Isabella
O restaurante estava mais tranquilo do que o normal para uma noite de sexta-feira, e a maioria dos pedidos estava concentrada no delivery. Isso significava que eu tinha tempo para checar o celular sem me sentir culpada. E foi exatamente isso que fiz.
De: Edward Cullen
Chloe está com febre. O que eu faço?
Meu coração acelerou. Não pensei duas vezes antes de pegar minha bolsa e chamar Sue.
— Preciso sair mais cedo.
Ela franziu a testa, preocupada.
— Aconteceu alguma coisa?
— Chloe está com febre de novo.
Ela imediatamente acenou com a cabeça.
— Vá. Nós cuidamos do resto.
Agradeci rapidamente e saí em direção à casa dos Cullen. O medo era irracional, mas real. Onde estava Carlisle? Por que Edward não pediu ajuda a ele?
Antes do retorno do pai, Chloe raramente ficava doente. Agora, já foram dois episódios de febre em poucos meses. Eu não o culpava, apenas não podia deixar de pensar na coincidência e o pensamento de não estar lá quando isso aconteceu me deixou ansiosa.
E então, havia Edward. Ele estava com ela. Ele tinha lidado bem nos últimos dias, mas um bebê doente era outra coisa. Era algo que exigia decisões. E, pela primeira vez, precisaríamos tomá-las juntos.
Quando passei pela porta, sem me importar em bater, Edward estava deitado no sofá da sala com Chloe no colo. Ela estava sonolenta, a pele quente e corada, o pequeno corpo encaixado contra o peito dele.
A visão me atingiu de uma forma inesperada. A preocupação no rosto de Edward, a forma como segurava Chloe com tanto cuidado, balançando-a levemente. Por um instante, eu não consegui me mover. Até que ele ergueu os olhos e me viu. E, de imediato, soltou um suspiro aliviado.
— Eu não sabia se devia medicá-la ou esperar você chegar, então apenas dei um banho morno.
A honestidade em sua voz me pegou de surpresa.
— Carlisle e Esme foram a Port Angeles hoje, Rosalie e Emmett estão em Seattle… eu não sabia o que fazer.
Edward era alguém que sempre precisava de controle. Mas ali, sentado com nossa filha febril nos braços, ele estava disposto a admitir que precisava de mim para decidir isso. Respirei fundo e me aproximei, estendendo a mão para tocar a testa de Chloe.
Sim, ela estava quente. Mas não o suficiente para uma ida à emergência.
— Nós podemos dar um antitérmico e monitorá-la — murmurei — Se a febre subir muito, levamos ao hospital.
Edward assentiu, confiando imediatamente na minha decisão. Era estranho. Há alguns meses, eu jamais teria imaginado essa cena. Nós dois, sentados no sofá, cuidando da nossa filha juntos. Mas ali estava acontecendo, e não parecia errado.
Depois de medicarmos Chloe e deitá-la na cama, ficamos sentados na beira do colchão, observando-a respirar, sob a luz amarelada suave do abajur. A febre ainda estava lá, mas parecia mais baixa. Ela já dormia profundamente e o silêncio se estendeu entre nós, até que Edward sussurrou:
— Ela depende de nós.
Virei o rosto para olhá-lo. Ele ainda estava observando Chloe, mas havia algo diferente no tom de sua voz. Algo que me fez engolir em seco.
— Eu sei — murmurei.
Ele passou uma das mãos pelos cabelos, tornando-os uma bagunça enorme.
— Bella…
Ele hesitou. Mas então, virou-se e olhou diretamente para mim, e eu vi. Vi nos olhos dele exatamente o que sentia dentro de mim, mas não queria admitir.
Esse momento. A vida que estávamos tentando reconstruir. Essa sensação de algo não resolvido entre nós. Eu podia sentir. E ele também.
De repente, estávamos muito próximos.
Eu podia ver cada detalhe no rosto dele. O cansaço. As pontas dos fios da barba que estava por fazer. A preocupação. E algo mais. Algo que reconheci porque estava dentro de mim também.
— Isso tudo… é muito para mim — ele admitiu baixinho.
Foi a primeira vez que o ouvi dizer algo assim. Não de forma desesperada, mas de forma real. Ele não estava falando sobre ir embora ou desistir. Algo dentro de mim se desfez, porque eu sabia exatamente o que ele queria dizer.
