, utilizando-se do nome de Hinata.

Ela estava tão chocada que questões que nunca sonhara em precisar perguntar para a irmã agora a atormentavam. Será que Akemi planejara desde o início enganá-la para conseguir tirar proveito da situação sem importar-se em deixá-la numa situação embaraçosa ? O que mais ela poderia supor diante daquelas circunstâncias ? Naruto evidenciara que, se Akemi usara o nome dela para se candidatar ao trabalho oferecido, ela jamais seria capaz de cumprir o acordo em nome próprio, mesmo que quisesse. Porém, o pior de tudo era saber que Naruto não só estava contratando uma esposa para agradar a avó, como também desejava a guarda do filho, fato que estava claramente descrito como obrigação contratual e irrevogável.

E agora ? Aonde tudo isso os levaria ? Ela nem havia aceitado a idéia de ter um filho com ele, quanto mais entregar o bebê que um dia pudesse gerar. Hinata abraçou as pernas e sentiu o corpo todo estremecer. Como é que ela foi acabar numa confusão dessas ?

O fato de sempre ter protegido a irmã das encrencas em que ela se envolvia tinha sido uma constante desde que eram pequenas. Mas Hinata ignorara a gravidade da troca de identidades e, como adultas que eram, as repercussões legais desse ato. Estava horrorizada com a idéia de que, inadvertidamente, tivesse infringido a lei.

E o mais difícil era aceitar que a irmã sabia sobre a cláusula da entrega do bebê e não lhe avisara propositadamente por ter certeza de que Hinata jamais concordaria com aquilo.

Estava óbvio que a irmã fizera tudo aquilo por causa do dinheiro. A extraordinária quantia oferecida representara para ela uma tentação tão grande que a fizera trair Hinata.


Enquanto Hinata tentava afastar aqueles pensamentos cansativos e dormir um pouco pelo tempo que restava da noite atribulada, Naruto permanecia pensativo. Após horas de conversa com seus advogados, a ira havia se acalmado; contudo, ainda se sentia frustrado.

Ele começava a acreditar em Hinata, concluiu com um sorriso irônico e amargurado ao mesmo tempo.

Naruto, que nunca confiara em mulher alguma depois de Tayuya e que tivera inúmeras experiências desagradáveis com mulheres ambiciosas e golpistas, inexplicavelmente sentia que Hinata pudesse estar dizendo a verdade.

Contudo, ele não poderia se esquecer de que ela aceitara o trato com a irmã com a finalidade de enganá-lo. E, além de mentir para ele, ainda se aproveitara do fato de que ele ficara extremamente atraído por ela e, com isso, abafado qualquer desconfiança que pudesse alertá-lo.

Ele precisava encontrar um jeito de forjar um novo plano a fim de se ressarcir do prejuízo sofrido; caso contrário, perderia tudo o que havia idealizado. E tornar-se um perdedor nunca era uma opção viável para Naruto.

Durante alguns daqueles telefonemas que fizera durante a noite para seus advogados, ele esmurrara a parede com uma intensa fúria; agora, um pouco mais calmo, a lógica começava a fluir novamente. E ele não tencionava, de maneira alguma, perder a oportunidade de manter sua sexy esposa exatamente onde deveria estar: na sua cama.


No instante em que a camareira entrou no quarto para abrir as cortinas e permitir que a luz inundasse o quarto, Hinata acordou imediatamente.

A cabeça ainda parecia explodir de tanto que latejava devido ao estresse emocional pelo qual havia passado.

A primeira coisa que fez foi passar uma mensagem de texto para Akemi, informando-a de que Naruto já sabia da verdade e que elas precisavam conversar urgentemente.

A camareira serviu-lhe o café da manhã enquanto Hinata se mantinha sentada na cama com as costas apoiadas nos travesseiros macios e recordando a terrível confrontação que tivera com Naruto na noite anterior.

Um sorriso amargo escapou-lhe dos lábios ao lembrar-se do extasiante banho à luz de velas, durante o qual ficara devaneando a respeito do magnífico bilionário russo que a levara ao altar. Ela saboreara os chocolates caseiros que ele lhe enviara e mantivera no pescoço o colar valioso que ele lhe dera de presente, enquanto alimentava idéias românticas que faziam seu corpo estremecer de ansiedade. Contudo, aquilo não significava que estivesse se apaixonando por Naruto Uzumaki. E nem mesmo que ela o admirasse profundamente.

