ELECTRA ADHARA BLACK
Com a nossa ida atrás da Horcrux marcada para o próximo sábado, estávamos todos, no mínimo, inquietos. Os menores de idade se coçavam de vontade de ir com a gente - mas admitiram saber que seria burrice naquele momento. Sirius tinha se tornado um tanto ranzinza, conforme eu alimentava mais informações a ele sobre Horcruxes e o que elas faziam conosco.
James minimizou o estrago lembrando que o Diadema era um objeto que, previamente, havia sido impregnado com Magia Branca e relutava em aceitar que tinha sido manchado com Magia Negra do pior tipo. Portanto, ele nos daria menos trabalho.
Teoricamente.
- Pare de resmungar. - Lily perdeu a paciência na manhã de sexta-feira, durante o café. - Está sendo insuportável. Ninguém aqui tem culpa do seu mau-humor, Sirius.
Sirius murmurou um desculpe, enfiando uma colher de mingau na boca com raiva. Eu suspirei, tentando não me intrometer.
- Só estou preocupado com todas essas notícias. - Sirius olhou a amiga, com preocupação. - Nascidos-trouxas estão sendo caçados e você vai viajar para casa no final do ano.
- Vou ficar bem. - Lily garantiu, sorrindo com carinho. - Não se preocupe.
Realmente, ela ficaria bem.
Porque Caradoc Dearborn e Minerva McGonagall ficariam de tocaia, garantindo que ela estivesse segura. Nós iríamos buscá-la no dia seguinte (e por nós eu queria dizer a Ordem da Fênix).
- Vamos. As aulas vão começar logo. - Remus disse, após minutos de silêncio pesado.
A nossa preocupação com Lily era imensa. E, além dela, haviam muitos outros nascidos-trouxas que não faziam parte da Ordem e que não teriam o mesmo nível de proteção que ela.
Pensar nisso fazia meu estômago embrulhar.
Quantas pessoas estávamos condenando? Nós não poderíamos proteger todos, isso era matematicamente inviável e eu sabia, mas… Ver todas aquelas pessoas e saber que algumas delas morreriam e não haveria nada que poderíamos fazer para evitar era, para dizer o mínimo, bem desagradável.
A minha única sorte era que, graças ao bilhete médico emitido por Pomfrey, eu tinha sido liberada das atividades escolares até a próxima semana. Então, enquanto eles iam às aulas, eu retornava para meu dormitório, para uma soneca que seria seguida por algumas horas divagando sobre mandalas, aritmancia, runas ancestrais e antigas e tinturas.
Alvo tinha achado alguns livros que poderiam nos dar alguma luz, mas estava furioso porque nada se encaixava da forma que precisávamos. As tinturas encontradas por ele eram, basicamente, apenas alguns remédios e tinham efeitos temporários - ele queria algo permanente, estável e seguro: coisa praticamente impossível dentro da Alquimia.
Eu tinha tentado explicar a Alvo, mas ele fez um gesto de descaso:
- Não se preocupe. Vou conversar com o Sr. Potter. Ele vai conseguir me ajudar. - ele voltou a afundar no livro de Poções que praticamente se desfazia ao toque.
Anabelle, por outro lado, estava radiante enquanto ajudava o namorado a procurar uma forma de nos ajudar. Cygnus havia sido informado pelos dois ao mesmo tempo, enquanto James e eu estávamos com Dumbledore, de modo que agora era mais do que comum ver Al e Bells sentados no sofá, lendo algum livro ou montando algum resumo. Cygnus tinha aceitado bem, dizendo que suspeitava. Ele tinha me perguntado, depois, sobre a minha opinião a respeito do casal:
- Acha que Al está de gracinha com ela?
- Alvo Potter? - eu ri, olhando meu irmão, enquanto jogava uma pena em frangalhos no lixo. - Não. Ele é completamente apaixonado, Cyg. Fique tranquilo. James já me prometeu que vai conversar com Al.
- Hm. - ele disse, satisfeito. - Eu até que gosto deles juntos. Abre precedente.
