NOTA:

Primeiramente, gostaríamos de nos desculpar a todos vocês por não ter postado semana passada. Uma de nós teve o seu cronograma do trabalho alterado completamente, o que levou a mudanças no tempo livre. Isso significa que a partir de agora, postaremos nas sexta-feiras :)

De novo, nós pedimos mil desculpas, mas por favor, aproveitem esse capítulo! Nos vemos semana que vem :)


ELECTRA ADHARA BLACK

Eu levei um tempo para retomar o controle sobre a magia. Era mais fácil do que quando eu era criança, mas ainda havia certa dificuldade: a quantidade de poder era bem maior do que eu estava habituada a lidar.

Não ajudava em absolutamente nada saber que Dumbledore havia morrido pois a escola havia sido invadida por comensais da morte.

Comensais da morte liderados por Peter Pettigrew.

Eu sabia que aquele havia sido um grande baque para os Marotos e também para o Sr. e a Sra. Potter - apesar das nossas afirmações e a dos garotos, eles ainda não compreendiam exatamente a que ponto Pettigrew chegara.

Ou melhor, chegaria: James decidira, depois de me deixar com meus irmãos, se juntar a Alvo para explicar, em detalhes tudo o que o pai tinha passado tanto na mão dos Dursley quanto o que Pettigrew fizera a ele e o papel dele na ascensão de Voldemort na década de 90.

Pela expressão dos dois garotos, a conversa não tinha ido bem, mas eu não questionaria: ainda estava tentando manter a calma e a magia que borbulhava dentro de mim sob controle.

A única ajuda realmente útil foi a de McGonagall: ela veio nos visitar para nos inteirar a respeito da escola e como a questão da segurança estava sendo refeita. Havia também um questionamento sobre a nova liderança da Ordem da Fênix, mas ninguém ousara se habilitar como novo Líder - a nossa única possibilidade era Moody e ele ainda estava meio arredio a respeito.

Então, sem Dumbledore e sem liderança clara.

Nós não estávamos sozinhos de fato, mas não tínhamos mais o amparo do diretor. Eu podia não ser a maior fã dele, por vários motivos, mas eu admitia que a ajuda dele era mais do que necessária às vezes. Se tivéssemos suspeitado desta invasão, poderíamos ter impedido o assassinato de Dumbledore e o escondido aqui, para nos ajudar com algumas coisas, mas agora era tarde de mais.

A única coisa que ele nos deixara, em nome de Minerva, mas que ela nos entregou durante sua visita: não eram úteis para ela, mas talvez nos ajudasse.

Então, eu tinha uma pilha a mais de livros, um diretor morto, uma equipe de adolescentes e três adultos disponíveis - Fleamont e Euphemia permaneceriam na Mansão a não ser que fosse absolutamente necessário que saíssem.

- James irá no seu lugar. - Cygnus estava jogado na maca do meu lado, enquanto James, Bells e os outros planejavam a ida à Little Hangleton.

- Fiquei sabendo. - eu apontava com a varinha para um copo vazio e o fazia levitar pela enfermaria até que voltasse a mim. - E ele tem algum plano fixo?

- Ainda não. - Cyg cruzou os braços atrás da cabeça. - Sei que Bells e Remus vão desfazer a maldição e que Aric irá destruir a coisa. James vai fazer a segurança. Você sabe, - Cygnus olhou para mim, sorrindo torto. - seu marido é um auror em formação.

Eu corei:

- Ele não é meu marido e a runa é apenas para ancoragem mágica. - eu cortei, seca, fazendo o sorriso de Cygnus aumentar.

- Não é o que Aric diz. - ele cantarolou.

- Lembrando que agora sou bem mais poderosa do que antes, então, irmão, sugiro que você se atente às suas palavras ou irá ser azarado. - eu alertei. Cyg fez careta:

- Você não leva nada na brincadeira. - ele fez bico.

- James não é meu marido e ponto final. - eu cortei, revirando os olhos, e voltei minha atenção para o copo. - Quando é que vão me deixar andar?

- Amanhã. - Cygnus prometeu. - Com uma escolta para controle mágico, se precisar, mas amanhã a Sra. Potter vai te liberar do repouso.

- Vai ser bom fazer alguma coisa além de levitar objetos. - eu comentei.

- Mas nada de mexer com Alquimia. - Cygnus foi firme. Eu sacudi a cabeça:

- Eu levei meia hora para o copo parar de voar e quebrar batendo no teto. Sem chance de mexer com Alquimia. - eu franzi o nariz. Cygnus pareceu aliviado:

- Tudo bem. Troque de objeto agora. - ele sugeriu.

- O que?

- A cadeira. - ele apontou a cadeira de madeira. - Mas me deixe fazer uma redoma de proteção em mim antes. Não quero ser empalado por uma perna de cadeira.

- Cygnus!

Meu irmão riu.

Mas, ainda assim, eu esperei que ele fizesse os devidos feitiços de proteção.

Vai saber.


O restante do dia foi sem muitos acontecimentos, com a troca da minha guarda sendo passada para Sirius - James ainda estava em reunião.

- Já está melhor. - meu avô comentou, enquanto eu girava a cadeira lentamente enquanto a fazia ir de um canto a outro da parede oposta a mim.

- Coisas que o tédio faz com você. - eu suspirei. - Me mantêm presa nesta cama, então vou tentar controlar a magia agora.

- É tanto assim? - ele perguntou e eu abaixei a cadeira lentamente, até que ela pousasse sobre o chão lentamente.

- No começo, - eu suspirei, finalmente olhando vô Sirius, que parecia curioso. - era apenas uma alcova trancada com correntes, trancas e cadeados. Depois que eu consegui destrancar tudo e entrar, era uma caverna meio inundada. Eu precisava nadar para chegar à entrada e, depois disso, precisei escalar a pedra para poder sair de lá, finalmente. Só acordei quando entrei no carro dos meus pais.

- É muita coisa. - ele concordou. - Foi um processo.

- Foi. E se eu não o finalizasse, ficaria naquela alcova até o fim dos meus dias. Não havia opção. Era nadar, nadar e nadar e depois escalar e escalar até meus músculos ficarem todos fracos. Mas pelo menos acordei e estou sã. - eu ponderei. - Só fico com esse comichão. Quando acordo, parece que estou sendo picada por formigas. Alivia quando uso magia, mesmo que em menor quantidade, mas acho que, como não usei nem um décimo do que tenho agora, isso só vai melhorar mesmo depois de um uso mais extenso.

- Fazendo a runa.

- Sim. Ou destruindo uma Horcrux. - eu lembrei, acenando com a cabeça.

- Ou em batalha. - ele respondeu, a voz séria. - Nem sei se quero ver todo esse poder em uma situação dessas.

