ELECTRA ADHARA BLACK
A segunda-feira chegou mais rápido do que eu fui capaz de formular um plano contra Mulciber. Eu sabia que faria isso sozinha - Cygnus queria ajudar e Anabelle também, mas eu tinha sido clara: a maldição tinha sido apontada para mim e Cygnus a tomara para me proteger, então como irmã mais velha, eu o vingaria.
Nenhum dos dois - e nem dos demais - insistiu no assunto.
Então, enquanto caminhávamos para o Salão Principal, estranhamente em silêncio, eu ainda pensava em como iria resolver essa situação.
Que surpresa agradável, então, quando vi Mulciber, MacNair, Snape, Evan, Aric e Regulus sentados à mesa da Sonserina, com as cabeças juntas, lendo o Profeta Diário daquela manhã.
Mais agradável ainda quando consegui ler a manchete em um jornal próximo: "MacNair e Mulciber PRESOS em ataque realizado por seguidores de Você-Sabe-Quem em Hogsmeade".
Desta vez, em uma jogada incrível do destino, eu estava no final do grupo e não à frente, como sempre tinha sido. Foi fácil me esquivar das mãos de James e de meu avô, enquanto eu desviava do caminho da mesa da Grifinória e ia em direção ao grupo de sangue-puros.
Evan foi o primeiro a notar que eu me dirigia ao grupo. Para qualquer um os olhos dele me alertavam para ficar longe: na opinião dos outros, porque ele iria me azar. Para mim e para os demais que o conheciam de fato, porque ele queria que eu ficasse longe dos Comensais da Morte - para minha própria segurança.
Ele trincou os dentes, me encarando, quando eu sentei de frente com Mulciber, entre Snape e Regulus.
- Bom dia. - eu pesquei uma torrada.
- Dê o fora daqui, traidora do sangue. - Mulciber quase cuspiu na minha direção. Eu sorri:
- O que vai fazer? Contar ao papai que a Black está atormentando você? - eu fiz biquinho. - Ah, é. - eu coloquei uma mão sobre o coração. - Ele está em Azkaban. Me perdoe pela indelicadeza.
- Ele foi claro. - MacNair se inclinou na minha direção. - Está em minoria…
- Seu pai estava em maioria quando me atacou no vilarejo. MacNair, Mulciber e Malfoy. Três contra uma aluna e, ainda assim, eu venci. Diga-me, MacNair, você é tão incompetente quanto seu pai?
- Sua…
- Sua o que? - eu ergui a voz. - Sou traidora do sangue, sim, e com orgulho. Mesmo em minoria, eu acabaria com a raça de todos vocês. Acabei com a de seu pai, eu o entreguei nas mãos dos Aurores. Entreguei o pai de Mulciber também. - eu olhei para os dois. - E vocês, - eu ri. - onde estavam? Escondidos em segurança, aposto, como os covardes que são.
- Dê o fora, Black. - Evan quase latiu. Regulus furtivamente apertou meu braço:
- Saia e volte para o traidor do meu irmão. - a voz dele era fria, nem um pouco parecida com o que eu estava acostumada.
- Eu saio daqui quando eu quiser. - eu mordi a torrada. - Como anda a vida de mensageiro de Voldemort, Mulciber? Seu pai disse que ficou sabendo sobre mim. É você, não é, que contou a ele sobre mim?
- Dê. O. Fora. - a boca de Mulciber faltava espumar. Eu sorri:
- Vamos ser claros aqui: - eu me inclinei na direção deles, com Aric me lançando um olhar de alerta. - posso ser traidora do sangue e grifinória, mas ainda sou uma Black. Sou tão versada em todos os tipos de magia quanto qualquer um de vocês, talvez até mais a julgar pela mediocridade de seus pais. Então, eu sugiro que mantenham distância de qualquer um que seja querido por mim. - eu espanei as migalhas da mão, fazendo questão de sujar Snape. - E você ainda vai pagar pelo o que foi feito a meu irmão, Mulciber. Se eu fosse você, dormiria com um olho aberto. - eu fiquei de pé.
- Está me ameaçando? - Mulciber perguntou, alto.
