Edward
Eu já tinha lidado com juízes implacáveis, com o Parlamento do Reino Unido e com o meu próprio pai, mas nada disso me preparou para passar um dia inteiro cuidando de uma criança.
Minha filha. Hoje, eu estava oficialmente assumindo a rotina dela. Assim seria por três dias na semana, a princípio. Esme estaria por perto, na casa, assim como conversamos anteriormente, mas eu era o responsável por ela durante o dia e queria fazer isso direito.
Quando cheguei na casa de Bella para buscá-la, Chloe já estava de banho tomado e terminando seu café da manhã, com um lobo de pelúcia nos braços, ao invés do pônei. Fiquei um pouco decepcionado, achava que o pônei era a nossa coisa. Bobagem, Edward. Eu providenciaria um novo brinquedo, se fosse o caso.
Ignorei os olhares afiados de Jacob e Leah, pelo bem da minha sanidade, e cumprimentei Seth, Sue e Charlie, para depois me atrever a deixar um beijo na bochecha de Bella, que ficou vermelha imediatamente, e outro na testa de Chloe.
— Cuidado, Cullen. Eu ainda posso deixar seu outro olho roxo também — ouvi a voz grave de Jacob, uma clara ameaça. Respirei fundo para não cair na pilha dele, não aqui e na frente da minha filha.
— Cale a boca, Jacob — Seth respondeu por mim. Bom garoto, esse estava ao meu lado.
Chloe estava alheia ao atrito e sorriu para mim, estendendo os braços em sua cadeira de alimentação. Pensei se deveria comprar uma daquelas para a minha casa também.
— Papai! — ela gritou e estava tudo bem.
A palavra não me assustava mais. Tudo ficaria bem enquanto ela estivesse aqui comigo.
— Bom dia, meu bebê — eu disse, dando vários beijos em seu rosto e ganhando em troca uma gargalhada.
Bella me ajudou a instalar a cadeirinha de segurança no meu carro, dando instruções sobre como prender e soltar o cinto. Aparentemente, Carlisle tinha outra em seu carro, e eu providenciaria a mudança para o meu, assim nós não íamos precisar trocar todas as vezes. Ela me deu a bolsa de Chloe e milhares de orientações para o dia, me fazendo prometer que ligaria caso algo saísse errado.
Quando chegamos em casa, Chloe mal podia esperar para correr para dentro e eu me atrapalhei com as fivelas da cadeirinha, é claro. Era difícil segurar as pontas do cinto e um bebê ao mesmo tempo, impedindo que ela fosse diretamente para o assoalho do carro.
Ao entrarmos pela porta, ela me arrastou para o canto da sala novamente, e foi assim que minha primeira hora do dia foi gasta no chão, tentando entender a lógica de um jogo que claramente não fazia sentido além da mente de uma criança pequena. Mas, pela primeira vez, eu não me importei em errar. Era fácil estar com ela porque não havia julgamentos ou cobranças.
Logo, Esme nos chamou para a cozinha e colocou um pratinho colorido com pedaços de banana picados e biscoitos em forma de diversos animais na mesa.
— Ela gosta de comer sozinha, mas às vezes se distrai. Fique de olho — orientou e eu coloquei Chloe na cadeira alta. Claramente ela tinha uma, eu não sei porque não imaginei isso.
Ela olhou para o prato, pegou um dos biscoitos na mão… E, simplesmente, o jogou no chão. Franzi a testa, sem entender.
— Chloe… O que é isso?
Ela pegou outro pedaço e me olhou diretamente nos olhos. Então, lentamente, jogou esse também. Eu pisquei, completamente incrédulo.
Ok, isso era um teste. Respirei fundo e lembrei do que Bella havia dito. Não torne isso uma batalha.
— Se você jogar todos no chão, não terá mais nenhum para comer.
Foi a vez dela franzir a testa, como se estivesse considerando a ameaça. Era uma monstrinha mesmo. Então, pegou um pedaço de banana e colocou na boca. Suspirei aliviado.
— Muito bem.
Primeira vitória do dia.
Depois do lanche, Chloe me pediu para brincar no jardim. Eu não conseguia dizer não, então observei enquanto ela corria pelo gramado, rindo sozinha, acompanhando vez ou outra, quando ela se afastava demais. Foi quando aconteceu. Ela tropeçou no próprio pé e caiu de joelhos na grama.
Não foi uma queda forte, mas o silêncio em seguida me aterrorizou. Me aproximei e entrei em pânico quando vi seus olhos cheios de lágrimas.
— Chloe?
Ela fez um beicinho adorável e então… O choro. Alto e agudo. Esme apareceu na porta da cozinha, mas não se aproximou. Ela estava esperando para ver como eu lidaria com isso. Chloe não parecia machucada, mas seu olhar… Ela estava claramente assustada. Meu coração disparou de uma forma que eu nem sabia ser possível. Essa garota me daria um infarto antes dos trinta anos.
Me ajoelhei no chão e a puxei para mim, passando a mão pelo cabelo dela.
— Shh, está tudo bem.
— Pa… papai… — ela chorou no meu pescoço.
— Sim, amor, o papai está aqui. Está tudo bem, foi só uma queda boba.
Depois de alguns minutos, seu choro foi diminuindo até que se transformou em um soluço baixinho, mas os dedos continuavam apertando minha camisa como se sua vida dependesse disso. E, talvez, em sua cabecinha, dependesse mesmo.
