Capítulo 10
Ao entrar na Sala Precisa dois dias depois, agora com a permissão do professor, Harry sentiu imediatamente a força que o lugar transmitia no ar, nas paredes e até mesmo no cheiro. Era poderoso, engolfante e tão denso que podia sentir como uma leve fuligem sobre a epiderme. Imaginou por um momento que a magia daquela linda e poderosa clareira fosse mandada para aquela sala, uma vez que era um ambiente que requeria muita magia. No entanto, a cada segundo que ficava ali percebia que a sala emanava também a magia que saia do próprio Snape, liberada de seu corpo a cada respirada.
O homem segurava sua mão entrelaçando os dedos aos seus e desejava que ele jamais soltasse.
Depois do dia em que Snape saboreou seu gosto o deixando tão mole que caiu em um sono profundo o fazendo perder o treinamento com McGonagall e assim levar uma bronca da anciã, os toques e gestos carinhosos aconteciam com mais frequência e de formas espontânea. Harry procurava o toque do Alfa e Snape não o negava beijando seus lábios com volúpia e tocando-lhe o corpo com desejos assim como as vezes com apenas um doce carinho. As liberdades ainda não eram tão intimas, pois Harry não se sentia seguro o suficiente para seguir adiante, mas aos pouquinhos Snape cuidava de si e o mostrava que estava em segurança com seu Alfa, nenhum limite seria atravessado e nenhuma dor seria causada.
Uma demonstração dessa segurança veio no fato de ter o chamado para a Sala Precisa onde libertaria todo o seu poder Alfa, uma coisa que poderia ser perigosa para o Ômega se ele fosse alguém como Zabini que o marcara por dominação haja visto que o corpo do Alfa seria muito maior que o dele e sem o desejo do ômega preparando o corpo para recebê-lo, aquele tamanho enorme poderia até mesmo matá-lo. Mas Snape garantiu e Harry confiou de que nada aconteceria, pois tudo que Snape queria era proteger seu ômega.
O jovem sentiu o homem soltar seus dedos levemente então se aproximar o olhando com intensidade antes de o puxar para dar-lhe um beijo simples e casto, mas carregado de sentimentos intensos que o deixou ofegante.
- Sente-se aqui e não se mexa ou fale. Eu não farei nenhum mal a você, jamais, mas se em algum momento sentir medo...
- Eu não vou embora.
Snape apertou os olhos levemente e assentiu antes de se afastar caminhando até o centro da sala agora levemente iluminada com as luzes dos archotes acesos. Fechou os olhos se concentrando e aos poucos abriu os botões do sobretudo o deixando cair aos seus pés. Sua respiração regulada começava agora a se alterar conforme sentia a força do Alfa vir à tona. Percebeu que a energia vinda do seu interior estava forte, mais intensa e poderosa do que nos dias anteriores em que estivera naquele exato lugar e só podia imaginar que o motivo era o jovem sentado ao fundo o observando. O cheiro de Harry o deixava louco e com imensa vontade de se juntar a ele, principalmente conforme seu corpo começava a modificar-se, mas precisava se controlar. Por isso que Harry o acompanhasse, ele era o ômega por quem os Alfas lutariam até a morte e não podia permitir que o poder dele ou mesmo seu cheiro delicioso o tirasse do foco já que nem o prendendo na masmorra do castelo conseguiria impedir que ele estivesse no dia da luta. Tinha que se acostumar com aquele delicioso odor e não deixar que ocupasse sua mente e razão.
Harry abriu os lábios quando Snape retirou a camisa branca deixando-a no chão em cima do sobretudo expondo o tronco pálido. Já havia visto Snape sem camisa antes, uma vez que suas leves brincadeiras levaram o mestre de poções a retirar a peça em um momento de beijos muito quentes e membros muito duros dentro da calça, passara sua mão pela pele sentindo as cicatrizes que ele carregava, fora gostoso, mas imaginava quão mais delicioso seria se pudesse lamber os mamilos escuros.
