JAMES SIRIUS POTTER

Depois do jantar, Electra e eu fomos para o escritório que Fleamont tinha montado para ela. Logo, os nossos irmãos se enfiaram junto e, assim que tiveram chance, Sirius e Pontas também.

- Algum avanço? - Sirius olhava os esquemas confusos de Electra, que estava com o quadril apoiado na mesa de madeira escura, os olhos cinzas fixos em uma lousa.

- Só que estou fodida de todas as formas mágicas possíveis. - Electra respondeu, distraída. - Cygnus, o que você sabe sobre mandalas?

- Nada. - o irmão foi categórico. Electra olhou para a mesa em que estava apoiada, pescou um livro e o arremessou para o irmão do meio:

- Pois agora vai saber. Sou boa em Aritmancia, mas você é melhor. Mandalas e Aritmancia são interligados da mesma forma que Alquimia e Magia Ancestral. - ela disse, séria. - Tenho uma ideia, mas gostaria que você usasse seu dom matemático para me ajudar.

- Você precisa do que, exatamente? - Cygnus olhou a irmã, que suspirou:

- Preciso de um mandala, um heptagono com um círculo dentro. Mas preciso de cálculos para ver quantos triângulos deverão ficar dentro deste mandala. - ela explicou, suspirando. - O número de linhas determinará a estabilidade da magia. Lembrando que o miolo é onde estará a Runa que irei criar.

- Certo. Vou fazer minhas contas. - Cygnus suspirou, girando o livro nas mãos e, por fim, o abriu. Ele ergueu a cabeça, abrindo um sorriso. - Esse livro é de Hogwarts.

- Você não devolveu? - Anabelle pareceu quase escandalizada. - Você disse a McGonagall que devolveria!

- E vou. Só não disse quando. - Electra sacudiu os ombros, displicente. - De qualquer forma, o pouco avanço que tive foi esse: sete é o número mais estável para magia ancestral, então quero um heptágono para o mandala. O círculo irá simbolizar o próprio tempo. Nós sabemos que o tempo, por si só, é um ciclo e passado, presente e futuro acontecem simultaneamente. Qualquer pequena mudança irá afetar o futuro de forma grandiosa. Precisamos da estabilidade do heptágono para não ficarmos presos em um limbo.

- E a runa que eu ativei? Lembra dela? - Cygnus questionou.

- Sim. E cheguei à conclusão que ela é uma que apenas traz para o passado e que não permitirá nosso retorno ao futuro. - Electra explicou. - Os traços são rudimentares, menos precisos e sem alguns dos elementos essenciais que indicam futuro.

- Certo. - Al esfregou os olhos. - A tintura está, no momento, em concepção.

- Você não teve avanço algum, não é? - eu olhei meu irmão, que fez um muxoxo:

- Nada. Fleamont me prometeu ajuda e eu vou pegar cada gotinha de conhecimento dele para fazer isso. Bells está na pesquisa de ingredientes.

- O que também é um pesadelo. - a loira fez careta. Eu suspirei, olhando Pontas:

- Sua biblioteca tem alguma coisa relacionada a Alquimia?

- Tem todo um setor. - ele respondeu. - Vai precisar de cada página, acho.

- Vou. Electra está com a parte mais bruta da coisa, mas vou colocar meu cérebro para trabalhar nessa runa com ela.

- Pesquise mais runas. Em Hogwarts temos aulas com as básicas, mas procure as Runas menos conhecidas. Enquanto isso, vou procurar sobre Magia Ancestral e como ativá-la para fazer a Runa funcionar. - Electra bocejou.

- Não é só desenhar? - Cygnus perguntou.

- Se fosse, eu não teria metade do trabalho que estou tendo. Para que uma Runa se torne mágica precisa ser enfeitiçada para sempre ser mágica. E como Runas são Magia Ancestral, feitiços comuns não irão funcionar. Então, terei que acessar a Magia Ancestral para ativar a Runa. - Electra voltou a pousar os olhos sobre nós.

- É por isso que você tem tantas dores de cabeça. - Sirius se queixou, arrancando um sorriso triste da neta:

- É o preço do conhecimento. - ela ficou de pé e se espreguiçou. - Vamos dormir. Amanhã teremos um dia cheio.

- Certo. - Sirius jogou o braço sobre o ombro da neta. - Vai dormir. Vou te dar a poção do Alvo e ficar com você até você cochilar. É a sua cara dizer que vai dormir e ficar acordada até o amanhecer pensando em Alquimia.

Electra fez careta, como se os planos tivessem sido arruinados, e nos seguiu para fora do pequeno escritório.


A manhã seguinte foi iniciada com uma notícia horrível: o alfaiate da Aumont foi encontrado morto, com sinais de tortura, no meio do Beco Diagonal nas primeiras horas da manhã.

O nome dele era Joseph Ashmore, um bruxo mestiço, como eu.

Electra tinha caído no choro, o que deixou os outros um tanto alarmados e, desta vez, foi Anabelle que sacudiu a cabeça, resoluta:

- Ele era família. - ela encarou Cygnus, que acenou com a cabeça:

- Iremos vingá-lo. - ele prometeu à irmã caçula, enquanto eu e Euphemia tentávamos confortar Electra, que se culpava pelo ocorrido ao homem.

- Não fizemos nada de errado. Só queríamos comprar roupas, Electra. - eu lembrei, passando a mão pelo cabelo cacheado da garota, que chorava nos braços da Sra. Potter. - Não tínhamos como saber.

- Se é culpa de alguém aqui, é minha. - Sirius soou firme. - Eu deveria tê-los alertado sobre Alphard e ele e não o fiz. Vocês não sabiam e foram a uma loja encomendar vestes. Não fizeram nada de errado. Isso é culpa de Voldemort e seus seguidores e, confie em mim, eu amava Alphard mais do que meus próprios pais. Eu o vingarei em nome dele.

