Esclarecimento: Só reiterando que esta história não me pertence, ela é uma adaptação do livro de mesmo nome, de Lynne Graham, que foi publicado na série de romances "Paixão", da editora Harlequin Books.


Capítulo 9

- Você está bem ? - Naruto perguntou, estacado no vão da porta do banheiro, exibindo feições preocupadas no rosto bonito e bronzeado. Hinata se mantinha debruçada sobre a pia e, com uma das mãos, acenava para que ele se afastasse - Eu vou chamar o médico.

- Não é preciso chamar nenhum médico - ela protestou, enquanto refrescava o rosto.

Sua voz soava estridente porque, a cada dia que se passava, ela ficava cada vez mais nervosa. Seu período menstrual estava atrasado há mais de uma semana e seus seios começaram a aumentar e se tomar doloridos ao toque. E o pior eram os ataques de náusea que a acometiam várias vezes ao dia sem nenhuma razão aparente. Ela já começava a desconfiar da razão mais óbvia para os males que a afligiam, mas temia aceitar que seu raciocínio estivesse correto.

Ignorando as objeções de Hinata, Naruto retornou ao quarto e ligou para o chefe da tripulação. Ordenou que ele se encarregasse de contatar um médico que viesse até o iate o mais rápido possível para atender sua esposa.

Hinata mantinha uma cor tão pálida no rosto que Naruto estava certo de que ela havia contraído algum tipo de doença ou coisa parecida. Sentado na beirada da cama enquanto aguardava por Hinata, ele baixou os olhos para Mattie, o pequeno cachorro que abanava a cauda e clamava por atenção, e, finalmente, decidiu acariciar o bichinho para impedir que ele procurasse pela atenção de Hinata, que, no momento, não parecia estar em condições de atender outras necessidades que não fossem as dela mesma.

Havia mais de três semanas que ele a levara para um passeio em terra firme, quando o iate atracou no porto da cidade de Corfu e por acaso ela avistou um pequeno cachorro ferido e jogado num canto de uma calçada. Num minuto, ela estava ao lado de Naruto e, no instante seguinte, atravessando uma rua movimentada e arriscando a própria segurança para alcançar o animal e inclinar-se ao lado dele para verificar se ainda estava vivo.

Foi preciso atrasar a viagem para que o pequeno cachorro, que Hinata batizara de Mattie, fosse tratado por um veterinário local e assegurado de que o cãozinho estava perdido e abandonado. Apesar de Naruto ter visitado um abrigo de proteção aos animais e contribuído com uma generosa doação, Mattie, com seu olhar meigo e temperamento dócil, acabou por comovê-los a levá-lo com eles para o iate.

Naquele mesmo instante, Mattie correu para a porta do banheiro e começou a latir, ansioso para chamar a atenção de Hinata. Naruto conseguiu afastar o cãozinho do caminho e amparou a esposa para ajudá-la a chegar até a cama, apesar dos veementes protestos dela.

- Eu quero apenas que repouse um pouco, angil moy - Naruto insistiu, quase perdendo a paciência com a relutância infantil de Hinata - Pare de ser teimosa ! Você está doente e precisa descansar !

Na realidade, foi um verdadeiro alívio deitar-se confortavelmente e fechar os olhos para poder relaxar. Ela ainda se sentia atordoada pelas torturantes náuseas e a angústia de imaginar que poderia estar grávida do filho de um homem que tinha a intenção de ficar com seu bebê e descartar-se dela assim que tivesse a oportunidade. E Naruto tinha todas as garantias de ser bem-sucedido por conta do contrato e dos melhores advogados que o dinheiro pudesse pagar.

Naruto observou a palidez que Hinata exibia nas faces e a aparente fraqueza do corpo miúdo. Ele estava convencido de que ela havia perdido peso, e o apetite voraz que demonstrava antes já não era mais o mesmo. Ele estava começando a se preocupar seriamente com a fragilidade da esposa e a possibilidade de ela ter contraído alguma doença que a estivesse consumindo. Por um instante, se sentiu culpado por tê-la submetido a um ritmo de vida mais atribulado do que o que seria apropriado para alguém que possuísse um físico tão delicado como o de Hinata.

Naruto censurou-se mentalmente por sua natureza egoísta e recordou-se das inúmeras vezes que insistira em que ela o acompanhasse nas práticas de esqui e natação. No momento em que interrompeu o trabalho para tirar algumas semanas de férias, seu poderoso vigor o obrigava a exercer atividades físicas para suprir a ociosidade. Por conta disso, dentro e fora da cama, a lua-de-mel estava sendo ativa demais. Ele fazia questão da companhia dela em qualquer lugar que fosse, mesmo sabendo que Hinata pouco se interessava por pescarias ou partidas de futebol.

Por outro lado, às vezes ele a via vibrar de alegria quando faziam um piquenique modesto num gramado qualquer, onde pudessem desfrutar de uma vista panorâmica.

A voz de Hinata interrompeu-lhe os devaneios.

- Acho que estou sendo uma péssima companhia para você - ela suspirou, demonstrando fadiga até para falar - Aposto que sua primeira lua-de-mel foi bem mais excitante.

