JAMES SIRIUS POTTER

Electra só apareceu na manhã seguinte, domingo. Cygnus e eu tínhamos revezado para tomar banho, mas a comida tinha sido trazida por meu irmão. Sirius tinha se juntado à nossa vigília silenciosa com Alvo, mas Pontas e Remus tiveram que ir para o dormitório - Peter finalmente deu as caras, lamentando sobre a doença da mãe e preocupação sobre o estado dela.

Outra pessoa que eu queria socar a cara até a inconsciência.

Sirius buscou Els na beirada da escadaria, oferecendo a mão para que ela andasse até o nosso grupo. Alvo tinha descido para buscar o nosso café-da-manhã e tinha enfeitiçado a comida para que mantivesse a temperatura. Cygnus, numa tentativa frustrada de se distrair, enfeitiçou a mesa para que se tornasse a coisa mais pomposa no salão comunal.

- Eu me esgueirei até as cozinhas. - Al disse, delicadamente. - Pedi para fazerem um bolo de nozes, sei que você gosta. - ele apontou o bolo pequeno mas decorado com muita destreza. - Está dormindo desde ontem. Precisa se alimentar.

- Obrigada. - Els disse, a voz baixinha. Eu sentei ao lado dela:

- Ele viu a razão. - eu murmurei no ouvido de Els. - E mandou um bilhete. - eu estendi o pedaço de pergaminho para a garota. Els o pegou, tensa, e olhou para mim. - Não está enfeitiçado. Confie em mim.

- Como posso saber que você é real e não aquela coisa tentando me controlar?

Eu sacudi a cabeça:

- Porque confio que, apesar de todas aquelas palavras, você só quer fazer o bem para os outros. Nada daquilo era a verdade pura e sim só o lado obscuro de quem você é. - eu mantive meus olhos presos nos olhos cinzas incríveis de Els. - Porque eu a vejo como realmente é e não tenho medo.

Electra abaixou os olhos, sem me responder.

- Não tenho medo e não tenho vergonha de ter você ao meu lado. - eu continuei. - E isso não vai mudar. Eu conheço, confio e amo você independentemente do que aquela coisa fez com você.

A única resposta de Electra foi estender a mão para a minha bochecha, o rosto ainda baixo, fazendo carinho no meu rosto. Eu beijei a cabeça da garota e ela manteve a mão no meu rosto por mais alguns segundos, antes de pousá-la sobre a minha mão, o dedo indicador agora seguindo o padrão das veias no dorso da minha mão.

- Eu não consigo me livrar da sensação. É um frio tão ruim, parece que está nas minhas veias e na minha mente. - ela estremeceu. - E aquelas coisas que eu pensei não param de passar pela minha cabeça. Cada segundo acordada é uma nova lembrança daquilo.

- Tenho certeza de que se fosse eu ali, também teria tido uma reação parecida. - Cygnus olhou a irmã mais velha com carinho. - Foi resolvido e você está bem. Todos estamos bem e orgulhosos de você.

Els murmurou um obrigada com a voz embargada e Sirius segurou a outra mão dela:

- Sabe, algum tempo atrás eu a provoquei dizendo que queria ver se você realmente tem o meu sangue. - ele disse, com carinho. - E realmente tem. E tenho orgulho disso.

- Coma algo. - Al tentou, empurrando um pedaço de bolo de nozes e uma xícara de chá sem açúcar e sem creme para a Black, que soltou a mão de Sirius por um momento para bebericar o chá, ainda mais quieta do que de costume.

- O Natal está chegando. - ela mudou de assunto, ainda mais cabisbaixa do que eu estava acostumado a vê-la. - Mal posso esperar para conhecer Fleamont e Euphemia.

Código para: mal posso esperar para sair daqui e dar atenção ao que realmente preciso dar atenção.

- Eu também. Pontas disse que o pai dele tem um laboratório de Poções incrível. - Al quase pulava na cadeira.

- A biblioteca é imensa. - Sirius contou, ainda olhando Electra. - Deve ter muita coisa sobre Alquimia. Você vai se divertir lá.

- Ah, aposto que vou. - um pequeno sinal do humor de Els estava dando as caras. - Quero ver quem é que vai me arrancar de lá.

Leia-se: quero ver quem vai me obrigar a dormir.

