Bom, achei que esse capítulo a ser menor, mas se estendeu mais do que eu pretendia. Enfim, está pronto.
Peço que leiam as notas finais, pois tem algumas observações sobre algumas informações.
No mais, divirtam-se!
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Capítulo 18 – Aniversário (parte 2)
Tentando muito controlar meu coração
Me esforçando para controlar meu coração
Eu caminho até onde você está
Eu caminho até onde você está
Olho no olho, não precisamos de palavras
Olho no olho, não precisamos de nenhuma palavra
Lentamente agora começamos a nos mover
Lentamente agora começamos a nos mexer
Cada respiração me aprofunda mais em você
Estou mais a fim de você a cada respiração
Logo nós dois estaremos parados no tempo
Logo nós dois estamos parados no tempo
Se você ler minha mente, verá
Se você ler o meu pensamento, vai ver que
Eu sou louco por você
Eu sou louca por você
Toque-me uma vez e você saberá que é verdade
Me toque uma vez e você vai saber que é verdade
Eu nunca quis ninguém assim
Eu nunca quis ninguém assim
É tudo novo
É tudo tão novo
Você sentirá isso no meu beijo
Você vai sentir no meu beijo
( Crazy For You , "Louca por você", Madonna )
A vendedora cobrou uma boa descrição pelo colar, porém, Sirius não soltou um pio de protesto: constatou que a joia era legítima não só pela avaliação, mas também através de um pequeno feitiço que fez escondido da mulher, um que Mundungo lhe ensinou para detectar falsificações, para se ter certeza. O montante que ele levou superava um pouco o valor do colar, e lá naquele mercado, os vendedores cobravam menos do que as peças valiam no comércio legal. O presente foi envolto em um pano azul de veludo e entregue para o Maroto que o guardou no bolso.
Sirius não foi embora de imediato; quis abusar um pouco da sorte e verificar se havia mais alguma coisa interessante no mercado. Aquela viela parte fazia da Travessa do Tranco – o local mais sombrio e perigoso do Beco Diagonal – porém, a parte onde estava ainda não era de todo sinistra; podia-se até falar que era uma das áreas "nobres", junto com a viela onde se localizava a famosa loja "Borgin e Burkes". Ele avistou no fim da ruela uma barraca que vendia rádios. Embora tenham sido usados pelos bruxos, os mais radicais e puristas desprezavam os aparelhos por serem "invenção das trouxas". Os bruxos podiam sintonizar com as rádios trouxas, mas a maioria preferia acessar apenas a estação regulamentada pelo Ministério da Magia, a Rede Radiofônica dos Bruxos.
Sirius adquiriu o aparelho com a quantidade exata que ele restava e guardou o rádio em uma sacola de pano dada pelo vendedor. Em seguida, adentrou outra viela em que havia mais barracas e lojas, de aspectos e mercadorias mais suspeitas, por onde transitavam bruxos mais sinistros e maltrapilhos do que na outra via. Alguns tipos olharam para ele, que cobriu mais o rosto com o capuz, mantendo a cabeça baixa. Não havia nada ali para ele e, com certeza, nem nas outras vielas que se aprofundavam em lugares mais obscuros e perigosos. Não se arriscaria tanto assim, por curiosidade ou mesmo para aproveitar um pouco de sua fuga liberdade; retornou até a primeira viagem em que estava. Ao dobrar a esquina, seu coração quase parou: aurores circulavam pelas barracas e olhavam para todas as pessoas, vendedores ou clientes. Por mais intimidados que estivessem com a presença de funcionários do Ministério – fosse pela compra ou venda de produtos ilegais – os que estavam envolvidos prestaram atenção quando foram mostrados um cartaz, embora escapulissem depois como se tivessem sido levados. Sirius não preciso forçar a vista para saber que era seu rosto no papel.
Seu coração acelerou ao considerar um dos aurores: Quim Shacklebolt. Com a cabeça lisa e raspada, o sujeito alto e forte quase não havia mudado. Embora não tenha sido membro da Ordem da Fênix, Quim trabalhou sob o comando de Alastor Moody – seu superior que pertence ao grupo – e foi enviado em algumas missões em colaboração com outros membros, incluindo Sirius. Não se chegou exatamente próximo, mas estabeleceram uma relação amigável o suficiente para Shacklebolt o considerar se o visse, mesmo com os cabelos e sobrancelhas transfigurados.
Shacklebolt mostrou o cartaz para a mulher que havia vendido o colar; ela esboçou uma fisionomia pensativa. Black praguejou: por mais que escondesse o rosto, não foi suficiente para cobri-lo por completo e as mulheres reparavam mais em detalhes do que homens. Deveria ter esquecido sua figura da mente da bruxa.
Recuou para a viela em que estava e descobriu o ambiente à sua volta: de um lado, várias tendas e algumas lojas; do outro, minhas tendas, bairros de poções ilegais, quinquilharias macabras, um monte de entulho e uma carroça com tapetes surrados e empilhados perto de um muro. Sirius poderia se esconder atrás do transporte com a tapeçaria ou encobrindo; porém, o condutor foi descarregado com uma varinha. Sem hesitar, o Maroto balançou sua varinha e jogou um Confundus no homem, que se levou por alguns instantes da carroça; Black não perdeu tempo em atordoá-lo, mesmo sentindo culpa em fazê-lo. Três vendedores foram acudir o bruxo caído enquanto Sirius deslizava para trás da carroça sem ser visto e se ocultava pela tapeçaria. Prendeu a respiração quando seguiu as botas dos aurores batendo no chão, passando devagar pela carroça. Um deles parou a pouca distância.
