Santuário – Escadarias de Capricórnio
Atenas - Grécia
03:27 AM

Mulder estava imóvel. O vento gelado da madrugada cortava sua pele, mas ele não sentia nada. Não sabia quanto tempo estava ali, sentado nos degraus de pedra, encarando o nada. O silêncio ao redor parecia zombar dele. Horas depois e seu corpo ainda pulsava com a lembrança de quão perto tinha chegado.

—Droga. Droga. Droga.

Ele fechou os olhos, apertando as mãos nos joelhos. O som de passos o fez erguer a cabeça. Ele piscou, tentando focar. Era Milo. —Que ótimo — pensou.

O cavaleiro parou ao lado dele, mãos nos bolsos, olhando o horizonte.

"Não parece um lugar muito confortável pra passar a noite, agente."

Mulder bufou. "Não é."

Milo sentou-se ao lado dele, relaxado.

"Então por que tá aqui?"

Mulder exalou devagar, esfregando o rosto. Não queria responder. Milo arqueou uma sobrancelha.

"Quer que eu vá embora?"

Silêncio.

"Não."

Milo sorriu de canto. "Então fala."

Mulder não queria falar mas as palavras saíram antes que ele pudesse segurar.

"Eu quase fiz uma besteira hoje."

Milo ergueu a sobrancelha.

"Que tipo de besteira?"

Mulder riu sem humor. "O tipo que envolve fazer algo que eu queria muito... e depois não conseguir olhar no espelho."

Milo inclinou a cabeça, avaliando. Sabia que a agente Scully estava de volta. —Mas é claro...

"Ela queria?"

Silêncio. Mulder passou a língua pelos lábios, inquieto. Milo viu e entendeu na mesma hora. Os olhos azuis de Escorpião brilharam com um interesse malicioso. Mulder sabia o que vinha a seguir.

Milo cruzou os braços, muito satisfeito.

"Ahhh..." O som saiu carregado de significado. "Então chegamos nesse nível?"

Mulder trincou os dentes.

Milo riu.

"Ah, cara. Agora eu entendi por que você tá aqui, nesse frio, com essa cara de quem foi atropelado por um cavalo."

Mulder fechou os olhos, respirando fundo. Claro que Milo não ia perdoar.

"Então deixa eu adivinhar... Você tava lá, tudo pegando fogo, ela pronta pra cair nos seus braços, linda com aqueles olhos brilhando, lábios entreabertos..."

Mulder engoliu em seco. Milo deu mais uma olhada geral no agente e percebeu. E riu ainda mais.

"Ah, não." balançou a cabeça — mas será possível? — "Você tá assim mesmo?"

Mulder se mexeu, incomodado. O riso se transformou em gargalhada.

"Agente Mulder! Aaah, não acredito nisso não..." Ele tentava segurar a risada "Cara, isso é sério?"

Mulder bufou, irritado.

"Eu não queria..." Ele passou a mão pelos cabelos. "Droga, mas que inferno!"

Milo arqueou a sobrancelha.

"Não queria? Não é isso que eu estou vendo... não queria ou não teve coragem?"

Silêncio.

Milo não precisava da resposta.

"Mas pelo amor da Deusa! O que vocês têm na cabeça?"

Mulder queria sumir. O Escorpiano continuou.

"Você acha que isso vai sumir? Que vai acordar amanhã e ela vai estar lá, sem lembrar do que aconteceu?" Milo não aguentou, riu de novo. "Nessa você já caiu, cara."

Mulder enterrou o rosto nas mãos. —Droga.

Milo se levantou, oferecendo a mão.

"Vem. Vamos pra minha casa."

Mulder franziu a testa "O quê?"

"Você não pode aparecer desse jeito na reunião e... isso faz mal, sabia?" Milo o puxou pelo braço. "Vai tomar um banho, recuperar alguma dignidade e talvez trocar essa cara de desgraça."

Mulder não protestou, o que mais faltava acontecer com ele naquele lugar?

xXx

Santuário – Salão do Grande Mestre
Atenas - Grécia
08:12 AM

A luz do sol entrava pelas colunas, criando sombras elegantes no chão de mármore polido. O salão parecia maior do que de costume, talvez porque o peso da discussão que viria a seguir fosse mais denso do que qualquer outra coisa.