- Eu tenho certa curiosidade. Mas vou ter que controlar. Vai que eu acerto alguém sem querer? - eu estremeci. - Seria péssimo. Só estou chateada porque não vou atrás dessa Horcrux. Eu realmente queria ver como é a casa dos Gaunt.

- Pelo o que sabemos da família até agora, é um casebre miserável. É por isso que acho que Você-Sabe-Quem jamais mandaria alguém para lá, ele nunca ia admitir que vem de uma família pobre e que o pai é trouxa.

- É, concordo. - eu suspirei. - Mas ainda é perto demais da Mansão Nott para meu conforto.

- Acha que Aric iria até lá?

- Acho que não. Mas a ideia é que a Mansão Nott pode ser um quartel general que me deixa inquieta. E se notarem qualquer traço de magia? E se o lunático do pai dele der as caras? - eu franzi o nariz. - É isso que me preocupa.

- Acho que isso que preocupa todo mundo. - Sirius ponderou. - Mas vai ser tranquilo, você vai ver. Aric conseguiu passar despercebido bem debaixo do nariz do pai dele, agora não vai ser diferente. E ele estará com Remus, Bells e James. - ele me consolou. - Não se preocupe com isso. Agora, quando te liberarem, queria que você fosse comigo para o pátio. Vamos treinar um pouco de magia, para você começar a ter mais controle e também ver a que nível você chegou.

- Vai ser difícil.

- Vai ser divertido. - ele corrigiu. - Vamos criar alvos para você, em formato de Comensais da Morte. - Sirius prometeu. - Use toda a sua raiva reprimida neles.

Eu ri e Sirius sorriu para mim, dando uma piscadela, antes de mudar de assunto completamente, em uma tentativa óbvia de me distrair.


Eu fui, finalmente, liberada dois dias depois, quando Euphemia e Fleamont ficaram tranquilos ao me ver mover a cadeira com um feitiço mudo e depois transfigurar uma maca em uma mesa impecável, idêntica à outra mesa da sala.

Dearborn e os Prewett tinham me visitado, mas agora que eu estava liberada - e que eles sabiam o que eu tinha feito e tomado certo controle - eu tinha sido gentilmente convidada para uma pequena reunião sobre o ocorrido e eles me colocaram a par de tudo.

Pettigrew, Mulciber e MacNair estampavam o Profeta Diário, nomeados como Comensais da Morte juvenis: os três tinham preços sobre a própria cabeça, especialmente em vista do papel dos três na invasão da escola. Peter é quem tinha planejado tudo, usando seu conhecimento adquirido durante sua amizade com os garotos, para garantir a entrada dos comensais pela passagem secreta atrás do espelho do quarto andar da escola, que levava direto a Hogsmeade, e que tinha espaço suficiente para fazer uma pequena reunião - algo que seria importante para eles em vista que precisavam se reorganizar para cada um ir aonde deveria ir.

Nenhum aluno foi morto, mas não foi por falta de tentativa: Mulciber e MacNair tinham tentado usar a Maldição da Morte, mas tinham falhado para a grande vergonha deles e para a minha grande alegria.

Medíocres, de fato.

Por enquanto, já que ainda eram verdes demais, como Dearborn disse, para conseguirem realizar esse tipo de feitiço, mas isso seria rapidamente remediado agora que não precisavam mais se esconder e que iriam fazer parte dos ataques e iriam começar o seu próprio treinamento em magia negra.

Caradoc também foi firme com Lily: Snape tinha participado do ataque de forma menos hostil, mas ainda assim tinha feito parte e estava devidamente Marcado. Aquilo tinha levado Evans às lágrimas, que foi levada para fora da sala por Pontas - eles não apareceram até a hora do jantar: ele com uma expressão entre preocupado e homicida e ela com o rosto vermelho e inchado de tanto chorar.

- Os garotos foram espertos o suficiente em nos contar quais eram as passagens secretas, as sete. - Gideon girava a varinha entre os dedos, sério. - Nós as bloqueamos para que não houvessem mais invasões, mas vários pais retiraram os filhos da escola e alguns nascidos-trouxas abandonaram Hogwarts. Ter Dumbledore como diretor era uma garantia de segurança, porque era Dumbledore, mas com a morte dele… - ele suspirou. - E ainda não temos um novo líder na Ordem.

- Moody não aceitou? - eu questionei, mordiscando um biscoito. Fabian sacudiu a cabeça:

- Está resistente. Talvez uma conversa com vocês o faça ver a luz. - ele se ajeitou na poltrona, passando a mão pela barba ruiva. - Os Lupin e Evans estão seguros, graças a Merlin. Petúnia, aquela peste, estava melhorando como pessoa depois de passar um tempo com a gente, mas continua insuportável. Ela estava chorando pelo namorado e eu pensei que fosse alguém bonitão como Alvo ou Sirius, mas céus, aquele garoto parece um leão marinho transfigurado em humano.

Eu caí na gargalhada.

- Aquele bigode dele é medonho - Dearborn riu, tomando um gole do chá oferecido por Euphemia. Todos nós estávamos na sala, mas apenas eu fazia parte do círculo de conversa com eles: todos já tinham sido informados de tudo, exceto eu, e eles não queriam que eu me sentisse excluída.

Fofo.

- Eu o conheci, uma vez, quando estava em Londres com os Potter. - eu comentei. - Ele já estava bem mais velho, agora é avô também. Nem sequer se aproximou de mim. Petúnia, pelo menos, foi cordial com tio Harry, mas até onde sei nunca mais se falaram. Quem sabe agora, com todas essas mudanças, eles não melhorem?

- Duvido, mas gosto do seu otimismo. - Caradoc abriu um sorriso para mim. - Agora, vai nos contar o que diabos é aquele mandala queimado no pátio atrás da Mansão?

- Pensei que tivessem contado. - eu beberiquei o chá.

- Contaram. Mas quero ouvir de você. - ele se inclinou na minha direção. - Realmente acessou a Magia Ancestral?

- Sim. Fiquei um tempo dormindo, aquilo levou mais tempo do que eu achei que fosse levar, mas consegui. Agora parece que estou com alergia, sinto um comichão o tempo todo. - eu reclamei. - Preciso que me ajudem a treinar novamente. Minha magia está um pouco mais instável do que era antes e não sei mais a extensão do meu poder.

- Com prazer. Principalmente que você vai ficar de castigo aqui enquanto seu marido vai se divertir em uma missão. Você vai precisar se distrair. - Gideon comentou, mergulhando o próprio biscoito no chá. Eu corei:

- Eu não tenho marido.

- A runa. - Gideon cantarolou, os olhos azuis idênticos aos de tio Rony brilhando de malícia.

- É uma runa de Ancoragem. - eu repeti pelo o que me parecia a milésima vez. - Não é minha culpa se os Nott deturparam a coisa.