- Sim. Fico feliz que tenha sido clara o suficiente. - eu dei as costas para o grupo e retornei para a mesa da Grifinória.
Mulciber pagaria. Nem que eu tivesse que invadir o dormitório da Sonserina.
- Você é maluca? - Cygnus me encarou, quando sentei entre James e Pontas. Nosso grupo me encarava, sério. Eu enchi uma xícara de chá:
- A loucura corre no sangue da nossa família.
- Definitivamente maluca! - ele jogou os braços para cima. - Electra. Electra, pelo amor de deus. - meu irmão passou a mão pelo rosto. - Eles vão matar você.
- Não se eu os matar primeiro.
- Você, ao menos, se escuta falar?! - meu irmão perguntou, exasperado. - Você ameaçou comensais da morte?
- Sim. E vou ameaçar de novo se precisar. - eu passei geleia em uma torrada, sem dar atenção à irritação de Cygnus.
Às vezes ele soava demais como meu pai. E isso era, no mínimo, irritante.
- Electra. Não estamos mais brincando. - meu irmão lembrou. - Houve um ataque de comensais-da-morte em Hogsmeade! Crianças estavam lá!
- Sim. E quem você acha que planejou isso? - eu, finalmente, olhei Cyg. - Eles estavam fofocando com os pais sobre todos nós! Estão nos tornando um alvo daquele maluco! O pai de MacNair usou uma Cruciatus contra você! Eu ameacei MacNair e Mulciber e todos eles. E ameaçarei novamente se precisar. Ele ainda vai pagar pelo o que o pai dele fez.
- Os filhos não devem pagar pelos crimes dos pais. - Anabelle lembrou, delicadamente.
- Os pais só cometeram tais crimes porque os filhos nos apontaram como alvos. - eu olhei minha irmã, séria. Anabelle não desviou o olhar. - Se mantenham em alerta. Eles não vão deixar o aprisionamento dos pais deles barato.
- E você? O que vai fazer se nos atacarem de novo? - Pontas questionou, sério. Eu olhei o Potter, que tinha uma expressão tão séria que me lembrou tio Harry:
- Vou lembrá-los que sou uma Black. E que cumpro minhas promessas. - eu mordi a torrada e James suspirou, ao meu lado:
- Pelo menos avise quando for cumprir o que prometeu. Só para eu me preparar para o inferno que virá.
- Irei seguir as regras de Pontas, não se preocupe. - eu beberiquei o chá.
- Quer saber? - Alvo olhou para mim, com interesse. - É bom ter você na sua forma usual. Aquela pose toda responsável não combina nem um pouco com você e chega a ser tenebroso.
Eu ergui as sobrancelhas.
- Senti falta disso. - ele apontou para mim. - Para uma boa vingança, Els. - Al ergueu a xícara de chá e eu ergui a minha. - Para mais comensais da morte presos. - ele disse, quando nossas xícaras se encontraram no ar. - E para que a Electra sanguinária continue tomando conta da sua mente. Ela é genial.
Eu não segurei uma risada.
Alvo Severo Potter era uma das minhas pessoas favoritas no planeta. Era bom tê-lo me apoiando agora, quando mais ninguém concordava comigo.
Eu tentei fingir simpatia quando Pettigrew chegou, o rosto vermelho de correr para nos acompanhar para aula, depois de ter retornado da "visita para a mãe".
JAMES SIRIUS POTTER
Electra estava silenciosa demais, o que fazia todo e qualquer alarme na minha cabeça disparar.
Electra quieta, com raiva, não era bom.
Nada bom.
Principalmente quando ela tinha ameaçado meia dúzia de comensais-da-morte depois de termos sido atacados.
- Se for fazer alguma coisa, pelo menos me leve com você. - eu sentei de frente com a garota, quando chegamos à Sala Precisa no final do dia. Ela ergueu as sobrancelhas:
- James…
- Me leve com você. - eu interrompi. - E me deixe tomar parte disso. Cyg é seu irmão mais novo e eu o amo tanto quanto amo Alvo. Se irá se vingar, então me leve com você.