Estava mais quente ali?
Sim estava, não era simplesmente um calor sexual vindo do meio de suas pernas, mas o calor que o corpo de Snape começava a emanar conforme a mudança corporal acontecia. Os olhos esmeraldas arregalaram-se quando assistiu de perto Snape cerrar os dentes e crescer. Literalmente crescer. Parecia que seus músculos inflavam deixando seus braços e troncos com o dobro do tamanho, musculoso, enorme. Os cabelos negros agora batiam no meio das costas e por suas mãos saiam garras no lugar das unhas sempre curtas e bem feitas. As pernas grossas feito o tronco de uma árvore só não rasgaram a calça, pois Snape colocara um feitiço para que isso não acontecesse e ele ficasse pelado, não que Harry fosse odiar, muito pelo contrário.
O poder do Alfa era gritantemente forte e engolfava Harry de uma forma quase impossível de ser explicado. O menino não encontrava palavras para a força que o chamava em direção a ele, queria correr e se jogar naqueles braços fortes deixando-o o embalar em seu poder, era quase irresistível. Mas precisava resistir, assim como Snape o deixara acompanhá-lo para que pudesse se acostumar com a presença do ômega e não se distrair na hora da luta, Harry tinha que fazer o mesmo caso contrário entraria no meio dos dois Alfas e acabaria morrendo ou causando a morte de Severus que tentaria protegê-lo. Era difícil sequer respirar sem pensar em ir em direção a ele e tocar sua pele, mas Harry estava determinado a ajudar seu Alfa e por isso respirou fundo, apertou os dedos nos joelhos onde suas mãos estavam apoiadas e esforçou-se para ficar quieto e em silêncio.
O processo do treinamento de Snape não era complexo, mas era poderoso. O bruxo deixava a magia se desprender de seu interior ocupando todo seu corpo e alma e dilatando para o exterior fazendo com que se transformasse. Seu rosto era visível mesmo com olhos completamente negros, linhas de expressão fortes e fundas, dentes afiados e orelhas pontudas. Animalesco, mas ainda Severus Snape.
A sala estava preparada para ajudá-lo no processo conforme o que desejava e Snape queria usar sua força física, treinar o novo corpo e assim se acostumar com ele. Zabini era um Alfa dominante onde a crueldade reinava em suas veias. Se o ex aluno aprendera e treinara seu corpo liberando todo o poder, seria muito perigoso, pois não haveria controle nele, estaria pronto para um único fim, matar e como é um jovem seu corpo seria muito mais forte. Snape precisava de toda vantagem que conseguisse e por isso usou a sala para criar obstáculos fortes e difíceis.
Por duas horas Snape urrou enquanto usava seus braços e pernas para correr atrás de vultos em uma sala que se expandia quase infinitamente deixando Harry abismado com o poder que aquele local tinha. O menino assistia de olhos arregalados Snape treinar esquivas que eram difíceis em um corpo tão grande e pesado. A fera usava os pés descalços para se impulsionar a frente até alcançar os vultos e quando os alcançava a sala os transformava em troncos de madeira ou até mesmo em paredes de pedra que eram destruídos com diversos golpes desferidos pelos punhos de Snape. Por vezes os vultos se solidificavam como seres corpóreos e lutavam de fato com o Alfa. Snape não era ruim em luta, mas perdera algumas vezes e ficara furioso. Harry precisou tapar os ouvidos quando a criatura urrou de raiva expondo as presas.
Ao término do treinamento Snape estava ofegante, seu peito subia e descia enquanto ele tentava regular a respiração. A sala começava a mudar e clarear com os archotes acesos. Harry ficou tenso, sua vontade era correr e se atirar nos braços de seu Alfa, mas apenas continuou sentado no chão o observando. Os músculos das costas e ombros eram definidos e enormes como muralhas prontas para suportar qualquer guerra e foi acima dessas muralhas que Harry viu o rosto de Snape virar e seus olhos negros o encararem.
