JAMES SIRIUS POTTER
Electra andava inquieta desde o dia que recebemos as lágrimas de fênix e que eu dera a notícia de sabermos do paradeiro do diário.
- Não quer conversar? - eu perguntei, na noite de sexta. Els e eu tínhamos passado a noite em branco, deitados no chão do Salão Comunal em frente à lareira.
- Sobre? - ela perguntou, com as mãos apoiadas sobre o peito, como se tentasse controlar a respiração e os batimentos do coração.
- Sobre sua família. - eu disse, vagamente. Els virou o rosto para mim, os olhos cinzas sombrios:
- Eu sabia que eles eram ruins. Mas não sabia que chegariam a esse ponto.
- Eu também não. Acho que nem Sirius cogitou. - eu respondi, suspirando. Os olhos de Electra permaneceram sombrios:
- E se eu precisar duelar contra eles? Sei que não são boas pessoas, mas não queria duelar com família. Sabia que eram ruins, mas ver isso de uma forma tão descarada… Me faz pensar que tipo de pessoa eu seria se tivesse sido criada por gente assim.
- Seria exatamente como é hoje. Sirius foi criado por eles e não é daquele jeito. Você também não seria. - eu disse, pacientemente.
- E ainda há essa guerra, que aparentemente vai explodir a qualquer segundo. - Els suspirou, virando o rosto para a lareira, encarando o fogo. - E acho que vai ser a pior coisa que vamos viver.
- Acha que daremos conta, se precisarmos?
- Acho. Mas já estamos perdendo parte do que somos. - Electra respondeu, ainda sem olhar para mim. - O que mais perderemos até o fim disso tudo?
Eu não consegui pensar em uma resposta.
A manhã chegou rápido demais. Els e eu tínhamos dormido no Salão Comunal, à frente da lareira, ambos sem dizer mais nada a respeito do que iríamos fazer naquele dia e dali para frente.
Este era nosso primeiro passo para a guerra. Assim que o tomássemos, não teríamos saída a não ser ir até o fim.
- Vou tomar um banho. - Els se sentou no chão, olhando as brasas que se apagavam.
- Eu também. - eu suspirei, ajudando Els a se levantar e a deixei na escadaria para o dormitório feminino. - Vejo você mais tarde.
- Vejo você mais tarde. - ela repetiu, dando um beijinho na minha bochecha e subiu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa mais.
- Aonde estava? - Alvo perguntou, que já se trocava. Pettigrew era o único que ainda dormia. Nós o tínhamos chamado para "estudar" naquele dia, como uma tentativa de tentar fazê-lo falar alguma coisa durante a manhã, mas ele tinha respondido que já tinha se organizado com um grupo de corvinais para estudar Feitiços.
Muito bem. Eu e os demais decidimos lidar com ele mais tarde.
- Acabei caindo no sono no Salão Comunal. - eu sacudi os ombros, pegando algumas roupas e uma toalha. - Vou tomar um banho.
- A gente te espera no salão. - Pontas deu tapinhas no meu ombro e eu acenei com a cabeça, seguindo para o banheiro, sem responder.
Agora que lidar com o basilisco estava tão próximo, eu tinha dúvidas sobre ter contado a eles sobre nossos planos. E se alguém se machucasse? Merlin, e se alguém morresse?
Els tinha razão em dizer que já tínhamos perdido muito de nós mesmos e que só iríamos perder mais.
- Você está taciturno demais. - foi Anabelle quem enganchou o braço no meu. Electra estava mais à frente, absorta em pensamentos, enquanto Sirius e Cygnus a flanqueavam pelos corredores.
- Essa coisa toda está me deixando preocupado. - eu admiti, franzindo o nariz. Bells ergueu as sobrancelhas:
- Isso é novo. Você nunca tem medo de nada.
- Eu tenho medo de muita coisa. Só não deixo isso tomar conta de mim.
- Como o grifinório que é. - ela riu, divertida. - Não pensei que estivesse tão preocupado assim.