- Se James não tiver sucesso, eu mando Anabelle. - Cygnus mordeu uma torrada amanteigada, ignorando o olhar dos poucos alunos que desciam dos dormitórios às sete da manhã de um domingo.

- Por Merlim, ela vai me arrastar pelos cabelos para dormir. - Els fez careta. - Onde estão os outros?

- As meninas estão dormindo, pedimos que ficassem com você no dormitório. - Sirius disse, delicadamente. - Peter chegou pela noite, preocupado com a mãe, então Pontas e Remus foram com ele para o dormitório.

Aquilo chamou a atenção da garota, que ergueu a cabeça de supetão e encarou o avô:

- Como ele está? - ela perguntou, inocentemente.

- Parece assustado. - foi Cygnus que respondeu. - Podemos tentar ajudá-lo depois. Nunca o vi tão fora de si.

Electra ergueu as sobrancelhas, não parecendo muito surpresa, mas manteve a fachada em vista dos outros alunos presentes no salão comunal:

- Algo mais deve ter acontecido. Pobre Peter. - a voz dela era suave, mas não combinava com os olhos. - Vamos ver o que podemos fazer com toda aquela situação. Papai nos deixou uma boa quantia em dinheiro. Quem sabe um curandeiro estrangeiro ou um tratamento mais caro… - ela parou a frase no meio e abriu um sorriso delicado. - Olá, Peter.

- Oi. - Pettigrew se sentou de frente com ela, flanqueado por Pontas e Remus, que pareciam taciturnos. - Quem arrumou essa mesa?

- Eu. Els aqui passou bem mal ontem e eu achei melhor trazer o café para ela ao invés de arrastá-la para baixo. - Cygnus olhou o comensal da morte, parecendo distraído, enquanto tomava um gole de chá.

- Ah. Está se sentindo melhor? - Peter perguntou, a curiosidade ganhando o melhor dele.

- Aos poucos. - Els sacudiu os ombros. - Ouvi que sua mãe não está muito bem, Peter. O que podemos fazer para ajudar?

- Não há nada a ser feito. Pelo menos é o que o curandeiro disse. - Peter encheu a boca de torrada, mal engolindo antes de continuar. - Precisamos esperar o corpo dela responder ao tratamento.

- Ah. Sinto muito. - Els disse, delicadamente. - Espero que ela se recupere bem.

- Ela vai. - Peter agora parecia menos ansioso do que antes. - E você? O que aconteceu?

- Passei muito tempo estudando. - Electra pegou um pedaço pequeno do bolo de nozes. - Não comi e dormi bem pouco. James quase teve que me carregar de volta para o salão comunal. - ela disse, suspirando. Eu dei um beijinho na cabeça dela e Els olhou pela janela, distraída. - O natal está tão perto. Já fizeram suas compras?

- Ainda não. - Remus bocejou e pegou uma torrada amanteigada.

- Vou deixar para última hora, como sempre. Você nem foi à última visita a Hogsmeade. - Peter emendou, se empoleirando na beira da cadeira. - Vai na próxima semana?

- Ah, bem, talvez. Estou pensando em fazer um envelope com dinheiro para cada um. Não sou boa com presentes. - Electra desviou da pergunta.

Mentira deslavada: Electra era sempre certeira com seus presentes.

- Vou levar você na próxima. - eu prometi, olhando Els. Ela ergueu os olhos para mim, surpresa. - Estamos enfiados nesse inferno de Alquimia o semestre inteiro. Vamos no Três Vassouras, depois passear em algumas lojas. Nada de livros.

Electra revirou os olhos, ignorando o olhar um tanto azedo de Peter e riu:

- Preciso de penas novas. E uma roupa para o Natal. - ela alertou. - Vai ter paciência de me acompanhar?

- Eu também preciso de vestes novas. - eu sacudi os ombros. - Não tenho problemas em ir com você.

- Leve-a ao Madame Puddifoot. - Sirius provocou. Eu revirei os olhos:

- Els e eu já fomos a Hogsmeade, Sirius. E nós preferimos o Três Vassouras. - eu bufei. - Amanhã você retornará para as aulas, Els. Não estude hoje, por favor.