— Para mim também — confessei, antes que pudesse me segurar.
Ele franziu a testa, como se não esperasse que eu admitisse isso. E então, aconteceu.
A tensão entre nós mudou, se tornando algo elétrico. Algo que já esteve ali antes e que nunca foi embora completamente. Eu não sabia quem se moveu primeiro. Mas, de repente, o espaço entre nós se desfez.
Edward ergueu a mão devagar, como se me desse tempo para recuar. Mas eu não recuei. E, no instante em que seus dedos tocaram a pele do meu braço, percebi que ainda havia algo entre nós. Algo que eu não conseguia ignorar.
Algo que, talvez… nunca tivesse acabado completamente.
A respiração dele estava próxima. Muito próxima. Eu deveria me afastar. Deveria dizer algo, cortar esse momento antes que saísse do controle. Mas não consegui. Porque, pela primeira vez em muito tempo, eu não queria recuar.
Edward levantou a mão devagar, hesitante, seus dedos fazendo um caminho na minha pele, contornando meu pescoço e parando perto da gola da camiseta – um toque tão leve que foi quase imperceptível. Mas eu senti. Senti como se meu corpo tivesse despertado de algo que há muito tempo estava adormecido.
Não era só o toque. Era ele. O jeito como me olhava. O jeito como, por um segundo, parecia tão perdido quanto eu. Isso não deveria estar acontecendo. Não agora. Talvez nem nunca. Mas o problema era…
Aconteceu. E aconteceu no exato instante em que Edward ergueu a outra mão e, delicadamente, tocou meu rosto. Minha pele arrepiou sob seus dedos. Eu podia sentir a hesitação nele, a forma como me deu tempo para parar isso. Mas eu não parei.
E então, lenta e tortuosamente, ele se aproximou. E eu deixei. Porque naquele momento, nenhum de nós pensou nas consequências. Nenhum de nós pensou no que isso significaria amanhã. Só existia o agora.
E no agora… Eu queria isso, com todas as forças.
O beijo começou suave. Um roçar de lábios, cauteloso, incerto. Mas quando senti o calor do toque dele, quando abri a boca e senti o gosto familiar que nunca esqueci, meu peito apertou com algo que me assustou.
A lembrança de nós dois. Do que já fomos. Do que podíamos ter sido.
Meus dedos se fecharam contra a camisa dele instintivamente, puxando-o um pouco mais. Edward soltou um som baixo contra minha boca e, por um instante, senti a barreira entre nós se romper. Como se as comportas de uma represa tivessem sido abertas.
Houve uma urgência súbita, algo que não estava ali no começo, mas que agora queimava entre nós. Uma das minhas mãos foi parar nos cabelos dele sem que eu percebesse. Os dedos dele deslizaram pela minha nuca, subindo até minha bochecha, segurando-me com uma gentileza quase contraditória à intensidade que pulsava entre nós.
Foi só quando nos separamos para respirar que a realidade se chocou contra mim. Meus olhos abriram. Os dele também. E, por um instante, ficamos ali, ofegantes, absorvendo o que tínhamos acabado de fazer.
Meu coração batia tão rápido que parecia querer escapar do meu peito. Edward piscou, parecendo tão atordoado quanto eu, que desviei o olhar.
— Deus…
Sua voz era rouca, quase um sussurro. E não havia arrependimento ali. Houve uma pergunta, uma dúvida silenciosa que pairava entre nós, como se estivesse esperando para ver o que eu faria agora.
Minha garganta estava seca. Minha mente gritava que isso não podia acontecer. Mas meu corpo? Meu corpo pedia para que acontecesse de novo e de novo, mais intensamente, mais próximo.
O silêncio entre nós era tão denso que eu quase podia tocá-lo. Minha respiração ainda estava irregular, e meu corpo parecia dividido entre dois extremos – o calor que ainda vibrava na minha pele e o frio da realidade que se infiltrava aos poucos. Eu podia sentir o olhar de Edward em mim, mas não conseguia retribuir. Se olhasse, tudo aquilo se tornaria real.
