Isabella
Eu ainda estava processando as informações que Edward tinha trazido. Antes de abrir a porta, quando vi pela janela o mesmo carro de hoje cedo parar em frente à casa, eu dei um sermão em todos na sala de casa, o que fez com que eles ficassem quietos lá enquanto nós conversamos na cozinha.
— Eu vou lutar por ela, Bella. Eu prometo — sua voz estava carregada de determinação — Eu vou ser o pai que ela merece, independente do que meu pai tenha feito.
O mundo parecia ter mudado de um segundo para o outro. Tudo que conversamos pela manhã parecia tão pequeno agora. Eu não sabia se estava pronta para tudo isso, para os segredos que ele havia descoberto, para as mentiras que estavam sendo desenterradas, ou mesmo para a ideia de que ele queria conviver com Chloe. Isso era uma parte das nossas vidas que, até hoje, parecia tão distante.
Eu me sentia perdida, mas ao mesmo tempo, havia algo dentro de mim que queria acreditar. Queria acreditar que, de algum jeito, isso poderia funcionar. Mas, se havia algo que eu sabia sobre Edward e eu, era que nossas vidas nunca seriam simples. A diferença agora era que não éramos apenas nós dois.
Edward parecia tão... quebrado quando entrou. Ele estava tentando manter a calma, mas eu podia ver nas suas mãos trêmulas e na forma como ele não conseguia me olhar diretamente, que ele estava se despedaçando por dentro.
O ambiente entre nós estava pesado, exatamente como se algo irreparável tivesse acontecido e nenhum de nós soubesse como remendar. Ele parecia à beira de uma crise nervosa e isso me assustava. Mas eu também sabia que ele estava tentando ser forte, tentando ser o homem que pensava que era antes de tudo isso começar. A verdade estava pesando sobre nós, e, de algum modo, ela nos unia, mas também nos separava.
Ele olhou para mim, com aqueles olhos tão familiares e que eu tanto amava cheios de uma dor que eu não sabia como curar. Eu senti o coração apertado. Edward estava em pedaços, mas ao mesmo tempo, tão determinado. Eu não sabia o que fazer com essa sensação, de não saber como ajudá-lo.
Ele estava me pedindo algo que eu não sabia se tinha capacidade para dar: compreensão com a sua história. Eu sabia que ele precisava disso. Ele precisava de alguém que o ouvisse, alguém que o ajudasse a juntar as peças de tudo isso. Mas eu não sabia se conseguiria lidar com as minhas próprias peças bagunçadas.
— Eu não sei o que fazer com isso, Edward. Eu... eu estou tão confusa — eu comecei a falar, mas as palavras não vinham. Eu queria gritar, chorar, queria perguntar por que tudo estava acontecendo assim, por que ele e eu não podíamos simplesmente... viver sem esse peso. Por que as coisas não podiam ser mais fáceis?
Eu podia ver que ele estava esperando por uma reação, mas não tinha ideia do quanto essa confusão estava me consumindo. Mas eu não podia ficar parada, não podia deixar isso me engolir.
— Você quer mesmo ser o pai dela, Edward? — eu finalmente perguntei, minhas palavras se arrastando, incertas. Eu estava fazendo a pergunta mais difícil que poderia fazer, mas sabia que precisava saber. Ele precisava me mostrar que isso tudo, todo esse caos, tinha algum tipo de sentido. Que ele, de alguma forma, poderia ser o pai que Chloe merecia.
Ele não respondeu imediatamente. Ficamos em silêncio por um tempo que parecia interminável. Eu sabia que, por dentro, ele estava lutando, assim como eu. Mas, ao olhar para ele, com aquelas feições de dor e confusão, percebi que, por mais que eu estivesse perdida, ele também estava.
Finalmente, ele se aproximou, mais devagar do que eu imaginava, como se estivesse tentando medir cada passo, cada palavra.
— Eu já sou, Bella — respirou fundo — Eu não sei se mereço a sua confiança depois de tudo o que aconteceu. Mas eu quero ser o pai dela. Eu quero entender o que aconteceu e, se possível, tentar consertar isso. Eu só não sei como, e isso está me matando. Eu não quero, não posso perder a chance de estar com ela.