- Será que o sujeito que a mulher disse é ele mesmo? — Disse uma voz firme, o auror mais próximo da carroça – Pelo que ela falou, os cabelos e a sobrancelha eram brancos
- Pode ser uma transfiguração – declarou Quim, com sua voz de barítono
- Como? Ele está sem varinha.
- Ele pode ter roubado alguma.
- Ninguém fez uma denúncia de roubo.
- Duvido muito que Black deixaria alguém vivo para denunciá-lo – Sirius abriu a mandíbula e os punhos. – Não custa nada dar uma olhada. Pelo que ela falou, o sujeito entrou nessa área há pouco tempo. E se for mesmo Black, não deve ter ido longe.
O tempo parecia estagnado, Sirius sentiu o suor escorrer pela nuca. O carroceiro não ficaria desacordado muito tempo. Precisava escapar, mas não poderia arriscar um único movimento precipitado.
Um som veio do outro lado da viela: um estouro alto, seguido de gritos. Parecia uma briga, próxima de onde estava o bruxo desacordado. As aurores foram para lá imediatamente e Sirius aproveitou. Sem sair do esconderijo, fechou os olhos e concentrou-se em sua transformação. Seu corpo encolheu, os ossos se moldaram, as roupas se mesclaram na pele coberta de pelos negros. Em segundos, Almofadinhas estavam ali e deslizou pela viela, perseguindo os cheiros sujos do lugar. Passou entre as pernas de bruxos distraídos, desviou de poções derramadas e esgueirou-se até o final da outra viela. Apesar dos inconvenientes da sacola com o rádio bater na cintura – a transformação não podia moldá-la ao seu corpo – ele conseguiu a proeza de ser rápido.
O caminho estava livre. Com um salto ágil, correu para aquela área longa, adentrou uma esquina, ocultou-se atrás de uma loja e voltou à sua forma original. Com a mente mais calma, concentrou-se na imagem de seu quarto no chalé e desaparatou dali, retornando ao seu aposento. Suspirou e deixou-se cair sentado na cama; havia escapado por um fio.
Batidas na porta o fizeram saltar com a varinha no punho.
-Sirius? – Jean o chamou em um tom de preocupação – É você?
- Sim – ele suspirou e tirou o rádio da cintura – Só um momento. – apareceu sua aparência original com a varinha se olhando no espelho, foi até a porta e abriu somente uma fresta para impedir Jean de ver a sacola volumosa na cama – Eu... estou arrumando algumas coisas no quarto.
- Ah, sim, estou preocupado. Escutei o barulho de aparatação e queria confirmar se era você – ela transmitiu um pouco tímida – Sei que é bobagem. Ninguém mais viria aqui além de você, mas...
- Nunca é demais precaução – ele assentiu – Você faz muito bem.
- Conseguiu as informações que você queria?
- Conseguiu – ele mascarou a fisionomia para não transparecer culpa pela mentira
- Bom... er... trouxe seu almoço de Três Vassouras. Está em cima do fogão.
- Ah, Sereia, muito obrigado!
- Imagina – ela corou pelo olhar intenso dele
- Comprou o bolo para comemorar seu aniversário amanhã? – ela concordou. Ele piscou – Boa menina.
- Então... vou deixar você terminar de arrumar suas coisas.
Assim que Jean se levou, Sirius voltou ao seu cômodo para tirar a rádio da sacola e escondê-lo em um canto. Não que você achasse que a moça fosse bisbilhotar seus pertences, mas não queria deixá-lo à vista. Em seguida, apanhou o pano do bolso e examinou mais uma vez o colar que daria a ela. Mal podia esperar para ver sua ocorrência, porém, ao mesmo tempo, era um pouco inseguro a esse respeito.
Espero que ela goste.
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À noite, depois do jantar, na cozinha, Sirius começou a ensinar Jean sobre poções, começando por Amortentia. Ele havia explicado que Amortentia era considerada uma "poção de amor"; só que, na verdade, não despertava amor verdadeiro em ninguém, apenas uma obsessão doentia e uma dependência emocional se a pessoa a ingerisse constantemente. No entanto, ele disse também que uma poção era útil para determinar se uma pessoa já estava apaixonada ao aspirar o cheiro.
Jean mexia com cuidado a substância, os olhos castanhos e concentrados. Não utilizou nenhum livro, pois Sirius lhe sussurrava as instruções de cor enquanto se apoiava na mesa ao lado, observando-a com um meio sorriso. O caldeirão relacionadova sobre a chama regulada com precisão.
Sirius se perdeu em algumas gravações sobre os Marotos e ele nas aulas de Poções. Tiago e ele eram os mais hábeis: uma vez ou outra causavam explosões, mais por causa de suas brincadeiras tolas que os desconcentravam do que por incapacidade; quanto a Remo, bom, ele não foi um desastre completo, mas nunca foi um especialista; Pedro... nem vale a pena comentar. Nosso relembrar.
- Você… já sentiu o cheiro de alguém com ela? – disse Jean de repente
- Pra falar a verdade.. não. – ele piscou saindo de seus devaneios – Nunca senti, mesmo tendo curiosidade. E olhe que fiz mais de uma vez.
- Mas você teve muitas garotas – ela parou um instante para observá-lo e suavizou o tom para não subir como uma crítica – Algo deve ter sentido por elas
- Nada mais do que apenas desejo. E isso não era suficiente para despertar algum aroma pela poção.
- E a Marlene?
Naquele dia, mais cedo, tive conversado sobre a interação de Sirius com as garotas em seu tempo de escola e ele admitiu que foi um Don Juan. Apenas não entrei em detalhes sobre nenhuma garota em particular, exceto Marlene McKinnon, com quem mais tarde teve uma relação mais profunda, embora sem compromissos.