Sua barriga deu um solavanco quando sentiu o poder dele e mais ainda quando Snape assentiu levemente com a cabeça indicando para se aproximar. Harry se levantou, as pernas meio doloridas de tanto tempo sentado naquele chão, e se aproximou devagar. O cheiro de Snape impregnava seu nariz, era forte, almiscarado, gostoso e o chamava até que encostou seu rosto nas costas dele. Seu Alfa ficava tão grande quando se transformava que seu rosto atingia a base de seu cóccix e foi ali mesmo que Harry depositou um beijo ignorando o suor que escorria pela pele quente e dura. Seus braços enlaçaram a cintura e as mãos espalmaram-se sobre o abdômen do Alfa e então comprimiu os dedos deixando as unhas rasparem a pele, um grunhido saiu pela garganta da criatura que fechou os olhos e jogou a cabeça para trás sentindo o poder de seu Ômega sobre seu corpo. Aquele jovem não tinha noção de como era dependente dele. Podia ser grande, forte e poderoso, mas era aquele ser pequeno cujo os braços nem mesmo conseguiam se fechar em sua cintura e que ao se virar de frente a cabeça batia em sua barriga era o verdadeiro poder de tudo. Harry era quem mandava nele, se ordenasse que se ajoelhasse perante ele, não haveria quem impedisse seu joelho de se dobrar. Provavelmente o garoto não tinha dimensão de como faria de tudo, daria sua vida, sua sanidade para que estivesse seguro e bem. Durante anos pensara que aquele destino não deveria ser para si e ainda que tivesse fugido disso quando avistou Harry no dia do jantar, já sentindo algo ali mesmo, agora não entendia como não se permitira ser enfim um Alfa para um Ômega. Talvez se não tivesse reprimido seus genes, se tivesse deixado que o elo com seu parceiro o chamasse tivesse encontrado Harry antes de Zabini e então o menino não teria passado por tanto abuso como passara nas mãos dele.
- Que foi? - Perguntou Harry quando Snape o olhara intensamente pegando seu rosto nas mãos enormes.
- Ah Potter.
Harry fechou os olhos e consumiu aquele som, seu nome pronunciado na voz gutural que vinha do Alfa, um rosnado grosso, forte, uma voz tão diferente da que ouvia quando falava com o professor, era a voz que balançava suas estruturas, que o chamava e o queimava.
Snape aproximou o rosto de seu pescoço e então lascivamente passou a língua sobre a marca da mordida de Zabini.
- Nãovejo a hora de marcar você, meu pequeno ômega.
- Me morde. - Pediu Harry em meio a um gemido, suas costas arqueando com os arrepios que a língua do Alfa causava. - Me marca. Eu sou só seu.
- Eu sei que você é só meu, você sempre será só meu.
- Então me marca, agora.
Um riso saiu da garganta do Alfa e então Harry, que fechou os olhos, sentiu seus lábios serem reivindicados. Snape o beijava com doçura e calma evitando machucá-lo com suas presas, uma delicadeza que não combinava com seu tamanho. Os archotes começavam a ficar mais fortes enquanto Harry sentia o corpo esquentar a cada mexer de lábios.
Era visível o tamanho do desejo de ambos e Harry não se fez de rogado ao espalmar sua mão no pênis enorme e duro dentro das calças negras. O Alfa soltou um gemido ao sentir a mão do jovem passar pela extensão de seu membro esfregando-o no tecido e jogou a cabeça para trás quase uivando no momento que os dedos tentaram se fechar em seu diâmetro, falhando devido ao tamanho considerado de seu sexo. Voltando os olhos para baixo viu Harry hipnotizado encarando o volume gritante em sua calça e um desejo gritante, uma força desumana quis se apossar de seu corpo indicando que deveria possuir a criatura a sua frente, dominá-lo e invadi-lo, torná-lo seu de fato. No entanto, apesar de forte, aquele instinto selvagem não era capaz de nublar o instinto protetor de Alfa e Snape, olhando nos olhos esmeraldas de seu pequeno Alfa, sabia que não poderia fazer isso com ele, ainda mais depois de ver os mesmos olhos esmeraldas serem tomados pelo pavor após o zíper ser baixado e a ereção ser liberada. Até mesmo o cheiro dele mudara, nada de doce e envolvente, agora era amargo e forte, ele estava com medo.