- Precedente para que? - eu franzi a testa, corando. Meu irmão riu:
- Ah, nada. - ele sacudiu a cabeça. - Nada, Els.
Depois daquilo, o assunto sequer foi tocado. Era como se nada tivesse mudado, embora tudo estivesse diferente.
Eu me enfiei na cama, depois de colocar meus costumeiros feitiços de proteção em torno da cama, e tomei um pequeno gole da poção do sono atenuada criada por Al.
Ele era mesmo um gênio.
Depois do almoço, Lily e Bells vieram me ver. Elas me entregaram uma lista do que tinha sido dado nas aulas de hoje - nada que eu já não conhecesse - e me informado sobre o mau-humor insuportável do Sirius.
- Ele está preocupado com amanhã. - eu encolhi os ombros, suspirando. Elas fizeram caretas. - Não me olhem assim. Eu estava do mesmo jeito naquela outra vez.
- É porque você é mais parecida com ele que consegue lidar. Nós estamos com dificuldade. - Lily jogou os braços para cima. Eu fiz careta:
- É porque sou mais parecida com ele que estou evitando lidar com ele. Vamos acabar discutindo no meio do corredor.
- A gente podia dar um suco de maracujá, um chá de camomila para ele. Vai que ele se acalma. - Bells ponderou, distraída.
- Ou então um petisco para cachorro. - eu emendei, arrancando uma risada das duas. - Tentem o chá, mas digam a ele que vou dar um pouco disso aqui para ele esta noite. Se ele não estiver descansado, só vai me dar trabalho. - eu acenei com o frasco de poção de Alvo.
- Al preparou mais. - Bells disse, sacudindo a cabeça. - Não precisa dar o seu para Sirius.
- Bom. E vocês não têm aula agora? - eu perguntei. Bells praguejou e Lily resmungou, ambas saindo correndo em seguida.
Nenhuma delas queria perder a aula de Aritmancia.
A única coisa que possibilitou meu sono naquela noite foi a poção de Alvo. O jantar tinha corrido em silêncio, com Sirius menos ranzinza do que pela manhã, porém ainda quieto demais. Nós tínhamos optado por pegar a Horcrux durante a manhã, cedinho, antes que a maioria dos alunos acordassem - então por volta das cinco da manhã, eu estava me vestindo ainda escondida pelo dossel. Um dos dentes de basilisco e uma porção das lágrimas de fênix estavam bem guardados dentro da minha bolsa pequena, também protegida por feitiços.
Eu silenciei meus passos, e saí do dormitório de fininho, conseguindo, por um milagre, não acordar ninguém. Eu desci a escadaria e, graças a Merlim, James e Sirius já me esperavam, ambos taciturnos.
- O que há? - eu sussurrei, me aproximando da dupla.
- Peter não está na cama. - Sirius quase rosnou. Eu acenei com a cabeça, apertando a alça da bolsa:
- Este é um problema para mais tarde. Estão com o mapa?
- Está aqui. - Sirius acenou com o pedaço de pergaminho. James bateu com a varinha de leve na minha cabeça, me cobrindo com o Feitiço de Desilusão, fazendo o mesmo em Sirius e depois em si mesmo.
- Vamos. - a voz grave de James soou mais tensa do que eu esperava. Nós nos esgueiramos pelos corredores em silêncio, olhando o mapa do maroto com cuidado e um tanto de ansiedade.
Era cedo, sim, mas sempre havia aqueles que acordavam cedo. E o toque de recolher se estendia exclusivamente aos alunos: os professores podiam sair pelo castelo quando bem entendessem.
No corredor do sétimo andar, Evan nos esperava - sem nenhum tipo de disfarce ou se esquivando. Simplesmente com as costas apoiadas na parede, girando a varinha entre os dedos, encarando a parede que se tornaria a entrada da Sala Precisa.
- Bom dia. - James disse, desfazendo o feitiço em si próprio, depois em Sirius e em mim. Evan acenou com a cabeça:
- Bom dia. - ele endireitou o corpo e olhou para nós três. - Vamos?