- Não sei, Jean. Talvez tenha gostado dela mais do que eu imaginava – ele esboçou um sorriso triste – Mas nunca tive a chance de fazer essa poção quando nossa relação passou a ser mais do que uma simples amizade. De qualquer maneira, ela morreu antes do que eu senti por ela se tornar algo mais.
- Oh, Sirius, me desculpe, eu… - ela parou um momento de mexer no caldeirão – Eu não tinha o direito de...
- Tudo bem, Jean, sem problema – ele emulou um leve sorriso, mas genuíno – Não se preocupe – seus olhos se direcionaram para a poção – Está na hora de colocar…
- Ovos de cinza! – Jean o fitou com assombro – Saiu da mente – ela enviou para ele que correspondia – Devo ter feito essa poção antes.
- Com certeza. Faz parte do currículo de Hogwarts.
Ele apanhou um vidro da mesa, desarrolhou-o e despejou três ovos na poção. Na mesma hora, o aroma doce e envolvente da Amortentia é fornecido pelo ambiente.
— Agora começa a parte interessante — disse ele, a voz rouca, quase um ronronar.
Jean extrai os olhos para ele, arqueando uma sobrancelha.
— A parte em que a poção exala os cheiros mais atraentes para quem está por perto?
Sirius assentiu, inclinando-se um pouco mais para o caldeirão. Embora estivesse apreensivo como reagiria se sentisse o aroma dele, Jean também estava na expectativa de obter sucesso no preparo.
O vapor começou a subir em espirais prateadas, e Jean sentiu o coração acelerar quando o aroma chegou em cheio. Ela respirou fundo, e seu estômago se revirou ao identificar um cheiro. Sirius, por sua vez, também pareceu afetado, embora não com expressão surpresa.
- Qual cheiro você sente?
- Er… - ela pensou em mentir, mas ele, com certeza, saberia. Desviou o olhar, engolindo em seco – Couro, fumaça de cigarro e algo amadeirado, selvagem.
- Hum… interessante. - ele passou a língua pelos lábios – O que eu senti foi framboesa, jasmim e pergaminhos novos
— É… é mesmo? — Jean indagou falou, porém, não teve coragem de perguntar se este era o cheiro dela
- Mas eu já senti esse aroma há algum tempo, sabe? - ele respondeu como se adivinhasse a pergunta dela – Olfato de animago.
Jean apenas assentiu, pois suspeitava que ele já conhecesse seu aroma sem precisar da poção. Em vez disso, voltei a atenção para a fórmula, tentando ignorar a eletricidade no ar.
O silêncio que se barulho não foi desconfortável, mas carregado de algo não aqui, algo que emparelhava entre eles como o vapor prateado da poção. Sirius fez a substância desaparecer, pois não havia mais serventia, já que o objetivo era desenvolver a habilidade de Jean em poções – ou despertar lembrança de alguma dela já ter feito, como acabou por acontecer. Sem quebrar o silêncio, os dois guardaram os ingredientes e o caldeirão.
Quando Sirius deu boa noite na porta de seu quarto, Jean viu nos olhos dele o desejo presente, um reflexo do que ela própria sentia. E um sorriso com a promessa de que algo mais no dia seguinte.
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- Feliz aniversário, Jean — disse Sirius, pela manhã, surpreendendo a moça com o café posto na sala de jantar, que ele mesmo havia preparado. – Espero... que goste.
-Sirius! – a bruxa piscou – Pra que você foi se incomodar? Já tem o jantar que você vai fazer. Não preciso fazer o café.
- Discordo, Sereia, por favor sim. Primeiro, eu disse que comemoramos seu aniversário começando ontem. E segundo, já que vou fazer o jantar, resolvo testar se você gosta de como faço um verdadeiro café da manhã. Lá na cabana eu ainda tinha a desculpa de não termos muita variedade e nem tempero. Mas aqui agora você terá a chance de experimentar toda a minha potencialidade como cozinheiro.
- E se eu não gostar? – ela o provocou
- Então... Rosmerta vai ter o prazer de fazer uma encomenda para o jantar quando formos almoçar por lá. – ele balançou um dedo no ar – Mas hoje você também não cozinha.
Jean convidou e sentou-se à mesa depois que ele deixou a cadeira. Ela foi servida de duas salsichas, ovos mexidos e de uma panqueca perfeitamente dourada, além de uma caneca cheia de café preto. Sirius a consola com um brilho experimentado nos olhos enquanto ela dava uma mordida em cada uma das iguarias e sorveu o líquido.
- E então? – ele falou confiante
- Hum... – ela fez uma expressão pensativa. O rosto de Sirius fechou um pouco. Ela abriu o dela – Está ótimo, Sirius.
- Fala sério?
- Claro. Você cozinha bem.
- Obrigado, Sereia – ele abriu um largo sorriso – Só que café é mais fácil. Espere o jantar.
- Por mim, ganhou carta branca.
Ele alargou o sorriso, mas não disse nada mais; apenas lhe contou um olhar quente que a fez corar. Degustaram o café em silêncio e, assim que terminaram, Sirius se manifestou primeiro e estendeu a mão para ajudá-la a se erguer da cadeira. Ela o segurou e a eletricidade entre eles zuniu mais uma vez. Ambos arfaram e se fitaram; Sirius engoliu em seco e soltou a mão dela com relutância.
- Além do café, queria começar o dia te dando isso.
Ele invocou da cozinha uma rosa vermelha que entregou para Jean. Ela engoliu em seco com o coração saltando e pegou a flor com cuidado, como se pudesse quebrá-la.
- Ah, Sirius... é linda. – ela cheirou a rosa – Onde você encontrou?