- Não me preocupo comigo. Me preocupo com vocês. - eu disse, delicadamente, dando tapinhas na mão delicada que segurava meu braço.
- Deveria se preocupar com você mesmo também. - ela ponderou, enquanto Els e os outros dois Black sentavam à mesa da Grifinória. Ela me segurou um pouco atrás, deixando Lily e Remus passarem por nós, enquanto fingia ajeitar a minha blusa. - Electra vai enlouquecer se algo acontecer a você.
E foi com essa frase que a garota Black se afastou e sentou ao lado do irmão gêmeo. Al deu tapinhas no meu ombro:
- Ela deixa a gente sem resposta mesmo. Vamos comer. - ele jogou o braço sobre os meus ombros e me levou até a mesa para tomar café.
Nem eu e nem os outros conseguimos comer mais do que o necessário para não passar mal. Lily fez questão de juntar alguns lanches pequenos para levarmos para a Sala Precisa, imitada prontamente por Remus, ambos enchendo a bolsa de comida.
Nós iríamos repassar nossas táticas na Sala Precisa, nos preparar mentalmente e só então iríamos descer até a Câmara Secreta.
Electra ainda não tinha falado nada além de "Bom dia" até agora. Quando os outros lideraram o caminho, eu segurei o cotovelo de Els e deixei que tomassem alguns metros de distância:
- Quer adiar?
- Não. - ela sacudiu a cabeça.
- Ninguém vai se importar…
- Não quero adiar. - Electra repetiu, crispando os lábios. - Só queria a garantia de que todos sairemos vivos dessa merda.
- Nós iremos. - eu prometi. - É isso?
Aquilo pareceu fazer Electra amolecer e ela abaixou os olhos:
- Desculpe. - ela respirou fundo e retomou a caminhada, depois de soltar a minha mão do cotovelo dela. Eu sacudi a cabeça e segui a Black, que continuou silenciosa durante toda a caminhada até o sétimo andar.
- O que há com ela? - Sirius perguntou, quando Electra se sentou silenciosamente entre Lily e Remus, os menos tagarelas do grupo. Eles pareceram acolhê-la prontamente, sem prolongar a conversa curta entre os três.
Electra estava completamente absorta em pensamentos.
- Não sei. - eu respondi, com sinceridade. - Nunca a vi assim. Mas, também, nunca estivemos tão perto de um perigo real.
- Els já lidou com setimanistas quando era quartanista. - Cygnus lembrou.
- Naquela situação, a única pessoa correndo riscos era ela. - eu lembrei e os olhos dele brilharam com compreensão. - Acho que é por iss única pista que ela me deu. Ainda assim, nunca vi Els desse jeito.
- Acha que devemos prosseguir? - Pontas questionou. Eu abri a boca, mas Electra ergueu a cabeça:
- Todos nós podemos ouvir vocês. - ela disse, séria. - Sim, estou preocupada. Neste momento, estou pensando em todas as coisas que podem dar errado e em como lidar com cada uma delas. Nesta tarde, - ela ergueu o queixo. - desceremos à Câmara Secreta em busca de uma criatura mortal. Ninguém vai sair inteiro, mas espero que saiam todos vivos.
- É por isso que está toda mal-humorada? - Bells criou coragem. Os olhos cinzas de Els se escureceram:
- Isso não é mau-humor e você sabe disso. Vamos repassar as coisas.
- Aí está. Nosso mini-Moody. - Cygnus tentou um sorriso largo para a irmã, mas se ajeitou e abriu um pergaminho. - Vamos começar.
Nós acabamos almoçando junto com os outros alunos, mais cedo do que o de costume. Electra estava mais falante, porém ainda taciturna.
- É sobre Orion e Walburga. - eu sentei de frente com Electra, quando voltamos para a Sala Precisa. - Tem medo de enfrentá-los?
- Não. Tenho medo do que isso pode causar a Regulus. - ela corrigiu e se recostou na cadeira. - Eu queria apenas invadir aquela mansão, pegar o que preciso e levar Regulus e Monstro comigo, para longe daqueles dois.