Naruto até podia ter tomado suas fantasias sexuais realidade, mas aquilo não era desculpa para que ela se esquecesse de que apenas estava fazendo uma encenação, como se fosse esposa dele de verdade.

Envergonhada pelos próprios pensamentos, ela sentiu um nó formar-se na garganta e tirar-lhe o apetite. Na verdade, ela não passava de uma empregada que Naruto contratara para cumprir uma determinada tarefa.

Por outro lado, como poderia admirar um homem que tinha a coragem de desprezar os instintos maternais de uma mulher e negar ao filho os cuidados da própria mãe ? Ele despendera uma fortuna para pagar uma mulher que se prestasse ao papel de gerar um filho para ele e sumisse de sua vida assim que ele desejasse.

Com certeza essa mulher jamais seria ela, custasse o que fosse para arcar com as conseqüências que haviam surgido com a assinatura daquele contrato.

Com os olhos marejados de lágrimas, ela piscou várias vezes, furiosa consigo mesma por ser incapaz de controlar melhor suas emoções. Ainda se sentia miserável e envergonhada por ter se envolvido naquela situação. Por um momento, pensou no homem que, de maneira impassível, lhe confessara que colocava sua mãe completamente alcoolizada na cama todas as noites, quando era apenas uma criança. Nem a sua amorosa avó conseguira mudar o ponto de vista frio e calculista com que ele considerava a relação familiar. Naruto tivera pais abomináveis e um péssimo primeiro casamento, o que o tornara ainda mais cético. Com certeza, Naruto não estaria preparado para proporcionar a nenhuma outra mulher uma segunda chance, muito menos a alguém que acabava de ser considerada uma mentirosa e charlatã, ela concluiu, valendo-se de uma razão lógica. Secando as lágrimas com as palmas das mãos, ela decidiu que deveria juntar o resto de dignidade que lhe restava para enfrentar o mundo como realmente era, e não como gostaria que fosse.

O telefone tocou no exato momento em que Hinata mudava de roupa. Não se tratava da irmã, como ela havia suposto, e sim de Naruto:

- Quero que esteja aqui no meu escritório particular em vinte minutos - informou ele, desligando em seguida.

Hinata terminou de vestir o jeans e o suéter que havia trazido com ela e que nem de longe lembravam o glamour das roupas de grife que Naruto havia lhe comprado. Prendeu os cabelos num rabo-de-cavalo e nem mesmo se importou em aplicar qualquer maquiagem. Mirou-se no espelho e notou que a sua aparência retornara à simplicidade a que estava habituada. Não via mais nenhuma razão para produzir-se de maneira sofisticada para agradá-lo. Ela só agiria daquela maneira se ainda estivesse tentando parecer-se com a irmã, que se empenhava em manter-se sempre de acordo com a última moda. E, pensando em Akemi, tornou a consultar o celular. Ainda não havia nenhuma resposta da irmã. Ansiosa para falar com ela, discou o número do telefone e deixou uma mensagem na secretária eletrônica.

- Bom dia ! - Naruto cumprimentou Hinata com um sorriso sarcástico, assim que ela apareceu no vão da porta de entrada da elegante biblioteca, que ele havia transformado em escritório particular - Se está usando essas roupas para me comover, devo lhe dizer que não está funcionando.

Irritada com o comentário de ironia, ela cruzou os braços, em uma atitude defensiva. O esforço para manter a auto-estima elevada parecia em vão, uma vez que exibia escuros anéis ao redor dos olhos em conseqüência de uma noite maldormida e uma palidez no rosto, provocada pela ansiedade ao imaginar o que Naruto estava prestes a lhe dizer.

Ao contrário dela, Naruto parecia bem-disposto e vibrante, como alguém que desfrutara de oito horas de sono tranqüilo.

- Não acho que o que estou vestindo faça alguma diferença. Também não considero que as roupas que comprou sejam minhas, por isso achei que não fosse certo usá-las.

- Céus ! Quanta honestidade ! - exclamou ele, com indisfarçável cinismo - Não estou entendendo. Você pode se casar comigo em uma igreja lotada de convidados e permitir que eu desfrute de seu adorável corpo, mas seus princípios morais são tão rígidos que não permitem que use as roupas que lhe comprei ?

Enquanto ele falava, Hinata sentiu um calor invadir-lhe as faces por conta da humilhação que estava sentindo.

- Não foi isso o que eu quis dizer...

- Oh, eu acho que sim - ele a interrompeu - Existe uma enorme discrepância entre seus princípios e suas atitudes.