Meus dedos ainda estavam fechados na camisa dele, e foi só quando soltei que percebi o quanto minhas mãos tremiam. Deus, o que eu fiz? O que nós fizemos? Engoli em seco, tentando encontrar alguma palavra, qualquer coisa que quebrasse esse silêncio opressor. Mas minha mente estava um completo vazio.
— Bella…— ele disse.
Era só meu nome. Mas o jeito como ele disse – como se eu fosse algo frágil e precioso ao mesmo tempo – fez meu peito apertar. Ele queria que eu dissesse algo, que eu desse um passo em alguma direção. Mas eu não sabia qual direção tomar.
E quando finalmente criei coragem para levantar o olhar, foi um erro, porque os olhos dele estavam diferentes. Não havia arrependimento ali, nem frieza, havia algo profundo que fez meu coração disparar novamente.
O pânico ia me consumir. Isso foi um erro. Foi um erro porque significava algo, e eu não estava pronta para lidar com esse significado. Eu me afastei, apenas alguns centímetros para trás, mas foi o suficiente para ver o brilho nos olhos dele mudar.
Novamente, não era raiva, nem decepção, mas não consegui ter certeza do que fosse. Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, desviando o olhar por um breve segundo – apenas o suficiente para eu sentir que podia respirar de novo.
— Isso foi um erro — as palavras saíram antes que eu pudesse impedir, e doeram o suficiente para que eu quisesse engoli-las de volta.
Edward me olhou de novo, com a mandíbula tensa. Ele não disse nada de imediato. Apenas me observou. E quando finalmente falou, sua voz foi baixa, mas firme.
— Se fosse um erro, você teria me parado.
Uma onda de choque percorreu minha espinha. Eu não sabia como responder, porque ele estava certo, mas admitir isso em voz alta significaria abrir uma porta que eu não sabia se conseguia atravessar.
Eu deveria ter saído dali. Deveria ter ido para o quarto de hóspedes, deveria ter me trancado no banheiro, deveria ter feito qualquer coisa, menos continuar parada nesse quarto, sentindo o olhar de Edward queimar em mim.
Mas Chloe estava ali, e eu não podia simplesmente deixá-la. Respirei fundo, forçando meu corpo a se mover. Me abaixei ao lado dela, estendendo a mão para tocar sua testa. Ainda quente, mas não tanto quanto antes. Eu queria que fosse possível colocá-la dentro de mim novamente e sair correndo.
Edward ficou em silêncio, mas o senti se aproximar. Tão perto que meu corpo ficou tenso de imediato. Fechei os olhos por um instante, tentando recuperar o equilíbrio que ele facilmente arrancava de mim.
Quando me virei para encará-lo, ele já estava ajoelhado ao lado da cama, do outro lado de Chloe. Seus olhos estavam em mim, observadores, intensos.
— Ela está melhorando — murmurei, minha voz soando estranha aos meus próprios ouvidos.
Edward assentiu, desviando o olhar para a nossa filha. Seu rosto suavizou, e por um momento, foi como se a tensão entre nós tivesse se dissolvido no ar.
Nós dois estávamos aqui por ela. Pelo menos isso ainda era seguro.
— Ela só relaxou e dormiu de verdade quando você chegou. Acho que chegamos ao ponto onde ela ainda não confia em mim totalmente — a voz dele era baixa, carregada de algo que não consegui decifrar.
Um aperto estranho se formou no meu peito. Desviei o olhar, tentando ignorar o significado por trás daquelas palavras.
— Você deveria descansar um pouco — eu tentei manter minha voz neutra, prática. Tentei achar um jeito de me afastar daquela conversa silenciosa que pairava entre nós, mas Edward não se mexeu. Eu senti quando ele hesitou antes de dizer, em um tom tão baixo que quase soou imperceptível.
— Você se arrepende?
Meu estômago se revirou. Eu sabia que ele perguntaria isso. O que eu não esperava era o jeito que ele perguntou. Não era cobrança. Não era um desafio. Era só… Edward. O mesmo Edward que já conheceu todos os meus medos e inseguranças. O mesmo que sabia quando eu estava mentindo.
Minha primeira reação foi desviar, mudar de assunto, dizer qualquer coisa que colocasse um muro entre nós outra vez. Mas já não dava para fingir que nada tinha acontecido, então engoli em seco e falei a única coisa que consegui.
— Eu não sei.