O tamanho considerado e proporcional ao Alfa a sua frente o espantou e trouxe a sua mente flashs com a imagem de Zabini que o fez dar passos para trás afastando-se. Que tolo, sabia que Snape não faria nada para machucá-lo, quantas vezes o mestre de poções não prometera isso a si? Ainda assim deu mais um passo para trás e virou-se de costas quando a vontade de chorar o atingiu.
O Alfa respirou fundo guardando o membro que amolecia conforme o desejo do ômega diminuía. Não havia tesão quando seu pequeno agora trazia à tona tristeza e incertezas. Snape concentrou-se no poder canalizado do Alfa e o devolveu a calmaria voltando a ter seu corpo humano. Percebera que era mais fácil estando próximo de seu Ômega, como se o menino fosse o epicentro desse poder e possivelmente era, pois não mais se via sem aquela pequena criatura, Harry era agora o centro de sua vida. Não havia um único momento em que não pensasse nele, não havia sono agitado que ele não acalmasse e nem pesadelo que ele não mandasse embora. Aquele jovem ômega era sua vida, seu tudo, seu motivo e sua razão e apesar de não saber usar palavras para dizer isso a ele, tentava demonstrar com pequenos atos como se aproximar o abraçando pelas costas.
- Calma. - Disse ao senti-lo se sobressaltar - Está tudo bem.
- Não está não! - Disse Harry se desvencilhando de seus braços. Snape arregalou os olhos ao sentir a raiva emanando do jovem.
- Está com raiva de mim? - Perguntou Snape sem se mexer. - Sabe que eu não faria nada com você.
- Eu sei. - Concordou Harry assentindo com a cabeça e cerrando os dentes com as palavras que pareciam se atropelar em seus lábios. - Não estou com raiva de você, não de você. Estou com raiva de mim, de quão patético eu sou. Da merda de ômega que eu sou.
- Nunca ouvi tanta besteira. - Ralhou Snape ainda sem se mexer, deixando Harry determinar a distância segura entre os dois.
- Besteira não, realidade. Eu fui dominado por um sádico e fiquei quase um ano nas mãos dele. Deixei que ele me batesse, me humilhasse, me subjugasse como um merda. Eu tinha que ficar ajoelhado enquanto ele comia, minha varinha era confiscada e devido as ordens dele não conseguia fazer magia para ir embora. Ele me fodia quase toda noite, eu querendo ou não. Eu só sentia ódio por ele, não havia tesão, só ódio e ainda assim ele transava comigo quase todo dia.
Lágrimas escapavam desesperadamente de seus olhos enquanto falava sem perceber que estava gritando. Os archotes da sala ficavam mais fortes conforme Harry falava com mais e mais raiva saindo de seu interior. Snape sentia o poder que ele estava emanando e era gigante. Seus olhos negros estavam presos a ele prestando atenção a cada palavra, a cada gesto desesperado que o jovem fazia. Harry precisava daquele momento, daquele ato de dor, tinha que por tudo aquilo para fora e se ele precisasse bater em algo a sala nem precisaria ajudar, pois o Alfa daria seu próprio corpo para que o menino descontasse o sofrer de seu coração.
- E agora… - Continuou Harry olhando para Snape. - Agora que não tem raiva, que tem respeito, agora que eu acho que amo você, agora eu não consigo. Talvez se você me pegasse a força… - Snape arregalou os olhos abismado com o que acabara de ouvir. - ...Se me obrigasse talvez eu conseguisse.