- Vamos. - eu acenei com a cabeça, olhando para a parede de pedras que, agora, se transformava em uma porta larga, diferente da que costumávamos ter. Eu fui a primeira a entrar e, assim que os três garotos entraram e fecharam a porta atrás de si, fiz o pedido silencioso para que mais ninguém tivesse acesso a esta sala enquanto estivéssemos aqui dentro.
- Vamos nos organizar. - Evan nos fez formar um círculo. - Iremos em duplas ou acham melhor irmos todos juntos?
- Acredito que seja melhor se formos todos juntos. Cobrimos as áreas com mais calma e, caso alguma coisa aconteça, teremos mais pessoas para ajudar. - Sirius respondeu, sério.
- Vamos juntos. Pode ter de tudo nesse lugar. - eu gesticulei para a sala enorme, com pilhas e pilhas de objetos abandonados. - Inclusive coisas amaldiçoadas além do que procuramos. Accio não irá funcionar aqui. É uma sala projetada para esconder as coisas, então vamos ter que procurar tudo manualmente.
- Tudo bem. Já estiveram aqui? - Evan olhou para nós três, que negamos. - Têm alguma ideia de onde ele enfiou aquela coisa? - ele olhou para James e eu, que voltamos a acenar que não. - Vocês pelo menos sabem qual a aparência do diadema?
- O diadema é como aquele na estátua de Rowena Ravenclaw. - eu encolhi os ombros. - Naquele arranjo com todos os fundadores, é da época deles. Salazar com seu medalhão, Rowena com seu diadema, Godric e sua espada e Helga e a taça. Aqueles são os objetos deles e vamos nos basear nisso.
- Vamos juntos. Há alguma forma de tentar rastrear esse tipo de magia? Você parece saber bastante disso. - Evan olhou para mim. Eu fiz uma careta:
- Existem diversas formas e elas certamente nos dariam algum senso de direção, mesmo com feitiços de proteção. Quer dizer, Magia Negra desse nível é impossível de ter seu rastro completamente apagado, porém pode ser atenuado. Li sobre alguns métodos e tenho certeza que irão nos ajudar quando formos procurar as restantes, mas aqui dentro… - eu acenei para toda a sala. - Nada disso irá funcionar. Magia muito antiga rege este castelo, isso se não for ancestral.
- Eu ainda não entendi qual é essa coisa de antiga e ancestral. - Sirius sacudiu a cabeça.
- Ancestral é base, Antiga é só velha. - eu expliquei da forma mais simples que podia. - Magia Antiga é mais simples de ser manipulada e reutilizada. Magia Ancestral envolve Alquimia, Runas e Aritmancia. É magia em sua forma mais pura e primordial.
- A magia real. - Evan olhou para mim, atento.
- Se formos ser simplistas, sim. Só usamos uma parcela dela, aquela magia mais superficial. Magia Ancestral envolve tudo o que disse e ainda podemos mexer com questões envolvendo espaço-tempo. Não há divisão entre passado, presente e futuro, não há limite de poder. Magia Ancestral permite que criemos coisas que não existiam, permite a manipulação de coisas que não devem ser manipuladas. Podemos tentar burlar isso - eu voltei a gesticular para a sala. - mas levará mais tempo do que criar aquela Runa que estou tentando criar.
- O que é inviável. - Sirius suspirou. - Bom, então vamos começar. Todos juntos. Não toquem nada que pareça ter uma aura maligna.
Eu ri e segui James até a primeira pilha grande de coisas a serem reviradas.
Horas haviam se passado e nada do diadema. Sirius tinha trazido uma bolsa com comida e, por conta da fome, decidimos nos sentar no chão e comer nosso café-da-manhã isolado, no meio de um monte de velharias.
- Acha que quando chegarmos perto daquela coisa vamos conseguir senti-la? - James olhou para mim e eu suspirei:
- Talvez. Eu estou carregando algo fatal para ela. Talvez o diadema reaja de acordo. - eu ponderei, tomando um pequeno gole de água.
- Espero que o reagir de acordo não envolva trazer Você-Sabe-Quem para dentro do castelo. - Sirius mordeu o lanchinho, distraído.
