Para o mais honrado Lorde Jon Arryn, Protetor do Leste e Mão do Rei*
Meu querido e reverenciado tio,
Espero que esta missiva o encontre em excelente saúde e que os deveres de sua elevada posição não estejam a sobrecarregá-lo em demasia. Meu marido e eu desejamos expressar nossa mais sincera gratidão por sua generosidade ao nos auxiliar na busca de um novo esposo para nossa sobrinha, Lady Anna Elesham, a herdeira de meu marido que herdará dele os Paps.
Sentimo-nos verdadeiramente honrados por saber que vossa senhoria dedicou seu tempo e atenção ao bem-estar de nossa sobrinha e à continuidade de nossa casa, garantindo a estabilidade de nossa amada terra. No entanto, devo admitir que nem meu marido, nem nossa sobrinha, tampouco eu mesma podemos dizer que estamos plenamente satisfeitos com a escolha do pretendente sugerido.
Que fique claro, jamais ousaríamos questionar a sabedoria de vossa senhoria, muito menos a de nosso gracioso rei seus leais vassalos. Ainda assim, peço vossa indulgência para expressar uma dúvida que nos inquieta: está o senhor certo de que a herdeira dos Paps não teria alternativas mais vantajosas do que Lorde Petyr Baelish?
De maneira alguma pretendemos parecer ingratos ou desrespeitosos. Se tal noivo conta com vossa recomendação, então é inegável que seu sangue e sua linhagem possuem méritos que talvez não nos sejam plenamente conhecidos. Todavia, acreditamos que nossa sobrinha, sendo herdeira de uma casa ancestral, merece um marido que não apenas traga vantagens políticas, mas que também possa sustentá-la em sua posição e guiá-la com segurança na administração de suas terras. Para ser claros digamos que acreditamos que nossa querida sobrinha certamente merece um marido mais, digamos, "substancial" ao seu lado.
Lorde Baelish, sem dúvida um jovem de inteligência aguçada e boa origem materna, não é amplamente reconhecido por sua habilidade em assuntos de cavalaria ou de gestão de propriedades. Perguntamo-nos, portanto, se um homem com tais características seria realmente o mais apropriado para conduzir ao lado de Lady Anna os destinos de nossa terra.
Assim, meu marido e eu rogamos humildemente para que vossa senhoria considere, se for possível, a possibilidade de um outro pretendente, um homem mais alinhado com o status e as necessidades de nossa amada sobrinha e de sua herança.
Com a mais sincera humildade, gratidão e reverência, permaneço sua dedicada e adorada sobrinha,
Alysanne, Senhora Elesham dos Paps*
25º dia do Ano 287 d.C.A.
(*35º dia, Ano 287 d.C.A.*
Para Lorde Ennis Elesham e Senhora Alysanne Elesham*
Por ordem do Senhor do Vale e Mão do Rei, Jon Arryn, e com a plena aprovação de Sua Graça, Rei Robert, Primeiro de Seu Nome, foi decidido e oficializado o casamento entre Lady Anna da Casa Elesham, herdeira dos Paps, e Lorde Petyr Baelish do Menor dos Dedos.
Considerando que Lady Anna já se tornou viúva duas vezes após poucos anos de matrimônio e permanece sem herdeiros, nosso gracioso Rei determinou que seu novo esposo seja um homem jovem e pródigo, sem alianças familiares disruptivas e de orgulho moderado, de modo que compreenda a necessidade de que o primeiro filho gerado por este casamento herde o nome da Casa Elesham. Apenas o segundo filho, caso venha a existir, carregará o nome da Casa Baelish.
Em reconhecimento às casas envolvidas nesta união, nosso gracioso Rei oferecerá como presente de casamento três baús recheados de tecidos de qualidade superior, incluindo lã, veludo e algodão em diversas cores, além de dez peças de joias para o casal e quatro para Lady Alysanne Elesham, sobrinha amada da Mão do Rei.
A necessidade de que este casamento ocorra antes do fim do ano é premente, pois a estabilidade da Casa Elesham deve ser garantida sem maiores delongas. Deseja-se a bênção da deusa Mãe, uma dos sete que são um, para que esta união traga frutos, assegurando o futuro da linhagem e a prosperidade das terras.