- Cale a boca! - Ordenou Snape e dessa vez Harry sentiu o poder do Alfa em seu comando e apesar de também sentir que poderia desobedecer, calou-se. - Nunca mais diga ou sequer pense isso. - Snape se aproximava devagar, pé ante pé, Harry não se mexeu. Raiva borbulhava dos olhos negros. - Zabini estuprou você. Todos os dias que aquele maldito te fodeu sem sua vontade, ele estuprou você e passou de todos os limites quando te invadiu selvagemente, possivelmente liberando o poder Alfa dele e te rasgando por não estar pronto. Eu o mataria ali mesmo se o encontrasse. Porque ele é o errado Potter, coloque isso em sua maldita cabeça, você é uma vítima e me negar por medo de passar comigo o que passou com ele é talvez a coisa mais sensata que você possa ter pensado e sentido em todos esses anos que te conheço. Quantas vezes terei que te falar que você é o bendito salvador do mundo bruxo, tão poderoso que matou o Lord das Trevas quando tantos outros bruxos falharam? Que todos deveriam agradecer e ajoelhar-se a sua frente? Quando conseguirá entender que ser um Ômega não faz de você um ser inferior e sim tão poderoso que pode controlar o Alfa apenas com seu olhar, muito mais com sua magia. - Nesse momento Harry encostava as costas em uma parede, nem mesmo percebeu que Snape continuou a caminhar em sua direção o fazendo recuar até estar preso entre as paredes e os braços do Alfa postados ao lado de sua cabeça. Os olhos de Snape brilhavam com as luzes dos archotes. - E pelo amor de Merlin, quando vai perceber que eu estou com você não apenas por ser meu ômega, mas porque eu amo você seu pirralho irritante?
Agora era Harry quem arregalava os olhos, Snape lhe disse claramente, sem rodeios ou firulas que o amava. Ele já demonstrou diversas vezes que se importava consigo o protegendo, cuidando e lhe dando carinho. Todos os dias dormia em seu aposento afastando os pesadelos, abraçando-o e beijando. Dando-lhe carinho e afeto, além de momentos relaxantes de tesão, mas jamais imaginou que houvesse amor nesses atos, sempre imaginou que era apenas pela obrigação Alfa e que ele só era um Alfa mais decente que Zabini. Mas amor? Era muito mais profundo.
Harry não tinha palavras para dizer naquele momento, apenas deixou as lágrimas descerem por seu rosto e se aproximou passando os braços pela cintura dele, agora já conseguindo fechar os braços em suas costas.
- Me…
- Se me pedir desculpas juro que te jogo do outro lado da sala. - Cortou Snape fazendo Harry soltar uma risada.
- Duvido que faria isso. - Disse o grifinório se afastando o suficiente apenas para olhar nos olhos negros agora mais calmos. - Afinal de contas você me ama.
Snape revirou os olhos e o sentiu puxá-lo para um beijo quente foi devidamente respondido.
- Você me ama, você me ama. - Brincou Harry em meio ao beijo.
- Ah se arrependimento matasse. - Balbuciou Snape ganhando outra risada antes de outro beijo.
Harry olhava para o relógio e sentia raiva dele, o tempo passava rápido demais, agora só faltava uma semana para a luta de Snape com Zabini e a cada segundo que passava o nervosismo tomava conta de sua mente e alma.
