Edward

O telefone tocou no meu bolso, o som ecoando pela sala silenciosa. Eu estava sentado no sofá, observando Chloe, ainda de pijamas, brincar com um dos presentes que ganhou em seu aniversário, a risada suave dela enchendo o espaço com uma paz que parecia quase ilusória, depois de mais uma noite em família.

Mas bastou um olhar para o visor do celular para essa paz evaporar.

Jason Jenks.

Meu corpo ficou tenso. Era um nome que eu tentei esquecer depois de ler os e-mails do meu pai. Mas ele estava ali de novo, piscando na tela como um lembrete cruel de que o passado nunca realmente desaparece. Atendi.

— Senhor Cullen? — a voz do advogado era formal, impessoal, como se estivesse lidando com mais um caso burocrático, e não com o legado sujo que meu pai deixou para trás — Estou em Seattle, preciso que o senhor venha me encontrar. Temos documentos a tratar.

Meu maxilar travou. Eu já tinha lidado com tudo relacionado à morte dele. O testamento, os bens, a gestão do escritório. O que mais ele poderia ter deixado inacabado?

— Do que se trata, Jenks? — minha voz saiu mais áspera do que eu pretendia.

O advogado hesitou por um segundo.

— É algo que só pode ser discutido pessoalmente.

Ao meu lado, senti Bella se movimentar no sofá. Meu tom tinha chamado sua atenção. Quando olhei para ela, seus olhos castanhos já estavam cravados nos meus, cheios de perguntas silenciosas.

— Eu não tenho mais nada para resolver em relação a isso — minha resposta foi fria, definitiva, mas o advogado não se abalou.

— Recomendo que venha, senhor Cullen. Pode ser algo importante.

A ligação foi encerrada e o silêncio se arrastou por alguns instantes. Bella me observava com uma expressão séria, sua preocupação evidente.

— Era sobre o seu pai, não era?

Assenti lentamente.

— Ele está morto, Edward. O que mais ele pode ter feito?

Essa era a pergunta que me assombrava.

Na tarde daquele mesmo dia, Bella e eu fomos até Seattle atrás de respostas. Jenks queria que eu o encontrasse no escritório de um sócio, mas eu não era burro. Faríamos as coisas em público e pedi para que o encontro fosse em um restaurante.

Pedi à hostess que nos direcionasse a um espaço reservado e esperamos. Bella estava ao meu lado, a postura rígida, como se estivesse pronta para se defender de qualquer coisa que pudesse surgir dali. Eu me sentia da mesma forma.

Poucos minutos depois, o advogado surgiu pela porta e, ao sentar, nos entregou um envelope selado e se recostou na cadeira, cruzando os dedos sobre a mesa.

— O senhor Cullen iniciou um processo antes de falecer. Algo que não chegou a ser concluído, mas que ainda está nos registros e agora, cabe ao senhor decidir qual será o próximo passo.

Peguei o envelope e, com um nó na garganta, rasguei a lateral. Dentro, havia uma pilha de documentos oficiais. Meu olhar varreu rapidamente as folhas, mas uma parte em específico fez meu sangue gelar.

Titular da conta: Chloe Elizabeth Swan.

— Que merda é essa? — minha voz saiu cortante.

Bella pegou os papéis das minhas mãos e, conforme lia, vi a cor sumir de seu rosto.

— Ele deixou uma conta bancária para ela? — sua voz estava baixa, quase um sussurro.

— Não apenas isso. Ele abriu um pedido para torná-la herdeira. O processo já estava em andamento, só não foi concluído porque ele faleceu antes que pudesse assinar a última documentação — o advogado se inclinou para frente.

O ar ao meu redor pareceu sumir. Ele queria transformar Chloe em uma Cullen, mas eu não poderia saber da existência dela. O que ele estava planejando?

A raiva fervia dentro de mim, ameaçando explodir. Eu me levantei bruscamente da cadeira, com as mãos fechadas em punho ao lado do corpo. Eu sabia que ele era mau, eu sabia da influência que ele tinha, da forma como conseguia manipular até as leis a seu favor, mas isso… Esconder minha filha de mim enquanto fosse possível. Isso era diabólico.

— Por que ele faria isso? — a pergunta era mais para mim que para o advogado, mas ele respondeu mesmo assim.

— Isso, Sr. Cullen, é algo que só seu pai poderia responder.

Bella largou os papeis sobre a mesa e levantou.

— Isso é demais pra mim, Edward. Vamos embora daqui.

— Sr. Cullen, por favor… Leve estes documentos — o advogado estendeu outra pasta — E me ligue se precisar de alguma coisa.