- A minha família não deturpou nada não. - Aric protestou, a alguns metros de distância, sentado no chão, as costas apoiadas no sofá e próximo a Lily. - Você é que falhou em procurar outras possíveis traduções.

- Eu não falhei. Aquele livro é antigo! Se vocês depois mudaram as coisas, a culpa não é minha. - eu cortei, revirando os olhos. - Um livro de 1128 é mais relevante do que uma tradição da sua família em específico.

- A nossa família também fazia isso. - Evan comentou e eu lancei um olhar de alerta para meu avô, que abriu um sorriso leve. - Tudo bem. Se você diz. - ele ergueu as mãos, na defensiva.

- De qualquer forma, o que importa é que essa parte já foi resolvida. Cyg já criou a mandala e eu estou no processo de criar a runa, mas ainda tenho medo de mexer com magia antiga porque não sei a extensão da minha magia agora. E ainda precisamos da tintura de Alvo. - eu disse, voltando a bebericar o chá. Al fez um muxoxo:

- Eu praticamente voltei à estaca zero. - ele reclamou. - Os ingredientes estão certos, mas… Algo está errado.

- Então talvez os ingredientes estejam errados. - Cygnus sugeriu. Alvo lançou um olhar seco para o meu irmão, que ergueu as sobrancelhas. - Não é porque a minha irmã acha você incapaz de errar que você seja perfeito. Pode haver um ingrediente errado. Por que não revisa tudo?

- Porque se eu estiver completamente errado, significa que gastei tempo precioso. - Alvo jogou as mãos para cima, frustrado.

- E gastar mais tempo em algo possivelmente errado vai fazer você perder mais tempo precioso ainda. - Cygnus foi firme. - Revise os ingredientes. Peça ajuda. Nós ainda somos do Sexto Ano, Alvo. Você não é infalível.

Alvo resmungou, afundando no sofá, e Bells deu tapinhas no joelho dele:

- Eu acho você incrível. - ela disse, delicadamente. - E quem pesquisou os ingredientes fui eu. O que acha de revisarmos tudo antes de uma nova tentativa?

- O erro pode ter sido o momento de adição da beladona. - Al lamentou. - Talvez se eu adicioná-la mais cedo…

- Sim, talvez. - minha irmã sorriu para Al. - Mas deixe isso para mais tarde. Depois iremos ao laboratório revisar tudo, tudo bem?

- Tudo bem. - Al fez bico, mas jogou o braço sobre os ombros da minha irmã, que tornou a tentar consolá-lo.

- Vamos nós três. - Cyg olhou o melhor amigo e a nossa irmã caçula com um olhar alegre, mas cheio de alerta para Alvo. - Não sou um Mestre de Poções em formação, mas eu sou decente. Posso ter uma ou outra ideia.

- Falando em Poções, e quanto à poção da caverna? - Regulus olhou Lily, que suspirou:

- Ainda procurando. É muito específica. Não tem características clássicas de veneno, mas certamente é uma coisa maligna. - ela suspirou. - O Sr. Potter e eu estamos trabalhando nisso. Ele tem uns livros bem úteis sobre poções antigas e, talvez, a nossa resposta esteja ali.

- E se não estiver? - Sirius perguntou, ansioso. Eu sacudi os ombros:

- Então eu vou invadir Grimmauld Place de novo.

- Ah, mas não vai mesmo. - Evan protestou. - E Regulus já trouxe tudo o que é útil.

- Mas eu posso ter esquecido alguma coisa. - Reggie comentou, suspirando. - E eu não conheço aquela biblioteca tão bem assim. Eu não passo pelas proteções que Walburga colocou ali.

- Essas proteções são mais antigas que ela. - eu sacudi a cabeça. - E é magia de sangue simples: é só ser um descendente Black direto que você entra.

Caradoc passou a mão pelo rosto:

- Você, de forma alguma, vai invadir Grimmauld Place agora. - ele foi firme e eu o olhei, indignada. - Você pode ter Magia Ancestral agora e o diabo, mas eu ainda estou acima de você na hierarquia e eu digo que você não vai invadir Grimmauld Place novamente.

- Eu não disse que ia agora. Eu disse que eu vou se não acharmos outra solução. - eu revirei os olhos.

- Você faz muitos jogos de palavras e eu não vou arriscar. Você pode ter o coração grifinório, mas sua mente é sonserina. - Caradoc foi firme. - E ainda está frágil pelo processo que passou. Só vai nos trazer mais problemas.

- E eu vou achar essa poção, Els. Virou pessoal depois de uns dias. - Lily jurou, os olhos verdes endurecidos de raiva. - Vou achar e vamos criar um antídoto. Nem que eu fique trancafiada aqui até o momento de irmos até o lago.

- O lago cheio de Inferi que só permite uma pessoa adulta. - Gideon olhou para nós, sério. Eu passei a mão pelo cabelo:

- Nós chegaremos a este problema quando chegarmos a este problema. Nosso foco agora é o anel. Depois do anel, pensaremos no medalhão e na taça. Se nos preocuparmos demais com os problemas futuros, vamos deixar os problemas atuais de lado e vai virar uma bagunça. - eu suspirei.

- Ela tem razão. - Remus concordou, assentindo lentamente. - Vou continuar a procurar sobre onde Você-Sabe-Quem esteve nos últimos anos, durante o exílio, e depois vamos afunilar. Vamos focar no problema mais próximo que é o anel.

- Nós já temos um plano formado. - James olhou para mim e eu senti meu estômago afundar, mas a runa de James batia em uma frequência tranquila. - Cada detalhe, rota de fuga, feitiços de proteção. O contra-feitiço já foi dominado. Só precisamos escolher a data definitiva.

Aquilo fez meu estômago afundar e meu coração acelerou tanto que James olhou para mim, assustado, mas não disse nada quando eu sacudi a cabeça.

- O que foi? - Gideon perguntou, colocando a mão sobre meu ombro.

- Fico nervosa de não ir nessas missões. - eu reclamei e ele abriu um sorriso solidário:

- Agora você entende nosso desespero. - ele pareceu satisfeito. - Quando querem ir?

- Em cinco dias. - Aric respondeu, se levantando. - Vamos, Anabelle, Remus e James. Revisar os feitiços e praticá-los.

- Nós podemos… - eu comecei, mas James sacudiu a cabeça:

- Nós quatro precisamos terminar de nos alinhar e trabalhar como uma só entidade. - ele disse, delicadamente. - Por que não aproveita e treina um pouco com Caradoc?

- Seria uma ótima ideia. - Caradoc me ergueu pelos braços. - Vamos retomar o controle da sua magia. Os demais, se quiserem, podem vir ou retornem aos seus trabalhos. Com essa nova missão, queremos todos vocês na sua melhor forma.