- Sei disso. - eu disse, por fim. - E esta missão está deixando seus nervos à flor da pele. A junção das coisas torna você…
- Uma vaca.
- Eu ia dizer 'difícil'. - eu ergui as mãos, na defensiva, mas fui capaz de arrancar uma risada de Els. - Todos nós iremos fazer nosso melhor, Els. Sabe que eles são grandes bruxos. Nós somos seus netos. Você é a mistura de Sirius Black e Evan Rosier. Tem ideia do que isso significa? É uma bruxa, no mínimo, tão excepcional quanto os dois. Vai se sair bem.
- Precisamos manter os outros seguros.
- Iremos matar o basilisco. É o máximo de segurança que podemos prometer. - eu lembrei. - Nós ficamos com o maior perigo.
- Se der errado, eu vou explodir tudo, depois fujo da escola e vou causar um escândalo assaltando metade da Knockturn Alley até achar o que preciso.
- Aí está a minha Black favorita. - eu ajeitei um cacho de Electra e a fiz ficar de pé. - Últimos preparativos, pessoal. Vamos descer em duas horas.
Nenhum de nós sorria enquanto caminhávamos até o banheiro da Murta-Que-Geme. Electra ia à frente, como sempre fizera, com os irmãos logo atrás. Os Marotos e Lily iam no meio e eu e Alvo fechávamos o grupo, na retaguarda.
Parecia uma caminhada tranquila, de estudantes de NIEMs cansados. Mas era uma caminhada para batalha, a primeira batalha real que enfrentaríamos na guerra que Voldemort estava iniciando.
O banheiro, é claro, era habitado apenas pela Murta. Bells a lacrou com um feitiço, impedindo a entrada de qualquer outra pessoa que não fosse da Ordem e impedindo a saída de qualquer criatura reptiliana e de fantasmas.
- Estão me prendendo aqui?! - Murta gritou, indignada, mergulhando em um vaso sanitário apenas para ressurgir em outro. Electra ergueu as mãos:
- É para a sua segurança. Sabemos o que a matou.
Murta parou, encarando a Black e se aproximou de supetão:
- Sabe dos olhos amarelos?
- Foi um basilisco. - Els explicou, calmamente, apesar da proximidade do fantasma. - Nós queremos ir explorar. Mas só vamos conseguir, se você manter segredo.
- Não posso prometer.
- Então deixarei o basilisco voltar para você. Nem mesmo fantasmas estão seguros dele. - Cygnus colocou as mãos nos bolsos. Murta colocou a mão sobre a boca. - Fique em silêncio sobre isso, - ele continuou. - e vingaremos você.
- Pode me prometer?
- Sobre a minha honra grifinória. - Cygnus deu um sorriso largo para a fantasma, que se derreteu. - Mas não pode contar para ninguém. Mesmo que façam promessas a você.
- Tudo bem. - ela cedeu.
- Eu deixei uma brecha. - Bells olhou Murta, que a encarou de volta. - Você poderá sair mesmo sem nós caso precisemos de ajuda. Se nos ajudar, nos a ajudaremos.
Murta acenou com a cabeça:
- E é temporário?
- Claro que é. - Bells sorriu, gentilmente. - Jamais a trancaria aqui, sem possibilidade de saída, Murta. Nunca machuquei e nem iria machucar ninguém intencionalmente. Só queremos saber o que tem lá. E vingar você, claro.
- Tudo bem. - a fantasma cedeu, muito mais calma. - Posso manter guarda bem aqui. - ela sentou sobre o vaso de frente com as torneiras em formato de cobra. - É onde morri.
- Então é por aqui que ele sai. - eu acenei com a cabeça. - Obrigado pela ajuda, Murta.
- Sem problemas! - ela deu uma risadinha, piscando para mim. Eu pigarreei, ignorando o sorriso muito largo do meu irmão:
- Cygnus, você abre. Els e eu vamos primeiro e depois passamos o aviso. - eu olhei o Black, que acenou com a cabeça.
- Feito.