Eu passei a mão pelo cabelo de Els e olhei Pontas:

- Precisamos revisar o planejamento desta noite. Nada pode dar errado e, se der errado, temos que ter um plano.

- Iremos revisar tudo. - meu avô prometeu. - Se quiserem nos dar uma luz… - ele olhou os pais, que acenaram com a cabeça.

- Use esses sentimentos todos para trazer sua família para a segurança. - Euphemia murmurou para Electra, que fungou. - Use essa raiva para fazer Walburga pagar pelo o que fez aos meninos e para trazê-los todos para nós.

Electra se acalmou aos poucos, tomando chá, os olhos um tanto desfocados enquanto maquinava alguma coisa. Depois do café-da-manhã, todos nós fomos para o escritório grande de Fleamont, onde Cygnus começou a dissecar o nosso plano para os dois bruxos idosos, enquanto Els e Anabelle faziam pequenos adendos, junto de Sirius.

Al e eu ficaríamos postados na entrada secreta, sem entrar na Mansão de fato. Mas estaríamos a postos para caso tudo desse errado. Electra era quem os guiaria pelo caminho que apenas eu e ela conhecíamos.

A ideia de deixá-la ir sem que eu fosse junto era, no mínimo, excruciante.

Não que eu não confiasse na capacidade de Electra, nem de perto, eu só queria estar lá porque sabia, no fundo, que nem tudo correria perfeitamente - porque nada nunca corria conforme os nossos planejamentos, por mais que passássemos horas pensando em cada detalhe.

E eu não queria que ela lidasse com Walburga Black sozinha.

- Acho que deveríamos cochilar. - Sirius olhou para os três netos. Cyg e Bells concordaram prontamente e Els acenou com a cabeça:

- Podem ir. Vou já já. - ela prometeu, a cabeça baixa, passando os dedos por um mapa que ela mesma havia feito da Mansão, com alguns adendos de Sirius.

- Vai decorar o mapa? - Cyg perguntou.

- Eu já conheço o mapa. Só estou criando diferentes rotas de fuga. Vão descansar. Eu subo depois. - a irmã lançou um sorrisinho triste para o irmão. - Bells, antes de sairmos vamos precisar nos comunicar com os garotos. Avise-os que estamos indo. Consegue fazer isso?

- Claro. Não se preocupe. - Bells sorriu para a irmã e subiu as escadas acompanhada por Sirius e Cygnus. Eu e Al olhamos para Electra, que ainda passava os dedos sobre a tinta seca.

- Então. - Al começou, quando os três estavam a uma distância segura. Euphemia e Fleamont se organizavam para receber notícias nossas e para receber os outros dois bruxos que chegariam durante a madrugada. - O que está planejando?

- Nada. - Electra soou sincera. - De verdade. Eu prometi a Pontas que não faria nada sozinha. Eu não vou fazer nada além do combinado. Idealmente, Orion e Walburga já estarão sedados quando chegarmos.

- E é isso que atormenta sua cabeça. - Pontas acertou em cheio e Els fez careta. - Se eles estiverem conscientes, deixe-os inconscientes. Você é boa nisso.

- Eu sou boa em muitas coisas. - Electra foi enfática. Nesses momentos eu lembrava como o ego dela rivalizava com o do avô adolescente. - O problema é que não estamos falando do Mulciber, que é um imprestável, e sim de Walburga e Orion Black. O pai de Sirius pode ser um tonto, mas isso não se aplica ao poderio mágico dele.

- Você não estará sozinha. - Fleamont lembrou e Els sacudiu a cabeça:

- Mas sou a única setimanista até Evan dar as caras. Sou a mais velha e a com maior treinamento mágico. Eles estão sob minha responsabilidade enquanto estivermos em Grimmauld Place.

- Eles são maiores de idade. - eu lembrei. - E são, no mínimo, tão caóticos quanto você. Fique tranquila. - eu fiquei de pé e fiz Electra se levantar e acenei para Al fazer o mesmo. - Vamos cochilar um pouco e depois nos preparar para a batalha.

- Não haverá batalha. - Pontas foi firme.

- Batalha é sempre uma possibilidade. - eu lembrei. - É melhor estarmos preparados para uma sem precisar entrar em campo do que não estarmos preparados e a coisa ir ladeira abaixo.

Os três Potters mais velhos acenaram com a cabeça e eu levei Els e Al para dormir um pouco.


No final da tarde, nós todos fomos tomar um chá reforçado. Euphemia parecia ansiosa, enquanto nós relembrávamos os códigos de cores:

- Vermelho para perigo. Azul para ajuda. Dourado para segurança. - eu disse, olhando os Blacks, que acenaram com a cabeça. - Desta vez, se houver vermelho, Alvo e eu iremos entrar.

- Usem o vermelho a qualquer sinal de perigo. - as mãos de Alvo estavam sobre os ombros de Bells. Para os demais, ele parecia quase tranquilo, mas para mim era fácil ver o terror nos olhos dele.

Deixar Anabelle ir era, para ele, o mesmo que deixar Electra ir para mim.

Nem um pouco tranquilizante.

- Eu fiz ajustes em algumas vestes antigas que tínhamos. - Euphemia acenou com a varinha e um punhado de vestes bruxas apareceram sobre a mesa.

Todas pretas e de aspecto resistente.