- Ainda não defini o que vou fazer. - Electra suspirou. - Parte de mim quer enchê-lo de furúnculos, outra parte quer jogá-lo da Torre de Astronomia e a terceira parte quer jogá-lo no lago para servir de brinquedo para a Lula-Gigante.
- Assassinato não é uma boa ideia.
- Concordo. Então furúnculos. - ela me encarou, os olhos cinzas cheios de raiva. - Não parece o suficiente.
- Tentáculos.
- Eu quero mandá-lo para o St. Mungus.
- Calma.
- E se fosse Al? Ou Lily? - ela questionou, irritada. Eu trinquei os dentes, desviando o olhar:
- Tudo bem. Entendo. - eu suspirei. - Apenas Mulciber?
- MacNair está por um fio. - Electra prendeu o cabelo cacheado em um coque no alto da cabeça. - Mas ainda será apenas Mulciber.
- Minha mãe me ensinou a usar o Riddikulus para situações como esta. - eu sugeri e Els ergueu as sobrancelhas:
- Sabe, eu pensei nisso porque lembrei desse ensinamento maravilhoso da sua mãe. - ela comentou. - Mas Cyg foi torturado.
- Deixar Mulciber cheio de cicatrizes me parece razoável. Você não quer descer no nível deles. - eu lembrei e Els fez careta:
- Eu não vou torturá-lo. Mas parece que fazer só isso não é o suficiente. - ela sacudiu a cabeça.
- Você deixou o pai dele nas mãos dos Aurores. O nome dele já foi manchado. Agora irá fazer o filho pagar pelo o que ele fez ao seu irmão. E fazer isso de uma forma limpa, sem maldições e nem nada ilegal me parece a forma perfeita de deixar as coisas equilibradas. - eu arrisquei segurar a mão de Electra que estava sobre a mesa. Ela entrelaçou os dedos nos meus, pensativa:
- Não quero ser como eles.
- Então não seja. Vamos nos vingar, mas vamos ser limpos. - eu prometi. - Vamos fazer isso de forma que ninguém possa culpar você.
- Todos sabem que eu o ameacei.
- Mas não poderão provar. Acho que isso causa mais terror ainda. - eu lembrei e Els abriu um sorriso divertido:
- Ah, eu adoraria ser o motivo dos pesadelos deles.
Eu abri a boca para responder, mas a porta da Sala Precisa foi aberta com um estrondo: Aric, Evan e Regulus marchavam na nossa direção.
Nenhum dos outros se levantou quando Evan ergueu Electra pelo cotovelo:
- Está maluca?! - ele quase gritou. Electra se soltou delicadamente do avô:
- Possivelmente. - ela respondeu, calma. Aric olhou para mim e eu suspirei:
- Eu não vou me colocar contra Els agora. Eu teria feito pior. - eu ergui as mãos, na defensiva. - Teria azarado todos eles na frente de todo o Salão Principal e lidaria com as consequências depois.
- Eles estão aterrorizados. - Regulus olhou a sobrinha-neta, severo. Els abriu um sorriso brilhante:
- Isso quase me faz não querer fazer nada só para deixá-los malucos esperando por alguma coisa. - ela olhou para mim. Eu quase ri, mas mordi o lábio inferior quando Evan me encarou:
- Não incentive esse tipo de comportamento. Eles irão relatar a ameaça dela a Voldemort e…
- E o que? Ele já está atrás de mim mesmo. - Electra interrompeu, irritada. - O que Mulciber fez a meu irmão merece todo e qualquer tipo de retaliação. Ele tem sorte por eu não me rebaixar aos níveis deles.
Evan sacudiu a cabeça, fechando os olhos:
- Ele já está de olho em você. Agora ficará ainda mais, já que dois de seus comensais favoritos foram enviados para Azkaban. Seu nome está nos jornais. - ele disse, sério, olhando para a neta. - É isso o que queria?
- Não necessariamente, mas já que aconteceu… - ela sacudiu os ombros. - Que bom.
- Pelas cuecas imundas de Merlin. - Aric passou a mão pelo rosto. - Electra. Nós combinamos que você ficaria quietinha, bonitinha, sem chamar muita atenção até sairmos dessa escola.