- Lá perto da gruta. É a última que restou de um canteiro. Agora com o frio, as complicações das rosas começam a cair.
- E você se declarou mais cedo hoje... só para... para isso? – a voz dela embargou.
- Você merece.
Sem pensar, ela se jogou nele e o abraçou, envolvendo-o com firmeza. Os braços dele se fecharam ao redor dela, puxando-a para mais perto. O calor do corpo de Sirius era acolhedor, e o cheiro de couro, fumaça e madeira que descobriu como uma marca dele invadiu suas narinas de modo sutil. A respiração do homem pareava contra seus cabelos, e quando ela relaxava o rosto para encará-lo, os olhos dele já estavam cravados nos seus. Ela engoliu em seco, o coração martelando no peito, porém, ainda teve presença de se afastar, ainda que hesitante. Sentiu a relutância dele também em soltá-la, mas ele o fez. A respiração de ambos saiu mais pesada do que o habitual.
- Obrigada, Sirius.
- Como eu disse antes, você merece – Jean abaixou a cabeça. Ele fez um barulho como se limpasse a garganta – Eu estava pensando… em vez de almoçar lá no Três Vassouras, que tal se fizermos um piquenique?
- Eu adoraria - ela sorriu – Onde?
- Lá no lago… perto da cabana em que nos conhecemos.
- Por que lá? Não que eu não ache ótimo, mas há lugares aqui que podemos ir.
- É porque lá posso ficar à vontade na minha forma humana, sem tantos riscos de ser visto por bruxos. E quanto aos trouxas, é só afastá-los com algum feitiço que os impeça de se aproximarem como a gente fazia quando estava lá. - ele a fitou com expressão convidativa – O que me diz?
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O sol refletia sobre a superfície cristalina do lago, lançando pequenos brilhos dançantes na água calma. Apesar do dia ensolarado, o frio também havia chegado nos arredores de Londres, embora menos cortante que na Escócia. O vento balançava nas folhas das árvores, trazendo consigo o aroma terroso do outono. Sirius e Jean não vestiam agasalhos, mas o Maroto lançou um feitiço de aquecimento sobre eles. Jean ajeitou uma toalha quadriculada sobre a grama macia e começou a organizar a refeição: sanduíches, queijos, morangos frescos, torta, uma garrafa de suco de abóbora e um punhado de doces comprados na Dedos de Mel.
- Um verdadeiro banquete! — Sirius comentou, sentando-se ao lado dela com um sorriso travesso.
A bruxa sorriu, mas evitou seu olhar por tempo demais para que ele não percebesse o rubor em suas bochechas. Antes de irem ali, haviam dado uma passada na cabana. Poeira havia se acumulado em mais de um mês de ausência, mas não chegava nem perto dos anos anteriores de abandono. Jean decidiu que faria uma manutenção no local pelo menos uma vez por mês, embora Sirius declarasse que não havia necessidade, pois dificilmente voltariam a morar ali.
- Nunca se sabe – retrucou a moça – Talvez aqui ainda possa ser útil
Sirius não discutiu e agora estavam no lago. O Maroto esticou as pernas na toalha e apoiou os braços para trás, fechando os olhos por um momento. Ele adorava essa sensação de liberdade, de estar ali ao lado de Jean, sem preocupações do que dizer a seguir. E ele queria dizer muitas coisas. Queria tocar a mão dela sem hesitar. Queria beijá-la. E queria estendê-la ali e fazer amor com ela. Antes que se deixasse levar pelo impulso, ele apanhou um sanduíche e um copo de suco e observou o lago enquanto saboreava sua refeição; Jean fez o mesmo e ficaram ambos mergulhados em um silêncio confortável. Terminada sua comida, Sirius esfregou as mãos, esticou os braços e levantou-se
- Acho que Almofadinhas quer espairecer.
E já não estava ali. O cão negro se espreguiçou, balançando a cauda de maneira provocadora. Jean riu enquanto o cachorro saía em disparada pela margem do lago, correndo uma boa extensão. Logo ele estava de volta com um galho entre as mandíbulas. Parou diante dela, largou o ramo e olhou-a como se esperasse que ela o jogasse longe.
- Fala sério. – ela bufou e cruzou os braços, fingindo indignação. Ó animago latiu. A moça revirou os olhos e transparente-se – Está bem.
Jogou o graveto várias vezes e em todos Sirius o trazia de volta para que ela o atirasse de novo. Na última vez, com os olhos brilhando como de alguém que planeja uma travessura, o Maroto largou o galho, e, antes que Jean pudesse reagir, saltou para frente e esfregou o foco no meio da calça dela, fazendo-a soltar uma exclamação surpresa.
- Almofadinhas, seu safado!
Ela tentou afastá-lo, porém serviu apenas para atiçá-lo e dar um pulo na altura do peito dela.
- Não, Sirius!
O animago derrubou a ambos e começou a lambê-la no rosto.
- Pará, Sirius! Isso é novo!
Ela o afastou com os braços, mas ria.
Por fim, Sirius voltou à forma humana e riu
- Desculpa, Sereia... às vezes me deixo me levar por meus instintos caninos e me empolgo
- Sei.
De repente, a respiração de ambos sustou. Jean estava deitada com o corpo de Sirius sobre ela. Ele não chegava a encostar por estar com os braços apoiados em cada lado dela; porém, a distância entre eles era mínima. Os olhos cinza dele escureceram, fitando-a como se quisesse dizer algo, mas lutasse contra isso. Ou melhor, como se quisesse fazer, já que o olhar dele se desviou mais para baixo, para sua boca. Jean sentiu um calor a penetrar por todos os poros enquanto seu peito se apertava. Ela se deu conta de que a beleza de Sirius estava se acentuando, abandonando a aparência fantasmagórica dos primeiros dias. Ele estava lindo, com os cabelos desgrenhados pelo vento e um sorriso tão genuíno que fazia seu coração tropeçar. O silêncio voltou, mas agora não era confortável. Era intenso.
