Edward

Já fazia mais de uma semana que eu estava em Forks e ainda não tinha conseguido extrair nenhuma informação nova sobre Isabella. Meus tios continuavam evitando falar dela, desde aquele primeiro dia. Alguma coisa estava errada e eu estava determinado a descobrir. Hoje.

Trabalhar no fuso horário de Londres era um desafio, tanto eu quanto Emmett e Rosalie ainda não estávamos adaptados, as coisas estavam difíceis nesse sentido. Por isso, eu resolvi nos dar um dia de folga. O escritório ficaria bem sem nós por vinte e quatro horas, e eu conseguiria sair de casa para resolver o que tinha vindo resolver nesta cidade.

Por algum tipo de milagre, não estava chovendo - fato muito raro por aqui. Na verdade, o céu estava claro e até parecia que o sol ia sair das nuvens em algum momento. Aproveitei para dirigir com os vidros abertos, algo muito difícil de acontecer em Forks. A pequena estrada até a cidade era praticamente deserta, e apenas um carro passou por mim até que peguei a avenida principal. Eu lembrava muito bem o caminho até a casa de Bella, mas ela estaria lá em plena quarta-feira? Bem, não custava tentar.

A casa era a última da rua e ainda estava igual, a não ser por um balanço - meio infantil - no jardim lateral que se misturava ao bosque. A pintura era nova, mas da mesma cor de sempre, um bege bem claro, quase branco, com as janelas verdes. Tinha cara de lar, daqueles bem tradicionais americanos, muito diferente da casa em que eu cresci, em Londres. Subi os degraus da entrada e toquei a campainha, em expectativa.

Eu estava nervoso, mais do que imaginava, enquanto esperava. A porta foi aberta, mas não era quem eu queria ver. A decepção deve ter ficado estampada no meu rosto.

— Posso ajudar? — um adolescente atendeu.

Certo, mais de dois anos haviam se passado. Aquele só podia ser…

— Seth? — perguntei.

Ele não era mais a criança que eu conheci, óbvio. Mas crianças crescem tanto assim nesse espaço de tempo? Ele parecia com muito mais do que treze anos, se minhas contas estivessem certas, e era quase da minha altura.

Minha voz pareceu ativar alguma lembrança nele, porque seus olhos se arregalaram de repente e ele saiu da casa fechando a porta atrás de si, mas ficando com as costas grudadas nela.

— Olha só, eu sei que você veio ver a minha irmã, mas acredite quando eu digo que não é o momento. Ninguém mais que eu gostaria que vocês se acertassem de uma vez, mas existem… complicações, sabe? Ah, não. Complicações foi uma péssima palavra — ele pausou por um segundo antes de voltar a falar freneticamente — Antes de qualquer coisa, você está aqui por Bella, certo? Apenas Bella?

Que pergunta era aquela? Era óbvio que sim. Por que todos continuavam a me fazer perguntas sem sentido?

— Sim, Seth — ele fez um sinal com os dedos para que eu falasse baixo, eu não fazia ideia do que estava acontecendo aqui — Eu vim por Bella, por quem mais seria?

— Nenhuma possibilidade de querer ver outra pessoa? — perguntou de novo.

— Não, não há ninguém. Por favor, eu posso falar com a sua irmã? Ou pelo menos, pode dizer a ela que passei por aqui? Eu realmente vim lá de Londres para isso…

Ele pensou pelo que pareceu uma eternidade antes de falar novamente.

— Eu provavelmente serei condenado ao sofrimento eterno por isso, mas fique aqui. Não se mexa. Volto em um minuto.

Seth não era mais criança, pelo menos fisicamente, mas ainda falava como o mesmo garotinho de anos atrás. Nisso ele estava igualzinho à Bella, de certa forma, apesar de ter traços muito mais parecidos com os outros dois irmãos, filhos de sua mãe. Ele costumava gostar de mim, pelo menos, diferente dos outros.

Jacob, o mais velho, nunca fez questão da minha presença, e Leah era tão distante que eu tinha dúvidas se ela gostava de alguém ou vivia tão focada em si mesma que nem notava a existência de outras pessoas.

Fiquei ali parado, da forma que ele pediu, por muito mais que um minuto. Por que todo mundo agia estranho nesta cidade? Quando estava quase desistindo e indo me sentar naquele balanço, a porta se abriu novamente. Seth estava de volta e me entregou um papel com um endereço.

— Ela está no restaurante, aqui estão instruções de como chegar lá. Por favor, Edward, não seja um babaca com ela de novo, só por te dar esse endereço estou arriscando minha vida — ele disse e minha boca caiu.

Eu não era um babaca. Eu era um cara totalmente perdido aqui, buscando por respostas. Não acredito que um adolescente estava me afetando dessa maneira. Gritei um "obrigado" para ele já a caminho do carro e acelerei para o centro da cidade, não demoraria mais que dez minutos.