- Se considerar como excitante o fato de alguém ver a esposa embriagada o tempo todo, ou então com dor de cabeça por conta da ressaca e permanecer na cama até o anoitecer - revelou Naruto, com indisfarçável desgosto - Esse seu mal-estar ocasional não me aborrece, apenas me preocupa. O que é muito diferente das loucuras que Tayuya costumava cometer.

Hinata revirou-se na cama e, afundando um cotovelo no colchão, apoiou o rosto na palma da mão e perguntou com um olhar curioso:

- Você já não estava ciente de que sua ex-esposa gostava de bebidas alcoólicas antes de se casar com ela ?

- Eu estava com apenas vinte e dois anos e fiquei deslumbrado com uma garota alegre e descontraída que adorava festas e futilidades. Nosso casamento não passou de uma piada, e acabou antes mesmo da lua-de-mel terminar.

- Eu posso imaginar - murmurou ela com sinceridade. Hinata já havia notado que Naruto bebia muito pouco e apenas socialmente. Provavelmente a dolorosa experiência com a mãe alcoólatra e, depois, uma esposa que se comportava de maneira inconveniente por causa do mesmo vício, o deixara traumatizado de maneira irreversível.

- A sua compulsão por chocolates é algo muito fácil de aceitar, milaya moya - ele prosseguiu com um sorriso irônico. A maneira como ele curvou os cantos dos lábios sensuais era tão carismática que Hinata sentiu o coração bater mais forte.


Pouco menos de uma hora depois, um médico de meia-idade era trazido por uma lancha, do porto até o iate, para atender ao chamado de Naruto.

No instante em que o médico entrou na suíte master, Hinata insistiu para que Naruto lhe concedesse privacidade. E, embora ele demonstrasse claramente que a idéia não lhe agradava, ela conseguiu convencê-lo a sair por alguns momentos.

Assim que Naruto abandonou o aposento, Hinata não perdeu tempo em contar para o médico suas suspeitas sobre uma possível gravidez. Porém, pediu que, se isso fosse confirmado, ele não dissesse nada para o marido, pois ela mesma gostaria de dar-lhe a notícia pessoalmente.

Após examiná-la minuciosamente, o médico teve condições de afirmar com convicção de que realmente Hinata esperava um bebê. E, embora, ela achasse que estava preparada para receber a confirmação de suas suspeitas, o fato de ter certeza de que havia concebido um filho de Naruto a deixou em estado de choque.

Minutos após o médico terminar a consulta e retirar-se, Naruto retomou à suíte e, gesticulando com as mãos no ar, desabafou:

- O médico me disse que talvez se tratasse de uma virose que já foi debelada. Também afirmou que não devo me preocupar. Não consigo entender... ele não deveria ao menos prescrever algo para você tomar ?

- É exatamente como eu lhe disse. Não estou doente. Talvez um pouco estressada e nada mais - declarou e sentou-se na cama. Estendendo as pernas até colocá-las no chão, brincou com o cachorrinho que estava acomodado perto da cama, roçando, com as pontas dos pés, a pelagem macia do animal - Mattie é tão amoroso, você não acha ?

Naruto observou o pequeno animal se virar de barriga para cima a fim de ser acariciado pelos pés da esposa. Parecia que ela estava mais preocupada em afagar o cãozinho do que com sua própria saúde.

- Eu aconselho você a ficar na cama por mais um tempo e aproveitar para repousar - declarou, e estalou os dedos para instigar o cachorrinho a segui-lo.

Assim que Naruto saiu do quarto seguido por Mattie, Hinata ignorou o conselho dele e ergueu-se da cama. Vestiu uma roupa confortável e mirou-se no espelho grande posto em uma das paredes do aposento. Alisou, com as mãos, o ventre ainda plano e pensou no bebê que esperava do homem que não pretendia compartilhar a guarda do filho. Naruto não confiava em nenhuma mulher e tinha boas razões para também não acreditar nela. O que ela deveria fazer agora que tinha certeza de estar grávida e de que Naruto lhe tiraria o bebê ?

Sair correndo e passar a vida como uma fugitiva ?

Só de pensar no desapontamento que ele sentiria, ela ficou horrorizada consigo mesma. Após três semanas maravilhosas ao lado dele a bordo do Platinum, Hinata começara a admirar o homem que a tratava com tanto carinho. Também já estava se acostumando com a personalidade inconstante de Naruto. Às vezes, as súbitas explosões quando algo dava errado e, outras vezes, o riso encantador de imensa satisfação com coisas que o agradavam. Sem dúvida, ele era um homem acostumado a dominar e usar de seu poder quando precisasse, mas também era capaz de proporcionar as mais incríveis gentilezas que uma mulher pudesse desejar.

Mesmo com relação a Mattie, Naruto não havia concordado em manter o cachorrinho e até a censurara por ter perdido tanto tempo se preocupando com a recuperação do animal. Contudo, dia após dia, ela notou que a meiguice de Mattie foi vencendo a resistência de Naruto e ele acabou por afeiçoar-se ao animal de uma vez por todas. Por todas essas observações, ela se convencia de que, no fundo, Naruto era uma pessoa sensível e amorosa que procurava se esconder atrás de uma fachada fria para conseguir manter o autocontrole.