- Foi para isso que pediu que eu viesse até aqui ? Apenas para me insultar um pouco mais ?

Ele ergueu uma das espessas sobrancelhas.

- O que estou fazendo é muito pouco para puni-la. Ou esperava receber um prêmio pelo que fez ?

Suspirando, ela desviou o olhar. Afinal, ele tinha toda a razão em estar zangado.

Naruto reclinou-se na poltrona atrás da escrivaninha e a estudou por um momento. Vestida como uma adolescente e com o rosto sem qualquer maquiagem, ela parecia extraordinariamente jovem e inocente. Contudo, ele não estava tão cego para acreditar naquela representação mais uma vez.

- Precisamos discutir sobre como faremos para prosseguir com nossas vidas daqui para frente - ele falou em tom calmo e determinado.

- Eu não tenho condições de cumprir as cláusulas daquele contrato - ela avisou com a voz estremecida pelo nervosismo - Eu não tinha idéia de que conceber uma criança e entregá-la a você fazia parte do acordo. Pensei que a obrigação se restringisse apenas ao fato de simular ser sua esposa por algum tempo e depois aceitar o divórcio sem nenhuma oposição.

- E desfrutar da minha cama com entusiasmo - ele completou com malícia na voz - Não vamos nos esquecer dessa parte.

Hinata meneou a cabeça e os cabelos negros acompanharam-lhe o movimento. Os olhos cor de lavanda brilharam com censura.

- Pelo amor de Deus ! Aquilo apenas aconteceu ! - Naruto devolveu, olhando-a com uma frieza que ela nunca havia testemunhado antes:

- Depois de tudo o que me contou, acho difícil acreditar em qualquer coisa que me diga agora. O que eu sei é que, quando um homem deseja uma mulher, ele acaba ficando tão vulnerável que não consegue enxergar nada além do que lhe é oferecido no momento.

- Por favor, Naruto, não torne as coisas piores do que já estão. Eu jamais usaria o sexo como arma para me proteger. Se eu dormi com você foi porque eu quis, e não para obter qualquer vantagem - ela confessou com firmeza no tom de voz - Mas vamos deixar isso para lá. O que está pretendendo fazer a respeito da quebra do contrato ?

- Se eu decidir pelo que meus advogados estão aconselhando, eu processarei você e sua irmã por fraude. Bastará uma palavra minha e Akemi será presa. É considerado crime uma pessoa deliberadamente assinar um contrato com a intenção de fraudar alguém mediante apropriação indébita de um dinheiro concedido de maneira honesta.

Hinata sustentou o olhar que Naruto exibia, vislumbrando os olhos azuis com flashes negros, e exclamou com horror:

- Você não pode fazer isso !

- Claro que posso ! Afinal, eu é que sou a vítima em toda essa história !

Hinata ficou desesperada e tentou uma manobra para fazê-lo desistir daquela idéia.

- Você sempre insistiu na discrição e, se decidir nos processar, não acha que os jornalistas ficarão sabendo ? Não acredito que queira que isso aconteça !

Naruto ficou impressionado com a velocidade do raciocínio dela ao usar a única arma de que se poderia valer para que ele recuasse.

- E por que acha que eu me importaria ? - ele rebateu - Kaori não lê jornais e é improvável que alguém próximo a ela fique sabendo sobre um processo legal que esteja correndo no Reino Unido. Eu não fiz nada de errado e não tenho razões para temer qualquer publicidade. Entregar você e sua irmã para que seja feita justiça pelo menos me trará alguma satisfação.

Hinata ficou paralisada ao ouvir o final daquele argumento. Ela sabia muito bem que Naruto tinha potencial suficiente para realizar qualquer tipo de vingança que desejasse e apoio legal para isso.

Sem querer, a mente de Hinata divagou para a banheira iluminada pelas velas e os chocolates caseiros com que ele a presenteara. A mudança que observava nas maneiras dele, antes tão gentis e românticas, a feriu como uma punhalada no centro do coração. Aquele dia nunca deveria ter existido, ela pensou com desgosto.

- Contudo - ele prosseguiu - , nada me deixaria mais feliz do que o cumprimento do contrato, milaya moya.

- Nada do que você possa dizer ou fazer me convenceria a desistir de um filho que eu gerasse ! - Hinata exclamou, sem um pingo de hesitação.

- Então, se é assim, eu tenho uma oferta para lhe fazer. Se o dinheiro que foi entregue para Akemi for inteiramente devolvido e você concordar em permanecer casada comigo pelo prazo de, pelo menos, um ano, eu desistirei do processo.

