Disclaimer: Naruto, bem como os seus respectivos personagens, não me pertence, e sim a Masashi Kishimoto. Posto esta fic apenas por diversão, e sem nenhuma intenção de lucrar algo com isso.
Esclarecimento: Esta história também não é de minha autoria, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Lynne Graham, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books (edição 167, publicada no Brasil em 2010).
OBS: É bastante provável que esta adaptação tenha OoC. Muito bem, o aviso foi dado a todos...
EM NOME DO DESEJO
Capítulo 1
Naruto Uzumaki, magnata do petróleo, viajava no banco traseiro do luxuoso veículo e observava a paisagem através dos vidros escuros das janelas do carro. Dois outros veículos faziam a escolta de proteção. Um deles abria caminho e o outro os seguiam, Era algo incomum de ser visto numa estrada secundária que levava em direção de um canto remoto da Rússia, como era a vila de Tsokhrai. Contudo, para os moradores da região, a pequena caravana não oferecia nenhuma surpresa. A avó de Naruto era uma senhora muito conhecida na vila e todos sabiam que o neto fazia questão de visitá-la por ocasião da Páscoa.
Naruto distraía a atenção enquanto observava a estrada que ele mesmo se encarregara de mandar asfaltar a fim de facilitar o transporte de matérias-primas para a fábrica que instalara para promover empregos na região. Ele ainda se lembrava dos invernos rigorosos que enfrentara na época em que vivera ali. A estrada de terra se transformava em lodaçal quando a neve derretia, e o trânsito ficava impossível a qualquer coisa que fosse diferente de uma simples carroça. Nessas ocasiões, a vila ficava praticamente isolada do resto do mundo por semanas a fio.
Algumas vezes, ele mesmo achava difícil acreditar que despendera vários anos da adolescência em Tsokhrai, onde tivera experiências amargas e frustrantes. Aos treze anos de idade já fazia parte de uma gang local e, muitas vezes, infringira a lei e a ordem para poder sobreviver.
Apesar de sua avó Kaori ser uma mulher pobre e analfabeta, Naruto sabia que tudo o que conseguira na vida ele devia aos esforços inesgotáveis dela no sentido de transformá-lo em um homem de bem.
O comboio parou na frente de uma casa humilde e antiga, construída em madeira e escondida atrás de uma cerca viva de mato crescido.
Dois robustos guarda-costas saíram na frente para vasculhar a área. Depois, acenaram com um gesto positivo em direção do carro onde Naruto viajava.
A visão magnífica do homem elegantemente trajado num terno de tecido de seda pura misturada com pelo de cabra angorá e cuidadosamente estilizado, destacando os ombros largos e poderosos, finalmente surgiu na calçada.
Tayuya, sua ex-mulher, costumava apelidar aquela visita anual como "peregrinação para aliviar a culpa", e sempre se recusava a acompanhá-lo. Porém, a presença do neto naquelas ocasiões era uma recompensa gratificante para a avó, que nunca permitira que ele lhe comprasse uma casa nova.
Naruto esboçou um sorriso comovido com aquela lembrança. Kaori era a única mulher no mundo que ele sabia não ter interesse em cada rublo que ele possuísse.
Há muito tempo que ele considerava o interesse financeiro e a extrema necessidade de se agarrar a alguém influente como uma fraqueza própria da personalidade feminina.
No instante em que ele se aproximou da entrada da modesta moradia, alguns vizinhos se afastaram para lhe dar passagem e o reverenciaram em silêncio.
Assim que Kaori o avistou, apressou-se em receber o neto, demonstrando o imenso carinho que nutria por Naruto.
- Entre, Naruto - a mulher miúda, que já beirava os 70 anos de idade, mas exibia vivacidade nos olhos claros e comportamento prático o convidou - Já que sempre está sozinho, eu mesma vou preparar o seu prato - ela lamentou e o conduziu até a mesa, farta o suficiente para alimentar os convidados que haviam praticado o jejum conforme a tradição da comemoração da Páscoa.