Com o passar dos dias, os enjôos foram diminuindo e Hinata começou a sentir-se fisicamente bem melhor. Naruto ainda não a tinha avisado de quando retornariam, porém, a julgar pela velocidade com que o Platinum navegava, ela supunha que já estivessem encerrando a temporada de férias.

Nas últimas semanas, Hinata tivera oportunidade de ligar para Sakura várias vezes e recebera notícias das crianças. Apesar de ter sido maravilhoso ter trocado notícias com a amiga, ela não se sentira confiante o bastante para contar a Sakura sobre a recente descoberta de que estava grávida de Naruto.


Quando o iate ancorou em um porto pitoresco no final da tarde, Hinata espiou por uma das janelas da suíte e perguntou, curiosa:

- Onde estamos ?

- Trata-se de uma surpresa - ele murmurou - Você está se sentindo bem o bastante para desembarcarmos e darmos um passeio ?

- Estou ótima... - ela respondeu e, abrindo os braços, rodopiou na frente dele. Os cabelos negros refletiam o brilho dos derradeiros raios de Sol, e a saia do vestido esvoaçante revelava uma parte das coxas sensuais.

Ela se esforçava ao máximo para esconder o nervosismo que sentia e, cada vez mais, se convencia de que a única opção viável seria se afastar de Naruto antes que ele descobrisse que ela estava grávida. Apesar de tudo, um lampejo de alegria a inundava quando pensava no bebê que estava gerando.

No instante em que eles desembarcaram do iate e se dirigiram para a marina a fim de receberem um visto de visita no país, ela exclamou:

- Eu não imaginava que nós iríamos visitar a Turquia !

- Não lhe ocorreu que não estávamos muito longe enquanto visitávamos as ilhas gregas ?

- Sinceramente, geografia nunca foi o meu ponto forte - confessou com um sorriso.


Após cumprirem as formalidades legais, eles entraram no carro que os aguardava e que Naruto havia contratado previamente. Após o veículo se desvencilhar das ruas movimentadas e iniciar a escalada sobre as colinas verdejantes e salpicadas de pequenas vilas ao longo do trecho, Hinata quis saber:

- Para onde estamos indo ?

- Visitar sua irmã - ele revelou finalmente.

- Você não pode estar falando sério !

- Por que não ? De qualquer maneira, eu teria que falar com Akemi.

- Mas ela está grávida - Hinata protestou com veemência - Não pode ser perturbada agora !

Ele a olhou com surpresa.

- Sua mãe não lhe contou ? Akemi perdeu o bebê - Hinata o fitou alarmada.

- Como sabe disso ?

- Konohamaru me contou. Sua mãe me forneceu o número do celular dele e eu conversei com ele algumas vezes para acertamos esse encontro. Sua irmã não sabe de nada. Akemi está reagindo de maneira muito temperamental, conforme Konohamaru declarou, e ele tem esperanças de que você possa melhorar o humor dela.

Pouco tempo depois, eles desciam do veículo em uma pequena pousada, de onde se podia vislumbrar a marina e o azul intenso do mar Egeu. Hinata caminhava com a musculatura tensa e o coração apertado por saber que Akemi havia perdido o bebê. Estava ansiosa para poder lhe oferecer o maior consolo que pudesse.

- Prometa-me que não irá dizer nada sobre o contrato - ela implorou - Konohamaru não sabe nada sobre isso.

Naruto assentiu, não demonstrando muita convicção, o que deixou Hinata preocupada. Apesar de ela perceber que ele parecia calmo e não exibia mais aquele olhar furioso quando tocava no assunto do contrato.

Um homem robusto e de cabelos castanhos se aproximou para recebê-los. Tratava-se de Konohamaru, que se apressou em conduzi-los até o terraço dos fundos do chalé, onde Akemi estava repousando sobre uma espreguiçadeira.

- Hinata ! Eu não acredito ! - exclamou a irmã assim que a viu.

Hinata conseguiu dizer em tom baixo o quanto estava sentida sobre a perda do bebê, antes de Akemi desviar a atenção para Naruto. E, assim que viu a irmã perfeitamente relaxada se desmanchar em risos por algo engraçado que ele dissera, a tensão que sentia começou a diminuir.

- Como ela tem passado ? - Hinata conseguiu perguntar de modo discreto para Konohamaru.

- Esse é o momento em que a estou vendo mais radiante do que nunca. Acho que a sua presença fez milagres. Eu sei que vocês são muito unidas.

Hinata refletiu por um momento e chegou à conclusão de que as coisas haviam mudado muito e ela já não se sentia tão apegada à irmã como costumava acontecer em outras épocas. Entretanto, seu principal objetivo agora era o de consolar a irmã naquele momento difícil. E decidira que não falaria nada sobre a própria gravidez para não lembrar Akemi do filho que sua irmã acabara de perder.


P. S.: E, a seguir, o último capítulo.