Saori estava tensa. Quem a conhecia bem via isso. Camus, ao seu lado, não desgrudava os olhos dela. A jovem deusa ainda segurava um relatório, mas a maneira como seus dedos se fechavam em torno do papel deixava claro que sua mente não estava ali. Ela queria voltar para Saga. Queria estar no templo de Atena, onde seu cavaleiro mais problemático e devotado estava ferido. Mas sabia que precisava estar ali agora.

Mulder, por sua vez, estava sentado em silêncio, mas nunca esteve tão atento. Sua mente processava cada detalhe do que vinha acontecendo, cada peça do quebra-cabeça que se encaixava. Ele precisava de um foco. Ainda sentia os vestígios da noite anterior na pele, ainda conseguia ouvir a própria respiração trêmula quando se afastou no último segundo. Scully.

E então, eles chegaram.

Kanon veio primeiro, passos relaxados, olhos azuis afiados como sempre. Mas algo nele estava diferente. Shura sabia. O gêmeo de Saga carregava sempre um certo ar de imprevisibilidade, mas agora… havia algo mais.

E então, Scully entrou.

Mulder soube no mesmo instante que algo mudou. Era sutil. Mas estava lá.

O jeito como ela se movia, a forma como sua presença parecia... maior. A energia dela vibrava de um jeito que nunca vibrara antes. Não era só cansaço. Havia algo vivo nela, algo que antes estava contido, e que agora, de alguma forma, começava a escapar pelas rachaduras invisíveis da sua armadura.

Mulder sentiu.

Kanon também. Mas o que pegou Kanon não foi a sensação de mudança. Foi o impacto. Foi o súbito puxão no fundo da sua alma, um puxão que não vinha de sua própria consciência. Era algo externo e interno ao mesmo tempo. Algo que sussurrou em sua mente com um calor insuportável.

Poseidon. Aquele que ainda dormia dentro dele… queria. Um desconforto violento apertou seu peito, um instinto antigo, um desejo que não era seu. Ele não entendeu de imediato, mas soube no mesmo instante que isso era um problema.

Então, Scully olhou para ele. Foi como um choque.

Os olhos dela, um azul profundo e atento, sustentaram os dele por um segundo a mais do que deveria. E Poseidon, dentro dele, riu.

Kanon desviou. —Droga.

Saori pigarreou, chamando a atenção para si. "Para atualizá-los, a vigília teve avanços desde que Mu e Saga abriram o caminho."

Kanon cruzou os braços, tentando focar no que realmente importava. "E qual foi o preço disso?"

Aiolia estreitou os olhos. Máscara de Morte, encostado de forma relaxada na mesa, sorriu sem humor. "Ah, só quase desaparecerem pra sempre. Coisa pouca."

A expressão de Kanon escureceu. Ele odiava aquilo. Odiava quando Saga ultrapassava limites sem medir consequências. Mas isso não era o que mais o incomodava agora.

Scully pigarreou e tomou a palavra, trazendo os relatórios consigo. "Bem, como todos sabem, no Japão investigamos as amostras da substância que Mulder me injetou para reverter os efeitos da criogenia no Polo Sul."

A tensão de Mulder aumentou. Aquilo sempre o incomodaria.

"E também como todos sabem, concluímos que a vacina tinha uma composição que não era puramente humana."

Aiolia franziu a testa. "Certo. E vocês tiveram chance de checar se essas substâncias ainda estão no seu sangue, agente Scully? Como uma infecção ou algo assim?"

Scully balançou a cabeça. "Vacinas trabalham com vírus atenuados. Isso significa que a substância não continha apenas anticorpos, mas sim traços do próprio material extraterrestre. É possível que ainda estejam presentes no meu sistema, sim."

Os olhares ao redor se tornaram mais sérios. Máscara de Morte assobiou baixo.

Milo inclinou-se na cadeira, interessado. "E isso poderia ter a ver com o comportamento da criatura?"

Scully apertou os lábios. "Não sabemos. Mas se essa substância está dentro dela e dentro de mim..."

Mulder completou, a voz baixa. "Então pode ter causado alguma mudança."

Os olhares se voltaram para Scully. Agora todos estavam olhando para ela. Kanon sentiu o arrepio percorrer sua espinha.

Poseidon sussurrou. —Ela já está mudando.

Kanon endureceu a expressão.