Naruto franziu o cenho.
- Bem, eu não estou...
- Acha que eu não sei ? - a avó replicou, começando a lotar um prato reforçado para o neto.
O padre ortodoxo de barbas longas que estava sentado à mesa, ornamentada com flores e ovos decorados, deu um sorriso encorajador para o homem que financiara a reconstrução da torre da igreja que estava em ruínas.
- Coma, meu jovem !
Naruto havia dispensado o café da manhã para aproveitar o gastronômico almoço de Páscoa que a avó sempre oferecia. Acomodou-se junto à mesa e saboreou com apetite voraz as iguarias típicas da ocasião. Principalmente o pão caseiro e o bolo especial com frutas secas.
Durante o tempo todo, Naruto agiu de maneira paciente com os convidados da avó, ouvindo os inúmeros pedidos de conselhos, apoio e dinheiro. Afinal, ele era reconhecido como a principal fonte filantrópica da pequena vila.
Kaori permanecia ao lado dele e tentava conter o entusiasmo pelo orgulho que o neto lhe proporcionava. E ela sabia muito bem que ele era o centro da atenção de cada jovem que se encontrava na sala. E não era de se admirar. Naruto tinha feições extremamente bonitas, bem como a altura e porte físico dignos de um atleta. E ele estava tão acostumado a atrair a atenção feminina que já nem dava importância. Kaori recordou por um instante o quanto as meninas o perseguiam quando ele era apenas um adolescente. E, desde aquela época, nada mudara. Ele ainda mantinha o mesmo e extraordinário carisma.
Ele procurava disfarçar o desconforto que os olhares femininos insistentes lhe provocavam. Até quando Kaori insistiria na manobra de convidar um número surpreendente de moças atraentes com o propósito de despertar-lhe o interesse ?
Derivando a atenção para a avó, ele notou que ela parecia mais cansada e envelhecida a cada nova visita que ele lhe fazia. Sabia que ela ficava desapontada com o fato de vê-lo desacompanhado, e isso o incomodava. Porém, as mulheres capazes de satisfazer-lhe a insaciável libido e que freqüentavam as várias casas que ele mantinha ao redor do mundo não eram do tipo que ele escolheria para apresentar a uma senhora extremamente religiosa, como era o caso de Kaori.
Ele reconhecia o desespero no semblante de sua avó ao vê-lo casado e com filhos. E devia isso a ela. Após todos aqueles anos, enquanto Naruto se transformara em um magnata bem-sucedido, graças ao apoio e educação que a avó lhe proporcionara, Kaori prosseguira na mesma vida difícil que sempre levara. O marido se entregara à bebida e muitas vezes a espancava; o filho se tornara um ladrão de carros; a nora também se transformara em outra alcoólatra. E, embora o neto fosse o único parente vivo que lhe restasse, ela não se importava nem um pouco pelo fato de ele ser um homem rico e influente.
- Não se preocupe com Kaori - opinou o padre, notando com sagacidade a névoa de tristeza nos olhos de Sergei, enquanto ele estudava a avó - Basta conseguir uma esposa e providenciar um bisneto, que ela ficará feliz.
- Como se isso fosse fácil ! - Naruto exclamou com um suspiro desanimado.
- Com a mulher certa, garanto que não será nenhum sacrifico - O sacerdote assegurou e exibiu um sorriso orgulhoso e bem-humorado de quem era pai de seis crianças saudáveis.
O grande problema era que Naruto havia desenvolvido uma verdadeira aversão pela idéia de se casar novamente. Tayuya representara o maior erro que ele cometera na vida. E, mesmo depois de ter decorrido uma década do divórcio, ele não era capaz de esquecer o filho que ela abortara, apenas pela vaidade excessiva em não querer perder as linhas perfeitas do corpo.
