— Você precisa de tempo?
— Oi?!
— Hm, digo… você sabe, o Distrito.
Os dois estavam parados em frente ao portão principal que dava acesso ao antigo distrito dos Uchiha. Sasuke a encarou um tanto colérico e Hinata mordeu o lábio, encarando o nada, pensando no quão estúpida era.
— Desculpa… deixa pra lá.
Por um momento, Sasuke ponderou dizer alguma palavra de conforto como um "tudo bem", no entanto naquele momento se descobrira ser tão travado quanto a Hyuuga. Ele imaginou o som das palavras titubeando nas suas cordas vocais, sendo proferido pela sua boca. Anotou mentalmente de que aprender a se comunicar melhor seria o primeiro passo dado no seu caminho solitário de redenção.
Não foi preciso muito esforço para abrir o portão. Estava velho, enferrujado, caindo aos pedaços, tal qual tudo ali.
— Eu presumi que ficaria com a sua antiga casa. Então… fiz o que pude para deixá-la limpa.
— Agradeço.
Hinata olhou de soslaio, aliviada por conseguir uma mínima interação com o ex-nukenin. Embora aquela missão não requeresse taijutsu, para Hinata era desgastante mentalmente. Dúvidas pairavam sob sua mente. Ao passo que questionava constantemente seu êxito na missão, a perolada também estava insegura com a nova persona que estava tentando utilizar com Sasuke.
Entregou as chaves da residência para que o Uchiha pudesse abrir. A casa estava em bom estado, preservada, mesmo após tantos anos. Sasuke inspirou o ar, sentindo uma suave essência de frutas vermelhas.
"Agradável", diria. Bem melhor que o cheiro de mofo.
Ele se dirigiu à cozinha, colocando alguma das coisas que Hinata havia lhe dado em cima do balcão. A Hyuuga por sua vez, se dirigiu a todas as janelas no intuito de abri-las, tendo o cuidado de não danificar nada.
Uma corrente gelada de ar entrou pela última janela que Hinata abriu, Sasuke presumiu que iria chover mais tarde.
Letárgico, olhou para onde a jovem estava. A garota amarrava o cabelo num coque alto perto da janela. Os raios amarelados que refletiam na pele alva lhe davam uma sensação de nostalgia.
Hinata curvou sua boca num sorriso tímido, notara que o moreno a estava observando. Apático, os olhos ônix se viraram em outra direção. Suspirou frustrada, mordeu o lábio inferior e pensou no que fazer. A face delicada se transformou numa carranca assim que o moreno deu as costas.
"Paciência", pensou a Hyuuga, se colocando em seu lugar. Leva tempo para se construir algo, com relações não seria diferente.
Desde as cinco da manhã que Shikamaru estava de pé, pouco havia dormido no dia anterior. As grandes olheiras acinzentadas denunciavam seu estado caótico.
Não sabia que dia da semana era.
Terça ou quinta?
Todos os dias pareciam cansativos demais, tediosos demais. Ele estava vivendo no automático. E agora as coisas fizeram o favor de complicar ainda mais para o seu lado.
Preguiçosamente caminhou até a mesa de centro onde havia deixado sua xícara de café fumegante. Sorveu um gole, descuidado. Havia engasgado e de quebra também ganhado uma queimadura rente à clavícula.
— Quem quiser me derrubar essa semana vai ter que me levantar primeiro.
Ele riu sem humor algum do comentário sarcástico sobre si mesmo.
Uma pontada de preocupação atingiu seu peito. Como encontraria um meio de impedir Yashiro de ser o novo líder do clã Nara sem envolver um matrimônio forçado?
A reunião com os conselheiros do clã estava se aproximando.
Como que adivinhasse seus pensamentos, Yoshino apareceu na sala. O semblante antes rígido com o cenho sempre franzido agora deu lugar ao preocupado. Sua mãe tinha os ombros encolhidos, postura curvada, em nada lembrava a mulher que costumava ser. Shikamaru bem sabia como aquele assunto estava consumindo as forças da matriarca.
As sobrancelhas do moreno se ergueram e ele apresentou um meio sorriso. Uma confirmação de que ele daria um jeito naquela situação.
— Você volta a tempo do jantar, hoje?
— Não sei, Okaa-san.
— Gostaria que jantasse comigo hoje, filho…
Trabalhar em meio a toda aquela papelada tomava tanto tempo que às vezes Shikamaru ficava no escritório até as 2 da manhã.
— Vou tentar chegar mais cedo hoje, Okaa-san… conversaremos sobre aquele assunto.
Ele saiu sem esperar qualquer resposta por parte da mais velha, estressado e com a mancha de café na camisa.
Não era nem terça e muito menos quinta-feira.
O calendário marcava quarta.