Que os Sete abençoem sua nobre Casa,
Com os mais altos cumprimentos à sua nobre Casa, que os Sete os abençoem,
Pycelle, Grão-Mestre de Sua Graça, Rei Robert Baratheon, Primeiro de Seu Nome* )
((* À mais querida Lady Alysanne Elesham, *
A mais amada sobrinha de meu doce marido,
Sou, há quase cinco anos, a honrada esposa de meu querido esposo e devo admitir que me envergonho profundamente por não ter lhe escrito antes, como um membro tão próximo da família de meu marido.
Espero que possa perdoar essa falha, minha querida Lady Alysanne. Posso apenas me desculpar por essa negligência dizendo que os primeiros anos de meu abençoado casamento foram, infelizmente, repletos de provações enviadas pelos Sete — com a tristeza de um aborto, ainda com a ausência de um filho homem depois de tantas tentativas, com várias crianças de tenra idade para cuidar e educar e ainda com os desafios que surgem entre recém-casados, especialmente entre uma jovem noiva indefesa, como eu fui, e um marido experiente, ocupado e importante, como o meu querido Jon.
Ah, esses desafios nos primeiros anos de casamento... Tenho certeza de que se lembra bem de como foram seus próprios anos iniciais ao lado de seu nobre esposo.
Assim, espero por sua compreensão e perdão, minha querida Lady Alysanne, e rezo para que possamos nos tornar mais próximas como família e, quem sabe, boas amigas além disso, assim como espero me tornar uma boa amiga para sua sobrinha também, a Lady Anna.
Ah, e desejo enviar um presente de casamento para sua adorável sobrinha. Afinal, por meio de você, ela também pertence à família de meu doce marido, e, portanto, é querida por mim igualmente. Poderia me escrever de volta com sugestões sobre o que a doce Lady Anna mais gostaria de receber?
Aguardarei sua resposta com ansiedade e com o coração cheio de amizade por você.
Sinceramente,
Lady Lysa Arryn
37º dia do Ano 287 d.C.A.))
*Para Lady Catelyn Stark, Winterfell*
Minha doce e querida irmã,
Há muito carrego a vergonha de meu silêncio e de minha ausência de correspondência. A tristeza e as dores que vivi nestes anos consumiram meu espírito e me afastaram de você, e por isso peço seu perdão.
Meu coração solitário havia se esquecido do amor entre irmãs, e só posso culpar por isso os longos anos de tristeza, uma dor crescente que piorava ao lembrar do bebê que perdi no início de meu casamento e das várias tentativas frustrada de dar ao meu querido marido o tão sonhado filho homem. Não se engane, eu amo as minhas filhas, não as substituiria por nada nesse mundo.
Mas não sei se você pode entender o quanto eu sofro pelos cochichos e olhares de deboche que recebi e ainda recebo pelos membros da corte. Inicialmente eu perdi um bebê com um aborto espontâneo e fui tratada como se nunca mais pudesse ter filhos na vida. Não é uma injustiça irmã, raras são as mulheres que não passaram por essa dor na vida.
E finalmente quando consegui obter êxito ao final das gravidezes que fui contemplada pelos deuses com crianças saudáveis, eu não podia nem ficar completamente feliz porque novamente alguém maliciosamente espalhou boatos de que eu só teria filhas mulheres. Que o coitado do Jon negociou com nosso pai e foi enganado por ele, recebeu uma noiva que só consegue gerar filhas inúteis.
Muitas vezes desejei lhe escrever, mas cada vez que via você e sua família florescendo, meu coração se enchia de amargura e inveja. Enquanto você tinha um filho homem são e forte, eu conhecia apenas a dor de perder um dos meus e a chacota por não ter filhos homens.
Embora, eu possa dizer que a felicidade me sorriu e fui abençoada com a maior das alegrias: filhas saudáveis e vivas. Catelyn, você não pode imaginar a esperança renovada que sinto ao ver minhas pequenas filhas sorrindo e brincando, mas também sinto angústia com a minha situação irmã. Embora meu amado esposo nunca esteve tão radiante. Ele as observa com um orgulho que nunca vi antes e me olha com um carinho que antes me parecia inatingível. E mesmo que ele nunca me pressionou em relação a ter meninos, qual Lord não espera passar suas terras e responsabilidades para um filho.
E eu queria tanto fazer isso por ele. Peço que coloque esse meu desejo em suas orações, já que sinto que só posso confiar em você. Não ouso abrir meu coração para esses oportunistas aqui da capital irmã.