Ele nunca contara esse fato para Kaori, pois sabia que isso lhe partiria o coração e lhe destruiria os sonhos. E agora, notando-lhe o rosto com rugas cada vez mais profundas, ele se perguntava em silêncio se estaria próximo o dia em que a avó não estaria ali para reclamar do barulho do seu helicóptero pousando e espantando a criação de porcos e galinhas que ela mantinha no quintal.
O súbito pensamento golpeou-lhe a consciência e o fez estremecer. Quem fizera mais por ele e tivera sido tão pouco recompensada ? Se havia uma mulher no mundo que merecesse abrigar no colo um bebê tão ansiado, essa mulher seria Kaori Uzumaki.
Naruto precisou se superar para conseguir disfarçar a verdade sobre sua decisão de não se casar outra vez, quando, logo em seguida, a avó lhe perguntou, com astúcia no olhar, se ele nunca mais se encontrara com Tayuya.
Como faria para explicar que se tornara um solitário e considerava os relacionamentos pessoais apenas como um prazer de curta duração ? E que atuava da mesma maneira como fazia nos negócios ? Adorava tirar o proveito máximo de uma competição e derrotar os adversários através de sua extrema habilidade mental e perspicácia. E, no final, obter a satisfação de multiplicar seus lucros com golpes certeiros no mercado financeiro.
Se, pelo menos, o casamento pudesse ser comparado ao mundo dos negócios, com regras bem definidas, e não deixassem espaço para erros e enganos...
No instante em que a mente devaneava por aqueles caminhos, Naruto teve uma idéia inusitada: Por que não? Por que ele não poderia escolher uma esposa que lhe desse um filho se utilizando das mesmas regras com que se conduzia nos negócios ? Afinal, a tentativa da maneira tradicional acabara em catástrofe.
- Mas existe alguém especial na sua vida ? - insistiu a avó, em tom sussurrante, sentindo-se embaraçada por estar se intrometendo na vida particular do neto.
- Talvez... - ele apenas murmurou, animado com a possibilidade de desenvolver um plano que satisfizesse a questão de proporcionar um bisneto para Kaori.
No caminho de volta ao heliporto, na privacidade do interior seguro do carro, Naruto começou a elaborar as primeiras regras do que tinha em mente para que seu plano desse certo, e iniciou as primeiras anotações no laptop.
Ele pretendia aplicar a experiência profissional em assuntos relativos ao matrimônio. Faria uma lista de requisitos e encarregaria seus advogados de analisar a questão legal e utilizar os serviços de médicos e psicólogos para descartar as candidatas que não fossem satisfatórias ao perfil exigido. E, é claro, o casamento deveria ser válido apenas por um período relativamente curto e garantir-lhe a custódia do filho que sobreviria.
Por um momento, ele se deparou com uma incoerência gritante em suas próprias exigências: não queria uma esposa que fosse do tipo que fizesse qualquer coisa por dinheiro e, ao mesmo tempo, desejava uma mulher disposta a abrir mão do próprio filho no momento em que ele já estivesse cansado do teatro da família perfeita para agradar Kaori.
Contudo, em algum lugar do planeta, o matrimônio perfeito que acabara de idealizar teria que se concretizar. Ele fora bem específico quanto a nem mesmo precisar conhecer a mulher antes do casamento.
Quando Hinata Hyuuga avistou a irmã gêmea, Akemi, saindo de um carro esportivo na cor vermelha e totalmente desconhecido, sentiu um misto de alívio e irritação.
Imediatamente tomou o rumo da escadaria que conduzia ao andar térreo e praticamente pulou os degraus, graças à agilidade proporcionada pelo corpo esbelto. Alguns fios dos cabelos negros despencaram sobre os olhos claros e de cor de lavanda, semelhante a duas pérolas.
- Onde você esteve durante todas essas semanas ? Por que não me ligou ? Eu estava desesperada ! E de quem é esse carro ? - ela despejou assim que abriu a porta de entrada da sala.
As palavras simplesmente jorravam da boca de Hinata sem que ela conseguisse refreá-las.
Com um brilho divertido no olhar, Akemi adiantou um passo e abraçou a irmã gêmea.
