Isabella
Três dias se passaram desde que Edward passou pela porta do restaurante. Ele estava grudado em mim via mensagens e ligações o tempo todo, querendo saber mais sobre o período que passou longe e, especialmente, sobre Chloe.
Neste momento, eu estava olhando para a miniatura dele, que brincava de pijama na cama, e tentando me acalmar pensando que em menos de uma hora seria o momento de apresentá-los formalmente. Não existia um manual de como apresentar sua filha para o pai que descobriu sobre ela depois de dois anos, então eu teria que improvisar.
Vez ou outra, ela me observava com aqueles olhos iguais aos do pai e eu sabia que ela percebia que algo estava prestes a acontecer. Ela já notava mudanças ao seu redor, e a ansiedade que eu sentia era mais do que evidente para ela.
Me aproximei dela, colocando um dos braços ao redor do seu corpinho e trazendo para mais perto. Ela riu e esperou, como se soubesse que eu tinha algo importante para dizer.
— Chloe — comecei, ainda tentando encontrar as palavras certas — Você sabe o que o vovô Charlie é da mamãe?
Ela pensou por um momento antes de responder.
— Vovô! — disse, com toda segurança do mundo. Foi a minha vez de rir.
— Muito esperta, garotinha, mas não é isso. Ele é vovô da Chloe, mas é o papai da mamãe — isso estava confuso? — Todos nós temos um papai e uma mamãe. Alguns estão aqui, como o vovô Charlie, outros estão no céu, como a vovó Renée.
Eu já tinha explicado isso em outro momento, quando ela começou a entender quem era quem na família. Havia muita gente ao seu redor todos os dias, então eu me esforcei para que ela soubesse como chamar a todos, fazendo atualizações periodicamente.
— Você sabia que alguém muito especial vai te ver hoje? Ele é muito importante, porque é o seu papai — falei as palavras devagar, querendo que ela a entendesse de um jeito tranquilo, sem pressa.
Chloe olhou para mim, com uma expressão de dúvida. Ela segurou a gola da minha blusa de forma firme, quase me escalando. Eu sorri, acariciando seu cabelo.
— Seu papai — repeti, e ela franziu a testa, ficando ainda mais parecida com ele — Ele estava longe por um tempinho, sabe? Ele não podia te ver antes. Mas hoje ele quer te ver de pertinho, o que acha?
Chloe desviou o olhar para as mãos e, por um momento, parecia refletir sobre o que eu estava dizendo - como se fosse possível. Ela balançou a cabeça, talvez estivesse começando a fazer algum sentido. Eu teria que ter paciência, era tudo novo para ela.
— Longe? — ela perguntou, com uma expressão tão fofa que eu quis apertá-la.
— É, ele estava longe — expliquei com carinho — Ele teve que esperar para poder te ver, porque não podia vir antes. Mas agora ele vai te conhecer, e ele vai gostar muito de você, vai ver como você é linda e especial.
Dessa vez, ela esticou os braços e tentou esconder o rosto no meu peito, como fazia quando precisava de segurança. Nosso lugar seguro.
— Papai... — ela repetiu, balbuciando devagar, e eu senti meu coração apertar. Isso não poderia dar errado.
— Isso mesmo, sole mio. Ele vai ser o seu papai, vai te dar abraços e carinho, e a mamãe estará com você o tempo todo.
Ela olhou para mim inocentemente, com uma confiança que só as crianças têm e senti o alívio tomar conta do meu corpo e mente. Chloe era um bebê, mas eu sabia que ela entenderia tudo, à sua maneira, devagar, como sempre fazia. E a presença de Edward em sua vida era algo que eu não podia negar.
— Ver o papai… — ela disse, como se confirmasse o que eu acabara de pensar.
Eu sorri e a levantei no colo, bagunçando ainda mais seu cabelo no processo. A sensação de tê-la assim perto de mim me fazia acreditar que eu estava tomando a decisão certa.
Enquanto a segurava, fiquei pensando como seria o primeiro encontro deles dois, o primeiro encontro de verdade. Eu não sabia o que esperar exatamente, mas o mais importante era que Chloe tinha direito de conhecer o pai, e eu estava fazendo o melhor que podia para que isso fosse um momento positivo para ela.
Claro, minha família não estava feliz com isso. Nós tivemos uma conversa bem acalorada na mesa de jantar no dia em que Edward veio aqui. Gritos por todos os lados, explosões de raiva e meu bebê chorando assustada no meio disso tudo. Não melhorou mesmo quando eu saí da mesa dizendo que as escolhas sobre a minha filha eram minhas e que se fosse necessário eu sairia de casa naquela mesma noite.
— Bells, o que aconteceu? O que ele queria? — Charlie disse, com a voz preocupada, quando fechei a porta após a saída de Edward.
Eu olhei para ele e respirei fundo. Sabia que teria que contar a verdade, sem rodeios.