- Dourado é seguro. Vermelho é para esperarem. - Electra lembrou. Meu avô acenou com a cabeça, solene:
- Se demorarem mais de cinco minutos, desceremos. - ele emendou, com os demais concordando com a cabeça.
- Boa sorte. - Sirius olhou para nós dois, mas passou uns segundos a mais observando Els. - Tenha cuidado.
- Teremos. - Electra abriu o sorriso mais confiante que conseguiu e olhou para o irmão. - Cygnus, faça as honras.
O Black pigarreou, dando um passo para a frente, segurando a varinha com firmeza. Eu não pude segurar a careta quando o garoto começou a pronunciar que a Câmara Secreta se abrisse. Assim que Cygnus ficou em silêncio, os rangidos de metal enferrujado e cerâmica começaram. Al e Cyg deram um passo para o lado, escondendo Anabelle do que quer que estivesse sob os pisos cerâmicos. Els segurou a varinha com firmeza, sem mover um músculo - eu podia sentir a confiança dela começando a voltar: Electra era uma bruxa duelista na sua forma mais forte e jovem, prestes a se juntar ao quartel general dos aurores, sendo treinada por bruxos que duelaram com o maior bruxo das trevas que já existiu na Inglaterra. Se alguém aqui estava preparado e podia se sentir confiante quanto à situação, era ela.
A entrada se firmou e nós esperamos alguns segundos antes de olharmos para baixo, para onde o túnel nos levaria.
Vazio.
De alguma forma, aquilo era mais preocupante.
- Tudo bem. Eu vou primeiro. - Els sentou na beirada do poço e, antes que eu pudesse dizer uma única palavra, ela pulou.
- Ela definitivamente é sua parente. - Remus soou quase assombrado, olhando Sirius. Eu trinquei os dentes:
- Esperem o sinal. - eu sentei na beirada do poço, exatamente onde Electra estivera segundos antes, e pulei antes que os demais me respondessem.
A minha queda não foi nada graciosa: os pedaços de cerâmica quebrados cortavam meus braços, pernas e costas e o cheiro não era nada agradável.
Ainda assim, nada me preparou para o mar de ossos que encontraria assim que chegasse ao final do poço.
- Merda. - eu praguejei, ficando de pé. Els estava na ponta oposta, curando os pequenos cortes com a varinha e sorriu para mim:
- Olá, James.
- Olá, Electra. - eu revirei os olhos, imitando a garota. - Tudo intacto?
- Sim. - o sorriso dela murchou. - Não vi nada demais até agora. Devemos ir além?
- Avise-os. Vou olhar aquele túnel. - eu apontei o túnel à nossa esquerda, o único que permitia passagem. Assim como a pequena alcova, não havia nada além de água e ossos de animais pequenos. Eu vi o brilho dourado que Els prometera, de canto de olho, enquanto averiguava os arredores.
Era impossível dizer que não estava preocupado. Merlim, meu coração martelava e meus dentes estavam cerrados.
Qualquer movimento e um Confringo seria o feitiço de escolha.
Que se danem aqueles dentes - Els e eu poderíamos refazê-los com magia, se precisássemos. A coisa mais importante era todos saírem com vida deste lugar.
- Nada. - eu voltei para Electra, que ajudava a irmã a ficar de pé. Alvo e Cygnus já rodeavam a pequena alcova e, sem muita demora, os Marotos tinham se juntado a nós. - Seguiremos com o plano. Dourado continua sendo a cor da segurança e vermelho a do perigo e assim que tivermos certeza de tudo, daremos o aviso. Els e eu lidaremos com o basilisco, mas…
- Se precisarem de ajuda, luz azul. - Lily completou, a voz firme, embora os olhos mostrassem preocupação.
- Se precisarem destruir tudo, destruam. Sua vida vale mais do que alguns dentes. - Remus disse, sério. - E peçam ajuda.
- Pediremos. - Electra pigarreou e olhou os outros três Blacks, todos mais sérios do que eu jamais vira. - Se eu mandar darem o fora…
- Não daremos o fora. - Cygnus sacudiu a cabeça, com a irmã e o avô concordando. - Todos nós descemos e todos subiremos.