"Devolver o dinheiro ?", Hinata pensou em desespero. Como faria isso?

- Mas, pelo que entendi, Akemi já gastou uma boa parte dele e...

- O que está querendo dizer com isso ? Por acaso você não teve acesso àquele dinheiro ?

- Não. Só sei o que ela me contou. Porém, eu vou conversar com ela - Naruto a observou com inacreditável descrença.

- Está me dizendo que sua irmã preparou o esquema, levou o dinheiro e deixou você encarregada de cumprir o contrato no lugar dela ? Como permitiu que ela fizesse isso com você ? Eu sabia que estava lidando com uma trapaceira ambiciosa !

Hinata corou violentamente.

- Não é bem assim ! Eu admito que Akemi seja impulsiva e extravagante, mas não é uma ladra ! Por que você não me ouve ?

- Você já disse tudo o que me interessava ouvir.

- Eu juro que não existiu nenhum esquema ! - ela protestou ferozmente.

- Então, o que aconteceu ? Onde está o meu dinheiro ? Quem é a responsável, afinal, pelo cumprimento do contrato que foi assinado ? - ele retaliou com firmeza - Sua irmã usou o seu nome, caiu fora no último minuto e sumiu com o dinheiro. Será que não é hora de você acordar e enxergar que está envolvida nisso até o pescoço ?

Apesar de saber que ele estava certo, Hinata engoliu a saliva para impedir-se de dar-lhe uma resposta agressiva. Uma dor de cabeça provocada pela tensão começava a incomodá-la.

- Eu vou tentar lhe devolver aquele dinheiro...

- Eu não aceito tentativas. Quero certeza - ele enfatizou - E não tente vender as jóias que lhe dei para me pagar com meu próprio dinheiro, que eu não aceitarei.

Ela ficou ainda mais tensa com aquele comentário.

- Não farei isso. Você pode não acreditar em mim, mas eu sou uma pessoa honesta.

Naruto a havia testado até o limite. Ele se perguntava se seria possível que a irmã pudesse enganá-la tão facilmente, assim como ludibriara os advogados. Ele podia perceber que Hinata ainda estava em estado de choque. A aparência dela lhe demonstrava que não dormira bem, e ela estava tremendo de nervosismo. Ele travou o amplo maxilar e desviou o olhar que mantinha na figura frágil de Hinata. Naruto jamais tivera condescendência com pessoas que tentavam enganá-lo.

Provavelmente ela estaria em estado de choque por medo das conseqüências que teria que enfrentar e, naturalmente, estava tentando ganhar-lhe a simpatia.

- Não pense que eu hesitarei em processá-las, no caso de não devolverem o dinheiro.

- Não estou duvidando disso - ela revelou - Mas você disse que quer que eu concorde em continuar como sua esposa por mais um ano.

- Não quero aborrecer minha avó com um divórcio imediato.

- Tudo bem. Eu concordo com isso - Hinata murmurou, sentindo que seria a única coisa que poderia fazer no momento para tentar acalmar as coisas.

- Entretanto, devo preveni-la de que minhas prioridades mudaram - ele revelou, baixando o olhar para o decote em "V" da camiseta que ela usava e lançando um olhar significativo na junção dos seios exuberantes. A atração que ainda sentia por Hinata o surpreendia de modo inexplicável.

- O que quer dizer com isso ?

- Que deverá estar sempre disponível para quando eu quiser que compartilhe da minha cama. Já que não vou conseguir o filho que desejava com esse acordo, pelo menos terei alguma recompensa - finalizou em tom arrogante.

Ela arregalou os olhos claros e expressivos diante de tamanha afronta.

- E não aceitarei nenhum tipo de desculpa - ele acrescentou - Você só estará livre desse compromisso depois que devolver o dinheiro.

Ela o fitou com o olhar angustiado.

- Eu não conseguiria simplesmente dormir com você como se nada estivesse acontecendo !

Ele sacudiu os ombros.

- Eu acho que conseguiria. Apenas aja da mesma maneira como agiu ontem, quando só você sabia que tudo não passava de uma manobra - Naruto assegurou com um sorriso irônico esboçado nos lábios - Vou partir para Londres em uma hora, mas você permanecerá aqui.

- Por que está fazendo isso ?

- Para lhe dar três dias para se decidir se aceita ou não a minha oferta. E, se concordar com meus termos, espero vê-la em minha cama esperando por mim quando eu retornar, milaya moya.