— Edward queria esclarecer algumas coisas, coisas que ele não sabia até hoje… Parece que o pai dele esteve envolvido de alguma forma naquelas mensagens — comecei, já sentindo a pressão nos ombros — Ele quer estar presente na vida da Chloe, quer conhecê-la.
A reação de Charlie foi imediata. Ele olhou para mim com um semblante mais sério, e pude ver sua preocupação crescer. Eu sabia que a dor do passado ainda era um peso muito grande para ele, Edward tinha sido o homem que machucou a filha dele, e essa história era difícil de esquecer.
— Você está maluca, Bella? — Jacob exclamou, levantando-se de repente — Você vai deixar esse cara se aproximar da sua filha? Depois de tudo o que ele fez com você?
Eu sabia que ele estava magoado - mas eu também estava, especialmente por seu comportamento nos últimos dias. Entretanto, eu sabia que o ciúmes dele era um reflexo do quanto ele nos queria protegidas. Eram paralelos difíceis.
— Jake, não é assim — tentei explicar — Edward cometeu erros, sim, mas ele está tentando corrigir as coisas, todos nós estamos. Não posso negar a ele a chance de ser o pai dela.
Leah olhou para Jacob com um olhar crítico, mas não disse nada por um momento. Eu era capaz de jurar que os dois se comunicavam por telepatia. Quando finalmente falou, sua voz estava tensa.
— Eu não confio nesse cara — disse ela — Ele não tem um histórico bom, né? E agora você está considerando deixar ele entrar na vida de Chloe?
Eu sentia a dor nas palavras de ambos, era um reflexo de tudo o que tinham vivido ao meu lado, de como Edward havia sido uma ameaça para o meu bem-estar no passado, da falta que ele fez nos últimos anos. Mas essa era a minha vida, eu precisava tomar as decisões.
— Eu sei que vocês estão preocupados, eu também estou — admiti — Mas preciso dar uma chance, depois de tudo que ele me disse aqui. Ele não sabia, não foi totalmente culpa dele. No fim, é a decisão que eu tomei e se vocês não concordarem com ela, eu posso recolher nossas coisas e sair daqui hoje mesmo. Tenho certeza que Esme e Carlisle não se incomodariam de me receber lá.
Sue entrou na sala nesse momento, percebendo a tensão na conversa. Ela se aproximou de mim e colocou a mão no meu ombro, tentando aliviar um pouco a atmosfera carregada.
— Bella, nós sabemos que você tomou essa decisão porque acredita que é o melhor para Chloe — ela disse suavemente — Só tome cuidado, tá? Não queremos que vocês se machuquem.
Eu dei um sorriso triste para ela, agradecendo pelo apoio. Ela também era mãe, no final das contas. Não era fácil, mas era o que eu sentia que deveria fazer. Edward merecia a chance de ser pai.
Na manhã seguinte, entretanto, as coisas se acalmaram um pouco. Seth foi o primeiro a me apoiar, porque ele mesmo já tinha conversado com Edward e acreditava nele. Charlie estava resignado e, como havia prometido apoiar as minhas decisões, foi o primeiro a levantar a bandeira branca de paz e veio ao meu quarto antes do horário do café da manhã e reforçou que confiava em mim.
Jacob e Leah eram um caso à parte. Os dois eram cabeça-dura, tinham a mesma personalidade nesse quesito, e não queriam ver Edward nem pintado em ouro. Eu tentei argumentar que só iria me aproximar dele por Chloe, porque ela merecia ter um pai, mas os dois estavam irredutíveis.
As palavras de Jake foram as mais dolorosas porque ele sabia como é crescer sem um pai - Charlie e Sue só se casaram quando nós três já éramos adolescentes - mas foi dele que eu ouvi que ela não precisava de um. Como ele poderia dizer isso? Foi cruel, mais cruel do que bater em Edward no mesmo ambiente em que a minha filha estava.
Leah estava mais preocupada em manter seu orgulho e eu não sabia o quanto daquilo era sobre mim e Chloe e quanto era sobre ela mesma. Sua fachada autossuficiente era difícil de quebrar, mas eu acreditava que com o tempo ela me entenderia. Eu não estava me tornando dependente de ninguém, só queria dar o melhor para a minha filha e isso incluía um pai na equação, se fosse necessário. Caramba, era o que eu tinha sonhado todos esses anos. Por que eles não conseguiam ficar felizes enquanto mantinham uma distância segura?
Alice era a pessoa que estava ao meu lado em qualquer decisão. Eu agradecia aos céus todos os dias por aquela baixinha porque a vida seria muito mais difícil sem ela. Quando lhe contei sobre a aproximação de Edward, ao invés de julgar, ela fez apenas uma pergunta: você está certa sobre isso? E então pegou minhas mãos e disse que estávamos juntas nessa.
Agora, eu estava de pé em frente ao espelho, tentando dar o melhor de mim para não parecer tão nervosa. O cabelo estava um pouco bagunçado, como sempre, e fiz uma maquiagem que não era muito especial — nada demais, só o básico para esconder as olheiras de noites mal dormidas. Não que eu estivesse exatamente preocupada com a minha aparência. Eu só queria que o dia de Chloe fosse especial, que fosse tranquilo para ela.