Ela queria ser beijada e sentir de novo toda intensidade do primeiro beijo deles, mas não tinha certeza de estar pronta. Como se notasse seu conflito, Sirius desviou o olhar, virou de costas, levou-se dela e pegou um morango da cesta
- Você já provou isso mergulhado em creme? — ele perguntou, como se nada tivesse acontecido.
Jean piscou, surpresa com o movimento dele, mas aceito o disfarce.
- Não sei – ela se enviou e cruzou as pernas, sem olhar diretamente – Não me lembro. Talvez.
Passaram o restante do dia consumindo boa parte da refeição, cochilaram um pouco e deram um passeio juntos pelo lugar. Retornaram ao chalé um pouco antes do pôr-do-sol.
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A lareira crepitava suave no chalé, espalhando um brilho dourado pelo ambiente acolhedor. O aroma de especiarias e ervas frescas pairava no ar, fruto do esforço de Sirius na cozinha. O bruxo arregaçou as mangas da camisa branca, prendeu os cabelos desgrenhados num rabo de cavalo frouxo e encarou os ingredientes espalhados no balcão. Ele não era o melhor cozinheiro do mundo, mas no tempo que dividiu um apartamento com Remo, seu amigo o havia ensinado bastante e o incentivou a fazer as refeições de vez em quando, embora nem sempre ele acertasse a mão. Além disso, nas últimas semanas, apareceu como Jean preparava um jantar, tanto do jeito trouxa quanto com magia. E, nessa noite, para ela, Sirius faria o seu melhor. Queria que fosse especial.
Com um aceno preciso da varinha, recitando mentalmente os feitiços da obra sobre culinária que havia no chalé – a mesma de onde Jean aprendeu –, ele fez com que as leguminosas se picassem sozinhas em fatias finas e uniformes. Ele ficou satisfeito e voltou para a panela de ferro que estava sobre o fogão, já aquecido. Não queria depender exclusivamente da magia, então peguei uma colher de pau e comecei a mexer os ingredientes com paciência. O aroma de alho dourando na manteiga invadiu a cozinha, seguido pelo cheiro adocicado das ervas frescas que Jean havia colhido no jardim na manhã de sábado.
Havia algo de precioso em fazer as coisas manualmente, em se perder nos pequenos gestos mundanos, como picar ervas com uma faca bem afiada ou sentir a textura da massa entre os dedos. Ele mexeu a panela, inclinando levemente o corpo para conferir a consistência do molho vermelho borbulhante. A cada ajuste de tempero, a cada provada discretamente do molho, seus olhos brilhavam com a satisfação de estar no controle daquela pequena alquimia culinária.
Assim que tudo ficou pronto, Sirius levou uma refeição à mesa da sala de jantar: uma travessa com batatas rústicas assadas e polvilhadas com alecrim e sal grosso; uma tigela de sopa de alho, e, como prato principal, carne assada ao molho de ervas, descansando sob uma camada de manteiga. Uma garrafa de vinho com duas taças já se encontrava à espera do banquete junto a dois castiçais de velas. O bruxo apagou os lampiões do cômodo e acendeu as velas que iluminaram todo o ambiente escurecido.
Ele deu um passo para trás e inspirou a mesa posta com um toque de orgulho. As velas tremulavam refletindo a luz âmbar no copo das taças e na garrafa de vinho. O aroma do jantar preenchia o ar, prometendo uma noite agradável, acompanhada de boas risadas e, talvez, algo mais. Seu corpo estremeceu e suas partes baixas resistiram apenas com a sugestão do pensamento. E ao se gravar de sentir o cheiro da vagina dela mais cedo mesmo sob o tecido da calça; e de lamber seu rosto, sentir o gosto de sua pele.
Por Merlin!
Ele não fez de caso pensado, foi mais guiado pelos instintos de cão, porém, o gosto dela já estava marcado nele. Mal podia esperar para se enterrar naquela pele macia, mordiscá-la, apalpá-la, fazer-la gritar seu nome e...
Calma.
Sim, calma. Ele teria que ter para controlar sua ansiedade e não assustar Jean; se apenas a beijasse seria o suficiente para ele. E mesmo que nem isso acontecesse teria cumprido seu objetivo principal de fazer-la feliz por comemorar seu aniversário, ainda que ela não soubesse quantos anos estava completando.
Ele suspirou.
Sirius se comovia com o quanto ela sofria com a amnésia; ao mesmo tempo, às vezes, ele a invejava. Tinha horas que desejava esquecer tudo o que havia acontecido; esquecer quem ele era.
Não! Não podia!
Lembrar era tudo que ele precisava! Aquela raiva em ebulição, o desejo de destruir o maldito Pettigrew e a devoção por seu afilhado eram seus combustíveis! Por mais que Jean fosse uma calmaria para a amargura, ódio, frustração e caos que eram aqueles sentimentos, Sirius não poderia renunciar a eles nem mesmo se quisesse.
Suspirou. Não era hora de pensar no rato traidor, em Harry e nem na confusão de sua vida. Agora estava ali com Jean e aquele tempo seria para se concentrar apenas nela e no que tinha. Sirius conjurou um Patrono para chamar "sua bruxa" e aguardou.