- Estão nomeadas de acordo. Fiz máscaras, mas não sei se irão querer usá-las. Os meninos precisam reconhecê-los, certo? - ela perguntou, delicadamente. Els acenou que sim:

- Sim, precisam. Mas iremos levá-las. Enquanto fazemos o transporte dos garotos, Lily fará o Fidelius aqui. - ela lembrou. - Pontas, vamos precisar que você esteja a postos para nos deixar entrar.

- Estarei. - meu avô prometeu. - E, quando estiverem chegando, mandem o sinal colorido. Qualquer que seja ele.

- Iremos. - Electra prometeu, passando os dedos pela roupa designada como ela e sorrindo de leve. - Algodão bruto e couro.

- Vestes de batalha. - Sirius comentou. - Não era você que gostava de caxemira?

- Caxemira é mais maleável. - Electra cedeu. - Mas algodão bruto é mais resistente. Este é brim, mas existem outras formas, como sarja.

- Que não é tão espesso. - Euphemia completou.

- Exatamente. É o mesmo tecido das suas vestes da batalha em Hogsmeade. Suas roupas saíram inteiras, as minhas não. - ela olhou para mim. Eu acenei com a cabeça:

- Você ainda vai conseguir alguma coisa de caxemira. - eu coloquei as mãos nos bolsos. Electra sacudiu os ombros:

- Não tenho culpa de ter sido criada por uma Rosier obcecada por moda. - ela se defendeu. - Mas a seda ainda é meu tecido favorito.

- Junto de organza, se me lembro bem. - Anabelle completou, sorrindo para a irmã.

- Sim, é. São ótimos para as festas que somos convidados. - Electra admitiu. - Fazem bons vestidos e conjuntos. Brim em um evento desses seria um desastre social.

- Você me ofende. - eu sacudi a cabeça, arrancando uma risada dos outros.

- Eu já expliquei a você que isso seria socialmente inaceitável em um baile. - Electra se defendeu, rindo. - Mas você é um Potter, poderia estar usando roupas feitas de sacos de batatas e ainda seria eleito o homem mais bem vestido do ano pelo Semanário das Bruxas.

- É a vantagem de ser o bruxo mais desejado de Hogwarts. - eu passei a mão pelo cabelo, dando uma piscadela para Els, que riu:

- Você é um sem-vergonha.

- Você gosta.

Cygnus bufou:

- Bem, está escurecendo. Vamos nos preparar para o ataque. - ele juntou as mãos na frente do corpo.

- Não é um ataque. - Anabelle argumentou. - É um resgate.

- Nós vamos invadir e roubar Grimmauld Place. - Electra olhou a irmã mais nova. - É um ataque.

Cyg jogou o braço sobre os ombros da irmã mais velha e a arrastou para a porta, enquanto nós seguíamos os dois:

- Sabe, irmã, estive pensando em destruir aquele armário de cabeças de elfos-domésticos. É macabro.

- Se for destruir alguma coisa, destrua algo longe de onde iremos para despistá-los. E deixe as cabeças intactas. Papai e eu tínhamos planos de enterrá-los. - Els disse, pacientemente, levando o irmão escadaria acima.

ELECTRA ADHARA BLACK

As horas se passaram rapidamente enquanto esperávamos pelo relógio bater às dez da noite. Nenhum de nós dizia nada, Euphemia passava de um por um, ajeitando nossas vestes. James era o mais inquieto, olhando a janela como se esperasse que algo, ou alguém, aparecesse. Alvo, Anabelle e Cygnus tinham as cabeças juntas, repassando o plano novamente. Sirius e Pontas discutiam exatamente o procedimento ao retornamos com os outros três bruxos.

Eu, por outro lado, permaneci sentada ao lado de Fleamont, que lia um livro sobre magia negra. Vez ou outra ele me fazia uma pergunta a respeito - e eu respondia de acordo com o que sabia.

- É impressionante que você saiba tanto sobre magia negra e não tenha sido corrompida. - ele admitiu, dando tapinhas no meu ombro.

- É bom conhecer o inimigo. - eu comentei. - Meu conhecimento de Horcruxes veio apenas da curiosidade. Era uma palavra estranha e ninguém queria falar sobre. Eu pesquisei porque, se ele fez tantas, por que mais ninguém tentaria?

- E porque seu pai a proibiu de ir sozinha a Grimmauld Place. - o Sr. Potter riu. Eu fiz uma cara inocente:

- Eu só queria estudar.

Aquilo fez o homem cair na gargalhada, mas ele parou em seguida: o relógio chegou às dez horas. Eu me levantei, tentando manter as pernas o mais firmes possível e olhei o grupo, que agora parecia mais ansioso do que nunca.

- Nós vamos entrar, pegar o que precisamos, e sair. Nem um segundo a mais. Esqueçam qualquer relíquia familiar. Esqueçam qualquer coisa que não seja o diário e os garotos. Se atenham ao plano e, se algo de errado, chamem ajuda. - eu olhei James, que acenou com a cabeça, as mãos cruzadas atrás do corpo:

- Nem um segundo a mais do necessário. Estaremos em território extremamente hostil, com ligação e acesso direto a Voldemort. - James lembrou. - Só o necessário e nada além disso.

Os outros quatro acenaram com a cabeça, sérios.

- Somos seis. Iremos aparatar em trios. - James continuou. - Na volta, Electra, Sirius e eu traremos um dos garotos. Alvo, Anabelle e Cygnus, o diário ficará com você e por isso estarão em trio.

- Certo. - Cyg acenou com a cabeça, e olhou para Pontas, Euphemia e Fleamont. - Vemos vocês em breve.

Os três acenaram com a cabeça, incapazes de dizer uma única palavra.

- Avise os garotos que estamos indo. - eu pedi à minha irmã. Bells pegou o pequeno pendente que usava e se afastou do grupo, com Alvo na cola dela, para passar o recado adiante.