- Ele tem cinco pedaços espalhados por aí, seis se contar o restinho miserável que tem dentro dele. - Evan sacudiu a cabeça. - Acho que não vai sentir a primeira.
- Talvez não. Mas acho que depois do diário, a coisa vai começar a complicar para o nosso lado. - Sirius argumentou.
- Ele vai saber que sabemos de algo quando saquearmos Grimmauld Place. - eu lembrei. - Ou talvez seja arrogante o suficiente para pensar que apenas queríamos os meninos.
- Pode ser. Mas ele é muito inteligente. - Evan disse, sério. - Não esqueçam que apesar do ego imenso, ele ainda é um bruxo poderoso e inteligente. Não é qualquer um que criaria uma Horcrux ainda no seu tempo de escola.
- O que demonstra crueldade extrema e capacidade mágica preocupante. - James disse, espanando migalhas de pão da camiseta. - Sabem onde Peter está? - ele olhou Evan, que suspirou:
- Foi chamado para informar o Lorde das Trevas a respeito de vocês dois. Ele estava tagarelando sobre Panacea e o diabo. - Evan bufou. - Quem teve essa ideia?
- Eu entrei em pânico. Foi a primeira coisa que eu pensei, porque criar a Panacea é o nosso trabalho de sétimo ano. - eu me defendi, quando os olhos de Evan pousaram sobre mim, como se soubesse exatamente de quem tinha sido a ideia.
- A Panacea pode estender a vida de quem for submetido a ela. - ele lembrou. - E se Voldemort estava disposto a fazer Horcruxes, pode apostar que ele vai querer saber se vocês podem ajudá-lo.
- Ele irá tentar recrutá-los? - Sirius questionou. Evan acenou que sim:
- Pode considerar. Electra e James são puro-sangue, até onde ele sabe. - ele explicou. - Vamos. Está ficando muito tarde e quero menos atenção possível sobre mim.
- Vamos. - eu fiquei de pé, empunhando a varinha, e fui a primeira a seguir para a próxima pilha.
Nós passamos, pelo menos, mais duas horas desde a pausa para o café-da-manhã em busca daquele diadema. Eu sabia que estava aqui, mas já estava impaciente. James parecia notar a minha inquietação e fez um carinho distraído no meu ombro antes de puxar mais um livro de uma pilha imensa.
- Eu sei que disse que magia deixa rastro e que, provavelmente, não seríamos capazes de usar um feitiço para localizar nada aqui. - eu comecei, arremessando uma goles murcha para longe. - Mas a magia egra não segue todas as regras, certo?
- Mesmo a mais obscura das magias segue as regras Ancestrais. - Evan lembrou, espirrando em seguida. - Eu não arriscaria. Ele deve ter colocado um feitiço de proteção forte e se você tentar, talvez acabe amaldiçoada.
- Então continuamos manualmente. - Sirius bufou. - Pelo menos a Walburga me ensinou bem isso. Não se brinca com magia negra.
- Vamos passar as nossas vidas aqui. - eu bufei, empurrando uma pilha de livros com raiva, que desmoronou à minha frente, revelando uma pequena caixinha de madeira, sem entalhes, com um fecho em bronze.
Assim que peguei a caixa de madeira escura e velha, uma sensação de frio e, não havia outra forma de descrever aquilo, o mais puro horror, tomou conta de mim.
Eu soltei a coisa imediatamente, fazendo com que os três homens olhassem para mim, alarmados.
- Você está pálida. - James me segurou, com preocupação. Evan olhou de mim para a caixinha, enquanto Sirius empurrava a coisa com o auxílio de um livro, parecendo preocupado.
- É a Horcrux, não é? - Evan me olhou, depois de puxar Sirius pelo braço para ficar de pé.
- Acho que sim. Nunca senti nada assim. É frio e maligno. - eu engoli em seco. - Pode ser. Mas não duvido que existam outras coisas impregnadas em magia negra aqui dentro.
- Vamos abrir. - Sirius olhou para nós três. - Magia ou manualmente?
- Manualmente. Voldemort preza pela magia. - James disse, sério. - Eu posso…
- Eu já toquei esse troço. - eu me soltei dele. - Eu faço.