- E vivos. - eu completei, olhando meu irmão.
Por Merlim, que nada acontecesse a ele.
- Vamos. - Els ergueu o queixo e eu a olhei:
- Vamos.
Electra e eu conjuramos feitiços silenciadores em nossos pés e nos demais, ignorando o olhar curioso do restante do grupo. Eu saí na frente, com a varinha empunhada, pronto para matar qualquer coisa que se movesse - esse não era um treinamento no qual eu poderia sair estuporando o que quer que fosse ou desarmando. Era um basilisco e uma questão de vida ou morte. Els e eu não podíamos arriscar nada ali. Além do mais, nós tínhamos concordado que, na pior das hipóteses, um Avada Kedavra seria mantido em segredo entre nós dois.
Um barulho de pedra sendo arrastada fez com que nós parássemos de nos mover imediatamente. A minha mão ficou subitamente molhada de suor e meu coração, que já estava acelerado, parecia que ia sair pela minha boca seca como um deserto. Els se manteve atrás de mim, atenta a qualquer movimento, como se esperasse um ataque surpresa.
Um chiado soou pelas grades à nossa esquerda e Electra me puxou para outra alcova, muito menor, nos escondendo do que eu supunha ser um basilisco.
Eu engoli em seco, nós dois mais pálidos do que nunca. Eu arrisquei olhar o chão, onde uma sombra passava.
Um rabo de cobra.
- Achamos. - eu murmurei. - Está se guiando pelo cheiro.
- E barulho. - Els franziu os lábios e eu fiz careta. Realmente, erro de principiante. A sombra e o barulho se afastaram e eu arrisquei jogar um feitiço pelo túnel no qual vínhamos passando, em busca de qualquer coisa viva.
Nada.
Isso era mais aterrorizante do que se o basilisco estivesse ali.
Como uma coisa monstruosa daquelas podia se mover tão rápido?!
Eu voltei para o corredor, com Electra seguindo cuidadosamente atrás de mim, ambos com as varinhas empunhadas. Nós não fomos interrompidos ou ouvimos qualquer som estranho até chegarmos ao final do túnel escuro. Els e eu nos entreolhamos e eu lancei o mesmo feitiço.
O basilisco estava à nossa direita. Eu engoli em seco:
- Esqueça a coisa de deixar os dentes inteiros. Destrua tudo.
- Feito. - ela concordou e, em seguida, o basilisco gritou, como se nossa presença significasse carne fresca e apetitosa.
Certamente significava, se você levasse em consideração a quantidade exorbitante de esqueletos de ratos que eu tinha visto no percurso até aqui.
- Para trás! - eu empurrei Els para uma alcova pequena, escapando por muito pouco dos dentes do basilisco que morderam a pedra com tanta força que um pedregulho caiu na cabeça do monstro.
Quem sabe ele mesmo nos ajudaria a destruí-lo.
- Que bicho burro. - Electra cuspiu, erguendo a varinha sobre o meu ombros. Ela me puxou para mais perto, fechando os olhos com força quando ouviu a cobra gigante se aproximar novamente. - Sectumsempra!
O segundo grito do basilisco agora era diferente: agudo, irritado, bem diferente do urro de fome que eu ouvira há pouco tempo.
- Acho que peguei o focinho. - Els resmungou. Eu abri os olhos rapidamente, o suficiente para garantir que ela mantinha os dela fechados e olhei o chão, em busca de sombra.
Novamente, ali estava: uma sombra pequena, a ponta da cauda da cobra.
- Impedimenta! - eu apontei a varinha para o basilisco. O movimento antes rápido demais desacelerou o suficiente. Els e eu arriscamos olhar para a sombra, seguindo até a cabeça do monstro.
Azarações funcionavam, mas tinham uma durabilidade bem mais curta.