James e eu nos olhamos e ele disse baixo:

- Mesmo que você não peça, se qualquer coisa me alertar, eu irei entrar. Entendeu? - ele disse, sério. Eu suspirei e acenei com a cabeça:

- Eu sei que irá. Jamais vai nos deixar correr mais perigo do que o necessário. - eu apertei os dedos dele com carinho. - Mas tente não se apressar demais. Isso pode acabar atrapalhando.

- Vou tomar cuidado. - James apertou meus dedos de volta e nós observamos minha irmã retornar para o grupo:

- Evan diz que estão prontos. É a hora. - ela ergueu o queixo.

E, com essa frase, nós saímos da Mansão Potter e fomos em direção a pequena viela não protegida por magia, com nossas capas ajustadas e capuzes erguidos.

Sirius e Cygnus seguraram as minhas mãos com firmeza quando eu aparatei para um beco próximo a Grimmauld Place.


A noite de hoje estava nublada e sem luar. Uma noite perfeita para invadir algum lugar - a menos que você fosse como nós e estivesse nervoso como se fosse prestar os NOMs.

James e eu não podíamos usar o feitiço de desilusão hoje - precisávamos ser vistos pelos garotos. Portanto, nos resignamos a nos esgueirar por becos e vielas até chegarmos à entrada secreta e subterrânea de Grimmauld Place.

Os garotos faziam guarda enquanto eu erguia a varinha e dizia o encantamento para que a pequena porta se destrancasse - o que aconteceu com mais rangido do que eu gostaria, mas foi rapidamente remediado por um feitiço silenciador da minha irmã.

- Eu vou primeiro. - eu olhei para eles. - Fiquem atentos. - eu não esperei a resposta antes de começar a descer pela escada de ferro fundido, depois de lançar o feitiço procurando por qualquer coisa viva lá embaixo.

Nada.

Nem mesmo um rato.

Isso era mais aterrorizante do que se houvesse alguém ali de fato. Era quase como se fosse uma entrada esquecida ou, pior, uma armadilha esperando por um tonto para tentar entrar por ali.

Mas era nossa única chance, então teríamos que enfrentar aquilo de um jeito ou de outro.

Eu acendi a ponta da varinha e olhei em volta: nada além de limo e água parada e um cheiro rançoso no ar.

Nojento.

- Podem descer! - eu chamei no pé da escadinha de ferro e dei alguns passos para frente, procurando por qualquer coisa viva. Haviam esqueletos de rato, sim, e muito limo, mas nada de iluminação. Certamente Monstro não usava aquela passagem. Não havia sinal algum de uso recente.

- Está abandonada. - James comentou, a poucos passos de distância. - Iremos com vocês até o limite.

Meu estômago se retorceu com a ideia de deixar James e Al sozinhos aqui, mas esse era o plano. Era a nossa melhor opção: já éramos quatro invasores. Mais dois seria pior ainda.

- Qualquer coisa suspeita, nos encontrem. - eu pedi, baixinho. James apenas apertou minha mão com carinho antes de seguirmos o caminho, depois de Cygnus fechar a entrada.

A única luz disponível era a de nossas varinhas. E, mesmo estando em seis, eu só era capaz de ver poucos passos à frente. Ainda assim, eu podia me localizar com base no aumento do barulho acima da minha cabeça: talheres e pratos e risadas muito afetadas.

Eles deveriam estar sedados.

Por que não estavam sedados?!

Eu parei por um segundo, quando uma cadeira foi arrastada e ouvi a voz abafada e fria que Regulus usava longe de nós, pedindo para que Monstro trouxesse as sobremesas.

- Devemos prosseguir ou quer esperar? - foi a voz de Sirius que ressoou atrás de mim. Eu hesitei por alguns segundos:

- Não podemos esperar. Temos meia hora até que os outros sejam evacuados. - eu sacudi a cabeça. - Prosseguimos.

- A Poção tem efeito quase imediato. Se eles forem espertos, vão dar uma dose bem alta. - Alvo resmungou atrás de mim, quase me fazendo rir, enquanto James o lembrava que assassinato não era nosso estilo.

Nós passamos para o subsolo de outro cômodo, a cozinha, considerando que eu ouvia Monstro reclamar sobre os meninos terem trazido sobremesas. Um absurdo, ele dizia, o mestre Orion jamais deveria ter aceitado esses horrores para seu jantar. Nem mesmo sangue-ruins teriam trazido sobremesas tão nojentas para a Casa Black.

Eu entendia, agora, porque Sirius o odiava.

Eu parei a alguns metros da entrada subterrânea que daria direto para a cozinha e sinalizei silêncio para eles, enquanto Monstro se movia logo acima de nós, ainda resmungando sobre nascidos-trouxas.

Ele não calava a boca?!

Eu queria ouvir se mais alguém estava perto!

Monstro arrastou os pés novamente, resmungando e eu ouvi uma porta bater.

Era a hora.

- Fiquem alertas. - eu olhei os dois Potter e abri a pequena porta com cuidado, olhando em volta antes de me arrastar para cima e deixar que os outros quatro entrassem também. Os gêmeos se esconderam dentro de um armário, enquanto Sirius e eu nos agachamos perto da mesa, onde seria difícil sermos vistos pela porta da cozinha.

Monstro entrou com um punhado de pratos, os olhos fixos na pia logo à frente.

Não foi difícil Sirius silenciá-lo. Muito menos deixá-lo inconsciente e enfiá-lo em um armário depois de colocar as louças na pia com o máximo de barulho que nos permitimos.

Sirius e eu nos entreolhamos, respirando com mais calma, mas nada fazia minhas pernas pararem de tremer e a minha boca continuava seca como se eu não bebesse água há dias.

