1º dia do Ano 288 d.C.A., Grande Salão da Fortaleza Vermelha em Porto Real
Lysa VII
O começo do Novo Ano foi celebrado com um grandioso banquete, repleto de risos e conversas animadas, com mímicos talentosos e músicos habilidosos que encantavam a todos, fazendo com que a sala fosse inundada por risadas e aplausos. Mesas fartas transbordavam de pratos deliciosos e bebidas refinadas, e cortesãos, damas e lordes dançavam de forma exuberante, trocando sorrisos e flertes, e desfrutando de cada momento de descontração. O ambiente estava repleto de uma energia vibrante e de pura celebração.
Ormond de Oldtown, o músico favorito da corte, havia começado a tocar sua harpa com uma destreza impressionante, suas mãos se movendo com uma leveza graciosa, enquanto sua voz, rica e profunda, cantava sobre a generosidade do Rei Robert e o amor imensurável do povo por seu grande monarca. A Rainha, com seus cabelos dourados brilhando à luz das velas, começou a dançar com seu irmão, Jaime da Guarda Real, que, como sempre, atraía olhares de admiração com sua postura altiva e presença imponente. O próprio Rei Robert, com seus olhos travessos, não escondia o desejo enquanto olhava para uma dama de formas generosas, enquanto a grande maioria da nobreza esperava ansiosamente por algo interessante que acontecesse, sem pressa de deixar a festa.
Ela estava sentada na mesa elevada, ao lado direito de seu marido, o Senhor Mão do Rei, seu semblante suave e sereno, um sorriso delicado e gentil nos lábios. Seus olhos estavam semicerrados, criando uma expressão de modéstia e recato, que talvez fosse um pouco mais provocante do que ela realmente queria transparecer. Seu cabelo cobre reluzia com a luz das velas, entrelaçado com sete fitas de seda azul celeste, que caíam suavemente até seus ombros, contrastando com o tom profundo de seu vestido de veludo azul, que se moldava ao seu corpo de forma elegante, sem ser excessivamente revelador, mas definitivamente insinuante, ou o seria se não estivesse visivelmente grávida.
Seu marido estava ao seu lado, vestindo uma roupa modesta, de um negro quase absoluto, salvo pelos pequenos bordados azuis em seus punhos e gola, que coincidentemente coincidiam com o tom das fitas. Ela e ele pareciam perfeitamente combinados, pelo menos em aparência, como um casal de opostos que se atraem com harmonia.
E não estava ela simplesmente deslumbrante naquele vestido de veludo azul celeste? O brilho de seu cabelo parecia refletir a luz das velas, como moedas de cobre recém-polidas, e os novos brincos de pérolas que adornavam suas orelhas, o delicado colar que repousava suavemente sobre seu peito e as pulseiras de pérola que brilhavam a cada movimento, eram como joias preciosas que chamavam a atenção de todos na sala. As damas da corte, com olhares afiados e fofocas discretas, observavam-na, a esposa do Senhor Mão, com inveja, enquanto vários dos Lordes, de maneira disfarçada, mas com uma intensidade de desejo palpável, a observavam com uma mistura de admiração e curiosidade.
Como dito, ela estava visivelmente grávida, a barriguinha quase pronta para dar à luz ao próximo filho, um detalhe que não escapava aos olhares atentos da corte. Mas esse fato, ao invés de fazê-la parecer menos atraente, parecia apenas intensificar a atenção que lhe era dedicada. Não eram poucos os homens que se distraíam com seu rosto delicado, seus lábios carnudos e doces, seu cabelo radiante e o leve, mas inconfundível, contorno de seu busto cheio, que parecia um convite silencioso.
A transformação que havia ocorrido nela nos últimos anos ainda surpreendia todos ao seu redor. Ela tinha se tornado mais do que uma simples dama da corte, mais do que apenas a esposa do Senhor Mão. Ela havia se tornado um símbolo de beleza e desejo, um enigma a ser desvendado por aqueles que se atreviam a observá-la. E, em meio a tudo isso, vários homens secretamente desejavam que seu marido fosse menos protetor, menos atento aos seus passos, para que ela pudesse ser, talvez, um pouco mais... acessível. Mais disposta a responder a seus olhares e fantasias.
Robert I
Robert Baratheon, o rei, estava visivelmente cansado de sua posição. Já sobrecarregado há mais de meia década com a Coroa e o trono desconfortável, ele, de vez em quando, olhava para sua esposa com um suspiro, como se desejasse que a vida no palácio fosse mais fácil, menos cheia de deveres e obrigações. Apesar de ser Rei e de gostar de certos aspectos dessa posição, como o poder e a autoridade, ele certamente trocaria muitas dessas responsabilidades por momentos de mais liberdade e prazer. Tentava afastar os pensamentos sobre as partes mais difíceis de seu reinado e se concentrar nos momentos alegres, como aquele presente banquete. Era uma festa animada, uma celebração generosa, e a jovem dama que flertava com ele era realmente atraente, com seus cabelos castanho-claros, um busto generoso que não fazia questão de esconder e uma disposição irreverente que a tornava ainda mais provocante. Robert já havia decidido que sairia mais cedo do que o planejado, pois a atração irresistível dessa dama prometia valer a pena perder algumas horas de festividades.