- Precisamos pensar em todos os cenários possíveis e não podemos esquecer que estes quatro estão em território hostil, perto de um possível quartel general. - Fabian concordou. - Regulus é o mais jovem, virá comigo. Começaremos com feitiços de defesa. Caradoc, você tem Electra como sua responsabilidade junto com Gideon.

- Eu vou mexer na poção. - Al ficou de pé, imitado por Fleamont, que esfregou as mãos:

- Lily e eu temos que descobrir o que é a poção da caverna. - ele estendeu a mão para a nora, ajudando-a a ficar de pé.

- Eu vou revirar os jornais, enquanto Remus está ocupado com a missão. - Evan disse, erguendo Sirius pelas costas da camisa e acenou para Cyg. - Você também, ande.

E, dessa forma, eu fui levada para os jardins congelados da mansão.

Agora eu teria noção do que aquele ritual fizera comigo.

JAMES SIRIUS POTTER

Nós nos separamos conforme as tarefas escolhidas por Caradoc e os Prewett. Electra, muito a contragosto, não tinha nos acompanhado para os últimos toques na missão.

Nas missões.

Pegar e destruir o anel. Resgatar a mãe de Aric.

Ele tinha nos contado a respeito depois de uma das muitas reuniões, sobre o que a mãe sofria nas mãos do pai e o que ele provavelmente andava fazendo com ela, agora que o único herdeiro havia desertado o exército de Voldemort e estava mancomunado com Dumbledore e a Ordem da Fênix, trabalhando para derrubar Voldemort e seus seguidores.

Aquilo tinha feito Bells empalidecer. Meu horror pelos detalhes dados logo passaram para ódio: como alguém era capaz de atos tão nojentos e violentos?

Nós resgataríamos a mãe de Aric logo depois de destruir a Horcrux. Os feitiços de proteção que eu colocaria abafaria toda e qualquer repercussão mágica causada pelo ato: Fleamont tinha me ensinado alguns feitiços para evitarmos sermos pegos, já que ninguém queria trazer mais uma Horcrux inteira para casa.

- Vocês não precisam ir. - Aric disse, quando fechamos a porta de uma das salas e eu a selei e silenciei com magia.

- Isso não é discutível. - Anabelle foi firme, mas delicada. - Você iria sem pensar duas vezes se fosse a nossa família. Sua família é nossa família, Aric. Iremos com você até o fim.

Aric acenou com a cabeça, passando a mão pelo rosto:

- Primeiro os feitiços de defesa, todos nós faremos. Depois, faremos o contra-feitiço do anel e aí sim iremos destruí-lo. Depois disso tudo, vamos à Mansão. - ele olhou para todos nós. - Devemos planejar nossa ida à minha casa com mais cautela. Eu não sei o que meu pai preparou porque tenho certeza que ele acredita que eu voltarei e está mais do que certo nisso.

- Pode ter sido abandonada. - Remus ponderou.

- Ou cheia de comensais porque ele não deixaria todos os soldados dele em um só lugar. - eu lembrei. - Voldemort não estará necessariamente lá, mas não significa que um bom número de comensais não estejam.

- Não podem esquecer que meu pai é um bruto, mas é poderoso. - Aric sentou em uma cadeira. - Parece errado ter avisado vocês. Electra saber já era um risco, agora levar vocês comigo…

- Electra irá ficar chateada se você não contar à ela que vai resgatar sua mãe. - Remus pareceu ansioso. - Os outros também vão, e vai ser pior porque sequer sabem o que sua mãe sofre.

- Posso lidar com os gritos deles. E Electra ainda não está estável o suficiente para algo do tipo. - Aric foi firme. - Levá-la agora é basicamente sacudir uma bandeira mostrando nossa localização.

Realmente, Els tinha tido alguns escapes de magia, o maior sendo quando mais um ataque a uma escola trouxa chegou aos ouvidos dela: Fleamont tinha apenas suspirado e começado a consertar a encanação destruída da cozinha.

Então, ela não estava estável o suficiente ainda.

E, convenhamos, um ataque a crianças não era aceitável nem na pior das situações. Era covarde e frio e cruel. E Electra aceitava muita coisa, exceto ataque a inocentes, então a reação era esperada.

- Certo. - eu disse, por fim. - Vamos começar então.


Os dias se passaram mais rapidamente do que eu esperava. Electra evoluía com uma velocidade assustadora, agora conseguindo duelar com Fabian e Gideon ao mesmo tempo, mas ainda incapaz de adicionar Caradoc ao grupo. Fleamont estava extasiado e Euphemia tinha começado a fazer mais comida - quanto mais tempo Electra treinava, quanto mais magia ela usava, mais fome ela tinha.

Por Merlin, eu tinha visto a garota comer um bolo de chocolate inteiro sozinha.

- Ela me lembra você, quando você tinha uns catorze anos. - Al cruzou os braços, enquanto Els limpava a boca com um guardanapo, elegantemente, como se não tivesse comido meio pacote de pão com geleia e um bule de chá sozinha. - Um saco sem fundo.

- Ela está gastando muito mais energia tendo que treinar tanto e se concentrar. - Fleamont defendeu, mas ainda soava divertido. - E Euphemia está amando. Ela sempre achou Electra muito magra.

Apesar do gasto de energia e da fome, o sono de Els continuava inquieto - eu tinha me mudado provisoriamente para o quarto dela, depois de acordar com os gritos da garota pela terceira noite seguida. Ela não me dizia o que eram os sonhos, mas sempre acordava com a roupa molhada de suor e o rosto manchado de lágrimas.

E nunca, nunca, me soltava quando conseguia dormir, apesar de ser um sono bem agitado.

Lily chegou com notícias excelentes a respeito da Poção na caverna na véspera da nossa missão: ela e Fleamont haviam descoberto qual poção Voldemort tinha utilizado. Não era um veneno, veja bem, pois não mataria, mas causaria dor física e psicológica a quem consumisse, seguido de uma sede insuportável.

- E aí ele colocou aquele lago de Inferi só para tornar a coisa mais macabra. - Cygnus se queixou. - Como se viver todas as suas memórias ruins já não fosse tortura o suficiente.

- Ele curte esse tipo de coisa. - Evan disse, seco. - Há algum efeito colateral prolongado?

- Fraqueza. - Fleamont foi firme. - E a sede continua, mas um pouco mais tolerável depois de beber um pouco de água. Também vai causar pesadelos terríveis àquele que a ingerir.

- Há algum antídoto? - Sirius perguntou.

- Nenhum foi documentado até hoje. - Lily sacudiu a cabeça. - É uma poção complexa e extensa. Leva meses até ser completa, então pode saber que o antídoto levará o dobro de ingredientes e o dobro de tempo.

- Mas o efeito pode passar sozinho? - Electra questionou e Fleamont acenou que sim:

- Pode, porque não é um veneno. - ele foi claro. - Mas quem a ingerir vai ficar uns dias debilitado.