Meu avô acenou para que os gêmeos saíssem de dentro do armário de panelas e nós quatro nos entreolhamos.

Agora é que a coisa complicava.

- Deveríamos amarrar Monstro. - Cygnus murmurou.

- Perda de tempo. O feitiço foi forte. - Sirius sacudiu a cabeça. - Vamos. Eles devem estar no mínimo sonolentos agora.

Foi um alívio quando Sirius tomou a frente e me deixou ficar à retaguarda dos meus irmãos. Eu conhecia a Mansão do futuro. Ele conhecia a Mansão atual.

Nossos passos foram silenciosos até que Cyg pisou em uma madeira que rangeu. Nós paramos imediatamente.

- Monstro, o que está fazendo agora? - a voz de Walburga fez Sirius não mover um músculo e meu estômago se embrulhou.

Ela não estava nada sonolenta.

- Deixe a criatura. - Orion soou cansado. - Ele não é leve como uma pena.

- Cale-se. - a voz dela soou mais próxima do que eu gostaria e eu ergui a varinha imediatamente, passando meus irmãos:

- Peguem os garotos. - eu ordenei exatamente quando Walburga abriu a porta e deu de cara com Sirius e eu, encapuzados, com as varinhas em punho.

Walburga ergueu a varinha mais rápido do que eu esperava, acertando Sirius com um Crucio inesperado. Eu quebrei o feitiço ao atacá-la eu mesma, atraindo a atenção da bruxa para mim enquanto Sirius mal respirava ao meu lado. Anabelle e Cygnus hesitaram, mas eu repeti a ordem tão alto, que Walburga pareceu alarmada quando entendeu que estávamos aqui pelos garotos.

Walburga e eu continuamos nosso duelo no corredor escuro e com piso de madeira, que rangia a cada passo que eu dava. Ela tentou atacar os meus irmãos, mas foi incapaz quando eles entraram em uma porta à minha direita para ir diretamente à sala de jantar - exatamente como eu os orientara a fazer caso fôssemos pegos no corredor.

Ela era excepcional, isso era indiscutível. Mas eu precisava de ajuda se quisesse sair daqui rápido, antes que alguém notasse um ataque à Grimmauld Place.

Então, eu mandei o sinal vermelho.

Mas, antes que James e Al pudessem aparecer para me ajudar, Evan apareceu atrás de Walburga e a acertou com um Estupefaça tão intenso que eu tive que me jogar contra a parede para não ser esmagada pela mulher insconsciente.

- Orion está apagado. - ele disse, exatamente quando James e Al apareceram atrás de mim. Cyg, Bells, Aric e Regulus pareciam transtornados, mas estavam inteiros. - Meus pais resolveram aparecer.

- Seu pai…

- Eu o apaguei e amarrei. - Evan disse, me arrastando pelo cotovelo escadaria acima. - Vamos logo. Precisamos dar o fora daqui antes dos outros chegarem.

- Outros?

- Meu pai avisou que tinham vindo sequestrar alguém. Temos minutos até que acessem a Mansão. - Evan explicou e Reggie nos passou correndo, com Sirius mancando logo atrás, ambos abrindo a porta da suíte principal aos chutes.

Bem bruxo da parte deles.

Meu tio não hesitou em cortar a própria mão e passá-la sobre o cofre da mãe, que se abriu com um estalido delicado. Mais nenhuma proteção.

Ela não esperava traição de Regulus. Não depois do que fizera com Sirius. Reggie pegou o diário e Sirius o replicou imediatamente, enfiando a cópia exatamente onde estava a original. Aric limpou todo e qualquer sinal de sangue no chão, enquanto Evan apagava o traço de que Reggie havia mexido no cofre: ele desfez e refez o feitiço, com um vidro de sangue de Walburga (eu não queria saber como ele tinha conseguido).

O barulho de porta sendo arrombada fez meu estômago dar mais um mortal.

- Eles estão aqui. - eu olhei Evan, apavorada. Ele trincou os dentes e nos arrastou para fora da suíte principal, enquanto Aric a reconstruía. - Rota de fuga. Diga.

- Há uma escadaria secreta por ali. - eu apontei o canto esquerdo. - Só puxar o quadro. Depois…

- Pensamos no caminho enquanto formos. - James cortou. - Vamos.

Eu saí na frente, com os outros na minha cola, mas aliviada em saber que Evan e Aric mantinham a retaguarda, enquanto James vinha à frente comigo. Reggie ajudava Sirius da forma que conseguia, enquanto Anabelle enfiava o diário em uma bolsa protegida e Alvo a seguia de perto, junto de Cyg.

Uma boa formação. Eu arranquei o quadro com um aceno de varinha e desci as escadas com a varinha em punho, me preparando para qualquer possível encontro com Comensal da Morte.

Primeiro, Lucius Malfoy.

Eu usei um Estupefaça antes que James pudesse pensar. Nós pulamos o corpo desfalecido dele e continuamos a correr.

- Iremos sair pela porta da frente. - eu alertei James que repassou o recado aos demais. James arremessou um outro comensal contra uma parede, enquanto Cygnus fazia a coisa desmoronar com um Bombarda potente, dificultando o acesso dos outros comensais a todos nós.

Nós saímos pela porta da frente, depois que eu arrombei a coisa também com um Bombarda.

E havia apenas uma pessoa lá fora.

O próprio Voldemort.

Eu parei com os sapatos deslizando pelo chão úmido de neve e ele encarou o grupo enorme de bruxos adolescentes.

- Eu deveria saber. - os olhos dele pousaram sobre Reggie e ele ergueu a varinha.