Foi honesto, a resposta mais verdadeira que eu poderia dar. Edward me observou por um longo instante. E então, ele fez algo que me pegou completamente desprevenida. Ele sorriu. Não um sorriso cheio de humor ou ironia. Mas um sorriso pequeno, quase imperceptível.
Minha respiração falhou. Ele não insistiu, não tentou me pressionar. Em vez disso, apenas desviou o olhar de volta para Chloe, passando a mão suavemente nos cabelos dela.
E foi nesse instante que algo em mim se quebrou e se refez, porque foi um gesto tão natural. Tão cheio de carinho. Tão… familiar. E por mais que minha mente gritasse para eu ser racional, para lembrar de tudo que deu errado entre nós, meu coração se agarrou ao que ainda existia. Ao que talvez nunca tivesse desaparecido de verdade.
Então, fiz algo que não fazia há muito tempo. Fiquei em silêncio. Apoiei o cotovelo na cama, encostando o rosto na beirada do colchão, bem ao lado da mão de Chloe, sentindo seu cheiro. E esperei.
Não para ter uma resposta, não para ter uma solução. Apenas para estar ali. Com ela. Com ele.
E, naquele momento, isso pareceu suficiente.
A primeira coisa que senti ao acordar foi o cheiro de café, mas não era o café de Sue. A segunda foi o peso de algo quente e confortável sobre mim. Demorei um segundo para perceber que era um cobertor.
Outro segundo para lembrar onde eu estava. Meu corpo estava dolorido por ter dormido naquela posição, espremida junto à Chloe na pequena cama. Mas foi quando me mexi que senti algo ainda pior. O olhar de Edward em mim.
Abri os olhos devagar, como se isso fosse de alguma forma atrasar o inevitável, e lá estava ele, sentado na poltrona ao lado da cama, segurando uma xícara de café, me observando com uma expressão que eu não soube decifrar. Meus músculos enrijeceram, porque, por um segundo – apenas um segundo –, senti como se ainda estivesse presa na noite passada.
Como se aquele momento entre nós ainda estivesse pairando no ar. E, de certa forma, estava. Edward não disse nada de imediato. Ele só olhou, como se estivesse esperando para ver qual versão de mim encontraria hoje. Seria a Bella que fugiria do que aconteceu? Ou a que finalmente admitiria que algo entre nós mudou? E eu queria, de verdade, poder dizer que tinha essa resposta. Mas eu não tinha.
Engoli em seco, tentando afastar a tensão crescente dentro de mim. Me virei para olhar Chloe. Ainda dormindo tranquilamente. Pelo menos isso. Ajeitei o cobertor sobre ela com cuidado, usando isso como desculpa para não encarar Edward. Ele percebeu.
— Dormiu bem? — perguntou, com a voz baixa, ainda rouca pelo sono. Ele tinha dormido aqui?
Fiquei surpresa pelo fato de que… sim. Eu tinha dormido bem, pela primeira vez em algum tempo, na verdade. E isso era um problema porque, depois de tanto tempo, eu adormeci sem um peso sobre mim, porque ele estava lá.
— Eu… sim — murmurei, sem saber bem como lidar com isso.
Edward assentiu devagar, como se estivesse absorvendo minha resposta. E então, fez algo que me desarmou completamente. Estendeu a caneca para mim.
—Trouxe café para você.
Simples, direto, mas de um jeito que me atingiu em cheio. Porque Edward sabia que, depois de acordar, eu sempre precisava de café para funcionar. Sabia que eu gostava do cheiro antes mesmo de dar o primeiro gole. Sabia que eu provavelmente precisaria de algo para me ancorar na realidade depois da noite anterior.
Meus dedos hesitaram por um instante antes de pegarem a caneca. O toque foi breve, mas foi o suficiente para sentir a eletricidade ainda presente entre nós. Eu sabia que ele também sentiu, vi nos olhos dele.
Mas Edward não comentou. E, por um instante, essa ausência de palavras foi mais intensa do que qualquer coisa que ele pudesse ter dito.
Levei a caneca aos lábios, tentando me concentrar no calor do café, que sempre me ajudava a despertar. E talvez eu tenha esperado que ele recuasse, que apenas me deixasse processar tudo no meu tempo.
Mas Edward não era assim, não mais.
— Sobre ontem à noite…— começou, a voz baixa, calculada.