Ele desviou o olhar de sua mais nova conquista e encontrou os olhos de Jon Arryn, seu pai adotivo. Jon estava olhando-o com uma expressão desaprovadora e, naquele momento, sentiu um aperto no peito. Ele odiava ver essa expressão em seu rosto, especialmente quando sabia que era responsável por isso. Queria a felicidade de Jon acima de tudo, e desejava que ele continuasse como Senhor Mão enquanto ele fosse Rei. Estava feliz por Jon ter finalmente filhos, embora, é claro, nos primeiros anos só tivessem vindo meninas, e as meninas não servissem para garantir um herdeiro direto. Mas a esposa de Jon não desistiu e continuou tentando, ao menos, havia mostrado ser capaz de dar à luz filhos vivos, e estava novamente grávida. Depois de 4 meninas, veio o tão aguardado filho, e talvez, desta vez, fosse um menino também, só para aumentar as chances que chegasse à vida adulta um herdeiro legítimo para Jon.
Ele se viu pensativo, desviou o olhar de Jon e focou na mulher ao seu lado. Ela era bela além da imaginação, mas ao mesmo tempo distante, fria e desagradável. Parecia estar interessada apenas no seu "garoto de ouro", em sua posição e em como se apresentava diante da corte. Por um momento, olhou para a esposa de Jon, a doce pequena ruiva, e desejou que sua própria esposa fosse um pouco mais calorosa, mais doce, que se comportasse como a adorável Lady Lysa fazia com Jon. Ela parecia uma esposa verdadeira, uma mulher que estava lá para seu marido. Claro, os primeiros anos do casamento de Jon haviam sido difíceis, mas agora, com a chegada de seu filho, ele e sua esposa estavam muito mais felizes e em sintonia.
Se Lyanna estivesse viva, pensou, sua vida conjugal teria sido tão feliz quanto a de Jon, talvez até mais feliz desde o início. Como sentia falta de Lyanna, e como amaldiçoava a esposa com quem se casara. Linda como ouro, mas fria como gelo. Não era à toa que procurava satisfação em outras mulheres, mais doces e acolhedoras, para preencher os vazios de seu casamento.
Cersei I
Ela voltou ao seu lugar após dançar com Jaime e sentou-se ao lado do marido. Seus passos eram graciosos, calculados, e sua expressão permanecia serena, intocada pelo tédio que lentamente a envolvia. O Salão Principal da Fortaleza Vermelha estava iluminado por centenas de velas, a luz tremeluzente refletindo nos copos de ouro e prata sobre as longas mesas, onde lordes e damas riam e brindavam como se suas vidas fossem longas e felizes.
Ela olhou ao redor, seus olhos de esmeralda vagando pela multidão sem pressa, analisando, avaliando. Cada expressão, cada gesto, cada sorriso falso ou verdadeiro – ela via tudo. Seus olhos se fixaram na Lady Lysa Arryn, sentada ao lado de seu velho e decadente marido, com aquela barriga volumosa sob o vestido azul e aquele sorriso ingênuo, tolo, estampado nos lábios.
Revirou os olhos com desprezo. Que mulher patética, andava bamboleando como uma truta gorda, satisfeita com sua sorte na vida, como se a felicidade dela importasse para alguém além de si mesma. Sempre tão radiante, sempre tão doce. Ela parecia acreditar realmente que sua devoção ao marido era algo admirável, quando na verdade, era apenas ridículo. Como podia suportar um homem tão velho, tão fraco? Como conseguia sorrir ao lado de um cadáver adiado? E ter tantos filhos? Ela era uma truta ou um coelho?
Talvez fosse a única opção que lhe restava. Afinal, não era uma grande beleza. Seus cabelos, embora brilhantes como cobre polido, não podiam se comparar ao ouro reluzente dos seus. Seus olhos, azuis como o céu, não tinham o magnetismo dos seus. Ela era a mulher mais bela dos Sete Reinos, e todos sabiam disso.
Suspirou, entediada, e deixou seu olhar deslizar para Jon Arryn. Velho. Decrépito. Sem vida. E, no entanto, uma sombra de respeito pairava sobre ele, pois era astuto o bastante para se manter no poder, para governar enquanto seu marido bebia e fornicava sem controle.
Seus pensamentos se voltaram para Jaime, e então a encontrou na multidão. Alto, belo, perfeito. Seu reflexo. Seu espelho. Seu verdadeiro igual. O único homem digno de ela.
Um sorriso suave, satisfeito, se formou em seus lábios. Ela era rainha. Ela tinha poder. Ela tinha um marido jovem e forte, mesmo que o odiasse. Ela tinha Jaime, seu amor, seu irmão, seu cúmplice, aquele que lhe dava filhos perfeitos – crianças que carregavam o melhor de ambos.
E ela era a mulher mais bela dos Sete Reinos.
Era tão bom ser ela.