Alvo não hesitou em usar um Expelliarmus, que foi defletido com habilidade pelo bruxo das trevas, que agora tinha o olhar preso no meu cunhado.

Ótimo.

Idêntico ao pai dele.

Voldemort apontou a varinha para Al, mas Bells o empurrou com o próprio corpo para o chão antes que o Crucio o acertasse. Cyg a cobriu e os três sumiram antes que Voldemort pudesse acertá-los com um novo feitiço.

James arremessou uma estátua em Voldemort e eu explodi mais um encanamento para atrapalhar a vida do bruxo - Sirius agarrou o irmão, James segurou Aric e eu agarrei a mão de Evan.

Voldemort gritou com raiva quando nos viu aparatar para longe dele.


Eu caí sobre Evan, que resmungou de dor, me empurrando para o lado. Eu olhei em volta, ainda tonta da aparatação: todos ali. Todos vivos.

Ninguém inteiro.

- Vamos. Vamos. - Sirius me ergueu pelas costas da blusa e me fez ficar de pé. - Para a segurança.

Evan me arrastou pelo cotovelo até a rua que Sirius se dirigia, com um grupo de adolescentes desarrumados e feridos logo atrás dele.

Fleamont, James e Remus nos esperavam.

- Conseguiram? - Remus perguntou, os olhos pousando sobre mim. Eu acenei que sim, ainda incapaz de falar.

Se abrisse a boca, era capaz de vomitar por todo o asfalto agora que o pior da batalha tinha passado. Eu acenei para que os gêmeos entrassem primeiro, já que Bells carregava a Horcrux. Alvo foi em seguida e todos os outros, até que restou apenas James e eu.

- O pai de Evan estava lá. Alertou os outros. - James disse, rapidamente. Pontas sussurrou o segredo no ouvido dele e depois no meu e a Mansão de materializou na minha frente. - Ele estava lá.

- Vamos entrar. Vou colocar mais feitiços de proteção. Remus, filho, se puder pedir a seu pai que nos ajude… Talvez Arthur, claro. - Fleamont nos enfiou para dentro do terreno da mansão, um lugar seguro.

Foi Pontas que me segurou quando eu vomitei todo o conteúdo do meu estômago.


- Como você está se sentindo? - a Sra. Lupin perguntou, delicadamente, enquanto eu tomava um gole da poção que Fleamont me trouxera para "acalmar os nervos".

- Melhor. - eu pousei a xícara. - Me desculpem pelo jardim.

- Acontece com o melhor de nós. - Pontas sorriu, mas a alegria não chegou aos olhos. - Ele estava lá?

- Meu pai deve ter alertado sobre nós. - Evan estava com o quadril apoiado na bancada da cozinha, imponente apesar do rasgo na camisa e o sangue seco no rosto. - Nós somos os espiões. Ele foi por nós e teve a alegria de conhecer esses seis. - Evan apontou o grupo que tinha ido até Grimmauld Place.

- Eu ainda não acredito que você usou a porra de um Expelliarmus contra ele. - Cygnus sacudiu a cabeça. Eu abri um sorrisinho:

- Tio Harry gosta bastante desse feitiço. Ele só quis honrar o pai.

Al ergueu o dedo do meio:

- Foi a primeira coisa que eu pensei. - ele admitiu, dando um aperto leve na coxa de Bells, o que não passou despercebido por Cygnus, Evan e Sirius. Os três olharam o Potter com os olhos brilhando, mas Al simplesmente os ignorou. - Meu cérebro ficou em branco quando eu vi ele e escutei os outros atrás de nós.

- Foi ruim, mas fizemos o que tínhamos que fazer. - James disse, parado ao lado de Fleamont. - Esta parte está finalizada.

- Estão todos realmente bem? - a Sra. Evans parecia alarmada. Petunia tinha medo nos olhos, mas não nos encarava.

Eu também não encararia um bando de adolescentes sangrando e fedendo a esgoto.

- Estamos. - Cygnus assegurou. - Não se preocupe, Sra. Evans. Você e sua família devem partir em breve, para um lugar mais seguro.

- Não seria melhor ficarmos aqui? - Petunia questionou. - Já estamos aqui e é bem protegido.

- Este é um quartel general. - Pontas disse, pacientemente. - Você não quer ficar em um quartel general. Confie em mim.

Ela bufou, cruzando os braços, e não respondeu.

- É um prazer conhecer todos vocês. - a Sra. Weasley parecia extasiada ao olhar os futuros netos. - E é uma pena que tenhamos que nos despedir tão cedo.

- Assim que tudo isso acabar, iremos rever vocês. - Al prometeu. - Antes de irmos embora.

- A história que Fleamont nos contou é absurda. - Arthur sacudiu a cabeça, enquanto nos olhava. - Mas confio em Fleamont e Euphemia, e se confiam em vocês, também confio. É uma honra ter rapazes tão corajosos em nossa família.

Aquilo fez James sorrir com orgulho:

- Você vai ter muita dor de cabeça comigo quando eu for criança, mas lembre-se disso quando eu fizer alguma coisa. - ele pediu, arrancando algumas risadas. - Sou um rapaz corajoso. Lidamos com Você-Sabe-Quem. Coragem, ok?

- É uma pena não podermos passar mais tempo juntos. - eu concordei, quando Al deu um cascudo no irmão, que foi revidado com um soco na coxa. - Mas assim que isso tudo acabar, iremos contar timtim por timtim de tudo.

- Devemos ir agora. - Caradoc olhou as famílias. Todos iriam para fora do país, para ficar em casas seguras e com membros da Ordem os protegendo até que tudo isso acabasse.

Era a opção mais segura no momento, apesar de triste.