Enfurecida com tanta arrogância, Hinata, sem pensar, deu um passo ameaçador na direção dele.

Naruto enlaçou-lhe o corpo miúdo com a mesma rapidez com que ela o intimidara e, curvando a cabeça, capturou-lhe os lábios com furor.

Ela estremeceu diante do sabor da boca masculina e, quando seus corpos se colaram, ela sentiu uma poderosa onda de calor invadi-la, quando seus seios macios roçaram o poderoso torso. As pernas femininas estremeceram tanto que pareciam não ter mais forças para sustentar o corpo.

- Acredito que, depois de considerar minha generosa oferta, você terá uma lua-de-mel para relembrar, angil moy - Naruto declarou em tom de satisfação, ao mesmo tempo em que contornava com um dedo as linhas dos lábios polpudos e sensuais de Hinata.

- Uma lua-de-mel ? - ela repetiu, sem entender o que ele estava querendo dizer.

- Sim. No meu iate, onde teremos perfeita privacidade. Dar-lhe uma chance de escolher entre uma sentença de prisão e a minha cama, acho que é mais do que você merece.

Hinata podia perceber claramente que ele acreditava que tinha todo o direito de usar as táticas mais inescrupulosas contra ela, como uma maneira de punição. Mas também estava ciente de que aceitar o que ele oferecia era melhor do que despertar-lhe a ira. Ele não estava brincando e não era homem de fazer ameaças em vão. Com certeza usaria de todos os meios legais que pudesse e estaria em seu pleno direito, já que havia sido enganado de maneira tão vexatória. Hinata já podia até imaginar a irmã grávida sendo presa e acusada, seguida por ela mesma. E não poderia negar que Akemi mereceria a punição por ter sido a mentora de toda aquela confusão. Mas que consolo isso traria para ambas ? Um pavor incontrolável tornou a povoar a mente de Hinata. Ela precisava urgentemente falar com a irmã e convencê-la de que deveria dar um jeito de devolver o dinheiro que recebera como adiantamento do contrato que assinara em nome dela.

- Por que razão você deseja tanto um bebê ? Apenas para fazer Kaori feliz ? - Hinata resolveu perguntar, num impulso, antes de sair da sala.

Naruto a olhou com surpresa.

- Esse foi o meu principal objetivo quando planejei o contrato - ele admitiu - Entretanto, eu gosto de crianças, e ter um filho seria uma motivação muito grande para que eu prosseguisse com maior entusiasmo em meus negócios.

Quando Hinata retornou para sua suíte, a primeira coisa que fez foi ligar para Akemi novamente. Não obtendo resposta, resolveu ligar para a mãe. Depois de ter ouvido todos os detalhes de como transcorrera o casamento da irmã e a lista de convidados que ela já preparara para a recepção que Naruto havia prometido fazer em Londres, Hinata finalmente conseguiu espaço para perguntar como deveria fazer para entrar em contato com Akemi.

- Acho que, no momento, será muito difícil - revelou Nagisa Hyuuga - Konohamaru e Akemi estão em uma vila na Turquia e ela me preveniu para que não esperasse que ela ligasse.


Naquela noite, Hinata não conseguia pegar no sono, pensando no que Naruto lhe dissera. Ele deixara escapar, sem querer, o quanto desejava ter uma família, embora fizesse questão de esconder seus verdadeiros sentimentos. "Um filho seria uma motivação muito grande para que eu prosseguisse com maior entusiasmo em meus negócios", foram exatamente as palavras que ele usara.

Na penumbra do quarto, ela derramou algumas lágrimas solitárias, perguntando-se o que deveria fazer. Será que realmente conseguiria compartilhar da cama com Naruto sem se envolver emocionalmente ? Ela estava plenamente convencida de que, se ele a procurasse apenas para a satisfação de seus instintos básicos, a atração que sentia por ela acabaria desaparecendo.

Pela primeira vez, ela se deu conta de que fora Akemi que os advogados escolheram para ser a esposa de Naruto. Akemi sempre fora mais sofisticada e preferida pelos homens que se aproximavam delas. Quanto tempo levaria para que Naruto concluísse que fora duplamente enganado ? Seus advogados escolheram a candidata que seria ideal para ele, que acabara com uma mulher muito diferente da sua preferência.

Levou muito tempo até que Hinata conseguisse finalmente relaxar e dormir.


P. S.: Nos vemos no Capítulo 8.