- Oi ! Também estou feliz em vê-la - espicaçou.
- Desculpe-me, é que eu estava tão preocupada que algo de ruim tivesse acontecido... tentei ligar várias vezes. O que aconteceu com o seu celular ?
- Quebrou e eu precisei comprar outro com um novo número - Akemi explicou franzindo o nariz para provocar a irmã - Quer saber a verdade ? Quando as coisas ficaram complicadas demais, eu preferi esperar até ter algo de mais concreto para lhe falar. Então, quando finalmente isso aconteceu, achei melhor vir até aqui e lhe contar pessoalmente.
Hinata apenas encarou a irmã sem entender nada e, ao mesmo tempo, sem esperanças de que entenderia. Os fatos sempre se repetiam da mesma maneira. Embora elas fossem gêmeas idênticas, desde muito pequenas ficara evidenciada a discrepância de personalidades. Akemi sempre fora determinada, ambiciosa e pronta para lutar pelo que desejava a qualquer custo. E, por isso, a facilidade em fazer inimigos era imensa. Já Hinata era do tipo comportada, calma e atenciosa. E também possuía um grande senso de responsabilidade.
Aos vinte e três anos, ao contrário de quando eram crianças, nem mesmo na maneira de como se vestiam e se produziam pareciam gêmeas. Akemi mantinha os cabelos lisos e negros sempre bem modelados e o corte em camadas até a altura dos ombros, enquanto os de Hinata eram bem mais longos e constantemente presos no estilo tradicional de rabo-de-cavalo.
Também era completamente oposta a maneira como se vestiam e se comportavam. Akemi usava roupas de grife provocativas e sentia-se recompensada quando os homens a olhavam com cobiça. Hinata gostava de modelos conservadores e enrubescia a cada vez que era alvo da atenção masculina.
Depois de entrar na sala, Akemi retirou o casaco e o empilhou junto com a bolsa e acessórios na poltrona mais próxima. Caminhou na direção da cozinha, enquanto perguntava em voz alta:
- Onde está a mamãe ?
- Na loja. Eu vim mais cedo para terminar a contabilidade - Hinata esclareceu ao mesmo tempo em que colocava um pouco de água na chaleira para providenciar um chá - Imagino que você conseguiu um emprego em Londres, não é ?
- Claro que consegui ! E fui considerada a melhor vendedora de carros de luxo da concessionária. Recebi comissões fantásticas ! - Akemi exclamou com um sorriso satisfeito e se recostou no balcão da pia - E como está nossa mãe ?
- Considerando as circunstâncias, eu diria que está bem. Ao menos, não ouço mais seus soluços durante a noite.
- Acha que ela está superando o trauma ?
Hinata deu um suspiro.
- Não acredito que ela consiga fazer isso tão rapidamente. Não enquanto nosso pai desfilar garboso pelas redondezas enquanto ela ainda enfrenta o tamanho das dívidas. Fora o fato de ter que precisar vender a própria casa por uma ninharia.
Akemi exibiu um sorriso triunfante antes de revelar a novidade que tinha para contar.
- Prepare-se para uma grande surpresa... eu consegui um acordo financeiro para resgatar a hipoteca da casa e liquidar o restante das prestações do financiamento. Também deixei com o advogado dinheiro suficiente para ele pagar para o bastardo do nosso pai a metade dos bens que está reclamando por conta do divórcio e convencê-lo a permanecer fora das vistas de nossa mãe.
- Não fale assim do nosso pai, embora eu saiba que ele mereça.
- Ora, não vamos ser hipócritas ! Mamãe perdeu o filho e eu o meu namorado naquele acidente pavoroso. E ela ainda teve forças para cuidar do papai durante o tempo em que ele sofreu com o câncer. E qual foi a recompensa dela ? Ser abandonada por causa de uma cabeleireira com a metade da idade dele ?