Meu estômago revirou, querendo devolver o café. Eu sabia que ele traria isso à tona, mas saber não tornava as coisas mais fáceis.
Edward esperou, atento a qualquer reação minha. E então, porque eu era uma covarde quando se tratava dele, fiz a única coisa que sabia fazer bem: fugi.
— Precisamos focar na Chloe agora — minhas palavras saíram rápidas, como se, se eu falasse depressa o suficiente, ele desistisse.
Mas Edward não desistia fácil, e eu deveria saber disso. Os olhos dele analisaram cada detalhe do meu rosto, como se estivesse me estudando. Depois de um instante, ele soltou um suspiro.
E, para minha surpresa, não insistiu. Não agora, pelo menos.
— Certo — sua resposta foi simples, mas havia uma promessa silenciosa por trás dela, de que essa conversa ainda não tinha acabado.
Ele só estava me dando um respiro. Por enquanto. E talvez fosse isso que mais me assustava. Porque, agora, eu não sabia se queria que ele desistisse de nós.
O resto da manhã se desenrolou de forma estranhamente normal. Ou, pelo menos, tão normal quanto poderia ser depois da noite anterior.
Chloe acordou um pouco mais tarde, ainda um pouco febril, mas claramente melhor do que antes. Seu sorriso sonolento quando abriu os olhos me fez soltar um suspiro aliviado.
— Mamãe! Você veio! — a voz dela estava rouca pelo sono, e percebi que ela não lembrava da minha chegada.
Passei os dedos pelos seus cabelos bagunçados e assenti.
— Vim, sim. Nós ficamos aqui a noite toda.
O plural saiu antes que eu pudesse evitar. E, como se soubesse disso, Edward – que estava encostado no batente da porta, observando a cena – sorriu de leve. Abaixei os olhos antes de ele perceber que eu tinha notado. Eu não podia deixar minha mente vagar para aquele território perigoso de novo.
Então, fiz o que precisava fazer. Foquei em Chloe.
A manhã passou com pequenos momentos de normalidade. Um banho morno para ela com a ajuda de Esme, algumas torradas e suco, que ela aceitou sem muita resistência. Um rápido exame de Carlisle, que não encontrou nada de errado, mas nos orientou a monitorar.
E, durante todo esse tempo, Edward se manteve perto. Ele não tentava trazer à tona a noite anterior, não fazia perguntas desconfortáveis, mas estava lá, sempre por perto. E isso, de alguma forma, era pior.
Porque, mesmo quando eu tentava fingir que tudo estava como antes, meu corpo ainda sentia a presença dele. O jeito como ele ficava perto o suficiente para que eu soubesse que estava ali. O jeito como seus olhos me observavam, atentos, estudando cada movimento meu.
E, principalmente, o jeito como ele não estava mais escondendo nada. Edward não tinha pressa, mas ele não ia recuar, e eu não sabia lidar com isso.
Depois do café da manhã, Chloe quis deitar no sofá da sala. Ela estava melhor, mas ainda sonolenta, então sugeri que assistíssemos a um desenho enquanto ela descansava.
Foi uma boa ideia. Até que não foi mais. De alguma forma, acabei sentada no sofá, com Chloe encolhida ao meu lado, sua cabeça repousando no meu colo. E Edward? Ele estava ali também.
No outro canto do sofá, o braço apoiado no encosto, o corpo relaxado – mas seus olhos sempre em mim. Era uma armadilha silenciosa. Do tipo que eu não sabia como evitar, porque a cena toda era perigosa demais, intimista demais.
Eu e Edward. Juntos. No sofá. Nossa filha entre nós, dormindo tranquila. Como se fôssemos uma família. Engoli em seco, mas Edward percebeu.
— Você está muito quieta — sua voz foi baixa, apenas para mim.
Fechei os olhos por um segundo antes de encará-lo.
— Só estou cansada.
Ele arqueou uma sobrancelha, claramente não comprando minha desculpa. Mas, como antes, não pressionou, apenas observou. E essa paciência dele estava me matando.
Porque, por mais que eu tentasse me convencer de que o melhor a fazer era ignorar o que aconteceu, Edward sabia que eu estava fugindo. E, pior do que isso… Eu sabia que ele não ia deixar que eu fugisse para sempre.