Depois daquela declaração raivosa de Snape na sala precisa Harry o irritara um pouco ao brincar jogando na cara dele que ele o amava ao ponto de o mestre de poções ficar uma noite sem ir aos seus aposentos, o que o deixou com uma angústia profunda causando dor ao Alfa que no meio da madrugada apareceu em seu quarto e sem falar nada enfiou-se embaixo dos cobertores puxando Harry para seus braços. A verdade é que a angústia não vinha apenas de seu Ômega, mas de si mesmo. Apesar de Harry o irritar, não conseguia ficar longe tanto tempo ainda mais sabendo que o tempo de ambos poderia ser curto caso não ganhasse de Zabini na luta. Após isso não houve mais brincadeiras, a rotina continuava com Snape dando suas aulas, Harry praticando e estudando com os professores e ambos usando a Sala Precisa para treinar para a luta, Harry agora aprendendo e treinando seus poderes para canalizar sua magia junto da de Snape afim de ajudá-lo caso o Alfa precise podendo passar sua magia para ele através da ligação de parceria.
Snape fazia questão de agradar Harry em todos os sentidos que o menino se sentisse confortável. O abraçava, acarinhava, beijava, lambia, chupava. Bebia de sua essência quase todo dia e quando Harry se sentiu confortável para retribuir tal ato, não o impediu jogando a cabeça para trás ao sentir-se acolhido pelos lábios de seu pequeno ômega. Snape não dissera novamente que o amava, mas Harry não precisava de palavras, podia ver no olhar, nos pequenos gestos e até no gozo que descia por sua garganta. Snape o amava e podia sentir em seu âmago, era o que bastava por hora.
- Sabe o que poderíamos fazer hoje? Ir ao Beco Diagonal, ou Hogsmead ou até algum outro lugar bruxo ou trouxa. - Comentou Harry olhando pela janela do quarto, o lago estava iluminado pelo sol, a lula gigante brincava de fazer marola para alguns alunos que assistiam. - Sei lá, só sair um pouco daqui.
- Se cansou da escola?
- Não, eu amo Hogwarts, mas falta só uma semana, não quero passar o final de semana preso aqui dentro. Quero passear com você.
- Pode ir visitar seus amigos.
- Só se você for junto. Não quero ficar longe de você nem um instante sequer. - Disse Harry se aproximando e tirando o jornal que Snape estava lendo jogando-o no chão antes de se sentar sobre suas pernas abraçando seus ombros.
- Acha que vou morrer na luta?
- Não, confio que você é um Alfa fodão que vai estraçalhar aquele escroto. - Disse dando um beijo na ponta do nariz de Snape. - Mas se algo der errado você morre e eu morro junto.
- Sabe que não gosto quando fala isso, Harry.
- Mas é a verdade, Severus. Não posso viver sem você e não deixarei nenhum outro Alfa chegar perto de mim, eu pertenço a você e só você, para sempre.
Snape sorriu de leve e encostou a testa na dele. A intensidade dos sentimentos dos dois aumentará exponencialmente nos últimos dias e intensificação cada palavra e gesto. Snape estava confiante e sabia que ganharia do ex aluno, mas se não conseguisse ficaria feliz por morrer, pois jamais conseguiria viver sabendo que outro Alfa estava com seu pequeno ômega, nem com o fato de não ter conseguido protegê-lo.
- Está bem, podemos ir ao Beco Diagonal, tenho mesmo que comprar alguns itens para o meu estoque. Mas vamos depois do almoço, agora de manhã tenho que ir ao Ministério com Minerva resolver alguns trâmites da escola.
- Eu quero ir junto.
- Por quê? Não vou me demorar lá, fica aqui descansando um pouco, ontem o treino te deixou exausto. Peça comida a um elfo, ou jogue quadribol com os alunos.
- Não quer me levar?
- Não é isso, só acho que você pode ficar aqui e fazer algo mais agradável do que acompanhar dois docentes em coisas burocráticas.
- Prefiro ficar ao seu lado. - Disse Harry e quando Snape apenas balançou a cabeça pensativo o jovem sentiu, mais do que viu, que ele estava contrariado. - O que tem errado?
- Não tem nada errado. - Disse Snape respirando fundo. - Zabini trabalha no Ministério e é possível que o encontremos no caminho.