Hinata considerou a situação por um momento e franziu o cenho. Ainda que a irmã fosse uma excelente vendedora de carros luxuosos, não seria possível que, em apenas três meses, tivesse condições financeiras de arcar com toda aquela despesa.
- Onde conseguiu tanto dinheiro, Akemi ? Não acha que eu vou acreditar em comissões astronômicas, acha ?
- Bem... na verdade, eu consegui um novo trabalho que incluiu um pagamento adiantado em dinheiro. Pelo menos o suficiente para saldar as dívidas e manter nosso pai afastado.
- Como também para comprar um carro novo e renovar seu guarda-roupa...
Akemi recolheu o sorriso dos lábios no momento em que se defrontou com o olhar de desaprovação que a irmã sustentava.
- Ah, você já notou a etiqueta no meu casaco novo ?
- Não foi preciso. Basta olhar para ele. E que tipo de trabalho é capaz de render tanto dinheiro ?
- Será que não ouviu uma só palavra do que eu lhe disse? O que importa é o fato de eu ter conseguido o dinheiro para livrar nossa mãe de perder a casa, livrar-se das dívidas e recuperar a autoestima.
- O problema é que eu não acredito em milagres. No mundo de hoje é preciso ter competência e trabalhar duro para se conseguir um mínimo de resultados financeiros - argumentou Hinata, sabendo que a irmã nunca tivera inclinação para enfrentar sacrifícios daquela natureza.
- Confesso que é um pouco complicado para lhe explicar. Para começar, eu precisei usar sua identidade para conseguir o meu propósito.
- Usou a minha identidade ? Como ?
- Você é a que possui grau universitário e eu precisava disso para poder concorrer ao cargo. E... também usei o seu nome. Não poderia correr o risco de eles descobrirem a fraude no instante em que fossem comprovar as informações, descobrindo que não cursei nenhuma faculdade.
Hinata já estava chocada com a atitude inconseqüente da irmã em relação ao dinheiro que ganhara, mas a descoberta daquela mentira passava dos limites da compreensão.
- De qualquer forma - prosseguiu Akemi - , eu achei que valeria a pena tentar. Só não imaginava que iria conhecer alguém e...
- Você está namorando ? - Hinata perguntou, surpresa e animada ao mesmo tempo. Depois de Akemi ter perdido Iruka no mesmo acidente que tirara a vida do irmão delas, ela ficara tão amargurada que jurara nunca mais se apaixonar por outro homem. E ela podia entender muito bem a extensão da dor da irmã. Como vizinho e amigo, Iruka fazia parte da vida deles e era considerado como um membro da família.
- Será que estava tão ocupada criticando o meu casaco que nem notou isso ? - Akemi perguntou e exibiu a mão que ostentava um valioso anel de compromisso.
- E já está noiva ?
- E grávida - confidenciou.
- Grávida ? E nem mesmo ligou para contar ?
- Eu avisei que quando as coisas se complicaram eu preferi esperar a ocasião certa para vir até aqui e lhe dizer pessoalmente o que estava acontecendo. Eu estava correndo atrás daquele trabalho e não queria contar a Konohamaru sobre isso... - ela fez uma pausa - Esse é o nome do meu noivo. Ele é fazendeiro e cuida de todo o patrimônio da família. Todos estão preocupados com o meu bem-estar e o do bebê e nem um pouco incomodados por eu não pertencer a uma classe social semelhante ao da família. Porém, tenho certeza de que ninguém aceitaria o fato de eu ter me candidatado para aquela proposta antes de conhecer Konohamaru... ou ter aceitado o dinheiro oferecido como adiantamento, embora por motivos relevantes.
- Mas, afinal, do que se trata esse emprego ?
Akemi escolheu um lugar na mesa da cozinha e se acomodou para provar o chá, antes de responder.
- Eu nunca pensei que faria isso. Eu estava estudando o formulário apenas por curiosidade. E não se trata de um emprego ou trabalho propriamente dito.
Hinata sentiu o coração dar um salto no peito.
- É algo imoral ?