Tão curta que o basilisco usou a cauda já recuperada de velocidade para nos jogar para longe. Electra gritou, ordenando que eu não olhasse para o monstro. Era fácil: ele tinha nos jogado para a direção oposta, então eu não precisava desviar dele agora. Minhas costas bateram contra a parede de pedra com força, tirando todo o ar dos meus pulmões. Electra caiu a pouca distância, pingando sangue de um corte no couro cabeludo. Ela parou por alguns segundos, de joelhos, fechando os olhos em seguida. Eu girei de costas para a criatura, rápido o suficiente para conseguir olhar a sombra da cabeça do basilisco, que ia em direção à Els:
- Impedimenta! - eu apontei a varinha sobre o ombro, atrasando o basilisco por alguns segundos. - Sectumsempra! - eu gritei, correndo até a garota. Els não movia um músculo, ainda de joelhos, os olhos fechados com firmeza. - Onde…
- Perdi a minha varinha. - ela soou desesperada. O basilisco gritava atrás de mim, sacudindo a cabeça como um cachorro que tinha acabado de sair da piscina. Eu conjurei a varinha de Electra com um feitiço silencioso.
Graças a Merlim a coisa ainda estava inteira. Els pareceu mais tranquila, com a varinha na mão e arriscou olhar a sombra da cobra. Electra apontou a varinha com firmeza sobre o meu ombro, se guiando pelas sombras do basilisco de Slytherin antes de usar mais um Sectumsempra silencioso. O basilisco gritou novamente e agora o sangue chovia sobre nós dois.
- Mais um para garantir. - eu apontei sobre meu ombro, conjurando um novo Sectumsempra apontado para a cabeça do monstro, que voltou a gritar.
- Me cubra. - Els pulou de pé, correndo em direção ao basilisco desesperado.
Agora quem estava desesperado era eu. Tão desesperado que saí correndo atrás da garota, ambos nos guiando pelas sombras. Els jogou um Impedimenta silencioso, o suficiente para escalar as escamas do pescoço do basilisco, que se remexeu e eu precisei me jogar para longe do alcance da coisa que estava prestes a me esmagar. Eu arrisquei olhar as sombras novamente, só para sentir meu coração na boca de novo:
Electra estava sobre a cabeça do basilisco, como se se segurasse sobre uma vassoura desgovernada. Ela apontou a varinha para baixo, para o olho esquerdo, gritando um novo Sectumsempra. Eu engoli em seco, completamente inútil no chão, enquanto Els cegava um olho de cada vez.
Ela era maluca, mas genial.
O basilisco gritou mais uma vez e Electra pulou para o chão, amortecendo a queda com um feitiço e arriscou encarar o monstro, enquanto eu gritava para que fechasse os olhos.
A cobra gigante sacudiu a cabeça, enquanto olhava para Electra.
A garota sorriu, arrogante, antes de lançar mais um feitiço para atrasar o basilisco e desviou de uma rabada, correndo na minha direção:
- Levante! - ela gritou, os tênis guinchando quando ela parou deslizando ao meu lado. Eu pulei de pé, puxando Els pelo braço até uma outra alcova, antes que ele a engolisse em uma mordida só.
- Eu odeio quando você tem essas ideias! - eu apontei a varinha, lançando mais um feitiço para retardar o monstro antes de arrastar Electra para longe da criatura. - A luz azul! Agora!
Electra se soltou de mim, lançando um feitiço de aviso para os demais, seguido por um patrono - provavelmente avisando que já havia cegado a cobra.
- Precisamos do dente. - Els bufou, me seguindo até outro túnel, oposto ao qual tínhamos usado de entrada para o grande salão da Câmara. - Eu não ceguei aquela coisa para falhar no último estágio do plano.
- Não vamos falhar. - eu passei o braço pela testa, encharcado de suor. - O vidro com as lágrimas está inteiro?
- Sim, fiz um feitiço de indestrutibilidade. - ela soou tranquila. - Vamos arrancar esse dente.
- Vamos. - eu respirei fundo, abaixando a cabeça. - Você já cegou a coisa. Me deixe pegar o dente.
- Tudo bem. Não vá se envenenar. - foi tudo o que Electra disse, olhando sobre os meus ombros. - Se conseguirmos, voto por uma festa na Sala Precisa com whisky de fogo.