- Está preocupado que ele queira lutar ali mesmo?
- Não estou preocupado comigo, Harry. - Snape acariciou sua bochecha devagar, uma mão fazendo círculos com o dedo em suas costas e outra passando pelos traços de seu rosto.
- Eu vou ficar bem. Estarei com meu Alfa e com McGonagall, duvido que alguém se atreveria a fazer qualquer coisa perto dela.
- Só um louco faria algo assim. Está bem. Saímos em uma hora.
Harry sentia um peso enorme enquanto caminhava pelo piso lustroso do Ministério, ele deveria ter ido para o estágio de aurores logo que a guerra terminara e Kingsley o convidou para fazer parte da equipe, mas escolheu aguardar e no dia que fora conversar com o Ministro para que tivesse uma nova chance como estagiário Zabini o encontrou no corredor. Mas apesar do peso no peito, que fazia com que Snape o olhasse a cada minuto, Harry se sentia bem confiante e seguro, como se nada pudesse acontecer. Pelo menos pensava assim até avistar o bruxo que caminhava em sua direção.
Quase inconscientemente Snape se postou diante de Harry o escondendo atrás de seu corpo enquanto parava encarando fortemente o ex aluno que se aproximava. Zabini estava vestindo uma bela veste bruxa azul marinho e trazia uma bengala na mão esquerda, puramente decorativa. Podia se igualar a Malfoy Sênior.
- Ora, ora, ora, se não é meu querido ômega. – Disse Zabini sem se incomodar em falar baixo. O jovem sonserino aproximou-se de Snape que ainda mantinha Harry em suas costas. Minerva permaneceu fria e com os braços cruzados. – Estou sentindo sua falta, querido. – Ironizou Zabini com um sorriso de lado. – Não vejo a hora de você voltar para minhas mãos.
Snape e até McGonagall abriu a boca para retrucá-lo, mas foi Harry que falou saindo das costas de Snape e se aproximando de Zabini. O rosto duro e firme, os olhos intensos. Snape sentiu o poder que emanou de seu ômega e sentiu orgulho pela força de sua magia. Não havia medo no garoto, apenas raiva e coragem, ele estava enfrentando seu maior pesadelo e sua mão não tremia.
- Eu jamais voltarei para você, Blaise. Você nunca mais colocará as mãos em mim, eu não sou seu ômega, eu sou o ômega de Severus Snape e você morrerá pelas mãos do meu Alfa.
Sem dizer mais nada Harry passou esbarrando em Zabini e seguiu reto pelo corredor, McGonagall logo atrás com uma carranca que daria medo até ao mais preparado dos aurores e Snape permaneceu no mesmo lugar apenas tempo o suficiente para encarar Zabini com olhos ferinos.
- Te vejo em seis dias, Snape, esteja pronto para morrer. – Sentenciou Zabini quando Snape deu-lhe as costas.
O mestre de poções diminuiu os passos apenas por um segundo, mas então retomou a caminhada sem olhar para trás. Precisava encontrar Harry, garantir que ele estava bem. Sentia a raiva do menino borbulhando, ele estava furioso. Após alguns passos encontrou Harry parado em um saguão de espera, o menino ignorou as poltronas confortáveis no átrio e se aproximou de um aquário ao canto observando os peixes que andavam de um lado para o outro pintando a visão com suas cores tão lindas e chamativas. Harry sentiu Snape se aproximou e fechou os olhos ao sentir a mão de dedos finos em seu ombro. Snape o virou devagar e o olhou no fundo dos olhos.
- Fez muito bem.
- Não sei como tive coragem, mas não podia ficar quieto ouvindo-o falar que eu voltaria para ele. Jamais voltarei.
- Eu não vou deixar. Você é meu, lembra?
- Eu não quero atrapalhar. – Disse Minerva de aproximando. – Mas estão nos aguardando, Severus.