- Mas…

- Hoje não. - Cygnus interrompeu a irmã mais velha. - Nosso pai sempre disse que domingo era dia de descanso. Você não descansa há dias, mesmo com o bilhete médico de Pomfrey. Hoje você não vai fazer nada. Só conversar, comer, talvez jogar alguma coisa.

- Você parece demais com papai quando fala assim. - Electra bufou, revirando os olhos. Cygnus deu uma piscadela para a irmã, sem responder.

Pontas desviou o assunto para o Campeonato de Quadribol e Els voltou a ficar silenciosa.

ELECTRA ADHARA BLACK

O domingo passou rapidamente - eu tinha cochilado por alguns minutos depois do almoço, a cabeça apoiada no ombro de James, enquanto ele lia o Profeta Diário. Nem uma única palavra remetendo Alquimia foi dita durante todo o dia.

Pettigrew até tentou - perguntou sobre o projeto de alquimia e como andava o nosso progresso com a Panacea, mas foi cortado imediatamente por Cygnus:

- Ela ficou doente de tanto estudar. Você quer que ela seja afastada de vez? - ele ralhou, parecendo irritado com o garoto. Peter encolheu os ombros e murmurou um pedido de desculpas, indo se encolher perto de Sirius para murmurar alguma coisa.

Ele estava realmente tentando arranjar mais informações.

Merlim, talvez a história da Panacea tivesse chamado atenção de Voldemort. Ou talvez ele desconfiasse de algo.

Durante a tarde eu dei uma desculpa para subir até o dormitório, para ler o bilhete de Evan - basicamente um pedido de desculpas imenso, dizendo que estava assustado e preocupado e tinha medo do que aconteceria se eu tivesse colocado o diadema na cabeça. Ele tinha pedido, também, que eu não respondesse ao bilhete, já que aquilo chamaria mais atenção ainda sobre ele.

Provavelmente alguém já devia desconfiar dele. Talvez estivessem questionando quem era a garota que ele tinha presenteado com o colar e que ele ficava trocando bilhetes.

Se fosse esse o caso, Evan, Aric e Regulus estavam em problemas e nós teríamos que agir antes do previsto.


Na manhã seguinte, eu me arrumei para as aulas, coisa que eu não fazia desde o bilhete médico de Pomfrey. Anabelle me esperava, pacientemente, enquanto eu ajustava a saia antes de sair com ela e Lily, ambas comentando sobre o convite de Al para levar Bells até o Madame Puddifoot, que minha irmã tinha aceitado com alegria.

Alvo odiava o lugar e sempre tinha deixado claro para todos, incluindo para minha irmã.

Anabelle amava o Madame Puddifoot - única razão pela qual Al tinha pedido para que ela fosse com ele até a casa de chá no próximo final de semana.

- Bom dia. - eu olhei o grupo de garotos, desta vez com Pettigrew ao lado de Remus. - Vamos? Estou faminta. - eu franzi o nariz. Os garotos concordaram prontamente, deixando que Bells e Lily tomassem a frente, de braços dados, conversando sobre que roupa Anabelle usaria no próximo sábado.

Eu andava entre Sirius e Pontas, ambos comentando comigo sobre o próximo jogo de quadribol do campeonato inglês - Ballycastle Bats contra Puddlemere United, que prometia ser uma uma partida complicada e, para dizer o mínimo, interessante.

- Acredito que Ballycastle talvez tenha mais chances. - Sirius comentou, jogando um braço sobre os meus ombros, enquanto passávamos por McNair e Snape, ambos nos seguindo com os olhos, parecendo interessados. - Mas não colocaria meu dinheiro neles. Puddlemere é conhecido por virar o jogo no último momento.

- Concordo. - eu acenei com a cabeça, caminhando entre as mesas do Salão Principal. - Vamos ter que acompanhar pelo rádio. - eu comentei, com Pontas concordando:

- Vou deixar tudo pronto. Vai ser na sexta a noite. - ele respondeu. - Sábado você e James irão à Hogsmeade? - Pontas perguntou, com falsa inocência. Eu corei:

- Sim, iremos. Temos coisas a fazer.

- Tipo finalmente se agarrar? - Remus perguntou, inocentemente. James ficou quieto, mas eu encarei o Lupin com o rosto impassível:

- Preciso de penas e vestes novas.