- Ela pode ter sentido o dente de basilisco com você e reagiu. - Evan lembrou. - Deixe que um de nós abra. E então vamos ter certeza se é o que procuramos.
- Já fique com o dente na mão, por favor. Assim que confirmamos, vamos destruir isso logo. - Sirius me ajudou a abrir o vidrinho com cuidado e garantiu que eu não me machucaria, depois de manter o vidrinho com as lágrimas de fênix a postos para qualquer acidente.
Evan destravou o fecho de bronze com cuidado e abriu a caixinha com mais cuidado ainda: ali estava, o diadema perdido de Ravenclaw.
Era lindo: em prata, com uma safira azul escura e oval no centro. Ali estava a frase famosa: "O espírito sem limites é o maior tesouro do homem".
- É isso. - James olhou para mim. O diadema tremia levemente, como se estivesse ansioso para ser usado novamente, pronto para ajudar seu próximo dono.
Eu queria muito colocar o diadema na cabeça. Me ajudaria tanto. Aquela baboseira de Runas, Alquimia e Magia do Tempo seria tão mais simples se eu tivesse a ajuda do diadema. E ele estava tão perto, era só pegar e…
Um tapa estalado na minha mão me fez cambalear.
- Electra. - Sirius me encarava, sério. Eu pisquei, olhando em volta. Eu tinha me soltado de James e agora me encontrava no meio do círculo que tínhamos formado em torno da Horcrux.
- Destrua isso. - Evan disse, severo. Eu pisquei e voltei a olhar o diadema, que voltou a estremecer, como se convidasse a colocá-lo na cabeça.
Era errado destruir algo tão poderoso. Se eu o colocasse certamente seria capaz de explicar aos garotos sobre a sua importância histórica e como poderíamos usá-lo para melhorar o nosso desempenho em Alquimia e aquela Runa… A Runa nem era o mais importante. Eu podia ser uma Alquimista famosa, mais famosa do que o próprio Nicolau Flamel…
Eu dei um passo trêmulo em direção à Horcrux, ouvindo o barulho de alguma coisa cair no chão, mas aquilo não importava.
O Diadema de Ravenclaw estava bem ali. Era só pegar e eu me tornaria uma Alquimista imparável. Famosa por séculos, como Merlim, como Flamel e, por que não como Morgana? Ela criou coisas. Eu poderia criá-las também… Talvez a minha própria Pedra Filosofal e viver para sempre sendo a maior Alquimista da História do Mundo Mágico.
Tudo o que me impedia era só mais um passo e meus dedos tocariam o diadema e tudo aquilo se tornaria verdade em segundos.
Um par de braços muito fortes me abraçaram pelas costas e me puxou para trás. Eu dei um grito furioso, chutando e esperneando, gritando para quem quer que fosse o desgraçado para me soltar, aquele era o meu momento, a minha chance…
Uma fumaça negra acompanhada por um grito agudo me arremessou para trás, junto do homem que me segurava. Eu caí sobre ele e tentei ficar de pé imediatamente, mas tombei para a frente, apoiando todo meu peso sobre minha mão sem a varinha.
Onde estava a minha varinha?
Eu pisquei, sentando no chão de pedra gelado, esperando a fumaça dissipar. Eu nem sabia onde estava. E a minha varinha? Onde estava a minha varinha?
- Electra. - a voz grave de James soou atrás de mim e, em seguida, os braços dele voltaram a segurar meus braços e os travou junto do meu tronco, de modo que eu não podia me mover nem se quisesse. - Electra.
- Cadê a minha varinha?
- Está segura. Electra…
- Onde está o diadema?
- Foi destruído. - a voz dele era firme.
- Mas eu iria destruí-lo.
- Você não estava em condições de fazer isso. - ele manteve o aperto em torno de mim. - Evan o fez.
Eu pisquei, confusa:
- E por que está me segurando? - eu perguntei, exatamente quando Sirius e Evan nos alcançaram, ambos com os rostos sombrios.
- Você tentou colocar na cabeça. - James respondeu, a voz tensa.