- Eu já volto. – Disse Snape a Harry e então dando as costas para entrar em uma sala junto com McGonagall.
O tempo que Harry ficara aguardando nem mesmo foi racionalizado por sua mente. Tudo que podia pensar era no encontro com Zabini e na luta que se aproximava. Seus olhos não focavam em nada, pareciam apenas assistir um filme de todos os momentos em que estivera com Severus e como cada detalhe trazia uma sensação diferente, as vezes irritante, mas em sua maioria deliciosa de se lembrar. E quando Snape saiu da sala mexendo os ombros e demonstrando cansado Harry sabia exatamente o que queria.
- Pronto, terminamos por aqui. – Disse McGonagall ajeitando o chapéu. – Espero não precisar me deslocar para cá tão cedo, essas pessoas acham que não tenho nada para fazer. Meu gabinete está lotado de relatórios que tenho que examinar e aprovar.
- Pensou que Alvo ficava apenas comendo balinhas? – Disse Snape dando um sorriso torto para a mulher.
- Vai rindo Severus, você é meu vice diretor, um dia eu me aposentarei e você assumirá a escola novamente e dessa vez por muitos anos. – O sorriso sumiu do rosto do professor. – Quem está rindo agora hein.
McGonagall deu uma piscada para Harry e saiu em direção a lareira onde sumiu por entre as chamas verdes.
- Velha irritante. – Resmungou Snape.
- A amizade de vocês é tão linda. – Ironizou Harry cruzando os braços e olhando para Snape que ajeitava a capa sobre os ombros. – Eu estava pensando. Você precisa mesmo ir ao Beco Diagonal hoje?
- Não necessariamente hoje, mas logo. Por quê?
- Gostaria de voltar para o castelo.
- Desistiu de passear?
- Por hora sim. Quero voltar ao meu quarto e te pedir uma coisa.
Snape franziu a testa e virou a cabeça levemente para o lado encarando Harry, não havia nenhuma mudança significativa em sua magia, nenhum sentir em sua ligação. Não conseguia entender o que havia.
- O que foi? – Perguntou preocupado.
- Aqui não, em casa.
- Está bem, vamos.
Harry seguiu Snape até uma lareira onde indicou o destino Hogwarts e em poucos segundos saia da lareira na sala de troféus da escola, o único ambiente que se permitia ligar a rede de Flú. Snape ajudou Harry a limpar as roupas e caminharam em silêncio até os aposentos de Harry. Ao entrar no local, Snape retirou a capa negra e a colocou no suporte ao lado da porta, seus olhos em nenhum momento abandonaram o menino o seguindo em cada passo. Estava intrigado, Harry estava calado e a ligação estava tensionada, vibrando e balançando como se estivesse em constante mudança, até que se firmou quando o jovem se virou encarando-o, fosse o que fosse que Harry lhe diria naquele momento, ele estava decidido.
- O que você queria me dizer? – Perguntou sem sair do lugar, aguardando que o jovem se aproximasse e falasse.
- Percebi que meu banheiro é grande e a banheira é enorme.
- Demorou três meses para perceber isso?
- Não, mas só agora eu vi vantagem nisso. – Comentou baixinho deixando um sorriso preguiçoso dançar em seus lábios.
- Voltamos aqui para me falar do seu banheiro? – Questionou Snape levantando a sobrancelha.
- Talvez.
- Harry, afinal, o que precisava me falar?
Harry não disse nada imediatamente, o jovem retirou a blusa jogando-a na cama junto com a camiseta. Seu torço trazia uma leve camada de pelo no meio do peito, Snape engoliu em seco ao vê-lo se aproximar. A ligação ficando cada vez mais forte. Harry chegou próximo o suficiente para Snape postar suas mãos no quadril do menino que levou a mão ao rosto do professor acariciando-o. Os olhos esmeraldas passaram por todos os seus traços antes de se prenderem com força nos negros, estavam decididos.
- Faça amor comigo, Severus.