Nós demos espaço para que Lily e Remus se despedissem de suas famílias. Gideon e Fabian ficariam com a irmã e o cunhado, de modo que pareciam apenas chateados por perder grande parte da diversão, como Fabian havia dito.

As feições tristes de Lily e Remus não ajudaram em nada quando Anabelle suspirou, depois de alguns minutos de puro silêncio após as famílias irem embora:

- Vamos destruir o diário agora. - ela se levantou, com Al a imitando imediatamente. - Ele está falando comigo e eu não quero ele falando comigo.

Sirius arrancou a bolsa da mão de Anabelle e olhou dentro, para garantir que o diário estava ali:

- Já vi isso uma vez e não vou ver de novo. - ele resmungou, olhando Evan. - De novo?

- De novo. - meu outro avô se levantou, sendo imitado pelos demais. Eu impedi Anabelle de ir:

- Nós duas somos suscetíveis. Vamos evitar um pouquinho, ok? - eu pedi, fazendo com que Anabelle sentasse. - Vamos ajudar a Sra. Potter com a bagunça de lama e sangue que fizemos na casa dela.

Sendo assim, os garotos e Lily saíram com Fleamont logo atrás.

Anabelle e eu ficamos dentro da casa, onde aquela coisa não nos tentaria novamente.

JAMES SIRIUS POTTER

Sirius praticamente marchava para os jardins, seguido de perto por Evan.

- Nunca pensei que esses dois fossem ser amigos assim. - Pontas comentou. - Mas acho que eles têm tanto carinho pelas meninas que ficam ofendidos quando aquela coisa tenta mexer com elas.

- Nah. - Regulus sacudiu a cabeça. - Eles simplesmente são iguaizinhos. Ter Evan na Sonserina era a mesma coisa que se Sirius estivesse lá. Ele só tem um pouco de bom-senso a mais que meu irmão.

- E ele conseguiu fazer Electra pensar quando ela estava entrando em pânico. - Cygnus disse, caminhando com calma.

- Ela entrou em pânico? - Lily pareceu surpresa.

- Ela ficou um pouco assustada. O cérebro dela deu pane. - Aric suspirou. - Electra só não queria ninguém machucado e de cara o Sirius foi ferido.

- Cruciatus? - Lily perguntou, receosa, recebendo um aceno de cabeça de Aric como resposta.

- Foi quando ele foi ajudar Els contra Walburga. - eu contei. - Electra ficou tão tensa com tudo isso que acabou vomitando depois que chegamos na Mansão.

- Quem está com o dente? - Sirius perguntou, quando chegamos a uma distância saudável da Mansão. Evan colocou a coisa no chão e deu alguns passos para trás, tenso.

- Eu. - Cygnus ajeitou a postura, pegando a presa de basilisco de dentro de um vidro reforçado e a segurando com força. - Quem quer fazer as honras?

- Pode ser você. - Remus sugeriu. - Você já está com o dente mesmo. Não importa quem irá destruir, só que seja destruída.

Cygnus olhou em volta e, quando viu que ninguém fez menção de pegar a presa, respirou fundo e caminhou até o local onde Sirius tinha deixado o diário com capa de couro escuro.

- Se eu hesitar demais, se essa coisa tentar me possuir, me arranquem daqui e destruam sozinhos. - ele pediu. - Ele está falando comigo.

- Destrua. - Alvo foi firme e Cygnus acenou com a cabeça, pousando os olhos sobre o diário por meio segundo antes de erguer a mão com o dente de basilisco.

O ar ficou gelado e a mão de Cygnus tremeu. Evan, Aric e Sirius deram um passo para a frente e Al e eu não demoramos a imitá-los, junto de Remus e Pontas. Lily tinha sido impedida por Fleamont, que murmurava que precisava alguém longe caso aquilo virasse puro caos.

Cygnus era alto e um tanto musculoso devido seu papel de batedor pela Sonserina. Não seria fácil arrastá-lo para longe caso fosse possuído como tinha sido com Electra.

O Black murmurou algo sob a respiração e fechou os olhos, com a respiração pesada.

- Ele está hesitando demais. - Remus soou inquieto perto de mim. Eu sacudi a cabeça:

- Dê um momento a ele. - eu pedi, baixo. Cygnus sacudiu a cabeça, os olhos ainda fechados.

- Está falando com ele! - Al sibilou, mas Pontas não o deixou ir para a frente:

- Espere. - Evan ergueu a mão, impedindo Alvo de continuar a falar alto demais. - Cygnus. Venha.

Cygnus não respondeu, agora com a testa franzida, a mão com o dente de basilisco mais leve. Alvo e eu demos um passo para a frente. Evidentemente, isso não estava indo de acordo com o planejado.

- Cygnus. - Evan deu um passo para perto do neto, que se esquivou dele. Evan olhou para Sirius, que sacudiu a cabeça.

- Cyg. Vamos, cara. Anabelle precisa da nossa ajuda lá dentro. - Alvo chamou.

Aquilo fez Cygnus abrir os olhos e se virar para Alvo e eu.

- Bells e Electra estão lá dentro. Estão precisando da nossa ajuda. Vamos entrar, cara. - Alvo continuou, arriscando um passo para perto do melhor amigo.

Os olhos azuis de Cygnus estavam opacos, mas ele obviamente encarava Alvo e eu.

- Electra e Anabelle. - ele disse, baixo. Eu acenei com a cabeça:

- Elas estão lá dentro. Vamos ajudá-las, Cyg. - eu disse, com a voz mais calma que pude usar.

Era como ver Electra possuída novamente. Só que dessa vez, o alvo era vinte quilos mais pesado e tinha trinta centímetros de altura a mais.