- Antes de me julgar, raciocine sobre o bem que aquele dinheiro fará por nossa mãe. E tudo o que eu precisei fazer para conseguir o dinheiro foi concordar em me casar com um magnata russo e agir como esposa dele.
- Mas por que um homem desses precisaria pagar para conseguir uma esposa ?
- Parece que ele pretende que o casamento seja feito em bases negociáveis. Inclusive com adiantamento em dinheiro, contrato assinado e concordância com o divórcio depois de um curto espaço de tempo. E a exigência dele é que seja uma jovem inglesa, culta, atraente e saudável.
- Deixe-me ver se entendi direito. Você planejava se casar com esse homem apenas pelo dinheiro ?
- Por Deus, Hinata ! Eu só pretendia fazer isso pelo bem de nossa mãe !
Ela se manteve em silêncio por algum tempo a fim de analisar os argumentos da irmã. O fato de ela mesma ter se demitido do excelente emprego que mantinha em uma biblioteca de Londres e voltar para casa também fora por causa da mãe. As duas jovens adoravam a mulher que estava passando por um momento de depressão profunda e nem de longe lembrava a pessoa alegre e cheia de vida que costumava ser. A perda do filho, a doença do marido e o posterior abandono, após trinta anos de casamento, foram demais para a pobre mulher. E, para piorar, com o divórcio ela ainda seria forçada a vender a casa e a loja que mantinham na vila para dividir o dinheiro e pagarem as dívidas assumidas pelo financiamento e garantidas por hipoteca. E tudo para satisfazer a luxúria de um homem que a trocara por uma mulher bem mais jovem.
Hinata ficara tão decepcionada com o comportamento do pai, que ela julgava ser tão bom e honesto, que uma insegurança sem precedentes se formou na mente dela. E ficou temerosa pelo que aquele magnata russo pudesse tencionar de uma esposa por tempo limitado.
- Devolva o dinheiro, Akemi. Não pode se casar com um estranho por causa da riqueza dele.
- Bem... eu não poderia fazer isso, mesmo que quisesse. Estou grávida de Konohamaru, e ele quer que nos casemos dentro de duas semanas. Será você quem deverá ir adiante e casar-se com o russo em meu lugar. Ou serei forçada a considerar o aborto como uma única opção.
Abalada com a inesperada afronta, Hinata afastou a cadeira ruidosamente e se ergueu furiosa:
- Está tentando me chantagear ? Ou eu me caso com um magnata excêntrico ou você faz um aborto ?
- Não é isso, Hinata. Mas o que quer que eu faça ? Eu já assinei o contrato e aceitei o dinheiro. Não há como devolver.
- Você gastou todo o dinheiro ?
- A maior parte para socorrer nossa mãe. E o restante para satisfazer minhas vaidades. Afinal, eu pretendia cumprir a minha parte no acordo. E não precisa me olhar com toda essa reprovação ! Era eu quem estava pretendendo me sacrificar para salvar nossa mãe, enquanto você fica aqui sentada o tempo inteiro apenas verificando os extratos bancários. Sabe de uma coisa ? Só muito dinheiro será capaz de solucionar os problemas por aqui !
Quanto mais Akemi alterava o tom de voz, mais Hinata empalidecia. No final, decidiu sentar-se outra vez e discutir o assunto com mais calma:
- Você está certa, Akemi - finalmente ela admitiu - Tem a coragem suficiente para fazer algo que eu não seria capaz, e não tenho o direito de condená-la por isso. E tem razão quando diz que só muito dinheiro será a solução de nossos problemas.
Akemi estendeu as mãos e segurou firme nas de Hinata, como se estivesse procurando pelo apoio dela.
- Não acha que eu mereço ser feliz ?
- Eu nunca duvidei disso - afirmou Hinata.
- Depois da morte de Iruka eu achava que minha vida amorosa estivesse terminada para sempre. Mas, quando conheci Konohamaru, as coisas se modificaram. Eu realmente o amo e desejo me casar com ele e ter nosso filho.
