Akari estava enrolada em sua cama, fungando.
A temperatura do quarto estava amena, perfeita para ela usar um vestido leve e confortável que Rokuto tinha escolhido. Ela não fungava de frio ou de doença. De armários a paredes, de roupas a pelúcias, ele deu a ela tudo o que ela poderia querer.
Mas ela ainda chorava.
Não porque ela queria um novo livro, não porque ela tinha pesadelos. Porque ela era apenas mais um enfeite neste quarto bem decorado. Porque ela não conseguia sair desse inferno que era dedicado apenas para ela. Porque as algemas em seus pulsos frágeis estavam acorrentadas às cabeceiras da cama.
Mas ele disse que estava protegendo-a ao não algemar os tornozelos, porque se ela se esquecesse delas e tentasse correr ou ir embora, ela poderia ficar de cara e bater a cabeça.
Ela estava chorando porque ninguém a encontrou, assim como ele prometeu. São apenas os dois, juntos e isolados, exatamente como ele queria. A coleira elegante em volta do pescoço e o pingente de sapatinhos de cristal mostravam que ela pertencia a ele.
Mesmo que ele nunca a deixe sair, mesmo que ninguém a visse, essa coleira lhe dava satisfação. Seu nome foi escrito com pedras brilhantes na frente do símbolo do desenho animado e uma reivindicação de propriedade foi gravada na parte de trás. Ele passava as pontas dos dedos sobre o pingente e sorria levemente.
Akari estava chorando porque Rokuto, aquele que a sufocava com seu amor e luxúria todos os dias e noites, que a mantinha ao seu lado implorando por seu perdão, não era mais o Rokuto que ela conhecia quando criança. Seu amor por ela não era o mesmo. Foi assustador, intenso e sombrio. Ela estava com medo quando ele olhou para ela com olhos ansiosos e segurou suas bochechas em suas mãos.
Ele não estava mais em posse de suas capacidades mentais. Não, ele estava com fome. Ele estava com fome por ela. Faminto por seu amor, faminto por seu perdão, faminto por sua alma. E não havia nada que ela pudesse fazer a não ser chorar em seus braços.
Não importa o quanto ela implorasse para que ele a libertasse, ele se recusava com o rosto pintado de dor enquanto acariciava suavemente sua cabeça. Ele se desculpou várias vezes, esfregou a mão em suas costas de cima e para baixo e beijou cada parte de seu rosto. Ver ela chorar com o coração era como uma facada em seu coração. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele chorou também. Mas ele não queria perdê-la.
Não, ela tem de aprender a ser feliz com ele. Rokuto não consegue respirar sem Akari.