- Não. Eu só queria ver…
- Você quase usou uma Horcrux, Electra. - James interrompeu, a voz quase desesperada. - Eu a tirei e Evan o destruiu.
- Estão feridos? - Sirius se ajoelhou na minha frente. Evan ainda me encarava, parecendo assombrado.
- Vamos passar na Pomfrey. - James ainda não me soltou.
- Solte um pouco o aperto. - Evan olhou James, que obedeceu. - Electra…
- Eu não…
- Você não se lembra? - Evan interrompeu e eu suspirei:
- O diadema… Ele queria que eu o usasse. Eu… Só queria entender melhor Alquimia. - eu abaixei a cabeça.
- É assim que a Horcrux se defende. - Sirius disse, a voz mais suave dentro do grupo. Ele fez um carinho na minha bochecha.
- Eu não ia machucar ninguém. Só precisava levar todo mundo…
- Você falou sobre Merlim, Flamel e Morgana. - Evan interrompeu, crispando os lábios. Eu franzi a testa. Eu tinha pensado. Não falado. - Você falou que queria criar coisas, como Morgana fez. Ser uma Alquimista famosa como Merlim e Flamel. - ele continuou. - Essa coisa trouxe coisas da sua mente para a superfície.
- Não sabia que tinha tanta ambição. - James disse, baixinho.
- Eu só queria ser uma boa bruxa. - eu abaixei os olhos. - Queria fazer o certo.
- Independente dos meios, certo? - Evan ainda me encarava, quase furioso. Sirius o afastou de mim:
- Você sabe o efeito que esse tipo de magia tem sobre nós. O Diadema era um objeto que aumentava a habilidade e a inteligência daquele que o usava. Aquele pedaço de alma o modificou. Se tornou uma tentação para aqueles que procuram conhecimento infinito. Electra é uma bruxa imensamente talentosa, todos nós sabemos. E o Diadema transformou um traço bom dela em algo maligno. A Horcrux iria usá-la e não o contrário. Aquela não era Electra, a nossa Electra. Aquela era Electra sendo comandada, sendo controlada, por Voldemort.
- O Diadema foi destruído. - James disse, quando o silêncio ficou longo demais. - Sirius, guarde os pedaços…
- Não sobrou nada. Virou pó. - Evan cuspiu no chão. - Levem a garota para a Enfermaria. Ela precisa ser cuidada.
- A Enfermaria não será adequada. Pomfrey fará muitas perguntas. - Sirius sacudiu a cabeça. - Vamos à Dumbledore. E você vai junto. - ele encarou Evan, que desviou os olhos:
- Então use aquele seu Mapa para ninguém me ver com vocês. Potter, carregue a menina. - o Rosier foi firme.
Evan não olhou na minha direção pelo restante do caminho.
Meus ferimentos eram pequenos o suficiente para que Dumbledore os curasse sem precisar da ajuda de Pomfrey. Ele recebeu Evan muito bem, apesar do silêncio do Rosier.
- O que houve quando encontraram o objeto? - Dumbledore olhou para nós quatro, com expectativa. Eu abaixei a cabeça e Sirius tomou a frente:
- Tentou possuir Electra. Tentou convencê-la de que iria ajudá-la a voltar para casa. - ele omitiu a parte que mais me envergonhava. - James a tirou de perto e Evan e eu a destruímos.
- Não sobrou nada? - Dumbledore perguntou. Evan sacudiu a cabeça:
- Virou pó. Pensei em pegar um pedaço para estudar, mas não tinha nada sobrando. - ele colocou as mãos nos bolsos, ainda sem me olhar.
- Está bravo com a Srta. Black, não é Sr. Rosier? - Dumbledore se inclinou na direção do bruxo loiro. Evan desviou os olhos. - Horcruxes sentem quando serão destruídas, ou que estão perto de serem destruídas. Tentam de tudo para se manterem inteiras, afinal são vivas. Elas irão usar seu ponto fraco, algo que seja importante. Para Electra, talvez, a sabedoria seja o que mais deseja e o Diadema de Ravenclaw traria justamente isso para ela, embora de uma forma perturbada e sombria, mas certamente a ajudaria a alcançar seus objetivos.