"Se queremos entender o que essa substância realmente faz," ele retomou, sem olhar diretamente para Scully, "vamos precisar buscar mais amostras e mais análises."

Scully assentiu. "Precisamos voltar ao Japão."

Mulder travou. A raiva não veio. Mas a frustração explodiu. Ele segurou a borda da mesa com força.

Saori deixou escapar um suspiro cansado. "Então, que seja assim. Mas tomem cuidado." Ela se levantou, encerrando a reunião. Camus a seguiu, murmurando algo que ninguém ouviu, mas que a fez assentir levemente. Os demais começaram a se dispersar, discutindo os próximos passos.

Kanon não se moveu imediatamente. Ele olhou para Scully, depois para Mulder. O jogo ainda estava só começando.

E Kanon odiava admitir…

Mas não era mais ele quem estava jogando.

xXx

Santuário – Casa de Virgem
Atenas - Grécia
09:24 AM

O silêncio dentro do templo era absoluto, interrompido apenas pelo som brando do vento que entrava pelas colunas. Shaka estava sentado no centro da sala, imerso em meditação, mas qualquer um que o conhecesse bem o suficiente saberia que ele não estava em paz. Seu cosmo pulsava instável, como se tentasse se manter contido e falhasse em alguns momentos. O peso da preocupação por Mu estava se transformando em algo mais pesado, um tipo de inquietação que ele não sabia nomear.

E então, como um trovão interrompendo a tranquilidade de um céu nublado, Aldebaran entrou.

O cavaleiro de Touro era uma força de presença difícil de ignorar. Seus passos firmes ecoaram no salão e, sem qualquer cerimônia, ele parou ao lado de Shaka, cruzando os braços.

"Você vai desmaiar aí ou vai deitar num lugar decente?"

Shaka abriu os olhos devagar. O olhar dourado de Aldebaran pousava sobre ele com algo entre paciência e determinação.

"Eu não preciso descansar." A voz de Shaka saiu controlada, mas Aldebaran ergueu uma sobrancelha.

"Não?" Touro apontou com o queixo para Mu, que repousava em um dos aposentos internos. "Porque o Mu está dormindo, e aposto que se fosse o contrário, você estaria se descabelando por ele."

Shaka manteve-se impassível. "Eu estou cuidando dele."

Aldebaran bufou, balançando a cabeça. "E quem tá cuidando de você?"

Shaka manteve o silêncio. Aldebaran riu de leve.

"Olha, Virgem, não sou de discutir limite nem tamanho de poder, mas vou te dizer uma coisa: cansaço não escolhe iluminado. Você já passou do seu limite, tá na cara."

Shaka respirou fundo, claramente exasperado. Mas Aldebaran não era do tipo que recuava quando via alguém se destruindo daquele jeito.

"Se você cair agora, Mu vai acordar sozinho e vai querer cuidar de você. E então? Você acha que vai ser útil pra ele?"

Shaka crispou levemente os lábios, o incômodo visível. Aldebaran sabia que acertou o ponto fraco.

"Me deixa cuidar do Mu agora." O tom de Aldebaran agora era mais tranquilo. "Você já fez o que podia. Agora descansa, pelo menos um pouco."

Shaka desviou o olhar. Não queria ceder, mas sabia que Aldebaran tinha razão. E, acima de tudo, sabia que Mu não ficaria sozinho. Finalmente, ele soltou um suspiro.

"Só uma hora."

Aldebaran sorriu de canto. "Ótimo. Começa agora."

Shaka levantou-se sem discutir mais e saiu para os aposentos internos. Aldebaran ficou para trás, observando Mu, que ainda dormia profundamente. O cavaleiro de Touro cruzou os braços e respirou fundo.

"Você dois vão me dar um trabalho..."

xXx

Santuário – Chalé de Capricórnio
Atenas - Grécia
11:52 AM

O silêncio dentro do chalé era denso, quase sufocante. Depois da reunião e de conversarem mais um pouco com os outros cavaleiros sobre tudo que discutiram, Mulder e Scully voltaram juntos ao chalé, acompanhados por Shura. A necessidade de algum descanso era evidente. Enquanto caminhavam até conversaram, com os agentes querendo saber sobre a saúde de Saga e Mu. Os dois ouviram atentamente as explicações de Shura, mas a tensão que pairava entre eles era evidente. Não se olhavam diretamente, suas respostas eram curtas, e Capricórnio percebeu que qualquer intervenção da parte dele seria inútil.