Em seu quarto, Jean dava as retoques finais no cabelo volumoso e uma última olhada no espelho. Seu coração batia acelerado e ela não sabia a razão. Mentira. Sabia sim. Sirius estava fazendo um jantar para ela e esse gesto vindo dele comunicou que ele sentiu e evidenciou a tensão sexual que estava acontecendo entre os dois naquele domingo. Bom, essa tensão já era uma constante desde quando se conheceram, indo em uma crescente. Porém, nesse fim de semana, principalmente nesse dia, parecia o ápice de tudo, como uma bolha prestes a estourar. E ela não tinha mais forças para resistir; não faria nada para romper a bolha, mas se deixaria levar pelo que quer que acontecesse.
Com o estômago se confundindo só de imaginar Sirius e o que poderia ocorrer nessa noite, ela apanhou um pequeno frasco de perfume que havia comprado em uma loja em Hogsmeade. Adquiriu o produto quando Sirius saiu para sua misteriosa busca de informações. O aroma está envolvido em uma onda de nostalgia inexplicável. Algo dentro dela dizia que aquele cheiro fazia parte de quem era. Ela o usou, desejando deliberadamente que Sirius também o regularse. Mais uma vez, o estômago se contorceu e o coração acelerou.
Um cachorro prateado de porte grande adentrou seu quarto e anunciou com a voz de Sirius:
- Mesa Posta. Pode vir, Sereia.
Ela sorriu encantada. Mais cedo, Sirius mostrou ao combinado que ela ficaria no quarto aguardando pela refeição; não podia ir à cozinha ou à sala de jantar antes da hora porque ele queria uma surpresa. Então avisaria por seu Patrono, como era chamado aquele feitiço.
- Você vai ter que me ensinar esse também – disse ela – Pode ser outro dia.
- Claro que sim, querido – respondeu ele – Mas não duvido que você já conheça esse feitiço e até tenha seu próprio Patrono
Sim, era provável que já soubesse o feitiço. Esperou a figura diante dela se dissolver e, com um suspiro, a bruxa saiu do quarto.
Quando Jean entrou na sala de jantar, Sirius declarou os olhos que se escureceram, percorrendo-a com uma mistura de surpresa e desejo contido. Contudo, não era tanto pela visão das curvas dela emolduradas por um vestido azul de alças que deixava antever parte de suas pernas, e sim pelas novidades que suas narinas tinham captado.
- Esse perfume... – a voz dele ficou rouca – É maravilhoso!
Jean corou, mas brilhou de leve.
- Obrigada. Senti esse perfume quando vi uma mulher saindo daquela perfumaria que tem aqui. Foi ontem depois que almocei em Três Vassouras. – ela colocou um cacho atrás da orelha – Aí entrei e falei dele com uma vendedora. Ela me mostrou e decidiu levá-lo mesmo sem experimentar em mim. É que o aroma me parece familiar. Achei que talvez... talvez me ajudasse a lembrar de algo.
- Você usava esse perfume quando te encontrou.
-É mesmo? – Sirius concordou. A expressão dela se abriu – Então... faz parte do meu passado – ela enviou – E você guardou o aroma todo esse tempo?
- Uma das minhas particularidades como animago. Mas esse perfume também é peculiar, não me parece uma fragrância que você encontra em qualquer lugar. Não sei, mas sei que não é uma essência barata.
- Você é um entendedor de perfumes?
- Tendo sido obrigado a me submeter à educação de sangue puro da minha família, isso era exigido. – ele bufou – Saber as melhores fragrâncias para usar e em que graças. Por exemplo, não use uma coisa muito forte em um jantar.
- Hum... Interessante. Não foi um aprendizado ruim, Sirius.
- É, tenho que admitir que essa parte foi útil
Sirius se mudou dela e inalou o perfume delicado que pairava no ar entre eles. Jean engoliu em seco.
- Fica muito bem em você.
Ela segurou o olhar dele por um momento mais do que o normal, sentindo o coração acelerar antes de desviar o olhar para a mesa posta.
- Bem-vinda ao melhor restaurante deste chalé — anunciou Sirius, puxando uma cadeira para ela.
A moça riu, os olhos brilhando com carinho, e se enviou. Sirius também se acomodou à mesa e serviu a ambos. Ao provar a primeira colherada da sopa, Jean não pôde deixar de comentar.
- Sirius… é maravilhoso!
- Eu aprecio o elogio, Sereia, mas não se precipite. Você ainda tem que provar a carne e as batatas.
E foi o que ela fez depois que terminou a sopa.
- As batatas estão boas. Já a carne... hum... está...
- Salgada – ele completou com uma careta ao provar um pedaço – Droga!
- Só um pouco, Sirius – ela riu – Você não estragou o jantar. Eu prometo.
- Obrigado, mas vou sair melhor da próxima vez, Jean. Podemos apostar
- Não duvido.
- Que tal um brinde?
Ele a serviu com um pouco de vinho e encheu a própria taça. Os dois tilintaram e o jantar transcorreu entre risadas e conversas leves. Quando terminaram, Sirius trouxe o bolo de aniversário que ela comprou, encheu-o de velas e ambas bateram palmas.
- Faça um pedido antes de apagar as velas – disse ele
Jean descobriu um pouco e então soprou. Ele não pediu seu pedido, por ser uma tradição o aniversário guardar segredo se quisesse ser atendido. Além disso, poderia adivinhar o que Jean queria: recuperar sua memória. Por um instante, seu coração doeu, mas ele abandonou o pensamento egoísta e desejou o fundo do coração que ela o realizasse.
Depois de comerem uma parte do bolo, Sirius propôs a Jean que fosse para a sala de estar. Ele retirou o pedaço de veludo azul do bolso e entregou-o à bruxa. Ela o olhou, confusa.
