Isabella
Quando a noite começou a cair e eu achei que poderia descansar, Chloe ficou febril novamente. Parecia uma provação, ela passava o dia bem e piorava à noite. Eu estava cansada da noite mal dormida e do dia, Alice estava cansada do dia e Chloe estava cansada do todo, o que deixava a situação toda mais difícil.
Meu pai e Sue ainda estavam no restaurante, geralmente todos nós jantávamos lá aos finais de semana, mas hoje eu não tinha condições de ir. Ia esperar que alguém lembrasse de nós e trouxesse comida pronta.
Claro, ter Alice comigo facilitava as coisas, mas eu estava tão cansada que engoli o medo de encontrar Edward do outro lado da linha e liguei para Carlisle, que chegou em poucos minutos.
— E então, pequena, o que houve aqui? — ele perguntou quando entrou na sala e a pegou no colo — Definitivamente febril. Fez bem em ligar, Bella.
Ele era muito bom com crianças e Chloe gostava tanto dele, que se deixou ser examinada sem reclamar. Carlisle mediu a temperatura, checou os batimentos, examinou os ouvidos e a garganta enquanto ela ficava quietinha com os olhos verdes - iguais aos do pai - bem atentos.
— Parece que temos uma otite aqui. Você sabe o que é isso? — ele perguntou, mas não para mim e sim para ela, que negou com a cabeça — É um machucado nos ouvidos, Chloe. Vamos cuidar direitinho e em poucos dias estará você boa. Promete para mim que vai tomar os remédios? — ele pediu e estendeu o dedo mindinho para ela, que repetiu o gesto.
— Pometo, titi!
— Muito bem, quero te ver sem dores em breve, certo?
Alice decidiu levá-la para o banho enquanto eu e o doutor ficamos na sala. Era sempre muito confortável com Carlisle, muito fácil, mas dessa vez ele parecia tenso. Eu não sabia o que esperar.
— Eu sei que possivelmente é a última coisa que você gostaria de ouvir agora, Bella, mas não tenho outra opção senão falar. Edward chegou e trouxe uma informação que foi… — ele fez uma pausa — No mínimo, curiosa, eu diria. Nós esperávamos que ele perguntasse sobre Chloe, mas ele…
— Não perguntou, sim, qual a novidade nisso? — interrompi, e depois me castiguei mentalmente por ser grosseira. Eu estava tão cansada.
— Bella, ele pergunta só sobre você porque não sabe sobre ela. Ele não faz ideia do que aconteceu com você, ou porque você sumiu, não sabe que você teve uma filha.
Eu questionei se a privação de sono das últimas vinte e quatro horas estava me deixando maluca, porque não era possível que meus ouvidos realmente tivessem escutado aquelas palavras.
— Me desculpe, Carlisle, mas acho que não estou entendendo.
— Bella, realmente acreditei quando Edward disse que não sabia de nada. Ele foi sincero, eu pude ver em seus olhos. E mais do que isso, ele está com dois amigos que confirmam sua história.
Parte de mim queria muito acreditar naquilo, porque seria mais fácil. Seria uma realidade muito melhor acreditar que Edward não havia me abandonado, que ele não sabia que Chloe existia, que nós fomos vítimas de algum tipo de conspiração ou apenas uma grande confusão, que poderíamos nos aproximar novamente… Afastei o pensamento antes que ele me causasse mais problemas, me dando mais esperanças infundadas.
— Olha, eu realmente não vejo como isso seria possível. Não é melhor aceitarmos a realidade aqui? Sabe, estive pensando nos últimos dias, talvez eu até aceite se ele quiser conviver com a Chloe e ser um pai presente, mas o mínimo é que ele comece falando a verdade.
— Eu entendo, Bella. Não daria o benefício da dúvida se estivesse no seu lugar, mas é o meu sobrinho, eu preciso tentar. Vocês vão precisar conversar, eventualmente.
Sim, era óbvio que eu precisaria encarar e conversar com Edward em algum momento, mas não precisava ser agora. Não com a minha filha doente lá em cima e eu tão soterrada de informações como estava.
— Bem, eu vou deixar uma receita com as medicações da Chloe e ela deve estar bem em dois dias. Qualquer alteração, pode me ligar que venho vê-la.
Nos despedimos e o acompanhei até a porta, com as palavras ditas por Carlisle ecoando na minha cabeça. Ele não sabe. Isso não era possível, certo? Isso não era um filme com vilões e mocinhos, era a vida real. Não era possível que houvesse uma grande intriga acerca das nossas vidas, porque essas coisas aconteciam só na ficção e eu tinha uma - duas - vida de verdade para cuidar aqui.
Naquela noite, quando Charlie chegou em casa com o jantar e nós nos sentamos à mesa, ninguém tocou no assunto Edward, mas havia uma tensão no ar. Parecia que todos queriam falar algo e, entretanto, ninguém falava. Me perguntei se não falavam para Chloe não perceber ou se ficaríamos naquela espécie de jogo até o primeiro se cansar.
Eu me despedi de Alice, com a eterna gratidão que eu tinha pela minha amiga, e ia subir para o quarto quando Seth, que estava colocando os pratos na lava-louças, me chamou.
— E então, Bells, como serão as coisas a partir de agora? Sabe, com a Chloe e tudo mais… Você acha que o pai dela vai querer estar presente?
Seth era o mais novo e, mesmo assim, ainda era superprotetor. Como eu fiquei mais tempo em casa que os outros nos últimos anos, nós também nos tornamos os mais próximos. Ele era um super irmão, eu tinha que admitir. Muitos dos dias foram mais fáceis porque ele estava ao meu lado, enquanto todos os outros estavam fora, trabalhando, estudando ou fazendo qualquer outra coisa que fosse necessária.
Ele também gostava de Edward na época em que namoramos, e eu acreditava que, se os dois tivessem tido mais tempo de convivência, seriam bons amigos. Na época, eu achava que Edward era uma boa influência para o meu irmãozinho pré-adolescente.
— Carlisle esteve aqui hoje e disse que ele perguntou sobre mim, isso me deixou preocupada que ele apareça em breve — disse — Sobre presença, eu realmente não sei como isso será… Carlisle disse que ele não sabe sobre a Chloe.
— Como? Ele não sabe que você teve uma menina ou não sabe da existência dela? - ele perguntou, chocado.
— Segunda opção.
— Bella…
— Eu sei, eu sei. É difícil acreditar. Vamos ver o que vai acontecer. Boa noite, bebê — cortei e dei um beijo na testa dele antes de subir, tentando evitar que o assunto se prolongasse.
Chloe estava deitada na nossa cama, com a televisão ligada e uma chupeta na boca, quando cheguei no quarto - eu lembraria de agradecer ao meu pai por isso depois. Nós conversamos em sua língua de bebê, e ela dizia que queria passar todos os dias como aquele, em casa e em família. Eu ri, porque ela não fazia ideia do quanto isso era um sonho para mim. Nós dormimos abraçadas, com ela finalmente sem febre. Como eu queria que tudo fosse fácil de se resolver, com algumas medicações.
Naquela noite, depois de muito tempo, eu sonhei com Edward. Sonhei com um futuro para nós, com nossa família unida.