O caminho de volta para casa foi tenso. Bella olhava enquanto o sol se punha pela janela do carro, os braços cruzados, como se estivesse tentando se proteger de alguma coisa. Eu tinha pedido que Rosalie saísse com Chloe, assim ela não nos veria chegar naquele estado. Assim que entramos em casa, ela finalmente quebrou o silêncio.

— Eu não consigo entender.

— Eu também não.

— Mas e se houver mais? — sua voz vacilou. Ela se virou para mim, os olhos brilhando com emoções conflitantes — E se ainda existirem outras coisas que ele fez, outras coisas que a gente nem sabe?

Eu passei a mão pelo cabelo, sentindo o peso esmagador daquela possibilidade. Ela riu sem humor antes de falar novamente.

— Você não entende, Edward? Você confiou nele. E eu perdi você por anos por causa disso. O que mais há para descobrir?

Foi como um soco no estômago.

Eu me aproximei lentamente. Bella não recuou, mas sua respiração acelerou quando minha mão tocou seu rosto.

— Eu estou aqui agora — minha voz saiu rouca, carregada de sentimentos não ditos — Eu não vou mais a lugar nenhum.

Bella fechou os olhos, como se estivesse lutando contra algo dentro dela. Então, sem aviso, ela se lançou contra mim.

Não havia espaço para hesitação, para dúvidas. O beijo era intenso, urgente, quase desesperado, como se ela quisesse apagar tudo que aconteceu antes desse momento. Como se quisesse me sentir, me ter, reafirmar que eu era real e que estava aqui — com ela.

Eu a puxei para mais perto, os dedos deslizando por sua cintura e subindo devagar até suas costas. O corpo dela estava quente contra o meu, os músculos tensos como se ainda carregasse o peso do choque daquele dia.

Bella arfou contra meus lábios quando minhas mãos deslizaram para dentro da blusa, sentindo sua pele nua e macia sob meus dedos.

— Edward... — sua voz saiu como um suspiro.

Havia algo diferente na maneira como ela me tocava dessa vez. Suas mãos tremiam ligeiramente enquanto subiam pelo meu peito, agarrando o tecido da minha camisa como se precisasse se segurar em algo concreto. Como se eu fosse a única coisa que a impedia de ser levada pela maré de emoções. Eu queria ser essa âncora. Queria que ela soubesse que estava segura comigo.

Abaixei minha testa contra a dela por um instante, tentando recuperar o controle da respiração.

— Você está bem? — minha voz saiu rouca, carregada de desejo, mas também de preocupação.

Os olhos dela estavam brilhando, as pupilas dilatadas. Ela mordeu o lábio, hesitante por um segundo, mas então balançou a cabeça em confirmação. Aquilo foi tudo o que precisei.

Minhas mãos deslizaram por seus braços, descendo até suas coxas antes de eu segurá-la pela cintura e erguê-la no ar. Bella soltou um pequeno gritinho quando seus pés deixaram o chão, suas pernas automaticamente se fechando ao redor da minha cintura. Sem romper o beijo, a carreguei pelo corredor, meus lábios deslizando para seu pescoço enquanto sentia os dedos dela entrelaçados em meu cabelo. O quarto estava escuro, iluminado apenas pela luz fraca do abajur na mesa de cabeceira.

Deitei Bella na cama, pairando sobre ela por um momento. Sua respiração estava acelerada, e havia algo na maneira como me olhava — como se estivesse vendo não apenas o homem que a desejava, mas o homem que a amava, que nunca quis deixá-la.

Meus dedos traçaram uma linha delicada de seu maxilar até a base do pescoço, descendo lentamente até o botão de sua blusa. Bella se mexeu, mordendo o lábio antes de sussurrar:

— Edward, eu preciso de você. Agora.

Aquelas palavras me atingiram direto no peito. Com movimentos cuidadosos, desfiz os botões da blusa, deslizando o tecido por seus ombros, revelando sua pele quente sob a luz suave. Minha boca seguiu o mesmo caminho dos meus dedos, deixando beijos lentos e suaves por onde passava.

Bella arqueou levemente as costas quando desci os lábios até sua clavícula, os dedos dela deslizando por meus braços em um toque que fez meu corpo inteiro reagir.

Ela me puxou para mais perto, como se quisesse diminuir qualquer distância que ainda existisse entre nós. E eu queria o mesmo.

As roupas desapareceram aos poucos, mas sem pressa, sem uma urgência vazia, cada toque era carregado de significado. Cada beijo era um lembrete de que estávamos aqui, agora, juntos, depois de tanto tempo perdidos um do outro.

Quando finalmente nos tornamos um, Bella enterrou o rosto na curva do meu pescoço, soltando um suspiro entrecortado. Meus dedos se entrelaçaram aos dela ao lado de sua cabeça, segurando-a como se pudéssemos ficar assim para sempre.