Els assentiu e suspirou.

Mais um problema para o qual teríamos que arranjar solução.

Como se nossos problemas já não fossem suficientes.

Nós nos dispersamos pouco depois, o grupo da missão todo indo se enfiar na biblioteca e os demais seguindo atrás de suas próprias tarefas.

Essa era a nossa última revisão de planos antes de sairmos novamente.

E, desta vez, eu estava mais ansioso do que nunca.


A manhã da missão amanheceu combinando com o meu humor: uma nevasca intensa, acompanhada de um frio congelante.

Electra franziu a testa, se aconchegando mais perto de mim, a mão direita segurando minha blusa de pijama com força.

Mais um pesadelo.

Ela vinha tendo muitos pesadelos desde aquela maluquice com Magia Ancestral.

- É manhã, Els. - eu murmurei, apertando o abraço em torno dela e beijei o topo da cabeça da garota. - Precisamos levantar.

- Cinco minutos. - ela resmungou, arrancando um sorriso de mim.

- Só mais cinco e depois eu vou levantar. - eu alertei. Ela disse algo ininteligível e eu revirei os olhos, aproveitando o abraço e o corpo quente da garota colado no meu.

Nessas horas eu queria muito ignorar as minhas responsabilidades e ficar enfiado embaixo de cobertores olhando a neve cair.

Infelizmente, a minha vida e a de muita gente dependia de mim - eu precisava levantar e sair da cama quente e ir enfrentar aquele inferno congelado que estava lá fora.

Mas isso podia esperar mais cinco minutos.


A manhã foi silenciosa - nós partiríamos depois do almoço. Electra estava quieta, revisando passo-a-passo do contra-feitiço com Aric, que aceitou a ajuda de bom-grado. Cygnus estava revisando a pequena mochila de provisões que eu tinha montado, com a ajuda de Sirius, Pontas e Caradoc.

Ninguém falava muito.

Euphemia tentava nos enfiar comida goela abaixo, mas ninguém conseguiu comer mais do que o necessário. Fleamont fez questão de revisar comigo os feitiços de defesa.

Electra reuniu os outros três para discutir duelos e feitiços que poderiam ser úteis - assim como ensinar a eles a torná-los mais potentes, me deixando sozinho com Caradoc e os Prewett, que faziam questão de me fazer recitar detalhe por detalhe do meu plano.

Ou parte dele, já que tínhamos optado por não contar do resgate da Sra. Nott.

- Preciso que me prometa uma coisa. - Alvo chegou de supetão, os olhos cheios de preocupação. - Por favor, mantenha Anabelle segura. - a voz dele beirava o desespero. - Eu não estarei lá para isso. Sei que ela é capaz de se proteger, mas por favor, James…

- Não se preocupe com isso. - eu dei tapinhas no ombro do meu irmão mais novo. - Bells terá três bruxos para mantê-la segura. Vai ficar bem. Eu estarei lá e vou garantir que ela fique segura.

- Obrigado. - meu irmão segurou meu braço com força. - E volte vivo e inteiro. Eu não quero ter que explicar para a mamãe que eu deixei você morrer.

- Cuide de Els enquanto eu estiver fora. - eu abaixei o tom de voz. - Ela anda tendo muitos pesadelos e está inquieta. Mantenha um olho nela para mim.

- Eu percebi. - Al acenou com a cabeça. - Cyg vai me ajudar com ela, não se preocupe.

- Traga os pedaços da Horcrux para analisarmos. - Gideon pediu, passando a mão pela barba ruiva e espessa.

- Horcruxes destruídas são apenas objetos comuns. - eu sacudi os ombros. - Mas irei trazer os pedaços para você. Saiba que, quando ainda viva, ela tem uma aura inconfundível. Você saberá se encontrar uma.

- Hm. - ele soou pensativo e voltou os olhos para o canto onde agora Cygnus tinha se juntado a Els e os outros e eles repassavam, novamente, os feitiços mais úteis que conheciam. Próximo a eles, Lily e Fleamont discutiam calorosamente a poção da caverna, ele com um livro de anotações no colo e a ruiva com um punhado de pergaminhos espalhados pelo chão. - Ela está ansiosa.

- Ela está quase arrancando os cabelos porque não vai. - Caradoc corrigiu. - E todos nós também. Se notar qualquer coisa estranha, que não devesse estar lá, James, nos avise. Nós iremos.

- Eu irei. - eu prometi. - Não se preocupem. Estaremos em casa para o jantar. - eu abri o sorriso mais confiante que pude.

Mas nem isso foi capaz de aplacar a preocupação em manter todos nós vivos fora da segurança da Mansão Potter.


- Tudo pronto. - Els ajustou minha jaqueta. Little Hangleton era muito pequena e, se fôssemos com vestes bruxas, seríamos facilmente reconhecidos como estranhos.

Era melhor fingir ser trouxa, mesmo que nós fôssemos estar sob o feitiço da Desilusão.

- Volte vivo e, de preferência, inteiro. - ela manteve as mãos sobre o meu peito. - Se qualquer coisa, mínima que seja, sair dos eixos, me avise. Estarei lá assim que possível. Onde irão aparatar?

- No limite do vilarejo. - eu beijei a testa de Electra e ela suspirou:

- Eu deveria ir também.

- Ainda não, Els. - eu fiz carinho na bochecha dela. - Controle todo esse poder mais um pouquinho e estará pronta para causar o inferno na vida dos comensais-da-morte. Mas, hoje, fique em casa.

- Esteja de volta para o jantar.

- Estarei. - eu arrisquei um selinho delicado e Els suspirou, se afastando de mim. Alvo prendia o colar com o feitiço Proteus no pescoço de Anabelle, murmurando algo que só ela podia ouvir e que, claramente, concordava.

Cygnus parou ao lado da irmã gêmea, segurando as mãos dela com carinho, antes de dizer, delicadamente, que ela estava livre para usar o feitiço que quisesse e que, se preciso for, assassinato não era crime se estivéssemos lidando com supremacistas.

Tecnicamente, ele não estava errado.

- Eu não irei corrigi-lo. - Els ponderou, olhando o irmão do meio.

- Você tem alguns traços sonserinos, sabe. - eu disse, incapaz de segurar o ímpeto de provocar Electra Black. Ela lançou um olhar de alerta para mim:

- Muita atenção com as suas próximas palavras.

Eu ri, baixo, e beijei a bochecha dela:

- Vejo você no jantar. - eu murmurei. Electra acenou que sim, incapaz de me responder e eu olhei o trio que me acompanharia. - Prontos?

- Sim. - Aric se aproximou, os olhos agora sem um traço que fosse de malícia ou diversão. Havia um tom de seriedade na voz dele, um peso, que eu jamais havia ouvido antes.