Os olhos de Cygnus escureceram e ele basicamente mostrou os dentes:

- Onde está Lilybug? - ele questionou, a voz baixa. Alvo e eu nos entreolhamos. - Onde está Lilybug? - ele repetiu, mais alto.

- Lily está em casa. Com meus pais. - Alvo disse, calmo.

- Você a escondeu. - Cygnus encarou Alvo, com raiva. - E está usando minhas irmãs de desculpa.

- Não. - Al ergueu as mãos, na defensiva. - Lily realmente está em casa. Apenas nós e as meninas estamos aqui.

- Vamos entrar, Cyg. Deixe o dente e vamos ver as meninas. - eu tentei. A cabeça de Cygnus tombou levemente em direção ao diário, como se o ouvisse dizer algo apenas para ele.

Cygnus então voltou a encarar Alvo:

- Impostor. - ele cuspiu, pulando sobre meu irmão com o dente de basilisco em punho. Eu me juntei ao bolo que eram os dois, Cygnus gritando ofensas a Alvo, Alvo gritando para soltá-lo e eu tentando separá-los.

Em algum momento, a mão de Cygnus que segurava o dente de basilisco escapou da minha - por pouco tempo, mas o suficiente para que arranhasse o braço de Alvo. Eu puxei o braço de Cygnus para longe com força e consegui que ele soltasse o dente.

Alvo gritou e Pontas o arrastou para longe com a ajuda de Aric, enquanto Sirius e eu puxávamos Cygnus, que ainda praguejava, para longe daquilo tudo.

Santo Deus, como ele era forte.

- ONDE ESTÁ LILYBUG? - ele urrou. - VOCÊ A LEVOU! VOCÊ A LEVOU!

Remus tomou o meu lado:

- Vá com seu irmão. Reggie tomou a frente com Evan e Lily. Precisa levar Al para dentro.

- As lágrimas…

- Já foram administradas. - ele trincou os dentes, enquanto Cygnus se debatia, gritando mais palavrões, ainda desesperado com a ausência da minha irmã.

Eu deixei Cygnus com os dois e corri até Alvo. Fleamont entregou meu irmão a mim e eu joguei Alvo sobre o ombro como um saco de batatas:

- Já administrei as lágrimas de fênix. Mas ele ainda está fraco. Leve-o para dentro e diga a Euphemia que pegue mais. - Fleamont correu para onde Regulus se preparava para destruir mais uma Horcrux.

Eu corri com Alvo para dentro da casa, gritando para que a Sra. Potter pegasse o restante das lágrimas de fênix, o que ela fez sem perguntar. Electra e Anabelle correram para o meu lado, a loira ficando pálida assim que viu o estado do meu irmão:

- Eu ouvi…

- Iremos discutir isso depois. - eu interrompi a garota. - Ponha a cabeça dele no seu colo. Já administramos uma quantidade lá, mas precisamos de mais. Não podiam usar tudo o que tinha naquele vidro.

- Pelas calças de Merlin. - Electra disse, a voz abafada, enquanto se ajoelhava ao meu lado, rasgando o restante da manga de Alvo.

O veneno ainda estava contido, mas o local do arranhão ficaria com uma cicatriz feia. Electra ergueu a varinha e começou a conjurar os mais diferentes feitiços de cura, que ela sabia que poderiam ajudar, enquanto esperávamos Euphemia voltar com mais lágrimas de fênix. A bruxa desceu as escadas com os cabelos bagunçados, mas com um vidro bem maior em mãos:

- É o que achei. - ela engoliu em seco. Eu peguei o frasco, abrindo-o com um aceno de varinha e derramei algumas gotas sobre o ferimento. Houve melhora, mas meu irmão ainda suava nos braços de Anabelle.

- Faça com que ele beba um pouco. - suor se formava na testa de Electra, enquanto ela fazia o possível para adiar a disseminação do veneno no sangue de Alvo.

Anabelle obedeceu a irmã, dando uma quantidade generosa para que Al bebesse, o que ele fez com dificuldade, os olhos verdes presos nos azuis da namorada.

Poucos segundos depois, meu irmão começou a parar de tremer. O ferimento começou a se fechar, mas ele ainda estava fraco.

- Leva tempo. - Euphemia pegou o frasco agora pela metade de volta. - Alvo?

- Estou melhor. - ele disse, com a voz rouca. - Só parece que minhas entranhas foram cozidas com pimenta.

- Apetitoso. - Bells tentou abrir um sorriso, mas as lágrimas já escorriam pelo rosto. Alvo abriu um sorrisinho para a garota:

- Não chore, amor. Está tudo bem. - ele suspirou, entrelaçando os dedos nos da namorada. Electra sentou no chão, ignorando a roupa molhada de suor:

- Alvo, você tem certeza…

- Sim. - meu irmão interrompeu Electra. - Estou bem. Só fui envenenado. Estou bem.

Bells fungou baixinho e deu um beijinho na testa suada do meu irmão. Eu passei a mão pelo cabelo, finalmente soltando o ar que não sabia que prendia.

Aquilo foi muito pior do que o diadema.

E agora tínhamos uma quantidade significativamente menor de lágrimas de fênix.

E se tivéssemos mais acidentes?

E se mais alguém fosse possuído?

Eu não queria levar um corpo de volta para o meu tempo. Tínhamos vindo todos juntos, vivos. Voltaríamos todos juntos e vivos.

- O que houve? - Electra me encarou e eu sacudi a cabeça:

- Depois. Quando eles voltarem. - eu olhei pela janela, a tempo de ver Regulus erguer a mão com o dente de basilisco e enfiá-lo com raiva no meio do diário de Riddle.

Menos uma.

Agora faltavam mais três, além do próprio Voldemort.

Eu não sabia se aquilo era um alívio mais.