- Por mais que você tenha gostado da rosa que te entregou mais cedo, eu não ia te apresentar apenas com ela.
- Sirius... você não precisa...
- Eu quis. — ele entregou o embrulho e esperou enquanto ela o abria.
Dentro, estava o colar com o símbolo do yin e yang em formato de dois cachorros entrelaçados, metade em ouro e a outra em ônix preto. Jean sentiu um calor invadir seu peito.
- É lindo!
- Imaginei que você gostaria – ele disfarçou o problema em constatar
- Cachorros, hein? – ela sorriu depois de apalpar os desenhos no pingente – Você quer mesmo que eu lembre de você assim?
- Não me ofende... eu juro – eles riram – Me chamou a atenção mais pela forma como o símbolo foi desenhado.
- Sim, bem original – ela franziu o cenho – Sirius… como você comprou esse colar?
- Er… o que importa, Sereia? – ele coçou a nuca – Você gostou, não?
- Sírius…
- OK. Eu… fui para o Beco Diagonal porque queria comprar um presente para você.
Jean arregalou os olhos.
- Você foi na sua verdadeira forma? – Sirius concordou com uma expressão de um menino que foi pego em uma travessura. Ela arregalou os olhos – Sirius, você não pode se expor assim!
- Sem problema, querido, eu transfigurei minha aparência. E fui à Travessa do Tranco, onde era menos provável que alguém me observasse.
- Mas lá é perigoso, Sirius. Você mesmo me disse – ele deu de ombros. Ela cruzou os braços – E você ainda mentiu para mim! Disse que eu apenas ouviria algumas informações.
- Escutei, Jean. Escutei informações sobre qual seria a melhor alegria para você dar – ela acontece na mesma postura. Ele suspirou e passou a mão pelos cabelos – OK, me desculpe por ter mentido para você, mas eu não queria te preocupar mais. Eu queria muito te apresentar. No fim, correu tudo bem, não fui pego e estou aqui. Não estou?
Claro, ela não preciso saber que ele foi meio que reconhecido pela vendedora do colar e quase perseguido por uma dupla de aurores. Jean suspirou, sabendo que não adiantava discutir. Com um sorriso resignado, descruzou os braços
- OK. Vou te desculpar dessa vez. – balançou o dedo em riste – Mas sem mentiras da próxima em que você pensa em aprontar alguma loucura.
- Palavra de Maroto – ele estende a mão direita. Ela revirou os olhos – Agora… por que você não experimenta o colar para ver como fica?
A moça vestiu-se prendê-lo por trás, mas as mãos não encaixaram o feixe. Ela o fitou curada.
- Er… você poderia…?
- Claro – ele já foi por trás dela
Sirius tomou as duas pontas do colar dos dedos. Jean Estremeceu involuntariamente assim como ele. A eletricidade entre seus corpos aumentou quando ele deslizou a corrente em torno do pescoço, os dedos roçando sua pele. Quando Sirius prendeu o fechamento, perto, a respiração quente contra sua nuca.
Sirius teve que se esforçar para salvar as mãos da pele de Jean. Seu perfume o envolvia assim como a carga elétrica que o puxava até ela. Mas abriu um sorriso presunçoso ao notar a respiração acelerada da bruxa, bem como seu rubor.
- Mas o colar não foi a única coisa que eu trouxe da Travessa – ele caminhou para um canto da sala e balançou a varinha – Accio rádio!
De imediato, a rádio que comprou foi parar em cima de uma pequena mesa a um canto próximo à porta.
- Comprei a verdade para nós dois. – tornou-se Sirius – precisamos de música aqui.
- Mas, Sirius, aqui em Hogsmeade e em qualquer espaço mágico não funciona aparelhos que utilizam eletricidade.
- Aí que está, amor. Mesmo os rádios sendo uma invenção eletrônica das trouxas, eles foram modificados para o nosso mundo. Tem até uma estação para os bruxos, mas podemos acessar também qualquer rádio trouxa que quisermos. Basta apenas um comando.
- Ah – foi tudo que a moça exprimiu
Com um toque de varinha, e murmurando um encanto, Sirius se concentrou em uma determinada rádio e sintonizou no aparelho. Estavam tocando a música Starman , de David Bowie.
- Por Merlin, como eu amava Bowie! – ele fechou os olhos perdidos em gravações – Ele é um bruxo, mas ele adora cantar para as trouxas. É muito popular entre eles.
- Que legal! Essa rádio é trouxa? – Sirius assentiu sem abrir os olhos. Jean fechou os dela – Essa música... não me é estranha.
- Você deve ter escutado quando era criança. Tocava muito nos anos setenta.
- É, deve ser. – ela franziu o cenho – Quantos anos você acha que eu tenho?
- No mínimo você tem vinte anos – ele arriscou – E não mais do que vinte e três.
- Te incomoda... eu sou mais jovem do que você?
Ela quis morder a língua quando soltou a pergunta. Aquilo soava como um incentivo, o que era verdade, pois Sirius abriu um largo sorriso.
- Não. Eu me incomodava com outras coisas, mas elas já não me importam. Deixei bem claro o que eram – ele deixou uma sugestão no ar da conversa deles quando ele revelou seus interesses. Jean engoliu em seco e Sirius estendeu a mão – Quer dançar?
Por mais que o cérebro de Jean lhe alertasse, ela sabia que era uma causa perdida continuar resistindo a Sirius e a atração que o impelia a ele, contra todos os argumentos que haviam exposto na conversa que teve há duas semanas. Ela pediu, pegou a mão dele, mas ele não a deixou para si; apenas balançaram os braços e os corpos de frente um para o outro, já que a música não era uma melodia romântica. Porém, o simples olhar de Sirius falava tudo o que ele sentia, tudo o que havia entre eles. Como se o Universo quisesse se aproximar, no fim da música, o locutor anunciou outra canção sem intervalo:
- Para os apaixonados, Crazy For You, de Madonna
Uma melodia suave preencheu o ambiente. Sirius franziu a testa.
