Edward
Era errado sentir alívio quando alguém morria? Provavelmente a culpa cristã diria que sim. Mas após receber a notícia da morte do meu pai, que Deus me perdoe, eu sentia como se um peso enorme tivesse sido arrancado das minhas costas.
Meu pai levava tudo na vida a pulso de ferro, sem pensar nas consequências ou se precisaria passar por cima de alguém para alcançar os objetivos, e o trabalho era o mais importante. Foi assim quando minha mãe morreu e ele não parou um dia para cuidar do filho, preferindo me deixar com babás, até que meus tios viessem e cuidassem de mim. Foi assim em todas as vezes que estive doente e mais uma das babás ficou comigo no hospital. Foi assim quando eu quis ficar em Washington e ele ordenou minha volta a Londres, ameaçando usar de suas artimanhas jurídicas para atrapalhar minha vida.
Ele não se importava com ninguém além de si mesmo e, por isso, eu não me sentia mal por não lamentar sua morte. Nós não tínhamos vínculos fortes, e era o caminho que ele mesmo havia buscado para si, afinal de contas. O trabalho era tão importante, que sua saúde ficou em segundo lugar até que fosse tarde demais.
Além de carregar o nome dele, eu era o único herdeiro do escritório de advocacia que levava esse nome, mas nós dois não poderíamos ser mais diferentes, felizmente. Eu nem gostava de direito, para ser honesto. Fiz a faculdade porque era o que tinha que fazer, mas não me brilhavam os olhos em nada trabalhar com isso. Agora, eu finalmente poderia deixar o escritório nas mãos de alguém de confiança e ir em busca do que eu sempre quis: Isabella Swan.
Há quase três anos, ela havia sumido sem dar explicações. Bloqueou meu número, desapareceu das redes sociais e nem mesmo meus tios, que viviam na mesma cidade que ela, tinham notícias. Era como se ela tivesse virado um fantasma do dia para a noite, sem motivo algum.
Quando retornei à Europa, afirmei que voltaria para ela. Entretanto, pouco tempo depois, não consegui mais contatá-la. Entendi a mensagem e me afastei, e hoje me sentia o homem mais burro e covarde do mundo, agora era a hora de buscar respostas.
Mas, primeiro, as obrigações. Alguém do escritório ficou responsável por organizar uma breve cerimônia de despedida que contou com a presença de empresários e pessoas que fingiam se importar. A vantagem de ter em conta bancária - agora toda minha - um dinheiro capaz de sustentar um pequeno país por anos era poder simplesmente pagar e não precisar me envolver em nada. Meu pai não tinha amigos, eu tinha alguns e essas eram as pessoas que estavam presentes com algum sentimento além da arrogância.
Eu tinha que ligar e avisar meus tios também. Não era como se eles fossem próximos - meu pai e meu tio brigaram há muito tempo, mas ainda eram irmãos.
- Edward, querido, o que houve? Fazia tempo que você não ligava, estamos com saudades… - minha tia atendeu do outro lado.
Ela estava em uma festa de crianças? Que barulho era aquele?
- Ei, Esme. Como vocês estão? Faz tempo, mesmo… As coisas andaram complicadas por aqui - respirei fundo, era difícil dar uma notícia daquelas.
- Estamos bem, meu amor. E você, está precisando de alguma ajuda?
Esme era irmã de minha mãe e as duas eram muito parecidas fisicamente, mas compartilhavam também traços da personalidade. Ela era uma mulher tão bondosa, uma das melhores pessoas que já conheci. Após a morte da minha mãe, ela cuidou de mim como seu próprio filho. Eu a amava tanto, sentia muitas saudades.
- Estou ligando porque tenho duas notícias. A primeira é que meu pai está morto - soltei de uma vez.
- Ah, meu bem. Eu sinto muito - ela lamentou, mas eu sabia que o lamento era muito mais por mim e por Carlisle do que por ele - Eu sinto muito mesmo. Como isso aconteceu?
- Não sinta, mesmo. Ele não queria que ninguém soubesse que estava doente e partiu hoje pela manhã. Estou organizando um funeral, mas não se preocupem em vir, será muito rápido só para atender o ego dele, onde quer que esteja agora.
Se houvesse um castigo divino por não sofrer pela morte de alguém, eu estava conquistando posições cada vez mais altas na fila para recebê-lo.
- Edward, cuidado com as palavras - Esme me repreendeu - Quando será a cerimônia? Provavelmente não conseguiremos ir, seu tio está sozinho no hospital agora que o outro médico se aposentou. Preciso pensar em como contar, você sabe que ele vai ficar triste pelo irmão - ela falou de uma vez.
- Ah, tia. Não consigo sentir por alguém que mal olhou na minha cara nos últimos vinte e cinco anos e quando olhava, era para brigar comigo ou me bater - falei, com rancor na voz - O funeral será em dois dias, pedi que o escritório contratasse um cerimonial que está cuidando de tudo.
Passei os detalhes para Esme, mesmo sabendo que eles não viriam. E tudo bem, não era algo tão importante assim. Eu só queria que acabasse logo.
- E qual a outra notícia, meu amor?
- Quando tudo isso passar, eu irei para Forks.
Ouvi o silêncio do outro lado da linha.
- Tia Esme? Ainda está aí? - chamei, depois de um minuto.
- Oh, sim. Me desculpe, acho que fui pega de surpresa.
Ela parecia mais abalada com a notícia de que eu voltaria à Forks que por saber da morte do meu pai. Que estranho.
- Você vem para ficar conosco? Por quanto tempo?
- Sim, a ideia era ficar com vocês. Será um incômodo? Se for, posso alugar um quarto e…
- Não, não. Pode vir - me interrompeu - Só vamos precisar ajeitar algumas coisas por aqui para sua chegada. Ah, seu tio vai adorar te rever, vai animá-lo depois das notícias tristes.
Minha tia sempre gostou de me receber em sua casa. O que tinha mudado? Parecia que eu tinha mais a descobrir em Forks além do paradeiro de Isabella.