- Hm. - ele disse, distraído, nem um pouco intimidado comigo. Eu trinquei os dentes. - Vestes para o final de ano?

- Sempre comprei roupas para o natal. Papai sempre fez questão de estarmos impecáveis nessas ocasiões, independente se tivéssemos visitas ou não. - eu sacudi os ombros. - Então, como foi a semana de vocês enquanto estive fora?

- Péssima. - Bells disse, enchendo um copo de suco de abóbora.

- Triste. - Cygnus fez bico.

- Eu achei calmo. Menos caótico. - Sirius disse, ganhando uma cotovelada nas costelas. - Ai! Que cotovelo ossudo. - ele me olhou, magoado.

Eu revirei os olhos:

- Você começou. Vamos, comam logo. Descemos tarde hoje e vamos nos atrasar. - eu apressei, me voltando para as minhas torradas, enquanto eles engatavam uma conversa distraída com Pettigrew.


- Ele nem acompanha vocês mais? Na forma de Rabicho, digo. - eu murmurei perto de Sirius, depois de conjurar um Abaffiato ao nosso redor.

- Diz estar sem cabeça para cuidar de Remus enquanto a mãe está doente em casa. Isso quando está aqui. - Sirius comentou, prendendo o cabelo em um coque. Eu olhei o corredor, meus olhos encontrando novamente com os de MacNair.

Nem eu e nem ele desviamos o olhar até que ele passasse por Sirius e eu, e meu avô manteve o olhar sobre a minha cabeça, acompanhando MacNair com os olhos até que ele virasse o corredor:

- Ele está de olho em você.

- Eu percebi.

- O que vamos fazer a respeito disso?

- Nada ainda. Deixe para o final do semestre. - eu olhei meu avô, séria.

Eu jamais admitiria em voz alta, mas eu sabia que MacNair não era o único mantendo os olhos bem atentos em mim. Ele era o mais óbvio, mas eu sabia que havia mais deles pela escola. E sabia, também, que não era o único alvo.

Eu era o mais óbvio, mas não o único.

Eu nunca tinha deixado de notar o olhar de Crouch se demorando um pouco demais em Bells ou então em Lily. Às vezes, Snape seguia Alvo e Remus com os olhos.

Eles sabiam que estávamos tramando algo.

Só não sabiam o que.

E sabiam que, certamente, estaríamos contra o Lorde das Trevas - eles não sabiam que eu sabia sobre onde sua lealdade realmente estava, mas não saberiam tão cedo.

- Vamos. A aula vai começar. - eu arrastei Sirius pelo cotovelo até a sala de aula. - Depois conversamos mais.

- Certo. - Sirius concordou, sentando na carteira ao meu lado e eu respirei fundo.

Admitir que estava com medo não era nem perto do que eu sentia.

Eu sabia que os familiares e aqueles que ainda compactuavam com os pensamentos de Voldemort me odiavam apenas por ser neta de Sirius. Mas aqui eu era um alvo apenas por ser quem era. E eles nem sabiam direito quem eu era, só que eu seria uma pedra no sapato deles.

E ainda assim só por causa de Pettigrew. O que quer que ele tenha falado para Voldemort tinha sido o suficiente para deixá-lo em alerta sobre os novos Black e Potter que tinham subitamente aparecido em Hogwarts e se enturmado imediatamente com os Marotos e que estavam envolvidos até o pescoço com Alquimia.

E ainda havia o aniversário de Anabelle e Cygnus esta semana e no final do mês, havia o de Alvo. Eu teria que preparar algo para as crianças - dezessete anos era importante. Cygnus e Al precisariam de um relógio e Anabelle precisaria de algo tão importante quanto o pingente que eu tinha ganhado.

Talvez não um pingente, mas algo que remetesse às nossas famílias.

Sirius teria que me dar uns galeões para resolver tudo isso. E esse final de semana era o único no qual eu poderia fazer algo a respeito, considerando que estava presa na escola até o final do semestre.

Dumbledore iniciou a aula de DADA - ele ainda não tinha conseguido um novo professor - e eu comecei a anotar distraída, ignorando o olhar dele atento sobre meu grupo.