Eu senti a dor nas palavras dele. Ele estava sendo tão sincero, tão vulnerável, e eu não sabia o que responder. Apenas o observei, tentando encontrar alguma resposta dentro de mim. Eu queria dizer a ele que ele poderia, que ele deveria ser o pai de Chloe.
Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que as coisas eram mais complicadas do que apenas tomar essa decisão. Nós ainda precisávamos lidar com as mentiras, com a nossa própria história.
— Eu não sei o que vai acontecer, Edward. Não sei o que vai ser de nós, mas sei o que vamos dar um jeito porque ela precisa de você, ela precisa de nós.
As palavras não saíram da forma que imaginei, mas ao ouvir a sinceridade nelas, eu sabia que havia algo em mim que ainda acreditava. Eu ainda acreditava em nós, em alguma forma de reconstrução. Talvez não fosse simples, mas tudo que eu sabia era que tínhamos que tentar. Não era isso que eu tinha desejado todo esse tempo?
Edward me olhou, os olhos mais suaves agora, talvez um pouco mais esperançosos. Ele respirou fundo, como se uma parte da carga tivesse sido tirada de seus ombros, mesmo que a maior parte ainda estivesse ali, nos separando de tudo que poderíamos ser. Ele deu um passo à frente, mais um, até que estava diante de mim, mais próximo do que qualquer coisa em muito tempo.
— Então, vamos fazer isso juntos — ele disse, as palavras mais do que um simples acordo. Eram uma promessa. Eu não sabia como tudo isso iria acabar, mas, naquele momento, sabia que não estávamos mais sozinhos. E isso, de alguma forma, significava algo.
Ele parecia mais jovem naquele momento, mais inseguro, quase como o Edward que eu havia me apaixonado anos antes.
— Eu estou com medo, Bella — confessou — Mas estou com você, isso é uma garantia. Tudo isso é muito confuso, e eu não sei como fazer. Não sei nem se consigo fazer as coisas direito para Chloe, mas eu vou me esforçar.
Eu balancei a cabeça levemente para ele. Eu sabia o que era viver na sombra de algo que não se pode controlar, algo que sempre estava ali, à espreita.
— Não precisa ser perfeito, Edward. Ninguém aqui é perfeito, nem você, nem eu — eu disse, me aproximando um pouco mais dele, sentindo uma necessidade de estar mais próxima, de compartilhar um peso que parecia demais para uma pessoa só — Chloe não precisa de perfeição. Ela precisa de você. E você vai aprender, vai se ajustar. É um processo, sabe? Eu também não nasci sabendo tudo.
Ele olhou para mim e por um momento parecia que queria acreditar no que eu dizia. Mas também havia uma parte dele que não sabia como lidar com tudo o que estava acontecendo. E, honestamente, eu não sabia o que esperar do futuro.
Era difícil não pensar em como seria a nossa vida a partir daqui. Tudo havia mudado tão rápido, e agora, havia Chloe, havia nós. A dor do passado e a expectativa do que estava por vir se misturavam em um turbilhão que eu não sabia como controlar.
O que eu sabia, no entanto, era que nós não podíamos parar. Não podíamos mais viver no passado, tentando entender os erros que outros cometeram, precisávamos olhar para frente.
— Eu não sei o que esperar — sua voz falhou um pouco, hesitante — Ela é tão bonita, tão perfeita. Ela tem tanto de você, de nós. Mas ao mesmo tempo, é como se eu estivesse com medo de que, se eu me aproximar demais, eu a machuque. Não sei nem como ser um pai. Não sei nem por onde começar, não é como se eu tivesse tido o melhor exemplo.
Ele estava tão vulnerável e eu me aproximei mais, era como se, por um instante, o mundo parecesse diminuir, como se nada mais existisse a não ser nós dois e a promessa silenciosa de que tudo ainda poderia dar certo.
Eu vi nos olhos dele que ele ainda estava tentando encontrar uma maneira de lidar com tudo isso, mas o que mais importava naquele momento era que ele não estava mais sozinho. Não haveria mais segredos entre nós, nem mentiras e manipulações. Agora, era uma questão de reconstruir. Não apenas com Chloe, mas com ele também. Não seria fácil, mas estávamos dispostos a tentar. Eu e ele, juntos.