Se Aric estava preocupado, eu deveria estar preocupado.

Eu fiz meu melhor para controlar os meus sentimentos, mas Els passou a mão pelo próprio peito, parecendo sentir exatamente o que eu tinha sentido ao olhar o Nott.

A runa no peito pulsou com ansiedade, mas não havia nada que eu pudesse fazer para acalmá-la.

- Vamos, então. - Remus disse, firme, o rosto resoluto, enquanto guiava Anabelle para fora da casa e, com isso, liderando todos nós para fora das proteções da Mansão.

Eu não tive coragem de olhar para trás.


Little Hangleton era um vilarejo absolutamente minúsculo. Tão minúsculo que fazia Hogsmeade parecer um vilarejo de tamanho médio. Os três deixaram que eu os enfeitiçasse primeiro com o feitiço de desilusão para irmos até o casebre. Apesar de vazio, nós ainda optamos por andar escondidos pelas sombras da floresta que acompanhava o caminho de terra batida que nos levaria até o vilarejo da família de Voldemort.

Ninguém dizia nada e Anabelle tinha tido a brilhante ideia de colocar feitiços silenciadores sob nossos pés: ninguém nos ouviria andando e nem nos veria no meio das árvores escuras.

Aric liderava o caminho, andando com tanta certeza que eu sabia que ele havia decorado o mapa até o casebre dos Gaunt. Nós não levamos muito tempo para chegar lá: ainda existia uma cerca parcialmente de pé e o casebre estava sem telhado - aparentemente havia cedido há alguns anos.

Não foi difícil encontrar a Horcrux: Voldemort era tão cheio de si, que não tinha se dado ao trabalho de colocar defesas mágicas sobre o próprio pedaço de alma.

- Antes de tudo, as proteções. - eu olhei as outras três manchas disformes. - Depois abrimos.

- Certo. Na ordem que treinamos. - a voz de Bells soou firme e nós quatro formamos um círculo em torno de onde a Horcrux estava enterrada e emanando energia maligna.

Era tenebroso, para ser sincero, sentir os dedos da magia de Voldemort se enrolando nos meus tornozelos, como tentáculos, avaliando quais as minhas intenções naquele lugar.

- Pronto. - a voz de Remus ressoou à minha esquerda. - Pode desfazer a desilusão, James?

- Só um minuto. - eu murmurei, apontando a varinha para o alto, depois de chegar ao centro do círculo, lançando mais um feitiço de proteção, para garantir que não seríamos detectados.

Tudo bem, eu tinha me desenvolvido demais indo à guerra do que naqueles treinamentos de verão dos Aurores, mas certamente de uma coisa eles tinham servido: eu sabia mais do que um bocado de feitiços para nos deixar praticamente indetectáveis.

- Agora, sim. - eu apontei para a minha própria cabeça e senti a magia sumir aos poucos. - Agora, façam uma fila, por favor.

Os três vultos obedeceram prontamente e, um a um, os tornei visíveis novamente. Anabelle parecia confiante, mas eu a conhecia o suficiente para ver uma sombra de receio nos olhos azuis da garota.

- Bem. O que faremos agora? - Remus nos olhou, ansioso.

- Desenterramos a Horcrux. Eu desfaço a maldição. E um de vocês destrói a coisa. Preferencialmente, sem baixas. - Aric tentou soar alegre, mas a piada soou forçada. - Alguém consegue saber exatamente onde a Horcrux está?

Eu apontei exatamente para o centro do círculo:

- Não conseguem sentir? - eu questionei, franzindo a testa. Os três se entreolharam e acenaram que não. - Essa magia tem tentáculos. - eu fiz careta. - Está me cutucando, me investigando.

- Eu não sinto nada. - Anabelle sacudiu a cabeça.

- Talvez seja pela Runa de Electra? - Remus olhou Aric, que tombou a cabeça:

- Pode ser. Uma parte dela está ligada à você, assim como uma parte sua está ligada à ela. Talvez a magia de Els o proteja, como protegeu ela. - Aric ponderou. - Eu andei dando uma pesquisada nessa runa de vocês e também o que… Bem, a influência de seus sentimentos e relacionamento poderia trazer. Ela pode transferir algumas coisas para você e você para ela. - ele sacudiu os ombros. - O que é bem divertido, porque significa que as almas de vocês são bem mais entrelaçadas do que eu imaginava.

- Divertido? - Anabelle ergueu as sobrancelhas, descrentes.

- Divertido. - Aric afirmou, abrindo um meio-sorriso. - Bem, vamos começar então. James, faça as honras.

Eu acenei com a cabeça, andando até o meio do círculo, e me ajoelhei no chão, passando os dedos sobre a terra até sentir um tentáculo de poder se enrolar na minha mão.

Meu estômago revirou e eu trinquei os dentes:

- Vou cavar, mas sugiro que arranjem um galho ou qualquer coisa do tipo porque eu não vou tocar esse troço. - eu alertei.

- É tão maligno assim? - Remus foi o único que teve coragem de perguntar, enquanto eu cavava com as minhas próprias mãos, depois de descongelar a terra com magia.

- Sabe a aura do diário? - eu perguntei, sério. Ele resmungou um sim. - Pense como se aquela aura tivesse uma forma física. E estivesse cutucando você, procurando por brechas, procurando por desejos e coisas que talvez possa prometer a você. Esse pedaço de alma age como Riddle age. - eu respondi. - Você quer glória? Darei isso a você. Reconhecimento? Todos verão seu rosto e seus feitos nos jornais. Quer poder? Darei a você. Só precisa fazer o que eu disser. E assim a coisa vai indo.

- Como foi com Rabicho. - Remus disse, depois de um silêncio pesado. Eu atingi uma caixa de madeira e comecei a limpar o redor dela: era uma caixa de madeira escura e pequena, sem nenhum adorno.

Perfeitamente simples, como se fosse apenas um memorial.

Um memorial macabro, mas ainda assim um memorial.

Assim que consegui, tirei a caixa de dentro da terra e a coloquei sobre uma parte ainda gelada e endurecida da terra batida. Eu peguei a varinha e fiz um escaneamento básico atrás de qualquer coisa potencialmente fatal, mas não havia nada.

O que era infinitamente pior, na minha opinião.

Eu destravei a caixa com um aceno de varinha e peguei o galho que Anabelle me estendeu, abrindo a coisa com cuidado.

Ali, aninhado em uma almofada de veludo verde escuro, estava o anel. Quieto, sem vibrar, sem fazer um movimento ou som sequer.

A única coisa era que eu quase podia ver a magia negra operando ali, exatamente quando como você via um vulto passar pelo canto dos olhos - não era material e visível, mas havia algo ali.

E esse algo se movia como fumaça, com tentáculos - dedos? - se estendendo para longe do objeto e procurando quem o abrira.