O restaurante de Sue tinha passado por uma reforma na fachada, estava mais moderno agora, mas o cheiro de comida continuava o mesmo. Eu podia apostar que estavam servindo panquecas com calda de frutas vermelhas em alguma mesa neste momento. Com certeza eu mataria as saudades do chocolate quente também, assim que resolvesse os assuntos que tinha vindo resolver aqui.

Não precisei de muito, logo após abrir a porta, eu a vi. Bella estava no balcão, recebendo o pagamento de alguém. Seu cabelo castanho continuava longo, mas algo estava diferente no seu rosto, parecia mais redondo, talvez? Ainda sim, mais linda do que minhas lembranças mostravam. Ela usava uma camiseta azul de gola alta, o que infelizmente não me deixou ter uma boa visão do resto… Foco, Edward. Meu coração batia tão rápido que parecia que eu estava caminhando em direção à uma bomba. Me aproximei e fui até ela sorrindo. Finalmente.

Quando me viu, sua expressão mudou e eu pude jurar que vi um flash de raiva passando por seus olhos.

— O que quer aqui? — sua voz era dura, ela não estava feliz com a minha presença. Isso me desmontou.

— Eu… eu vim te ver — consegui dizer.

Ela deu uma risada sem nenhum humor. Seca.

— Como você pode ser tão cínico, Edward? Como consegue aparecer na minha frente depois de anos como se nada tivesse acontecido? — disparou.

Eu não estava entendendo nada.

— Eu? Você sumiu sem dar explicações, Bella. Me bloqueou do nada, não deixou que me dessem notícias suas, eu só sabia que você estava viva porque minha tia me falou. Eu tentei, liguei várias vezes e recebi mensagens de que o seu número não existia.

Nós dois estávamos cheios de acusações, sem gritar para não chamar atenção de ninguém ali. Entretanto, o rosto dela mudou de cor, ficando mais vermelho do que eu jamais havia visto. Ela voltou a falar, ainda tentando controlar o tom de voz, mas deixando que eu percebesse a raiva em cada palavra.

— Sem explicações? Eu sumi sem explicações? Você é realmente muito engraçado, Edward. Vai dizer que nunca viu minhas mensagens? Vai dizer que você — apontou o dedo na minha direção — não me mandou resolver os meus problemas sozinha? Seja homem e assuma seus erros de uma vez, vai ficar mais bonito para você.

Era possível que as coisas fizessem cada vez menos sentido? Eu sentia como se tivesse enlouquecido, porque nenhuma palavra parecia se conectar com a outra para que a frase tivesse alguma razão. Meu cérebro não estava conseguindo fazer as sinapses necessárias e eu estava ouvindo tudo errado, só podia ser isso.

— Bella, pelo amor de Deus. A última mensagem que te mandei foi aquela avisando que estava indo para a festa do escritório do meu pai. Na manhã seguinte, não havia mais nada. Eu nunca te deixaria sozinha para resolver um problema, qualquer que fosse.

Nós dois fizemos o mesmo movimento para alcançar nossos bolsos, buscando o celular. Eu nunca tinha apagado a conversa com o nome dela, e provaria agora que não fiz nada daquilo que ela me acusava. Eu não seria injustiçado aqui.

— Aqui está. Sua última mensagem.

Estiquei o celular primeiro, antes que ela o fizesse, para que visse que a última mensagem que eu tinha no celular era um "boa festa" vindo dela. Depois, várias mensagens minhas que nunca foram entregues. Eu lembrava de enviar cada uma delas.

— Isso não é possível… — ela diminuiu o tom de voz, quase sussurrando agora — Você só pode ter apagado as outras mensagens.

— Eu juro que não. Essa foi a última — tentei novamente — Por favor, acredite em mim, Bella. Eu jamais terminaria por uma mensagem de texto, independentemente do que você tivesse dito.

Eu queria muito perguntar o que havia nas tais mensagens, mas não precisei. Ela rapidamente estendeu o próprio celular para mim, com as mãos tremendo.

— Veja, está tudo aí.

As mensagens começavam logo após as dez da noite no horário de Londres, ou cinco da tarde no horário americano, quando eu já estava na festa do meu pai. Bella dizia que precisávamos conversar. Na segunda mensagem, pedia desculpas. Na terceira, me pediu para ligar. Na quarta, disse que estava com medo. Depois, algumas interrogações. Ligações perdidas. E, por fim, quando passava das oito da noite em Forks e da uma da manhã em Londres, uma foto.

— Isso é…? — não consegui completar a frase. Eu sabia exatamente o que era aquilo. Era a porra de um teste de gravidez positivo. Ela estava grávida!

— Continue lendo — ordenou.

Desci a tela e encontrei uma resposta que supostamente era minha. Mas não era, eu nunca tinha digitado e enviado aquelas palavras.

Resolva isso sozinha. Não quero me envolver.

Depois, uma foto que eu também não teria enviado, de um copo de bebida, com a legenda encontrei coisas melhores por aqui. Eu jamais faria aquilo. Não era nem a minha mão naquela foto. Mas era o meu número. Na nossa conversa. E aquelas coisas estavam ali, no celular dela, que devolvi depois de terminar de ler.