- Feito. - eu concordei, girando nos calcanhares, antes de lançar o feitiço que me diria a localização do basilisco.
O monstro estava perto da estátua de Salazar Slytherin, próximo à água. Eu trinquei os dentes e saí, com Els no encalço, ambos com as varinhas em punho.
Com o basilisco cego, agora não era mais impossível de conseguir o dente. Difícil, mas não impossível.
Nós entramos no salão, onde a cobra nos esperava, enrolada sob a estátua. Os sibilos agora eram de fúria: o basilisco nos mataria e comeria apesar de cego. Eu não precisava ser ofidioglota para saber o que os sibilos queriam dizer. Assim que o monstro nos localizou, ergueu a cabeça, mostrando os dentes que pingavam veneno.
- Tão precioso. - Electra disse, com falsa doçura, quase me fazendo rir. - Mate-o, James, ou eu vou.
- Tão delicada. - eu provoquei, empurrando Electra de volta para uma alcova, fazendo o máximo de barulho para que o monstro me seguisse.
Felizmente, eu tive sucesso.
Infelizmente, o basilisco era muito mais rápido do que eu e usou o rabo para me jogar contra a estátua novamente.
Muito bem.
- Confringo! - eu mirei na cobra, acertando a cauda, que se desfez, mas o basilisco continuou me perseguindo, agora mais furioso do que nunca. Electra surgiu atrás da coisa, lançando mais um feitiço, atraindo a atenção para si própria.
Maldita garota.
O basilisco deu meia-volta, começando a perseguir Electra que deslizava pelas poças de água, desviando de mordidas com mais frequência do que eu - certamente o basilisco tinha guardado o cheiro dela como da garota que o cegara.
Cygnus chegou a tempo de evitar um desastre e, junto comigo, conjurou um Impedimenta que não permitiu que Electra fosse esmagada pela cobra gigante. Um Impedimenta duplo tinha, agora, o efeito esperado de um Impedimenta comum - a cobra ficou lenta o suficiente para que eu a acertasse com um novo Confringo, fazendo com que a coisa voltasse sua atenção para mim.
Electra agora era apoiada por Sirius, que a tirava da linha de frente da coisa. Els brigava, tentando voltar, mas Sirius era maior e muito mais forte e a arrastou para um canto menos arriscado - nada era seguro aqui embaixo.
- E aí, cara.
Eu xinguei, olhando para a minha esquerda por uma fração de segundo, antes de voltar a olhar para a cobra, que parecia confusa com tanto barulho causado pelos Marotos e pelos irmãos Black.
- Da onde é que você veio? - eu berrei para Alvo, nós dois desviando de uma mordida.
- Da sua esquerda.
- ALVO!
- Tinha outro caminho! - ele gritou. - Trouxe uma coisa. - ele ergueu uma coisa amassada e marrom. Eu acertei um Sectumsempra na cobra, fazendo com que ela se entortasse para um lado.
- VOCÊ PEGOU O CHAPÉU SELETOR?! - eu gritei, indignado.
- É para você pegar a espada, calma! - Alvo pulou um poça, os tênis guinchando enquanto ele corria do basilisco. Anabelle se juntou a ele, acertando um Confringo entre os olhos do basilisco.
Mira excelente, porém a carcaça era forte demais - aquilo causou estrago, mas não o suficiente para matar o monstro. Alvo empurrou Bells para longe - a garota foi amparada por um muro de pedra e substituída por um Pontas impassível, que também acertava feitiços pelo corpo todo do basilisco.
A grande maioria de nós fazia isso, exceto por Els que dava a volta pelo monstro, de novo tentando alguma coisa insensata.
Por Merlin, eu a amava, mas ela me deixaria careca antes dos quarenta anos de idade.
Electra acertou um Reducto bem mirado onde era o olho esquerdo do basilisco, fazendo a coisa gritar de raiva e dor, e voltar a atenção para a bruxa mais insensata presente naquela bagunça.