- Isso era até usarem a Cruciatus em Cygnus! - a garota jogou os braços para cima. - Por Merlin, eu não posso ser a única…
- Iremos todos nos vingar do que foi feito aos nossos. - Regulus ergueu a mão, sério. - O que foi feito a Cygnus é só uma parcela do que podem fazer. Eles estão, agora, montando um esquema de guarda entre si, esperando um ataque seu a Mulciber.
- Porque ele não irá me enfrentar sozinho, como o covarde que é! - Electra quase cuspiu. Eu puxei a garota para ficar de frente comigo:
- Já falamos sobre isso. Irei te ajudar. - eu lembrei, segurando Electra pelos ombros. - Deixe-o apavorado por alguns dias. É a parte mais divertida. Depois faremos o que quisermos, dentro da legalidade, e sem ninguém saber que fomos nós.
- Eles vão saber. - Aric olhou para mim, sobre a cabeça de Els. - Eles saberão que ela foi a responsável por o que quer que seja que vocês irão fazer.
- Mas não seremos pegos. Isso eu garanto a você. - eu respondi. - Prometa, Els, que não irá fazer mais nada sozinha.
A garota desviou os olhos, mas eu apertei os ombros dela:
- Electra.
- Prometo. Sob minha honra Rosier-Black, prometo que não irei sem você. - ela me encarou de volta, suspirando. - Mulciber vai pagar.
- Não a deixe se cegar pela vingança. - Regulus disse, depois que Els se soltou de mim e foi fazer bico ao lado de Al, que jogou o braço sobre os ombros dela, provavelmente sussurrando planos no ouvido de Electra.
Além dela, apenas Al era incrivelmente vingativo.
Ele não toleraria esse tipo de ataque ao melhor amigo e cunhado e, para ser sincero, eu tinha medo do que o gênio e a inteligência dos dois poderiam nos causar.
Que Merlin colocasse algum juízo na cabeça daqueles dois.
Mais tarde, já no Salão Comunal, Pettigrew nos perguntou sobre o ataque em Hogsmeade. Eu tinha precisado de toda a minha força de vontade para não arrancar a cabeça dele do pescoço.
- Foi complicado. Els e eu fomos atacados por seis. - eu suspirei. - Não sabemos nem exatamente o porquê.
- Devem ter ouvido falar de vocês. - Peter sugeriu, olhando para mim com curiosidade. - Disseram alguma coisa para vocês?
- Só que queriam nos levar até o Lorde das Trevas. - Electra respondeu, os olhos se fixando em Pettigrew. - Foi coisa de MacNair, acho. O pai dele estava lá, com o pai de Mulciber.
- Você os reconheceu? - Pettigrew soou um tanto surpreso, mas havia um pouco de receio na voz. Bom. Que Electra o aterrorizasse como andava fazendo com os outros.
- Eles têm os mesmo olhos dos filhos. - Electra respondeu, cutucando a unha. - Sabemos o histórico da família, conheço os traços clássicos de cada uma. Foi simples. Mais fácil do que eu pensaria.
Pettigrew continuou encarando a garota, assombrado.
- MacNair e Mulciber foram entregues para os Aurores. - eu disse, chamando a atenção de Pettigrew para mim. - Mulciber usou uma Cruciatus em Cygnus.
Aquilo fez Electra erguer a cabeça lentamente, sorrindo para Pettigrew como se avaliasse uma presa.
- Horrível, não acha? - ela olhou o garoto, que acenou com a cabeça, absolutamente desconfortável. - Vou lidar com Mulciber depois. Esse tipo de coisa não passará liso entre nós.
- Você soou muito como Belatriz. - Pettigrew disse, quase sem pensar. Els tombou a cabeça:
- Como você sabe como Belatriz soa? - ela perguntou, a voz doce.
Santo Deus, ela era aterrorizante.
Pettigrew gaguejou:
- Eu a encontrei uma vez, no Beco Diagonal. - ele balbuciou. - Ela era esquisita. Parecia má.
- Eu pareço má?
- Claro que não. - Peter sacudiu a cabeça. Alvo estava atrás dele, sorrindo de leve, enquanto mordiscava uma varinha de alcaçuz e com o braço em volta dos ombros de Bells.