— Você estava grávida? — perguntei em completo choque.

Como se respondesse a minha pergunta, uma pequena garota saiu de baixo do balcão e tentou se esconder atrás das pernas de Bella. Eu perdi o fôlego olhando para ela. Puta que pariu. Aqueles olhos, os olhos da minha mãe, os meus olhos, me encarando de frente, de forma tão infantil que me colocaram em transe. Eu estava encantado, enfeitiçado por ela. As peças começaram a se encaixar muito rapidamente na minha cabeça, como se toda a minha vida tivesse me levado até ali. E então ela sorriu para mim.

Um cara enorme me interrompeu bem quando eu ia perguntar de novo.

— Algum problema, Bella?

— Não, Embry. Você pode levá-la daqui, por favor?

Eu quase gritei para que deixassem a criança ali, mas não rápido o suficiente e ela foi embora no colo do tal Embry.

Tantas perguntas passavam pela minha mente. Bella tinha tido uma filha? Uma filha que era minha? Quem havia respondido aquelas mensagens? Por que elas não estavam no meu celular? Por que ela não me procurou? Por que meus tios nunca me disseram nada? Como isso não apareceu em nenhuma das buscas que fiz esses anos todos?

— Isabella, você estava grávida? — repeti, quando ela voltou a olhar para mim.

Bella ficou em silêncio por um momento, talvez o momento mais tortuoso daquele dia, e me indicou para segui-la. Nós entramos em um escritório no fundo do restaurante e percebi uma foto em cima da mesa, era ela com a menina que vi lá fora no colo. Novamente, os olhos chamaram minha atenção. Ela notou e tirou o porta retrato da minha visão.

— O que você acha, Edward? — ela estava totalmente irônica — Acha que eu inventaria isso? Pra que? Você ia embora de qualquer jeito.

A cada palavra dela eu me sentia pior. Todos os sentimentos bons de dois minutos atrás estava se perdendo.

— Ir embora? Eu nunca te deixaria sozinha, muito menos se soubesse que você estava grávida. Eu teria vindo nadando de Londres pra cá se fosse necessário, mas estaria aqui. Me dê a chance de entender o que aconteceu. Por favor, por favor, Bella — eu estava implorando agora.

— Você foi embora. Isso é um fato. As suas mensagens deixaram bem claro o que você pensava sobre ter um filho naquela época.

Passei a mão pelo cabelo, como se isso fosse me ajudar a pensar melhor. Eu queria ser capaz de transmitir meus pensamentos para que ela entendesse que eu não tinha enviado aquelas mensagens. Eu nem mesmo sabia sobre elas. Como ela poderia me acusar de abandoná-la grávida? Nós tínhamos um relacionamento, ela deveria me conhecer melhor que isso!

— Bella, você precisa acreditar em mim. Eu juro, por Deus, pela minha mãe, pelo que você quiser, que nunca escrevi essas mensagens. Eu nem mesmo recebi as suas. Eu. Não. Te. Deixaria.

Eu conseguia notar que algo havia mudado nela. Muito além das mudanças físicas - que foram ótimas, eu não deixei de notar - ela não era a mesma garota de antes. Nós estávamos nos encarando há muito tempo quando ela finalmente suspirou e falou, agora em um tom baixo.

— Eu não sei, Edward. Como vou desacreditar de uma hora para outra em tudo que acreditei durante anos? Como vou simplesmente apagar tudo que senti e vivi? Eu quero muito acreditar em você, porque seria a coisa mais fácil a se fazer, mas não é tão simples assim. As merdas aconteceram, você me machucou - sua voz quebrou no final da frase.

Por mais doloridas que aquelas palavras fossem, eu tinha que dar crédito a ela, mesmo que ainda faltassem muitas peças daquele quebra-cabeças. Bella tinha as mensagens, como não acreditaria no que estava ali? Ao mesmo tempo, eu queria, precisava, com todas as forças que ela acreditasse em mim. Nós tínhamos uma filha! Eu precisava saber mais!

— Eu posso ao menos saber o nome dela? Só isso, e vou embora — pedi, resignado.

Bella respirou fundo uma, duas, três vezes, antes de falar novamente. A agonia devia estar estampada no meu rosto àquela altura.

— Chloe.

Foi como um choque. Chloe. Esse era o nome de uma música que eu havia dedicado a ela anos antes. Era um pop comum e genérico, mas eu ouvi na rádio a caminho de Forks uma vez e achei que combinava conosco. You're the one I want. Bella havia dado para nossa filha o nome da música.

Tudo que eu achava que tinha certeza na vida mudou naquele momento. Eu tinha vivido uma mentira nos últimos anos? O que eu havia feito? Por que não fui atrás dela ao invés de me contentar com mensagens nunca recebidas e ligações não atendidas? Como pude ser tão covarde e ceder às chantagens do meu pai?

Pensar no meu pai me levou de volta àquela noite, sabendo que muitas coisas não faziam sentido, as peças não se encaixavam, como se pedaços estivessem faltando.

Eu faria com que se encaixassem agora.