Nos movemos juntos, lentamente no início, absorvendo a sensação da pele, do calor, do encaixe perfeito. Mas então Bella fixou os olhos nos meus, e tudo mudou. O ritmo ficou mais intenso, mais profundo. Não era apenas paixão, era necessidade. Cada toque, cada suspiro, cada olhar dizia o que as palavras nunca poderiam expressar.

— Minha — sussurrei contra sua pele.

Bella apertou os olhos por um instante, como se aquelas palavras a atingissem com a mesma intensidade do nosso contato.

— Sua. Para sempre.

Isso foi o suficiente para me fazer perder o controle.

Quando finalmente descansamos um contra o outro, a respiração ainda descompassada, senti Bella traçar pequenos círculos em minhas costas com as pontas dos dedos. Fechei os olhos, absorvendo a sensação, tentando gravar aquele momento na memória.

Nada lá fora importava agora. Meu pai poderia ter tentado nos atingir o quanto quisesse, o quanto tivesse planejado, mas estava morto. Chloe estava em segurança. Não havia nada que ele pudesse fazer agora. Qualquer coisa que viesse pela frente, nós seríamos capazes de enfrentar.

O quarto estava mergulhado em penumbra quando abri os olhos. A única fonte de iluminação era uma luz suave que passava por debaixo da porta, tingindo o chão com um brilho dourado. Nós caímos no sono e eu lembraria de agradecer Rosalie por não ter nos acordado e qualquer outra coisa que ela tenha feito para entreter a minha filha.

Bella estava ao meu lado, os lençóis bagunçados cobrindo apenas parte de seu corpo nu. Seu rosto estava relaxado, os longos cílios descansando contra as maçãs do rosto. Por um instante, eu apenas fiquei ali, observando-a.

A quietude daquele momento parecia preciosa, como se estivéssemos isolados do resto do mundo —um mundo que, inevitavelmente, voltaria a nos puxar para sua realidade cruel.

Deslizei os dedos pelo seu braço, um toque leve, mas que a fez se mexer levemente. Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios antes mesmo de abrir os olhos.

— Você está me olhando — sua voz estava rouca de sono, e eu sorri.

— Sim.

Bella suspirou, virando-se para o meu lado da cama. Seu peito nu encostou no meu quando ela deslizou uma perna sobre as minhas, trazendo nossos corpos para mais perto.

— Desde quando? — murmurou, ainda com os olhos fechados.

— Tempo suficiente para perceber que você tem uma pequena ruga entre as sobrancelhas quando está dormindo — toquei o vinco com o dedo.

Ela abriu os olhos e me lançou um olhar sonolento, mas divertido.

— Preocupação excessiva — ela passou a ponta dos dedos por minha mandíbula, um gesto que me fez fechar os olhos por um segundo, aproveitando a sensação — Mas agora é diferente, estou mais leve.

Eu deslizei minha mão para sua nuca, puxando-a para um beijo lento e preguiçoso. Diferente da última vez, esse beijo não era sobre urgência ou necessidade. Era sobre pertencimento. Sobre a certeza de que, depois de tudo, ainda éramos nós. Mas a realidade sempre encontra um jeito de nos alcançar.

O som do telefone quebrou a tranquilidade do momento. Outra vez. Bella se afastou levemente, suspirando enquanto me olhava com um misto de frustração e resignação.

— Ignore.

Eu queria. Mas algo dentro de mim disse que não deveria. Peguei o celular e franzi o cenho ao ver o número desconhecido na tela. Bella me observava atentamente quando atendi.

Edward Cullen? — a voz do outro lado da linha era masculina, firme.

Meu corpo ficou instantaneamente alerta.

— Sim. Quem é?

Houve uma breve pausa antes da resposta.

Meu nome não importa. O que importa é que tenho informações sobre seu pai.

Minha respiração ficou presa na garganta. Senti Bella se sentar ao meu lado, atenta à mudança em minha expressão.

— O que disse?

Você acha que já descobriu tudo o que precisava sobre ele. Mas há algo que ainda não foi revelado, algo que foi muito bem escondido e pode mudar tudo.

O sangue corria gelado em minhas veias e eu sentia meu coração tão acelerado que poderia ser ouvido no quarto.

— O que é?

O homem hesitou por um momento antes de responder, e sua voz soou mais grave quando finalmente disse:

Abra a pasta. Está tudo lá.

O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Senti Bella segurar meu braço com força, como se quisesse me manter ali, no presente, longe das sombras do passado. Mas o passado não parecia disposto a nos deixar em paz.