O idiota estava se divertindo.
- Hm. - Els voltou a cutucar a unha. - Queriam nos levar para o Lorde das Trevas. Acho que Mulciber e MacNair contaram aos pais sobre nós. Só queria saber o que de tão importante viram em James e eu.
- Talvez seja nossa tarefa de Alquimia. - eu olhei Els, fingindo pensar muito a respeito. - Mas porque Voldemort iria querer a Panacea?
- Acho que não é a Panacea. Sequer estamos produzindo essa coisa, de fato. Ainda estamos na pesquisa preliminar… - Els não ergueu a cabeça, ainda mexendo na cutícula. - Provavelmente quer saber do que somos capazes. Quer dizer, se sabemos mexer com Alquimia, podemos criar uma segunda Pedra Filosofal, como o próprio Peter nos lembrou. Voldemort gostaria de uma dessas, não acha?
Peter encolheu os ombros:
- Como eu saberia?
- Ah, não. É uma pergunta retórica, Peter. Não se preocupe. - Els sorriu para ele, fazendo um gesto de descaso. - Não é como se você estivesse em contato com ele para saber algo desse tipo. - ela riu.
Peter riu, quase desconfortável, mas para qualquer um que não soubesse da verdade, ele parecia gostar da piada:
- Como se eu fosse concordar com aquelas coisas que ele diz. - ele fez careta. - Merlin sabe o respeito que tenho por nascidos-trouxas.
Sim, sim.
Nenhum.
Porco covarde. Rato imundo. Traidor.
- Como anda sua mãe? - eu olhei Peter, fazendo uma expressão preocupada.
- Ah, está um pouco melhor, mas ainda em risco. - ele sacudiu a cabeça. - As coisas são complicadas e a doença dela é instável. Pode estar melhorando agora e ela piorar a qualquer segundo. Por isso acho legal essa sua ideia de criar essa Panacea. Ajudaria muitas pessoas.
Bingo.
- Acho que ajudaria até quem nós conhecemos. Muitas pessoas têm doenças e ninguém sabe sobre. - eu ponderei. - Eu vi que você toma algumas poções toda manhã. - eu abaixei o tom de voz. - Precisa de ajuda com algo?
Peter começou a sacudir a perna, ansioso:
- É uma longa história. Diferente. - ele disse, tentando parecer tranquilo.
- É a mesma coisa que a sua mãe tem? - Els perguntou, curiosa. - Pode ser hereditário. Existem maldições familiares… - ela começou a divagar, ficando completamente silenciosa.
Nós podíamos estar no inferno, criando a porra de uma Runa para voltarmos vivos para casa, mas a garota ainda estava pensando naquela merda de Panacea para nossa pesquisa para o sétimo ano no nosso tempo.
- Será que a Panacea seria capaz de acabar com esse tipo de maldição? - ela olhou para mim, curiosa.
- A ideia é que seja a Cura de Todas as Doenças. - eu sacudi os ombros. - Então, suponho que sim.
- Maldições e doenças são coisas diferentes. - ela lembrou.
- O que são doenças bruxas senão maldições com agentes infecciosos e vetores de doenças? - eu ponderei, fazendo Els acenar com a cabeça. - Veja bem, - eu me inclinei na direção da garota, me deixando levar pela linha de pensamento dela. - Licantropia é uma doença, mas pode ser vista como uma maldição. É causada por uma infecção bacteriana. Se não for tratada pode ser fatal. A parte de se transformar em lobisomem é só o efeito colateral. Como uma sequela da infecção.
- Sim, concordo com a parte sobre licantropia, mas a Maldição de Sangue é diferente. Não há infecção, não é uma doença. Pode causar sintomas, mas no fundo necessita de um contra-feitiço, não um antídoto ou medicamento. - Electra retorquiu, séria.
- Como um Sectumsempra. Ou o Estupefaça. - eu suspirei. - Sim. Faz sentido.
- Mas se causa sintomas, não é uma doença? - Remus prestava muita atenção na conversa.