- Madonna... não conheço essa cantora. E esse estilo de música... – ele apurou os ouvidos – Me soa estranho.
- Talvez seja uma cantora atual que foi lançada quando você ainda estava... em Azkaban – ela tentou usar um tom que não o mortificasse com o fato – Deve ser isso.
- É – a expressão dele se tornou sombria – Lá os únicos sons para meus ouvidos eram de lamentos, choros e rosnados.
- Eu gostei – ela o cortou para que não se perdesse aquelas reminiscências – Eu... acho que já ouvi essa música antes também.
Sirius não respondeu; em vez disso, a retirada para seus braços com leveza. Ela arfou com o movimento; ele emulou um sorriso sofisticado e deslizou os braços para sua cintura. Ela estremeceu, mas o segurou pelo pescoço e mergulhou seus olhos nos dele. Os dois começaram a se mover lentamente; os corpos tremiam; faíscas emanavam entre eles, além do calor; suas respirações se aceleraram e mesclaram-se. Os olhos de Sirius se escureceram enquanto ele erguia a mão e afastava uma mecha de cabelo do rosto dela. Os dedos de Sirius roçaram pelas costas dela, causando-lhe arrepios. Jean percebeu, naquele instante, que estava em um limite frágil. Um passo a mais e não teria volta. Nenhum dos dois se moveu. Nenhum dos dois quis se afastar.
- Jean... — ele sussurrou seu nome como se fosse um feitiço.
- Sírius...
Quando os lábios se tocaram, foi como se a eletricidade entre eles desse um curto. Ambos arfaram com a intensidade e Jean quase levou a boca assustada; porém, Sirius a reteve em seus braços e pressionou os lábios pedindo passagem com a língua. Jean se sentiu como que puxada para ele, como um fio invisível e mágico que os une; abriu os lábios e empurrou a própria língua para se encontrar com a dele. Sirius não conseguiu conter o rosnado de apreciação que reverberou em seu peito e beijou-a como um homem faminto, como se precisasse dela para respirar. Ela se entregou a ele e renunciou ao controle, e até em pensar; sua mente apenas vagava no beijo.
O tempo se deteve para eles, assim como o espaço. Séculos poderiam se passar, o mundo lá fora poderia acabar em um grande cataclismo, mas os dois não se dariam conta. Tudo o que existia para Jean e Sirius era eles. O resto já não tinha importância.
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Bem, o beijo continua no próximo capítulo. E vamos ter um pouco mais de ação também,
Algumas observações:
1) Dei uma corrigida no capítulo anterior em uma fala do Sirius quando ele comenta sobre não ter conseguido fazer a Poção Polissuco e Remo ter tido mais sucesso. Na verdade, o Remo não era muito bom em poções não. Tanto que ele não conseguia fazer a Poção Mata-Cão que o aliviava dos efeitos de se transformar em lobisomem. É um mero detalhe que não altera o capítulo anterior, mas ficaria contraditório com o cânone da saga e com a concepção do Sirius. Ele pode não ser um mestre como Snape, mas ele tinha muito domínio nessa habilidade.
2) Só lembrando que Quim Shacklebolt não fez parte da primeira formação da Ordem da Fênix, mas como ele era auror, bem que podia ter feito alguns trabalhos em cooperação, já que o Moody era chefe dos aurores nessa época. O Mundungo tampouco era membro, mas pelo que dá entender no quinto livro, meio que ele já era conhecido do pessoal e fazia alguns serviços.
3) Talvez vcs achem contraditório o Sirius dominar Poções, mas não saber cozinhar tão bem. Porém, vamos lembrar que uma coisa não necessariamente puxa a outra. A Hermione também era boa em Poções desde seu primeiro ano, mas quando ela fugiu com o Harry e o Ron lá no último livro, era ela quem cozinhava. E como é descrito em suas primeiras tentativas, a comida não era nada boa, mesmo para cozinhar um simples peixe. Depois dá a entender que ela melhorou.
4) Sobre a informação do rádio funcionar no mundo bruxo, vcs podem constatar na própria saga. É citado que Molly Weasley gostava de ouvir as músicas de Celestina Warbeck na Rede Radiofônica dos Bruxos (não lembro se no segundo ou terceiro livro) E no último, tinha a rádio clandestina Observatório Potter que os bruxos que lutavam contra Voldemort acessavam com uma senha que mudava a cada programa. Só não é descrito como eles faziam para o rádio funcionar, mas aqui inventei um sistema.
5) Por último, cito aqui David Bowie como se ele fosse um bruxo. Achei interessante fazer essa brincadeira. Aqui ele ainda está vivo, pois essa época da história se passa no começo dos anos 90. A canção dele citada não está na minha playlist, mas pretendo colocá-la mais para a frente porque quero aproveitar essa música em outro capítulo.
Bom, espero que tenha esclarecido qualquer dúvida. Se não, podem colocar aqui. Pessoal, vou tentar postar o próximo capítulo o mais rápido possível. É que planejo certos acontecimentos para um dado capítulo, mas na maioria das vezes, fica mais extenso do que o que eu esperava. E não gosto de entregar qualquer coisa, mesmo essa sendo apenas uma fanfic. Mas vou tentar quebrar esses capítulos, mesmo que for aumentar o número depois, para vcs não terem que ficar esperando tanto. Beleza?
Enfim, comentem.
Até a próxima!