Hinata ficou comovida com o discurso emotivo da irmã e, gentilmente, afagou-lhe as mãos num gesto de compreensão.
- Estou certa de que será feliz com ele.
- Acontece que, se Konohamaru descobrir o que eu fiz, será o fim para nós dois - declarou com amargura na voz - Ele nunca me perdoará por ter sido tão mercenária. Konohamaru é um homem de princípios rígidos.
De repente, Hinata teve a mesma sensação de proteção que costumava sentir quando ambas eram crianças. Akemi sempre se envolvia em confusões e depois lhe pedia socorro. E, muitas vezes, Hinata assumia a culpa pelas travessuras da irmã, quando, na realidade, ela mesma sempre agira de modo comportado. No entanto, ela tinha uma personalidade mais forte para enfrentar os problemas quando eles saíam de controle. Embora sua irmã fosse mais ousada, também era a mais frágil para enfrentar as conseqüências de suas próprias atitudes.
- E se apenas não disser nada para Konohamaru ? Como ele descobrirá ?
- Se o acordo não for honrado ou o dinheiro devolvido, você acha possível que um homem como Naruto Uzumaki seja complacente o suficiente para permitir que alguém desapareça com o dinheiro dele e, ainda por cima, o faça de bobo ?
- Naruto Uzumaki, o bilionário russo ? É ele quem pretende contratar uma esposa ? Por Deus ! O homem tem modelos e atrizes se ajoelhando aos seus pés para conseguir uma oportunidade de desfilar ao lado dele ! Por que pagaria para que uma desconhecida o desposasse ?
- Porque ele foi casado há muito tempo atrás e o casamento não deu certo. Agora, ele pretende fazer um casamento por conveniência com regras bem definidas, como se fosse um acordo de negócios. Isso é tudo o que o advogado revelou. Apenas um contrato de trabalho. Um pouco diferente dos demais, mas, ainda assim, um contrato de trabalho.
- Um contrato de trabalho... - Hinata repetiu, exibindo nos olhos expressivos a franca desaprovação.
- Se você se casar com Uzumaki, eu estarei livre para me casar com Konohamaru e poderemos ficar com o dinheiro que foi dado como adiantamento. Nossa mãe ficará bem e tudo voltará ao normal. O russo nunca me viu e, por isso, nunca saberá que você não é a mulher que foi selecionada para se casar com ele.
- Isso é loucura ! Não farei isso ! - recusou-se Hinata, tentando resistir à pressão que a irmã lhe impunha.
- Acontece que eu preenchi o formulário com o seu nome e o seu número de identidade. E, se o contrato não for cumprido, será você que os advogados irão processar.
- Eu me defenderei. Afinal, não assinei nenhum contrato !
- Infelizmente será difícil provar que não foi você quem assinou o contrato. A falsificação ficou perfeita - Akemi desabafou com um suspiro - Sinto muito, mas ambas estamos envolvidas nisso até o pescoço. Não temos como devolver o dinheiro e, no momento, seria impossível conseguir um empréstimo para salvar a casa e saldar as dívidas feitas para a compra da loja. E, a não ser que acertemos na loteria, não existe outra maneira de resolver a situação.
Hinata se manteve em silêncio por algum tempo e, após um longo suspiro, ergueu-se da mesa e avisou:
- Está chovendo. Prometi buscar a mamãe se isso acontecesse.
Hinata se acomodou atrás do volante do velho Hatchback que pertencia à mãe e seguiu em direção à loja. No instante em estacionava o carro em frente ao estabelecimento comercial, avistou uma moça morena que acabava de sair da loja e abrir uma sombrinha de cor amarela para se abrigar da chuva. O corpo curvilíneo e a saia curta chamavam a atenção de quem passava por perto. Assim que a reconheceu, ela sentiu um arrepio na espinha. Tratava-se da namorada de seu pai, Marin Tachibana. Logo que a viu se afastar, Hinata saltou do carro e se encaminhou para a porta da loja, que já estava trancada. Bateu repetidas vezes até que a mulher de meia-idade, baixa e de cabelos negros, surgiu para recebê-la.