- McNair está de olho em você. - foi o cumprimento de Nott assim que ele chegou à Sala Precisa naquela noite. Meu olhar inquieto foi o suficiente como resposta para ele. - E você já notou.

- Sim, notei. - eu passei a mão pelo rosto, deixando o livro de Aritmancia de lado por um tempo.

Nós dois éramos os únicos ali agora, considerando que Alvo e James tinham ido à biblioteca pegar mais alguns livros de Poções sobre tinturas e coisas do tipo e os demais tinham decidido tomar um banho antes de vir para a Sala Precisa.

- O quão perigoso ele é? - eu questionei, séria.

- MacNair é bruto. Sanguinário. Nem de perto tão habilidoso quanto Evan. - Aric sentou à minha frente. - Entenda que vocês são todos excelentes, Electra. Evan é que está fora da curva. Você deixaria MacNair de joelhos em meio minuto. Mas fique atenta às suas costas. MacNair não anda sozinho, como covarde que é. Jamais te atacaria assim. Se ele tentar atacá-la, terá alguém com ele para criar um ambiente mais equilibrado.

- Eu não ando sozinha, então isso já é contornável. - eu ponderei, com Aric concordando. - Mas me preocupa se ele arriscaria mesmo um ataque aberto, dentro da escola.

- Ano passado Snape e alguns de seus amigos atacaram Mary MacDonald. - ele lembrou. - Com Mulciber, outro sanguinário.

- Não esqueça de Dolohov. - eu suspirei. - Temos mais possíveis comensais-da-morte do que eu gostaria de pensar, Aric.

- Eu sei. - ele me consolou. - E eu ainda tenho que bancar o simpático.

Eu ri:

- Pelo menos disso estou livre. - eu sorri para o Nott, que deu tapinhas no meu ombro:

- E como anda sua pesquisa de alquimia?

- Um inferno. - eu sacudi a cabeça. - Estou presa em uma situação complexa.

- Sabe, você e James não são os únicos versados em magia aqui. Se não notou, esta é uma escola de magia. Pode pedir ajuda a qualquer um de nós. - Nott bufou. Eu revirei os olhos:

- Vocês três já têm muito no prato. Os outros não podem morrer. Anabelle, Al e Cygnus já estão enfiados nessa bagunça. Vou esperar sairmos daqui. - eu disse e ele acenou com a cabeça:

- Sua escolha. Mas, me diga, o que está pensando? Porque esses livros aqui são coisa antiga demais. Eu nem entendo esse francês. - ele apontou o livro que dera início à saga incessante da criação de uma nova runa.

- Alquimia Baseada em Runas Antigas. - eu traduzi livremente o título do tomo. - Mistura conceitos de alquimia com runas. Estou associado também aritmancia.

- Isso parece um pesadelo.

- Seria divertido se não fosse importante para a minha sobrevivência. - eu concordei. - Cada vez que fecho os olhos, os alertas deste livro vêm à minha mente e me causam pesadelos. Al teve que fazer uma poção para que eu dormisse porque anda sendo impossível.

- Os riscos são tão altos assim? - Nott pigarreou. Eu acenei que sim:

- Sermos eliminados da história é a pontinha do iceberg. - eu fiz careta.

- Então tudo tem que sair perfeito. - Aric disse, sério. - E você ainda tem as tarefas da escola, está ensinando Transfiguração avançada, treinando com Evan e sendo informante de Dumbledore. E ainda tem aqueles urubus atrás de você.

- Exatamente.

- É impressionante que ainda não tenha dormido na aula. - ele sorriu para mim. - Para a sua grande sorte, eu sou excelente em feitiços complexos. E gosto muito de Runas. Sabia que foram as Runas Antigas que serviram de base para feitiços com varinhas?

Eu arregalei os olhos:

- Como sabia?

- É conhecimento básico na minha família. - ele comentou, olhando os títulos de Feitiços e Runas Antigas que eu tinha trazido comigo. - Minha família mexia com Magia Ancestral, antes de se tornar algo praticamente proscrito.

- Magia Ancestral é proscrita?

- Não exatamente. Mas não é algo de conhecimento comum mais, como era antigamente, e tem algumas leis rígidas. Você pode mexer com Magia Ancestral, mas o Ministério deve estar ciente.

