Mai deveria ter percebido como era tolice fazer amizade com alguém como ele. Alguém que havia sido deixado para trás muitas vezes, alguém que se agarrava à raiva porque era a única coisa que tornava o vazio suportável.

Mas ela queria acreditar em Ichiya. Ela queria mostrar a ele que havia mais no mundo do que a dor do abandono. Talvez, em uma cruel ironia, ela tenha se tornado seu maior sofrimento.

Quando ela disse que estava saindo, ele riu. Não era um som agradável. Ele cruzou os braços, inclinando a cabeça como se ela tivesse acabado de lhe contar a piada mais absurda.

"Oh, isso é engraçado. Isso é muito engraçado. Então, o que, depois de tudo, você vai me deixar? Quem diria. Mas isso é o que as pessoas fazem, não é?" Sua voz era afiada, zombeteira, mas por baixo dela havia algo de sofrimento.

Mai tentou explicar, dizer a Ichiya que não era pessoal, que era assim que a vida funcionava. Seus pais se mudariam para o exterior a trabalho, e ela não poderia simplesmente ficar, poderia? Mesmo que ela decidisse permanecer no Japão, ela teria que se mudar para um internato, talvez para longe de Tóquio, e que diferença isso faria?

Mas isso só piorou as coisas. Então ele nunca foi especial? Ele era apenas mais uma parada fugaz em sua jornada sem fim? Alguém por quem não vale a pena lutar? A percepção fez algo amargo subir em sua garganta, fez seus dedos se contorcerem com a vontade de atacar, de quebrar algo, qualquer coisa, que a fizesse entender o que ela fez com ele.

Sua expressão escureceu e, antes que ela pudesse reagir, o próprio vento se voltou contra ela. O mundo ficou embaçado, a ausência de peso ultrapassando-a enquanto seu corpo era levantado do chão. Um suspiro mal saiu de seus lábios antes que ela fosse jogada de volta para baixo, presa no lugar por uma força invisível. Seus olhos brilhavam, frios e inflexíveis, enquanto ele pairava sobre ela.

"Não." Ele disse simplesmente.

Não foi um apelo. Não foi um pedido. Foi um comando, absoluto e final.

"As pessoas me deixam. Eles sempre me abandonam. Mas você não vai." Ele murmurou, a voz mais baixa, mas não menos perigosa. Seus dedos se enrolaram em torno de seu pulso, seu aperto apertado, implacável. "Eu não vou deixar você ir."

E Ichiya fala sério. Mai não vai embora. Seja pela força, manipulação ou algo muito pior, ele se certificará disso. Ele estava cansado de ser abandonado.