- O que aquela mulher estava fazendo aqui ? - berrou Hinata, contrariada por observar os olhos marejados da mãe e um tremor incontrolável nas mãos.
- Ela disse que precisava falar comigo.
Hinata ficou estupefata com o comportamento dócil da mãe. Achava inadmissível que o pai tivesse a audácia de permitir que a amante perturbasse a mulher que fora sua companheira por mais de trinta anos.
- Você não deveria recebê-la. Ela é problema dele, e não seu. E Marin não devia meter o nariz em problemas alheios ! E, afinal, o que ela queria ?
- Dinheiro. O dinheiro que é devido ao seu pai. E, embora eu não goste de ouvir, o que ela me disse está certo. De acordo com a lei, sou obrigada a dividir o que restar depois de pagarmos as dívidas. Mas, o que posso fazer se ainda não apareceu ninguém interessado em comprar a casa ?
- Só o que eu sei é que ela não deveria vir aqui e nem você deveria falar com ela.
- Ela é uma moça determinada, Hinata. Porém, eu não tenho medo de falar com ela e você não deveria se envolver nisso. Se o seu pai decidiu fazer uma nova vida com ela, é problema dele. Essas coisas acontecem. Por isso, acho que seria prudente não ser tão rigorosa com seu pai.
Hinata tomou as mãos da mãe entre as dela e assegurou:
- É que eu a amo tanto que sinto meu coração se despedaçar ao vê-la sofrer dessa maneira.
Nagisa Hyuuga forçou um sorriso para acalmar a filha e avisou:
- Em algum momento, eu acabarei por superar tudo isso. Acontece que é
ainda muito recente e eu ainda amo o seu pai - confessou, embaraçada - E essa é a pior parte. Não consigo mudar meus sentimentos tão de repente.
Hinata olhou, comovida, para a mãe e revoltou-se com a idéia de vê-la perder a casa e o comércio que a sustentava, ficando quase sem nada para sobreviver. Tudo lhe parecia tão injusto !
- Akemi está em casa, mãe. E ela trouxe boas notícias. Conheceu um homem e...
A mulher alargou o olhar com surpresa.
- Está falando sério ?
- Sim. E tem mais. Eu e ela encontramos uma maneira de arranjar o dinheiro para salvar a situação. Talvez não seja mais preciso vender a casa.
- Isso não é possível ! - exclamou Nagisa.
- Milagres acontecem - Hinata comentou, surpresa com a própria afirmação. Será que isso significava que interiormente já havia tomado a decisão de se casar com Naruto Uzumaki, ou estava apenas tentando animar a mãe com falsas esperanças ?
Pouco tempo depois, enquanto Hinata se ocupava em preparar o jantar, Akemi sussurrou-lhe em um dos ouvidos:
- Enquanto você esteve fora, eu recebi uma ligação do advogado de Naruto Uzumaki, dizendo que o russo resolveu me conhecer antes do casamento. Por isso, você precisa decidir agora se vai adiante e ajudar nossa mãe ou se vai desistir de uma vez.
Hinata percebeu, pela determinação que via nos olhos da irmã, que ela não titubearia em fazer um aborto se as coisas se complicassem. Por outro lado, ela mesma não tinha compromisso algum e amava a família mais do que tudo na vida. Mas será que teria coragem de fazer de um casamento uma maneira de salvar a situação ? Ou deveria seguir seus princípios e virar as costas para a única chance real de resolver o problema ? O dinheiro, obviamente, não traria o pai de volta e nem acalmaria a dor da mãe por ter sido abandonada. Contudo, o futuro seria mais tranqüilo se a casa e a loja fossem mantidas. E, com essa certeza em mente, Hinata afastou as dúvidas e, finalmente, concordou com a sugestão de Akemi.
P. S.: Nos vemos no Capítulo 2.