- Está dizendo que ela não tem culpa? - Evan pareceu descrente.
- É exatamente isso que estou dizendo, Sr. Rosier. - Dumbledore se recostou na cadeira. - Por que duvida da índole da sua amiga?
- Minha neta é uma bruxa exemplar. Minha neta tem mais poder mágico do que a maioria dos bruxos de dezessete anos que conheci. - Evan manteve o olhar firme sobre Dumbledore. - Não esperava vê-la daquela forma.
- Fragilizada? - Sirius atirou contra Evan.
- Possuída pelo Lorde das Trevas! Esperava que ela tivesse mais força de vontade para lutar contra uma possessão de um bruxo das trevas! Esperava que ela usasse esse cérebro brilhante que tem para nos ajudar a proteger os indefesos e não ser manipulada com tanta facilidade! - Evan passou as mãos pelos cabelos, exasperado, e olhou para mim. - Você é poderosa demais para estar susceptível dessa forma, Electra. O risco em que coloca não só você mesma, mas todos nós se não fortalecer isso… Eu nem sei descrever.
- Se fosse você quem tivesse sido possuído, Els jamais o trataria assim. - James disse, me ajudando a levantar. Eu mantive os olhos baixos, ainda incapaz de dizer uma palavra sequer. - Vou levá-la para o Salão Comunal. Electra precisa descansar. Depois me repasse o final dessa reunião. - James olhou Sirius, que acenou com a cabeça, e James me levou para longe, sem esperar resposta de mais ninguém.
James manteve a mão na base das minhas costas, me levando para o Salão Comunal sem pressa. Eu me mantive em silêncio, sopesando tudo o que Evan havia dito: realmente, eu era uma das pessoas na linha de frente contra Voldemort. Eu não podia ter a mente fragilizada dessa forma.
Isso só me deixava mais envergonhada.
James, como sempre, não me repreendeu de forma alguma, apenas se manteve ao meu lado enquanto nós caminhávamos em direção ao Salão Comunal.
Nossos irmãos e amigos nos esperavam, com expectativa. Eu acenei para todos em cumprimento, mas olhei para James:
- Vou subir. Não estou me sentindo bem. - foi tudo o que eu fui capaz de murmurar. James deu um beijinho na minha bochecha, mais demorado do que costumava fazer, e deixou que eu subisse, em silêncio.
Eu enchi meu dossel de feitiços e mais feitiços de defesa antes de tomar um gole enorme da poção de sono da Pomfrey e me enrolei sob os cobertores.
Eu não queria pensar naquilo muito mais.
JAMES SIRIUS POTTER
- O que aconteceu? - Cygnus nem me deixou sentar depois que viu Electra se arrastar para o dormitório das garotas. Eu sentei no chão, de costas para a lareira, sacudindo a cabeça:
- Não foi simples como pensamos que seria. Não dá para explicar tudo aqui. Muito aberto. - eu olhei em volta, tenso. - Sirius está vindo. Peça para que ele explique a vocês em outro lugar.
- Você não vai? - Anabelle olhou para mim, séria. Eu sacudi a cabeça:
- Não saio daqui até Electra descer.
- James… - Alvo começou.
- Isso não está aberto a discussão. - eu ergui a mão, impaciente. - Ela está frágil e não está se sentindo bem. É tudo o que posso dizer agora. E não posso deixá-la sozinha de forma alguma.
Eles se entreolharam e Lily se inclinou para a frente, colocando a mão sobre o meu ombro:
- Alguém foi ferido gravemente?
- Não fisicamente. Só… Mentalmente. - eu expliquei por cima. - E foi ela. Então…
- Então você não vai arredar o pé daqui até ela descer. - Pontas completou, acenando com a cabeça. - As meninas podem…
- Pode apostar que ela encheu a cama dela de feitiços de defesa mais complexos do que vocês pensam que ela é capaz de conjurar. - eu disse, pacientemente. - Nem tentem.
- Tudo bem. Vamos esperar Sirius voltar, iremos tomar café e então ele vai nos contar o que diabos aconteceu. - Remus passou a mão pelo rosto. - Ela está segura? Contra ele?