Ao chegarem, o cavaleiro os deixou, alegando que precisava descer para Áries. Assim que a porta se fechou atrás dele, Mulder soltou um suspiro e passou a mão pelos cabelos, afundando-se no sofá. Scully, por outro lado, não disse nada. Apenas caminhou até a mesa e organizou alguns papéis que trouxera da Fundação Graad.

O ambiente estava quente. Ou será que era só impressão dela? Sentia a pele quente, o corpo desconfortável dentro das roupas, como se estivesse envolta em eletricidade estática. Sem pensar muito, descalçou as sandálias e tirou o cardigan, ficando apenas com a blusa de alças leves e a calça fluida que usava. Decidiu que o sofá também estava quente demais, preferia ler enquanto circulava pela sala.

Mulder, ainda no sofá, observou o movimento. Não era intencional, mas seu olhar foi atraído por ela. Pelo jeito como os músculos dos ombros dela se moviam, pela curva delicada do pescoço, pelo modo como a luz da janela parecia brincar na pele dela. Sentiu um nó apertado na garganta. Definitivamente estava ficando cada vez mais difícil dividir o mesmo espaço sem sentir reações completamente descontroladas, o que teria acontecido com seu autocontrole? Já estava se sentindo um animal.

Scully percebeu. E sentiu o calor aumentar.

"Tem algum problema, Mulder?" A voz dela veio firme, mas levemente arrastada.

Ele piscou, demorando um segundo para reagir. "O quê?"

"Você tá me olhando como se quisesse me dizer algo." Ela cruzou os braços, desafiando-o.

Mulder forçou uma risada curta, tentando se recompor. "Não sei do que você tá falando."

Scully inclinou a cabeça, estreitando os olhos. "Ah, sabe sim." A paciência dela estava bem pouca, o que era compreensível.

E então, algo mudou. O ar entre eles ficou pesado, carregado. Nenhum dos dois desviou o olhar.

Mulder se levantou devagar, sentindo o próprio corpo pulsar com uma energia que não sabia de onde vinha. O tempo pareceu desacelerar. Ele deu um passo na direção dela, e ela não se moveu. Não piscou. Não recuou. A respiração acelerada, as pupilas dilatadas... Era como se algo mais forte do que eles prendesse os dois naquele momento, segurando-os no limite de algo irreversível.

O ar estava quente demais. Scully prendeu a respiração. Não sabia se esperava que ele recuasse ou avançasse. Mas esperava algo. E então...

Ele pareceu cair em si e deu um passo para trás.

Scully sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.

O sangue dela fervia. O desejo, a frustração, a tensão acumulada... tudo aquilo queimar por dentro e não ter vazão. Não tinha mais controle, não sabia mais onde colocar as mãos, para onde olhar, como respirar normalmente.

Ela não conseguia ficar ali dentro. Não conseguia olhar para ele sem sentir que iria explodir.

Virou-se abruptamente e saiu, quase correndo para fora do chalé.

Mulder não a seguiu. Apenas ficou ali, sentindo o gosto amargo da própria covardia.

xXx

O vento soprava forte no topo do penhasco. O céu era de um azul profundo, e o calor do sol deveria ser acolhedor, mas para Scully, não era.

Ela estava em chamas.

Cada fibra de seu corpo vibrava, sua pele formigava como se estivesse elétrica, seu coração batia tão forte que ela conseguia senti-lo pulsar contra as costelas. Nunca se sentiu assim antes. Nunca esteve tão próxima de perder o próprio controle.

Era insuportável.

Ela inspirou com força, tentando encher os pulmões de ar fresco, mas o oxigênio parecia pesado. O calor não diminuía. O desejo, latente, febril, a corroía de dentro para fora. Ela não sabia o que fazer com isso. Então, ouviu passos atrás de si.

"Perigoso ficar tão perto da borda, agente."

A voz veio calma, mas carregada de algo denso. Algo perigoso.

Scully se virou devagar e encontrou Kanon parado ali. O vento bagunçava os cabelos escuros, o sol criava reflexos dourados em sua pele, e os olhos azuis estavam cravados nela com uma intensidade impossível de ignorar. Ela piscou, tentando recobrar a razão.