- Ah, bem. Em breve me tornarei uma delinquente juvenil. Magia Ancestral sem limites pode muito bem entrar para a lista de crimes cometidos. - eu revirei os olhos. - Sei que existem regras. Mas até então, eu apenas estudava o assunto. Nunca cheguei perto de realmente praticar Magia Ancestral.

- Você já estudava isso antes? - Nott ergueu as sobrancelhas.

- Você precisa entender que eu sou curiosa e não costumo parar no primeiro sinal de dificuldade. No mínimo, isso me deixa mais sedenta por informações. - eu franzi o nariz, arrancando uma risada dele. - Por isso conheço Grimmauld Place tão bem, assim como a Mansão Potter e também Knockturn Alley. Não poder ir é um incentivo.

- Você é um pesadelo. - ele riu, os olhos pousando sobre um livro de Feitiços em específico. - Esse parece promissor.

- Esse é promissor. - eu me endireitei na cadeira. - Fala sobre feitiços de proteção e mandalas.

- Você vai precisar do que, exatamente, para voltar ao seu tempo? - Nott me olhou, sério. - Porque Magia Ancestral é só a ponta do iceberg, pelo visto.

- Vou ter que manipular Magia Ancestral para criar a Runa. Criando esta runa, terei que testá-la de alguma forma, de preferência com seres não-vivos. - eu suspirei, passando a mão pelo rosto. - Mas para começar a testá-la, preciso de uma mandala. Para o mandala, preciso de feitiços de proteção específicos - eu apontei o livro. - e de uma tinta proveniente de uma poção ou tintura específicos, coisa que Alvo está trabalhando. Para o mandala ser o mais funcional possível, também precisamos entrar com conhecimentos de Aritmancia, e Cygnus está me ajudando com essa parte.

- Eu posso ajudar, sabe. - Nott disse, com os olhos cheios de sinceridade. - É muito complexo e difícil e você precisa descansar.

- Você já tem o Feitiço de Proteu e o Fidelius. - eu lembrei. - Como as coisas andam com isso?

- Já dominamos o Proteu. Lily está se preparando para criar moedas para nós. - ele abriu um sorriso animado, mas que murchou em seguida. - O Fidelius, por outro lado, é um pesadelo. Estamos estudando, mas é complexo. Lily, Anabelle e eu estamos dando nosso melhor, mas o nosso melhor, no momento, é bem decepcionante.

- Vocês tem um mês. Um pouco mais. Vai dar certo. - eu sorri. - Abandonei meus estudos para a escola. Só faço as tarefas obrigatórias. Faça isso.

- Você soa como uma má influência. - ele disse, distraído, olhando a porta pela qual Lily e Anabelle entravam.

- Eu sou uma má influência. - eu disse, enfática, arrancando uma risada alta de Aric. As duas garotas sentaram na mesa ao lado da minha, que estava cheia.

- Ela é mesmo uma má influência. - Lily comentou, sorrindo para Nott. - Quase nenhum de nós está estudando além do necessário.

- Ela acabou de me aconselhar a fazer o mesmo. - Aric respondeu, divertido.

- Eu disse que era uma má influência. - eu sacudi os ombros. - Preciso saber de mais uma coisa. - eu olhei Aric, que se tornou sério imediatamente. - O que Pettigrew anda fazendo?

- Ele ainda não foi Marcado, se essa é sua preocupação. - Aric passou a mão pelo cabelo escuro. - Mas saiba que ele é um informante bem detalhista. Ele presta muita atenção em todos, mas em especial em você e James. Diz que algo sobre vocês dois é diferente, como se estivessem sempre ocultando algo dele ou dos demais. Como se… Se soubessem muito mais do que dizem saber. E está um tanto apavorado com essa coisa de Alquimia da sua parte.

Eu ergui as sobrancelhas, mas ele continuou.

- Ele teme você, mas tem pavor de James. - Aric abriu um sorriso deliciado. - Diz que não tentará abordá-la porque sabe que irá contar a James e ele não o quer no pé dele. Ele disse que, se alguém descobrir, será James, com toda certeza.

- Ele tentou abordar Alvo, que deu mais voltas do que nunca até cansá-lo sobre Poções. - Anabelle emendou, olhando para mim. - Ele queria saber que poção ele ia fazer para te ajudar. Nem Al sabe que poção será usada e se soubesse jamais diria. Então, ele começou em um monólogo maçante e insuportável sobre ingredientes e movimentos para poções. Os olhos de Alvo estavam até desfocados.