- Eu vou matá-la. - Cygnus bufou ao meu lado. - Por que ela não pode ser comportada?
- Maldita grifinória. - eu cuspi, quando Els desviou de uma mordida, se jogando para um túnel pequeno demais para ser perseguida pelo monstro.
O basilisco tentou mesmo assim, deixando o pescoço vulnerável para nós.
E era por isso que eu gostava de ter Electra ao meu lado quando iríamos fazer alguma coisa que não deveríamos.
- Garota esperta. - Remus elogiou, parando ao meu lado.
- MATEM ELE! - eu ouvi Electra gritar. Eu pisquei, praguejando em seguida, e acertei um novo Confringo, dessa vez na pele frágil do pescoço da cobra.
Aquilo não funcionou e irritou o basilisco ainda mais, de modo que ele se remexeu com tanta violência que arremessou Anabelle e Lily para longe com o que sobrou da cauda. Alvo praguejou, correndo para o basilisco com alguma coisa prateada em mãos.
A Espada de Gryffindor.
Eu pisquei, jogando Remus para longe, mas me virei a tempo suficiente para assistir meu irmão escalar a cobra que se remexia furiosamente.
Alvo enfiou a espada na cabeça do basilisco com uma violência jamais vista por mim.
O basilisco cessou qualquer movimento e Alvo pulou para longe, rolando para o meu lado.
O basilisco caiu no chão, espirrando água por todo lado. A coisa se movimentou por alguns segundos, com espasmos estranhos, e parou em seguida.
Morto.
Alvo bufou um punhado de palavrões, passando a mão pelo cabelo nervoso:
- Vocês estão bem? - ele olhou Lily e Bells.
- Sim. - Lily fez careta. - Só minhas costelas doem.
- Foi da pancada. - Bells massageou o quadril. - Boa, Al.
- Obrigado. - meu irmão sorriu e olhou para o túnel, estreitando os olhos em seguida. - É por isso que seu pai reclama de você. Custava dizer que esse era seu plano desde o começo?
- Eu não tinha um plano. - Els mancou até nosso grupo, que estava ensanguentado, encharcado e certamente fedendo. Os demais a encaravam com descrença. - É sério. As oportunidades surgiram e eu usei.
- Eu odeio quando você faz isso. - eu reclamei. - Está bem?
- Sim. Conseguiu matar com a espada? - ela me encarou, curiosa. Eu ri:
- Eu, não. Alvo que matou.
- Com a Espada? - Electra arregalou os olhos. Eu acenei que sim:
- Com a Espada de Gryffindor. - eu completei.
- E qual é a desses sorrisos todos? - Alvo perguntou, a mão direita ainda segurando a espada de prata. Eu sorri para meu irmão:
- Veja, Alvinho, a Espada de Gryffindor só se apresenta aos verdadeiramente grifinórios.
Alvo piscou, sem entender, mas os olhos de Cygnus brilharam de pura malícia.
Definitivamente ele era o mais parecido com Electra.
- E se apresentou para você. - Els completou, quando Alvo pareceu não compreender.
Meu irmão deu um grito estridente e arremessou a espada para longe, arrancando gargalhadas do grupo todo.
- Bem-vindo à Grifinória. - eu baguncei ainda mais os cabelos de Alvo, que praguejou, afastando a minha mão. - Nós vamos manter segredo, Al. Fique tranquilo. - eu tentei conter a risada, mas falhei miseravelmente.
Alvo sempre tinha sido grifinório, mas não admitia. Era maravilhoso ter esse novo dado confirmando o que eu sempre soubera.
E era mais uma cartada para atormentar meu irmão mais novo.
- Tudo bem, chega. - Sirius ergueu as mãos. - Vamos pegar os dentes e dar o fora daqui. Já estamos há muito tempo sumidos.
- Certo. - Lily e Bells foram em direção ao basilisco, seguidas de perto por Alvo e Pontas.
- Sabe, - Cygnus disse, fazendo com que o quarteto perto da cobra se virasse para ele, assim como nós. - eu acabei de lembrar que a gente podia só ter trazido um galo.