Eu soltei a coisa antes que me tocasse:

- Faça o contra-feitiço agora, Nott. - eu olhei Aric, que piscou, como se tivesse saído de um transe. - Aric.

- Certo. O contra-feitiço. - ele piscou com força e Anabelle se posicionou ao lado dele, erguendo a varinha e ambos começaram a recitar em latim, as vozes em uníssono, em um tom monótono. Remus tinha se aproximado, com as mãos às costas como se esperasse qualquer tipo de ocorrência.

Era estranho sentir a magia.

Era mais estranho ainda ver a magia operando: vinhas claras saíam das pontas das varinhas de Bells e Aric, se entrelaçando no anel e se misturando com aquelas vinhas que eu tinha visto se moverem. Eram como fantasmas: não estavam, mas estavam ali.

Se eu via as coisas daquele jeito, como Electra as veria, já que ela era a fonte do poder que eu tinha usado se querer?

- Está feito. - eu anunciei quando o último traço de aura preta que cercava o anel se esvaiu. Nott e Anabelle se entreolharam e ele lançou um olhar de alívio para mim:

- Aquela coisa cantou para que eu a colocasse no dedo. Se estivesse sozinho… - ele estremeceu. - Agora é só destruir, certo?

- Certo. - eu olhei Remus. - Quer fazer as honras?

- Essa coisa vai tentar me possuir? - ele questionou, os olhos cheios de dúvidas.

- Claro que vai. Essa Horcrux vai fazer o que puder para tentar convencê-lo de que não precisa matá-la. É só você se lembrar o por que de estar fazendo isso. - eu disse, encolhendo os ombros.

- Pela minha amiga. - Remus deu um passo à frente, com o dente de basilisco empunhado com tanta força que os nós dos dedos das mãos estavam brancos. - Por tudo o que ele quer fazer com que ela passe. Por corromper e nos tirar Peter.

- Sim. - eu concordei. Houve uma movimentação nas sombras mais próximas à pedra, aquelas que eu sabia serem da alma corrompida e destruída de Voldemort. - Agora, Remus.

O Lupin não precisou de muito incentivo.

O anel, diferentemente do diário, não gritou. O anel permanecia dentro da caixa, então quando Remus acertou o pedra negra bem no centro do anel de ouro, houve um clarão e nós fomos arremessados para o mais longe possível dentro das proteções que tínhamos criado.

Eu gemi de dor, sentando enquanto girava o ombro direito sobre o qual tinha caído. Remus estava longe, com o rosto franzido de dor.

- Alguém ferido? - eu perguntei. Anabelle fez careta, mas acenou que não e Aric também negou. - Remus?

- Acho que desloquei o ombro. - ele reclamou. - Mas o dente do basilisco ficou lá. - ele apontou com a cabeça para a caixa de madeira.

Eu segui o aceno e, aliviado, vi que o dente ainda estava cravado ali. Bom. Pelo menos não estava encravado em alguém.

- Vou resolver isso. - eu fiquei de pé, ainda massageando meu ombro e parei perto do Lupin, que me olhou com suspeita. - Não questione, mas eu tenho primos e acidentes acontecem.

- Coisas que são melhores mantidas entre nós. - Bells concordou, arrancando um sorriso de Remus. - Vai doer, mas ele resolve isso bem rápido.

- Eu imagino que tipo de acidente vocês se meteram a ponto de James aprender a colocar um ombro no lugar. - Aric comentou, perto de Bells, enquanto eu ajoelhava ao lado de Remus.

- Quadribol. - eu respondi com simplicidade. - No três? - Eu posicionei minhas mãos depois de avaliar o deslocamento.

Nada que eu nunca tivesse feito antes.

- Um, dois… - Remus começou, mas antes que ele chegasse ao três, eu fiz o movimento que colocou o ombro dele no lugar. - PORRA, JAMES! - ele bradou, arrancando uma risada deliciada de Aric e Anabelle. - VOCÊ DISSE QUE IA SER NO TRÊS, CARALHO!

- Dói menos se é de surpresa. - eu ri, ficando de pé e olhei o anel, que agora parecia ser apenas um simples anel.

Havia fantasmas de magia ali, mas nada daqueles tentáculos nojentos que tinham me cutucado. Eu me aproximei com cuidado e tirei o dente de basilisco da caixa.

- Sugiro deixarmos o anel aqui, escondido. - Anabelle disse, quando eu finalmente toquei a joia. - Menos uma coisa para carregarmos.

- Certo. - eu concordei e fechei o anel dentro da caixa de madeira. - Onde esconderemos?

- Dentro do casebre. - Nott sacudiu os ombros. - Ou na floresta?

- Na floresta. - Remus foi firme. - O casebre atrairia muita atenção. Não queremos que ninguém saiba que estivemos aqui.

- Então, espere. - eu murmurei, fazendo uma duplicata da caixa e do anel e voltei a enterrá-la onde a original estava e cobri o buraco com a terra que tinha cavado, deixando tudo exatamente como havia encontrado.

- Vamos deixar essa na floresta. - Remus acenou com a caixa e o anel verdadeiros. - Bem escondida, onde apenas nós iremos encontrá-la, com feitiços de proteção.

- No meio do caminho para a mansão? - Anabelle soou receosa. Aric sacudiu a cabeça:

- Não. Vamos deixá-la fora do caminho. A Mansão é mais ao norte, ir caminhando é possível. Não é mais do que uma hora de distância.

- Mas iremos nos cansar mais do que deveríamos. - eu ponderei. - Sugiro deixarmos a original mais ao leste e depois aparataremos até uma distância razoável da mansão.

- Pode ser. - Aric acenou com a cabeça, parecendo ansioso pela primeira vez. - Vamos para leste, primeiro. Depois nos movemos novamente para outra localização antes de aparatar.

- Está pensando em todas as possibilidades, não é? - Remus olhou o amigo, com preocupação nos olhos. Aric encolheu os ombros:

- Estou pensando nas piores e nas melhores. - ele passou a mão pelo rosto. - Primeiro leste, guardamos a horcrux, depois iremos até Great Hangleton, é perto o suficiente para irmos a pé. De lá, aparataremos para a floresta próxima à mansão.

- E aí começamos nossa missão. - Bells acenou com a cabeça e sorriu para Aric. - Não se preocupe. Vai dar tudo certo. Estamos com você.

- Para leste, então. - eu voltei a olhar em volta, ansioso. - Façam fila, por favor. Vamos voltar ao feitiço de desilusão.

Os três resmungaram em uníssono, mas ninguém se opôs.

Pelo menos eu ainda tinha um pouco de controle sobre eles.