De repente, o som de alguém vindo pelo corredor me assustou. Eu me afastei um pouco, instintivamente, mas quem quer que fosse, passou direto e não entrou na cozinha. Edward ainda estava ali, parado, olhando para mim com uma expressão de incerteza. Eu sentia que ele queria falar mais.
Então, eu dei um passo à frente, voltando à minha posição original, e toquei o braço dele suavemente.
— Não precisamos resolver tudo agora. — falei, tentando tranquilizá-lo — Vamos dar um passo de cada vez. Focar no que podemos fazer hoje, no que podemos fazer por Chloe agora.
Ele assentiu lentamente, e a tensão em seus ombros pareceu diminuir um pouco. Eu queria abraçá-lo, fazer com que ele se sentisse seguro. Queria que ele soubesse que, apesar de tudo, eu estava ali e não ia deixar que ele se afogasse nessa bagunça.
— Eu posso vê-la? — perguntou, depois de um momento.
— Claro que sim, venha comigo.
Levei Edward pelas escadas até o meu quarto, tão diferente agora do que era anos atrás, onde Chloe dormia serenamente na cama, sem ter noção do que acontecia ao seu redor. Minha bebê preciosa. Ele se aproximou e ajoelhou ao lado dela, me levando junto pela mão e tocando sua bochecha suavemente com a mão livre.
— Eu não sei por onde começar, Bella — ele disse, sinceramente.
Eu o olhei por um instante, e então, sem hesitar, afastei alguns fios de cabelo que caiam no seu olho, ainda roxo. Ele parecia tão cansado, tão ferido.
— Talvez a gente só precise começar pelo agora — eu não sabia se estava me convencendo ou a ele, mas a verdade é que eu precisava acreditar nisso. Que, no final, apesar dos erros e das mentiras, ainda havia espaço para recomeços.
Eu vi uma faísca de confiança nos olhos dele, uma pequena fagulha de esperança que ele estava começando a aceitar. Aos poucos, ele se soltaria da pressão do passado e começaria a acreditar que não precisava resolver tudo de uma vez. E, por mais que eu quisesse acreditar no mesmo, a verdade era que eu não tinha todas as respostas. Eu não sabia o que viria depois. Não sabia se conseguiríamos acertar tudo ou se a dor do passado ainda ia nos assombrar por um tempo. Mas eu sabia uma coisa: não importava o que acontecesse, não importava o quão incerto fosse o futuro, eu não estava sozinha.
E Edward precisava entender que também não estava.
Ele olhou para mim com os olhos um pouco mais calmos, eu podia ver o alívio começando a tomar o lugar da angústia. Ele não tinha mais todas as respostas, e eu também não, mas juntos, nós podíamos começar a encontrar o caminho. Talvez não fosse perfeito, mas seria o nosso.
E, quando ele se aproximou mais ainda dela e deu um beijo em sua testa, eu soube que ele estava fazendo a mesma escolha. Ele também estava pronto para tentar, para aprender, para enfrentar o futuro, seja lá o que fosse.
— Vamos dar o nosso melhor, Edward. Não é sobre fazer tudo certo, é sobre estar aqui, juntos — falei, com mais firmeza do que eu realmente sentia. Mas era verdade, isso era o que eu podia oferecer.
Ele não respondeu de imediato, mas apertou minha mão. E, nesse gesto, eu senti a decisão dele. A decisão de não se perder, de não se afogar nos fantasmas do passado. Não quando havia algo tão real e tão precioso à nossa frente.
Eu sabia que o caminho à frente seria longo, talvez até mais difícil do que eu conseguia imaginar. Mas, no fundo, eu acreditava que nós poderíamos encontrar uma maneira de viver com as cicatrizes do passado e construir algo novo. Algo bom.
Eu olhei para ele novamente, e, dessa vez, foi mais do que uma promessa. Foi uma certeza, mesmo que pequena, que em algum lugar, entre todos os erros e acertos, nós encontraríamos um caminho. Para Chloe. Para nós. E, ao final daquele momento, quando Edward me olhou nos olhos e deu um leve sorriso, eu senti que esse era o primeiro passo. O primeiro de muitos. E isso já parecia o suficiente.