- Dumbledore fez uma varredura. - eu expliquei. - Ela está limpa. Só… Assustada e com a mente em frangalhos. Deve estar questionando muita coisa.
- Ou quem sabe enfiou aquela Poção do Sono goela abaixo e apagou. - Cygnus disse, passando a mão pelo cabelo. - Antes de irmos conversar, venho trazer alguma coisa para vocês dois.
Eu acenei com a cabeça, murmurando um agradecimento. Eles mudaram de assunto, tentando aliviar o clima pesado, mas eu não quis entrar no meio da conversa - eu estava ocupado demais repassando o que aconteceu na Sala Precisa para prestar atenção.
Eu nunca tinha visto Electra com os olhos tão vidrados. Jamais tinha ouvido aquelas palavras saindo da boca dela: ser uma Alquimista famosa, criar coisas como Morgana tinha feito, imortalidade… Ela nunca tinha mencionado esses desejos para mim.
Primeiro porque Morgana havia sido uma bruxa das trevas. Segundo porque Electra gostava da paz da casa de campo dos Rosier e dos Black ao invés do inferno que era o Beco Diagonal toda vez que ela colocava os pés lá. Ela tinha, sim, vontade de criar coisas: haja visto aquela tentativa de facilitar a transformação em animago e a Runa que ela estava se preparando para criar. Mas imortalidade? Electra e eu tínhamos conversado sobre isso, certa vez, sobre como deveria ser triste ver todos que conhecia morrerem enquanto você vivia além do que deveria.
Nada daquilo fazia sentido.
Ou fazia, mas isso significaria que a Electra que eu conhecia não era quem eu pensava que era.
Eles saíram, falando comigo - eu não ouvi metade, mas concordei com tudo - e voltei a olhar a janela, ainda destrinchando a situação.
Dumbledore dissera que aquilo traria os seus desejos mais obscuros à tona. Talvez ela desejasse tudo: fama, reconhecimento. Mas por feitos dela e não de seu avô ou da própria família. Ela tinha comentado, certa vez, sobre o peso do nome que carregava - o mesmo peso que eu carregava, tendo o sobrenome mais famoso do mundo bruxo e o nome de dois dos bruxos mais famosos da Guerra Bruxa.
Não era fácil sermos quem éramos.
Eu era o primogênito de Harry Potter - o que por si só já fazia a minha vida um inferno. Electra era a Black primogênita, com um rosto tão familiar para as pessoas, tão parecido com o avô - ela carregava grilhões exatamente como eu, com pesos invisíveis para qualquer outro.
Coisas que apenas nós dois sabíamos.
Eu sabia que meus irmãos e os irmãos dela também sentiam isso, mas sermos os mais velhos, os primeiros em ir para Hogwarts, os primeiros a entrar para o clube de duelos, os primeiros a irem para o Treinamento de Verão dos Quartel General…
Eles não teriam esse peso. Não todo, pelo menos.
Electra e eu o carregamos de cabeça erguida para que eles não sentissem isso como nós sentíamos.
E ter aquilo exposto daquela forma, como uma punição, como se fosse errado desejar aquilo… Não era errado desejar tudo o que Els desejara. A Horcrux transformou desejos de liberdade e de poder como qualquer bruxo jovem tinha em algo maligno e das trevas.
O que Electra não era.
Morgana podia ser uma bruxa das trevas - mas era excepcional. Merlim também não era inocente, mas isso passava batido pela maioria das pessoas.
E a resposta de Evan quanto à reação de Electra sob o efeito do diadema, que daria tudo o que ela desejava e mais um pouco, só tornava tudo pior.
Por Merlin, eu o socaria até a inconsciência na próxima vez em que o visse.
Que se foda que era o avô dela.
Ele não tinha o direito de tratá-la dessa forma. Electra tinha sido possuída por um pedaço de alma de Voldemort e tinha saído viva e lúcida.
Frágil, mas lúcida.
Eu passei a mão pelo rosto e voltei a olhar a escadaria do dormitório feminino.
Ainda sem sinal de Electra.