A caminhada até Great Hangleton foi feita em silêncio, com meu estômago afundando a cada passo que nos aproximávamos do vilarejo. Haviam algumas poucas casas na estrada, mas todas fechadas firmemente e nem um pouco convidativas para forasteiros.

- Tão acolhedor. - Bells murmurou à minha direita e eu não segurei um sorriso. - Não é de se admirar que ele tenha um coração congelado como o que tem se a família dele vem de um lugar desses.

- A minha família é daqui. - Aric soou ofendido, mas Remus riu:

- E os Nott são famosíssimos pela sua natureza acolhedora, obviamente.

Dessa vez eu não segurei uma risada e Aric me acompanhou - era bom distraí-lo do que estávamos prestes a fazer e o que poderíamos acabar vendo no processo.

Eu pedia a Merlin e a qualquer entidade que os trouxas acreditassem, por favor, que a mãe de Aric esteja viva. Tudo isso já tem sido duro demais, difícil demais. Tínhamos poucos pais aqui e, às vezes, tudo o que você queria era colo de alguém que não estava aqui.

Eu e Alvo tínhamos passado muita horas discutindo o que nossos pais fariam no nosso lugar, que conselhos dariam. Els tinha chorado algumas vezes, sentindo saudades dos pais também e questionando se eles aprovariam as decisões que ela tinha tomado até agora.

Fleamont e Euphemia faziam o possível, mas eles eram meus bisavós e não meus pais. Não era a mesma coisa. E se Aric pudesse ter a mãe com ele, pelo menos por alguns dias antes de a mandarmos para ficar com os Evans e Lupin, isso tornaria a coisa mais tolerável para ele.

- Me conte sobre a sua mãe. - Anabelle pediu a Aric, que suspirou:

- Ela é gentil. Temos os mesmos olhos, mas o cabelo dela é claro. Não como o seu ou o de Malfoy, mas é claro. - ele contou, a voz suave. - Mamãe gosta de bordar, passava horas bordando enquanto eu era ensinado a ser o próximo Lorde Nott. Ela me ensinou a cozinhar quando não havia mais ninguém na mansão. Também me ensinou etiqueta. Há um motivo pelo qual eu gosto tanto de atormentar a sua irmã. - ele olhou Bells e depois para mim, sorrindo. - Electra me lembra a minha mãe em certos pontos. Uma perfeita Lady Black, com todos os conhecimentos de etiqueta e costumes da alta sociedade bruxa, mas ainda assim sedenta por conhecimento. Els é muito mais rebelde do que minha mãe, mas…

- A essência é a mesma. - eu completei.

- Sim. A mesma. Toda vez que vejo Els, eu vejo uma sombra da minha mãe. É como se eu encontrasse uma irmã que não sabia existir. - ele explicou.

- Por isso queria que ela viesse. - eu olhei o Nott, que suspirou:

- Sem ofensa, mas ela usaria métodos… Não convencionais para chegarmos à minha mãe e sairmos de lá em dez minutos se possível. - Aric se defendeu. - Não era ela em específico, só alguém…

- Menos apegado a regras. - Remus disse quando Aric hesitou.

- Regras são flexíveis. - eu ponderei. - Pessoalmente, não estou inclinado a perdoar nenhum deles pelo o que andam fazendo. Posso fazer vista grossa para alguns detalhes.

- E é por isso que disse a Evan que você não é puramente grifinório. - Aric ajudou Bells a pular um tronco de árvore cheio de musgo. - Regras são flexíveis para sonserinos, não para grifinórios. Nós as dobramos e usamos as falhas a nosso favor. Grifinórios passam por cima delas como um bando de testrálios famintos.

- Essa é uma forma de se colocar. - Remus ponderou, enquanto e franzia o nariz e Bells ria.

- Aqui está bom. O anel está seguro e agora é quando a coisa começa a complicar. - Aric nos impediu de continuar. - Se alguém quiser ir para casa, eu vou entender. É perigoso e estamos caminhando para os braços de comensais-da-morte.

- Nós sabemos. - Anabelle foi firme. - E estaremos com você até o fim.

- Até o fim. - eu concordei e Remus apertou o ombro de Aric:

- Você me comprou tempo para salvar minha família. Me deixe salvar a sua. - ele disse, suavemente. Aric acenou com a cabeça, olhando para nós três:

- Bem. Então… Iremos todos. Façam exatamente como eu disser. - ele foi firme.

- Tome a liderança agora. - eu acenei para ele. Aric nos juntou em um círculo, todos tocando nele:

- Vamos aparatar agora. Confiem em mim. - ele respirou fundo e, antes que eu pudesse me preparar, nós aparatamos.


A floresta era bem parecida com a que estávamos antes, mas ainda assim diferente. Exalava magia, pinicando a minha pele. Notando meu desconforto, Aric abriu um sorriso sem graça:

- É uma parte da floresta recheada de objetos e plantas mágicos. Você está sensibilizado. - ele apontou para o meu peito, onde a runa de Els batia, estável e calma.

Bom. Se ela estava calma, eu podia ficar calmo.

- Desfaça o feitiço de desilusão. - Bells pediu. Eu comecei a discordar e ela interrompeu. - Eu tenho certeza que eles têm feitiços que vão desfazer isso e nós estaremos apenas nos atrapalhando se não vermos os outros. Eu apago todo mundo, não se preocupe, mas desfaça isso. Quero ver vocês enquanto entramos em território inimigo.

- Tudo bem, então. Mas sejam discretos. - eu fui firme e os três resmungaram em concordância, fazendo mais uma fila para que eu pudesse retirar os feitiços. - Aric, você conhece esse lugar. Lidere o caminho.

- Varinhas empunhadas. Feitiços na ponta da língua. Se precisarem explodir tudo, explodam tudo. - Aric disse, sério, olhando volta, enquanto tomava a frente do grupo, com Anabelle e Remus no meio e eu ao final, fazendo a retaguarda.

Agora parecia uma péssima ideia estarmos em apenas quatro pessoas, mas era tarde demais para mudar de ideia. Além do mais, eu duvidava que houvesse mais comensais-da-morte ali do que no nosso ataque a Grimmauld Place.

Ainda assim, meu estômago dava voltas e mais voltas na minha barriga, o que me deixava desnecessariamente angustiado.

Aric parou aparentemente do nada. Anabelle e Remus ergueram as varinhas e eu os imitei, ficando de costas para o grupo.

Estranhamente silencioso.

Anos de preparação e de nada me serviu quando um Crucio foi mirado em mim. Um grito nada natural, nada que eu jamais tivesse produzido na minha vida, saiu do fundo da minha garganta, da minha alma, quando eu caí, deixando a varinha de lado.

Era como se meu corpo fosse perfurado por diversas facas e suas lâminas se retornassem dentro de cada pedaço do meu corpo. Eu não ouvia, não via nada. Tudo era dor.

E, então, tudo se tornou escuridão.