- É complicado, Remus. Maldições de Sangue são causadas especificamente por magia. Algo, ou alguém, causou isso àquela família. Pode ser sempre o primogênito ou então apenas as mulheres ou apenas os homens… - eu sacudi a cabeça. - Foi causado, geralmente, por feitiços. É uma maldição, causada por um encantamento.
- O encantamento foi perdido há séculos. - Peter disse, sério, chamando a nossa atenção. - Nós pesquisamos. - ele abaixou o tom de voz. - Na nossa família pode afetar mulheres, mas especialmente homens. Não tem um padrão, é completamente aleatório.
- Entendo. - eu olhei Els, que sacudiu a cabeça:
- Cada Maldição de Sangue tem um encantamento. - ela disse, se recostando na cadeira. - Suas poções o ajudam?
- Melhoram alguns sintomas. - ele disse, vagamente.
- Talvez a Panacea o ajude. - Pontas também estava concentrado na conversa.
- Talvez sim, talvez não. Vocês precisam se lembrar que James e eu somos apenas alunos. Estamos tentando, mas não significa sucesso certo. - Els disse, delicadamente. - Muitos alquimistas famosos tentaram e falharam. E Maldições são magia em sua forma mais pura. Como Cruciatus, elas podem ser quebradas, mas a Panacea não as resolveria.
- Mas poderia amenizar. - eu lembrei. - Pelo menos acalmar os sintomas.
- Mas aí não seria a Panacea. Seria uma poção meia-boca de bem-estar. - Electra sacudiu a cabeça. - É uma questão complexa. Vamos levá-la a Dumbledore.
- Vamos. - eu concordei. - Essa discussão vai render.
- Ah, vai. Se nem nós estamos concordando, quando o diretor entrar na conversa… - Els riu. - Quando tivermos um consenso, trarei a resposta para vocês.
- Acho que vou dormir. Não foi um dia fácil. - Electra suspirou e ficou de pé, passando os olhos pelo grupo com carinho, mas parou em Peter por alguns segundos. - Se precisar de ajuda, Peter, tudo o que precisa é pedir.
- Tudo bem. Obrigado. - Pettigrew acenou com a cabeça, mas os olhos logo ficaram perdidos nas chamas da lareira.
Talvez nós teríamos uma chance de trazê-lo para nós.
Mas só talvez.
As semanas se passaram com mais e mais notícias de ataques a locais trouxas e bruxos que tinham bom relacionamento com trouxas e nascidos-trouxas.
Mulciber e sua companhia não andavam sozinhos, como tinham costume de fazer antes. Na verdade, eles saíam do caminho de Electra - o que a deixava com um ego imenso - quando ela passava. E o pavor que eles tinham dela tinham se mostrado mais do que justificados: ela usou uma azaração complexa (e que eu tinha certeza que ela tinha pesquisado na biblioteca escondida de todos nós de alguma forma) que o tinha deixado na forma de rato sarnento.
Ele tinha sido levado ao St. Mungus depois que Pomfrey não foi capaz de curá-lo. Até onde eu sabia, ele ainda estava lá: já na forma humana, porém com uma sarna que não era remediada por nada que os curandeiros conseguissem pensar. A família Mulciber pagou a um curandeiro estrangeiro para vir à Inglaterra, um especialista em maldições de pele, mas ele ainda estava quebrando a cabeça com o que diabos o garoto tinha.
Tudo isso havia sido contado a mim por um Aric Nott às gargalhadas.
- Você me prometeu que não ia fazer nada sozinha. - Evan olhou a neta, que mordiscava uma varinha de alcaçuz. Eu suspirei:
- Eu estava junto. Eu nem sei da onde ela tirou aquele feitiço, mas eu estava com ela. - eu defendi a Black, que sacudiu os ombros:
- Foi coisa do Alvo. Merlin me livre de algum dia tê-lo contra mim. - ela riu. - Um rato sarnento.
- Você podia ter escolhido qualquer forma. Por que um rato? - Al questionou, enquanto eu olhava meu irmão, suspirando.
É claro que ele teria algo a ver com isso. Els tinha ficado colada em mim a maior parte do tempo, como comandado por Pontas. Mas Alvo não.