Eu ri:

- Achei que gostasse quando Alvo começava a falar sobre Poções.

- Eu gosto quando faz sentido. Aquilo ali era o cérebro dele na forma mais profunda e eu, sinceramente, não entendo metade do que ele diz nessas horas. - minha irmã sacudiu a cabeça, arrancando uma risada de Aric e Lily. - Alvo pode ser um atleta quando quer, mas é um nerd quando o assunto é Poções. Não faça perguntas sobre essa tintura se não quiser ir parar nos primórdios do preparo de poções. - ela alertou.

- Então, é como perguntar a Electra sobre Alquimia. - Aric riu.

- Algo do tipo. - minha irmã abriu um sorriso delicado. - Deixem a conversa sobre Pettigrew para mais tarde, quando todos estiverem aqui. Não sei se Aric te contou, mas não estamos indo muito bem com o Fidelius.

- Não estamos não indo bem, Anabelle, estamos sendo medíocres. - Aric foi direto ao ponto, arrancando uma careta das duas garota e se levantou. - Com licença, Electra. Vou voltar para o Fidelius. Depois que resolver isso, venho te ajudar.

- Você está determinado a controlar esse feitiço. - Lily comentou, puxando um livro para perto.

- Agora é uma questão de honra. - Aric puxou a cadeira com violência e se jogou. - Aonde estávamos, Lily?

- Na sequência de movimentos. - ela suspirou e os três afundaram em uma discussão baixa, mas séria, sobre o feitiço.

Eu voltei a ler sobre a criação de uma runa.


Cada traço significava uma coisa. Assim como cada linha perpendicular e paralela poderiam diminuir ou auxiliar o poder da runa a ser criada. Ela podia ser baseada em uma Runa Original, mas eu tinha listado as Runas mais interessantes para a que eu criaria e, se eu as misturasse, tudo o que eu teria seria um rabisco sem sentido.

Então, eu tinha que entender os elementos de cada runa, cada traço, para saber qual parte utilizar. Haviam várias opções: Raidho (ᚱ), Gebo (ᚷ), Ehwaz (ᛖ), Eihwaz (ᛇ) e Othala (ᛟ) eram as principais. Mas havia as demais que deveriam ou ser incorporadas no mandala ou então entrar para a minha Runa Original.

- Gebo? - Evan olhou para mim, puxando uma das minhas várias anotações. - Não é presente?

- Achei que era casamento. - Sirius comentou, distraído.

- Pode ser presente, pode ser casamento, mas pode ser usada no sentido de equilíbrio e troca. - eu respondi, girando uma pena entre os dedos. - Teoricamente, casamento e presentes são trocas equilibradas.

- Entendo. - Evan olhou para mim. - Você vai fazer um código ou uma runa?

- Ainda não decidi. - eu disse, com sinceridade. - Um código abre possibilidades demais. Uma runa original pode ser perigosa de ser manipulada.

- É bom colocar Eihwaz. - Evan disse, acenando com a cabeça. - Como anda o restante?

- Precisarei de traços retos e arredondados para o mandala. Provavelmente um quadrado dentro de um círculo. Vou ter que usar Aritmancia para isso.

- Soa divertido. - ele disse, fazendo careta e eu o imitei:

- É quase tão ruim quanto criar a runa. - eu comentei, me endireitando na cadeira. - Agora que estamos todos aqui, vamos falar sobre nosso amigo rato?

- MacNair está de olho em você sob ordens de Voldemort. - Evan foi direto ao ponto. - Mas acho que você já percebeu.

- Já percebi, sim. Snape está vigiando os gêmeos. - eu comentei, me recostando na cadeira.

- Sim, está. E a pedido de MacNair. Ele acha que se você está mancomunada com Dumbledore, certamente os seus irmãos estão. - Evan acenou com a cabeça.

- O que mais Voldemort sabe? - Pontas perguntou, sério. - Porque amo meu amigo, - ele trincou os dentes. - mas toda vez que o pego mentindo sinto uma raiva que… - ele sacudiu a cabeça. - Nem sei explicar o que sinto.