"Você me seguiu?" A pergunta saiu quase como um sussurro.

Ele sorriu de canto. "Digamos que senti sua presença."

Scully passou as mãos pelos braços, como se tentasse conter um arrepio. Mas não era frio o que sentia. Era outra coisa. Algo que a fazia se sentir à beira de um precipício muito maior do que aquele em que estava.

Kanon percebeu. Os olhos dele analisaram cada nuance dela. A respiração acelerada. Os lábios entreabertos. O rubor quente que coloria sua pele. Então, como se um choque percorresse seu corpo, ele sentiu.

O calor dela. O desejo latente. A necessidade sufocante que a tomava. Aquilo o atingiu como um soco. Seu próprio sangue ferveu. Sua pulsação acelerou, o instinto rugiu em seu peito como uma fera despertando. Mas não era só ele.

Era algo além. Algo dentro dele.

Poseidon.

A onda avassaladora do Deus explodiu dentro de seu peito, inundando seus sentidos, arrastando-o para o fundo como uma corrente impossível de resistir. Kanon recuou um passo. Mas não foi o suficiente.

"Droga..." ele sussurrou, entre dentes.

Scully franziu a testa. "O que foi?"

Ele ergueu os olhos para ela.

E Poseidon assumiu.

Os olhos de Kanon escureceram, as íris azuis brilhando como o oceano sob a lua. Sua presença ficou maior. O ar ficou mais pesado.

O corpo de Scully estremeceu antes mesmo que ele a tocasse. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas sentia. Algo dentro dela respondia a ele de uma forma primitiva, cruel, inevitável.

Poseidon deu um passo à frente. O sorriso que surgiu nos lábios dele era lento, calculado. Sua mão ergueu-se, e os dedos longos tocaram o rosto dela com uma suavidade que não combinava com a intensidade do olhar. O toque foi frio. Diferente. Quase etéreo.

E Kanon sentiu tudo. Ele estava ali. Ele via. Os músculos de seu próprio corpo não lhe obedeciam. Ele queria recuar, afastar a mão que Poseidon estendia para a mulher diante dele. Mas era inútil.

Scully arfou. O calor dentro dela explodiu em resposta. Ela fechou os olhos, o rosto inclinando-se sutilmente para o toque. O desejo cresceu até um ponto insuportável, e então...

Dissipou-se.

Como uma onda que recua antes de quebrar na praia.

A febre não se apagou, mas foi segurada. Contida. Como se Poseidon estivesse brincando com ela.

Scully piscou, confusa, sentindo a respiração falhar.

"O que... o que foi isso?"

Ainda próximos, os lábios dele roçaram os dela, mas não foi um beijo. Foi uma provocação.

Um aviso.

"Você sentiu, não sentiu?" A voz dele veio como uma brisa quente, quase um sussurro.

Scully ainda estava tonta, os pensamentos turvos. Ela queria. Ela queria. —Mas queria o quê?

Poseidon inclinou a cabeça, observando-a como um rei que analisava um novo território a ser conquistado. Ele queria mais. Ele iria tomar mais. Mas então—

Kanon voltou.

O corpo dele enrijeceu, os olhos piscando como se tivesse acabado de emergir debaixo d'água.

Poseidon resistiu, tentou agarrar-se a ele como uma maré violenta, mas Kanon lutou. Ele segurou a mão que ainda tocava o rosto de Scully e afastou-se dela.

O ar ao redor esfriou. Poseidon rugiu dentro dele, furioso.

Mas Kanon não cedeu. Ele olhou para Scully. Ela parecia... perdida. Os olhos estavam marejados, as mãos trêmulas. Mas não havia alívio nela.

A febre ainda queimava.

Poseidon não a apagou, ele apenas fez com que ela quisesse mais.

—Droga.

Kanon cerrou os punhos, frustrado. Ele caiu na armadilha do próprio Deus. Inspirou fundo e olhou para ela uma última vez.

"Vamos sair daqui."

Scully piscou, como se estivesse voltando à realidade. Ela assentiu lentamente.

Kanon a pegou pela mão e a guiou de volta pelo caminho de pedras, em silêncio. Dentro dele, Poseidon ainda sorria, vitorioso. Porque ele sabia. Ele sentia.

Aquilo não terminaria ali.

TO BE CONTINUED...