- Não sou muito fã de ratos. - ela tamborilou os dedos sobre a mesa de madeira, enquanto os demais a encaravam. - Essa parte foi resolvida. O que mais nos falta fazer?
- Bem, temos apenas alguns dias até a irmos para as férias de Natal. - Sirius se ajeitou na cadeira, tomando um grande gole de água. - Precisamos apenas repassar o plano, agora. Tudo já foi feito.
- O Proteu está pronto? - Electra questionou. Aric colocou três anéis sobre a mesa:
- São nossos anéis de família. Nós usamos o Proteu neles. Anabelle ficou com o pingente e Al irá usar o relógio. - Aric empurrou o anel Rosier para Evan e o Black para Regulus, que olhou o irmão mais velho:
- Eu o devolverei a você assim que sairmos de lá.
- Não se preocupe. - Sirius sorriu para o irmão com carinho. - Não é importante. Não agora.
- Perfeito. - Pontas se ajeitou na cadeira e olhou para Lily. - E o Fidelius?
- Acho que peguei o jeito. - ela disse, ansiosa. - Mas precisamos treinar pelo menos uma vez antes de conjurarmos o feitiço sobre a Mansão da sua família.
- Precisamos decidir quem será o fiel do segredo. - Cygnus lembrou, os olhos passando pelo nosso grupo. - Um de nós.
- Não nós. - Aric apontou para si mesmo, Evan e Regulus, que acenaram solenemente. - Podemos ser capturados a qualquer momento e não somos bons oclumentes no momento. Entregaremos o segredo mesmo lutando contra isso.
- Certo. - Cygnus olhou para o meu avô, que ergueu a sobrancelha. - Você, Pontas. Você deveria ser o fiel.
- Está maluco?
- Nenhum de nós delataria o outro, jamais, mas você é diferente. - Cyg sacudiu a cabeça. - E a Mansão é sua.
- É de meu pai.
- E como você mesmo disse, ele tem uma idade avançada. Seria melhor um dos jovens. - Cygnus acenou para a nossa mesa redonda. - A Mansão será sua antes que chegue a qualquer um de nós. É natural que você seja o fiel do segredo.
Sirius acenou com a cabeça:
- Cyg tem razão. - ele apertou o ombro do amigo. - Nós confiamos em você e sabemos da sua capacidade de se proteger enquanto o reforço não chega. É sua casa ancestral, é sua família e sua propriedade. É seu direito e dever protegê-la.
Pontas abaixou a cabeça:
- Se eu aceitar isso - ele começou, a voz baixa. - estarei deixando claro que meus pais podem morrer a qualquer momento.
- É a história natural das coisas. - Evan disse, suavemente, a mão dando tapinhas no ombro de Pontas. - Da mesma forma que James irá herdar esta Mansão em algum momento.
- No nosso tempo, James já é dono da Mansão. - Alvo disse, no mesmo tom sério. - Meu pai não quer uma casa tão grande e James é o mais velho. Ficou para ele.
- Tudo bem. Protegerei a casa e minha família e amigos. - Pontas olhou para todos nós, sério. - Mas vamos começar a treinar agora. Não quero arriscar um segundo além do necessário.
- Então, vamos começar com algo pequeno. - Lily ficou de pé e apontou um armário que apareceu no meio da Sala Precisa. - Eu serei a conjuradora do feitiço. Você precisa confiar em mim.
- Eu confio em você com a minha própria vida. - Pontas colocou uma mecha de cabelo ruivo atrás da orelha de Lily, que corou, mas não pareceu desconfortável com o toque. - Vamos começar. Lily, faça o seu pior.
Lily riu, puxando Pontas pela mão para perto do armário e ergueu a varinha, começando a recitar o feitiço.
Lily tinha, não só pegado o jeito, mas dominado o Feitiço Fidelius perfeitamente. Tão perfeitamente que Alvo e Cygnus tinham passado horas brincando de entrar e sair dos mais diversos lugares e coisas que Lily e Pontas tinham conjurado para testar o feitiço.
A pobre Anabelle tinha se assustado tanto que tinha chorado quando Cygnus saiu fantasiado de Freddy Krueger - e que eu descobri ser o maior medo da menina - de dentro de um armário.