Mesmo que eu não alcance essa graça sei que nosso lar agora é preenchido pelo riso infantil, pelo calor e pela sensação de pertencimento que antes parecia uma miragem distante. As meninas são pequenas, mas já demonstram personalidades distintas. A mais velha, Alyssa, é curiosa e encantadora, Berenice é um anjinho, enquanto suas irmãzinhas, ainda tão frágeis, já buscam segurar meus dedos com uma força surpreendente.
Peço-lhe perdão por meu silêncio e pela ausência de cartas ao longo dos últimos anos.
Mas essa tristeza parcialmente chegou ao fim, pois fui abençoada com o maior presente de todos: meus tão esperados, tão ansiados, tão desejados e saudáveis bebês. E um dia tenho fé que conseguirei dar ao meu marido o seu sonhado filho homem.
Oh, Catelyn, você deve entender... Eu não lhe escrevi nesses últimos anos porque meu pobre coração sofrido estava repleto de inveja de você e de seu saudável e vivo filho. E essa inveja só aumentou quando você foi abençoada com sua saudável filha no ano passado.
Naquela época, eu também carregava em mim a bênção da maternidade, mas não tive forças para escrever e lhe parabenizar por sua felicidade, não quando já havia perdido um bebê e ainda temia perder aquele que eu carregava. Quando elas nasceram descobri que eram duas saudáveis meninas, mas enquanto eu estava grávida passei quase a gestação inteira acamada e quase nada do que comia ficava em meu estômago. Nas noites que Jon trabalhava horas extras eu me peguei pensando se iria sobreviver irmã- tive medo, e não tive coragem de conversar contigo na época. Porém, prometi a mim mesma, que se eu sobrevivesse ao parto iria me reconciliar contigo.
Você pode me achar mesquinha e insensível por lhe escrever isso e ainda esperar seu perdão, mas oro, mesmo assim, para que seu doce e generoso coração me perdoe por minha egoísta indelicadeza. E por ser necessário uma situação tão drástica para abrir meus ohos.
Oh, Catelyn, minha amada irmã, desejo-lhe todas as bênçãos — para você, seu casal de filhos e todos os que ainda virão, e para seu marido também. Desejo apenas amor e felicidade para sua família, assim como agora, finalmente, tenho tudo isso na minha.
Espero que possa me perdoar por minha ausência, minha amada irmã. Oro para que possamos nos reencontrar e celebrar juntas a vida e os filhos que nos foram dados.
Ah, e quase me esqueci de lhe contar algo...
Meu amado marido tem uma sobrinha que já passou da flor da idade, não tem nenhum filho ainda, e é considerada infértil, Lady Alysanne Elesham. O marido dela também não tem filhos, nem mesmo bastardos, e o seu parente mais próximo que herdaria as suas terras é uma sobrinha, a Lady Anna. Infelizmente essa herdeira foi viúva duas vezes, não teve filhos, já passou dos trinta e parece não ter pressa para conseguir um novo noivo, o que o deixa inquieto o meu querido marido. Ele me falou da situação e você não sabe de quem eu me lembrei.
Nosso amigo de infância, Petyr Baelish, ele em breve se casará com Lady Anna, a sobrinha por parte de casamento da sobrinha de meu marido. Meu estimado esposo, sempre tão prudente, viu nisto uma oportunidade de assegurar que a Casa Elesham permaneça forte, pois Lorde Baelish não é de linhagem suficiente para ameaçar sua posição e ganharia prestígio com tal união, e convenhamos, se até agora ele não casou, era improvável que casaria no futuro por isso dei essa ideia a Jon, não é maravilhoso. Mindinho vai finalmente fazer algo de sua vida e deixar de ser tão solitário.
Sou tão abençoada por ter um marido tão sábio e previdente!
Com amor, sua irmã,
Que os Sete a protejam, minha querida irmã.
Sua amorosa irmã,
Lysa*
Red Keep, Torre da Mão, 71º dia do Ano 287 d.C.A.
C.*
Reserve pra mim uma noite com aquele homem bonito e talentoso. Diga a ele que está com pouca mão de obra e precisa de uma forcinha por uns dias, estou desesperada por algumas noites sob a lâmina de uma espada forte em meu núcleo mais íntimo.
L.*
(*Para os curiosos, "C." refere-se a Chataya.*)