— Chloe, o que acha dessa roupa? — perguntei, enquanto segurava um conjunto de camiseta e calça de moletom cor-de-rosa que seriam agradáveis para o clima lá fora. Apesar de ser quase junho, as temperaturas ainda eram amenas. Ela olhou para mim como se estivesse ponderando minha sugestão.
Ela então soltou o lobo de pelúcia - tinha sido um presente de Jacob - agora prestando mais atenção em mim e correu em suas pernas gordinhas até onde eu estava. Eu sorri, sabendo que ela ainda era tão pequena para entender realmente o que estava acontecendo, mas a empolgação era uma forma de eu saber que ela estava confortável. Para mim, jeans e uma blusa simples listrada em preto e branco. Terminei de arrumar os últimos itens na bolsa de mão e desci com a pequena monstrinha no colo, com Alice já à nossa espera.
— Você está linda, Chloe. Pronta para conhecer o papai? — perguntei, e ela assentiu com a cabecinha, balançando o corpo com animação. Sua alegria me deu uma boa sensação, e uma pequena onda de alívio me invadiu. Ela estava mais do que preparada, mesmo que eu ainda estivesse com a cabeça cheia de dúvidas.
Prendi minha filha à cadeirinha infantil - um adereço que parecia muito errado no banco esportivo da Porsche - e passei o meu próprio cinto como se estivesse vestindo um colete salva-vidas. Meu estômago queria revirar, eu estava nervosa de novo.
— Nervosa? — Alice perguntou, como se precisasse.
— Sim, não sei se estou fazendo a coisa certa — confessei, minha voz saindo mais baixa do que eu esperava.
— Você está fazendo o melhor que pode, Bella. E isso é o que importa. Não se preocupe. Chloe vai adorar conhecer o pai. E você vai ver, vai ser mais fácil do que parece — ela disse com uma confiança tranquila, enquanto sorria para a estrada.
Era isso, não tinha como voltar atrás.
— Não se esqueça de respirar — minha amiga alertou, quando estacionou o carro.
Inspirei e expirei três vezes antes de abrir a porta e sair.
Os cinco degraus na entrada da casa nunca pareceram tão longos e a campainha nunca demorou tanto para ser atendida. Na realidade, poucos segundos devem ter se passado. Fomos recebidas por Esme, que estava com seu habitual sorriso aberto. Ela deu um beijo em cada uma e nos guiou pelo caminho conhecido até a sala, onde dois rostos desconhecidos nos olhavam com curiosidade.
Um homem que conseguia ser ainda mais alto que Edward, com os músculos dos braços tão grandes que me assustaram, e uma loira que me intimidou de tão bonita. Eram Emmett e Rosalie, o casal de amigos britânicos.
Eu não percebi que estava parada no mesmo lugar até que Chloe se agitou no meu colo e escondeu o rosto no meu cabelo, envergonhada pelos novos olhares. Todos ainda estavam em silêncio, e eu conseguia ouvir o som da minha própria respiração acelerada.
— Ei, princesa. Você não vai me dar um abraço? — Carlisle chamou por ela, tentando quebrar o clima — Venha aqui e me conte como está sua orelhinha.
Ainda envergonhada, ela saiu do meu colo e andou até ele, apenas para trocar de braços e se esconder no pescoço dele agora. Uma mimadinha, claro.
O ar estava tão tenso que alguém conseguiria cortá-lo com uma faca.
— Bem, vamos nos sentar. Alice, Bella, vocês querem algo para beber? — Esme foi a primeira a falar, o que foi ótimo porque todos pareciam estátuas na sala.
— Suponho que não possamos tomar vodka com limão às dez da manhã? — minha amiga soltou como se não fosse soar como uma alcóolatra, coisa que ela estava bem longe de ser.
Foi o suficiente para o grande amigo de Edward soltar uma gargalhada que poderia ter tremido a sala.
— Eu prefiro gin entre os destilados, mas acompanho a baixinha ali. À propósito, sou Emmett - se apresentou, com um sotaque britânico carregado — E a loira com cara de poucos amigos é a Rose, mas você se acostuma com ela.
Eu estava pronta para falar alguma coisa, mas Chloe se antecipou e finalmente tirou a cabeça do esconderijo no pescoço de Carlisle. Ninguém poderia ter previsto as palavras que saíram da boca dela na sequência.
— Papai? — perguntou, apontando para o homem enorme na frente dela.
Os olhos de Emmett se arregalaram enquanto Carlisle e Esme riram.
— Não, querida. Esse não é o seu papai — falei.
Ela me olhou confusa, sem entender porque estavam rindo. Quase ao mesmo tempo, Edward entrou na sala, me fazendo sentir o corpo todo gelado. Eu tinha que me controlar para não desmaiar bem aqui.
E lá vamos nós.