Aquilo rendeu a ele um cascudo de Alvo e sermões de Sirius e Evan.
Els, no entanto, tinha revirado os olhos:
- Nem para encher esse rosto de cicatrizes você serviu, Cygnus. Se for para fazer as coisas, faça direito. Você ganhou uma aula exclusiva sobre disfarces mágicos comigo. - ela olhou o irmão, os olhos brilhantes demais.
Aquela era a forma de Electra de lidar com as briguinhas entre os gêmeos. Quem quer que tivesse começado, ficaria preso a ela por algumas horas sendo torturado com Transfiguração avançada.
Depois dessa reunião - e depois de Lily e Pontas se darem por satisfeitos em relação ao feitiço - o tempo pareceu voar.
Nós vínhamos treinando diariamente, deixando as tarefas para o mais próximo possível da data de entrega. Nenhum de nós tinha cabeça para pensar em tecnicalidades de interposição e sobreposição de feitiços de defesa enquanto já tínhamos dominado os feitiços de defesa em nossos treinamentos.
Santo Deus, Lily conjurava o Fidelius!
Ainda assim, nós tentamos manter nossa fachada de alunos comuns até a véspera da nossa ida para casa. Electra tinha retomado a face azeda conforme o dia se aproximava - ela só tinha melhorado depois que Aric trouxe a ela uma foto de Mulciber cheio de perebas e cabelo ralo pela sarna que ela causara a ele, ainda em tratamento:
- Um presente de Natal adiantado. - ele disse, sorridente, enquanto Electra caía na gargalhada.
De alguma forma, aquela foto vazou para o corpo estudantil, saindo da Sonserina. E Mulciber, ainda ausente, era carinhosamente chamado de Mangy Rat Mulciber pelos alunos que não o temiam.
- Vai passar o Natal com sua mãe? - eu perguntei a Pettigrew, única pessoa a não achar graça sobre o apelido de Mulciber. Eu fechei o malão, trancando a coisa enquanto ele respondia:
- Vou. Acho que vou estender o período em casa. Dumbledore disse que eu posso ficar umas semanas a mais e eles irão me enviar as tarefas pelo correio. - ele disse, vagamente. - Alguma resposta dele sobre a sua Panacea?
- Ele também tem dúvidas, mas disse que talvez ajude. Foi uma discussão longa. - eu ponderei, lembrando de ver Electra e Dumbledore andando de um lado para o outro, discutindo tecnicalidades da Panacea enquanto eu, Caradoc, Minerva e os irmãos Prewett os assistíamos em silêncio.
Era assombroso ver Els contra-argumentar com um bruxo daquele nível.
- Ela não vai ser Auror. - Minerva disse, enquanto Els e Dumbledore conversavam sobre um diagrama de um bruxo alquimista francês que eu nem sabia que existia.
- Não, não vai. - eu sacudi a cabeça, quando Electra sentou sobre a mesa e Dumbledore folheou um livro, pensativo. - Ela é uma pesquisadora. O pai é Auror, talvez isso tenha muita influência. Mas com ele longe…
- Ela se torna esse monstro. - Fabian apontou para a garota que balançava as pernas no ar antes de dar um grito estridente e lembrar Dumbledore sobre outro bruxo, desta vez holandês, que tinha feito uma dissertação a respeito de Maldições de Sangue e Curas Bruxas.
- Ela só gosta de estudar. - Caradoc defendeu.
Eu sacudi a cabeça, retornando à realidade:
- Bem, quando decidir o que fazer, nos avise. Não queremos deixar de falar com você, Peter. - eu dei tapinhas no ombro dele. - É um bom amigo, apesar de não passarmos tanto tempo juntos.
Ele acenou com a cabeça, o rosto um tanto vazio:
- É, vou avisar. - ele acenou com a cabeça, fechando o próprio malão e nós descemos para o salão comunal em silêncio, enquanto os demais nos esperavam.
Aquela era a última vez que eu estaria no trem para casa - pelo menos, até retornar ao meu tempo.
E, Merlin, aquilo fazia meu estômago revirar de um jeito bem desagradável.