Evan acenou com a cabeça, sério:

- Ele sabe que tem alguma coisa acontecendo na escola. Pettigrew é bem insistente nisso. Não sabe das Horcruxes, graças a Merlin, mas sabe que assim que vocês se formarem, estarão com Dumbledore. Ele tem muito interesse nesse conhecimento de Alquimia de vocês. Acha que pode usá-los para criar uma Pedra Filosofal para ele. Gosta da Panacea, mas prefere a Pedra Filosofal.

- Bem, então Voldemort quer nos aprisionar para fazer uma Pedra Filosofal para ele? - James questionou. Evan acenou que sim:

- Ele tentará, acredito. Mas não foi específico. Só pediu a MacNair para ficar de olho em Electra e você, mas principalmente na garota. Acha que será mais fácil controlar Els do que você.

Aquilo arrancou uma risada alta dos meus irmãos, Al e James. Eu encolhi os ombros, quando os demais me encararam:

- Eu disse a Aric esta tarde e irei repetir: eu sou uma má influência e toda vez que alguém tenta me dar alguma ordem é um incentivo para fazer exatamente o oposto. - eu ergui as mãos, na defensiva. - Voldemort vai me mandar fazer uma Pedra Filosofal e eu vou mandar ele…

- A gente sabe, não precisa ser explícita. - Anabelle interrompeu, erguendo a mão delicadamente. Ela não era fã de palavras de baixo-calão, como ela dizia. - Agora, se Snape chegar perto de mim…

- Ele não é maluco. - Alvo disse, sério, com Cygnus acenando com a cabeça do lado dele. - Ele não é nem um pouquinho maluco.

Bom. Pelo menos minha irmã estaria segura.

- Eles disseram algo sobre Pontas, Lily, Remus ou Sirius? - eu perguntei, séria.

- Só que eles provavelmente seguiriam o mesmo caminho que você e James, se aliando a Dumbledore. - Evan disse, sério. - Voldemort disse para deixá-los de lado e nos preocuparmos com eles quando for a hora.

- E James e eu não entramos nesse grupo porque…?

- Porque ele quer algo de vocês. E vai tentar conseguir. - Evan foi enfático. - Sei que irão a Hogsmeade para um encontro, mas tentem não se afastar muito dos demais…

- Não é um encontro. - eu corei, sacudindo a cabeça. - Nós só vamos comer alguma coisa e comprar penas e vestes para o Natal. Como amigos.

- Como amigos. - Evan ergueu as sobrancelhas. - Entendo. Desculpe pela confusão. - ele pareceu descrente, mas eu o ignorei completamente.

Já bastava que Anabelle e Alvo soubessem sobre o beijo. Eu não ia expor aquela situação na frente de todos.

Além do mais, só de lembrar do beijo, meus lábios voltavam a formigar, como se James tivesse se afastado de mim a apenas alguns segundos.

Aquilo era algo para se pensar mais tarde.

- De qualquer forma, estaremos expostos. - Aric disse, sério. - Se MacNair, Snape, Mulciber ou o diabo que seja, aparecer, nós não poderemos ajudá-los.

- Isso seria uma sentença de morte. - Regulus fez careta, com Sirius apertando o ombro dele:

- Se um deles fizer algo, não se metam. Iremos nos virar. - ele dise. - E fique longe de confusão. - Sirius olhou o irmão caçula. - Já basta aquela lá, - ele apontou para mim com a cabeça. - não quero ter que me preocupar com você também.

- E quanto a nós? - Cygnus fez bico.

- Vocês dois têm bom senso. A doida da sua irmã, não. - Sirius crispou os lábios. - Fiquem longe de confusão.

- Por enquanto é isso. Nossos planos continuam os mesmos. - Evan suspirou. - Vamos. Temos que terminar essas coisas e ir dormir. Amanhã será um dia longo. - ele bocejou, encerrando o tema Voldemort pela noite.

Nós não aguentamos muitas horas depois disso. O feitiço Fidelius era, de fato, um pesadelo, como Aric havia me dito. A questão de Alquimia era, de longe, o meu maior problema. Alvo estava prestes a arrancar os cabelos em frustração.

Nós estávamos um tanto cabisbaixos quando fomos embora da Sala Precisa.