Então, eu percebi. Ela queria que eu a consolasse. Ela não pediu pela mãe, por Esme ou qualquer outra pessoa, ela queria o papai. Ela confiava que eu pudesse fazer isso. E, naquele instante, nada mais importava.
Alimentar Chloe pela manhã foi relativamente fácil comparado ao que veio depois. O almoço parecia um campo de batalha, e nós éramos adversários.
Esme havia preparado um prato com batatas assadas, frango desfiado e legumes - parecia apetitoso, para mim. Mas não para Chloe. Ela olhou para a comida e imediatamente fechou a boca, formando um biquinho. Respirei fundo, isso seria difícil.
— Você precisa comer, Chloe.
Ela respondeu com um som indecifrável e virou o rosto.
— Por favor? — pedi, mas fui ignorado. O que viria em seguida? Ela cruzaria os braços?
Tentei pensar em algo e então, tive uma ideia, olhando para o lobo no colo dela.
— Olha, Chloe, o lobo adora cenouras! — fiz uma voz animada, mexendo no bichinho e simulando que ele estava comendo.
Ela franziu a testa novamente - estava ficando muito boa nisso - e pegou um pedaço com a mão, colocando na boca em seguida. Esme riu e então, nós conseguimos almoçar em paz. Talvez eu estivesse pegando o jeito disso.
A próxima hora foi relativamente tranquila. Logo após o almoço, Chloe começou a bocejar e Esme foi trocar sua fralda para que eu pudesse colocá-la para dormir. Fraldas… esse ainda era um tópico sensível. Eu não tinha tentado nenhuma vez. Não conseguia me imaginar fazendo a troca, não por ter nojo ou algo assim, mas porque ela era uma menina… Eu não tinha ideia de como fazer isso. O mesmo para banhos.
Depois de cantar para ela e observar seus olhinhos se fechando serenamente, eu segui o conselho de Bella e fiquei no quarto. Trouxe meu notebook e aproveitei para responder e-mails, além de monitorar o que estava acontecendo no escritório. Tudo parecia estar sob controle, então uma curiosidade me tomou. Calculei por quanto tempo Chloe ainda dormiria para que não tivesse que parar a tarefa no meio e abri o acesso que estava evitando há algum tempo: os arquivos do meu pai.
O departamento de TI tinha limpado sua máquina e compilado absolutamente tudo em uma pasta para mim, logo após sua morte. No início, eu tive preguiça, mas agora estava decidido a encontrar alguma coisa que me trouxesse respostas.
Graças à insistência dele para que eu aprendesse programação na adolescência, eu sabia exatamente onde procurar. Alguns recibos e contratos depois, cheguei onde queria: seu e-mail pessoal. Busquei por datas próximas à fatídica festa e logo encontrei o que procurava.
Uma série de e-mails dele com seu faz tudo pessoal, Jason Jenks. Um antigo sócio do escritório, que há muito tempo tinha deixado de trabalhar em favor da lei. Passei o olho rapidamente até localizar o que me interessava: o nome de Bella. Uma onda de choque passou pelo meu corpo quando comecei a ler o texto.
Olá, Jenks.
Temo que tenhamos um problema para resolver… Edward foi incapaz de se manter dentro de suas calças e fez um filho com uma das caipiras daquela cidade horrível. Ele não sabe sobre isso, é claro, e nunca poderá saber. Preciso que monitore a garota, Isabella Swan, à distância, e garanta que ela não fure algum bloqueio e entre em contato com ele.
Caso isso aconteça, resolva o problema. Você sabe o que fazer.
Aí estava. A confirmação que ele sabia sobre a gravidez de Bella. Passei para o próximo email, que era a resposta.
Sr. Cullen,
Conforme solicitado, segue o relatório sobre a semana da senhorita Isabella Swan. Ela esteve no Hospital Geral de Forks para consulta e exames, que se mostraram satisfatórios. Pelo que parece, está tudo bem com ela e com a gravidez. No dia seguinte, ela retornou a Tacoma. Sua apresentação final será em oito semanas, e a colação de grau em doze. Acredito que a barriga já aparecerá até lá. Devo enviar fotos?
Ainda sem acreditar, passei para o próximo.
Jenks, não me interessa saber cada passo da garota ou do bastardinho que ela carrega, me poupe dos detalhes. Edward acha que foi deixado por ela, e está querendo voltar aos Estados Unidos. Trabalharei para que isso não aconteça.
Me avise se algo mudar.
— Filho da puta! — gritei, me arrependendo em seguida, porque Chloe se mexeu na cama. Para a minha sorte, ela apenas virou para o outro lado e continuou dormindo.
Eu precisava de ar. Precisava quebrar alguma coisa. Precisava sair dali, mas não podia deixá-la.
Meu grito deve ter sido bem alto, porque Emmett apareceu na porta em questão de segundos.
— O que há, irmão?
Novamente, ponderei sobre deixar Chloe sozinha. Com dor no coração, saí do quarto, mas me mantive próximo à porta, apenas caso ela acordasse…
— Ele sabia! Ele sabia de tudo! — as palavras saíam da minha boca descontroladamente — Ele chamou a minha filha de bastarda! Sua própria neta, ele me afastou dela e sabia de tudo!
Não sei por quanto tempo repeti aquelas palavras, mas quando percebi, estava ajoelhado no chão, em soluços, com Emmett e Rosalie me abraçando. Eu sabia que meu pai era uma pessoa ruim, mas era doloroso demais ter a confirmação de que tudo foi culpa dele. Eu queria me esconder em algum lugar até tudo isso passar e ele se tornar uma lembrança distante, mas não tinha mais essa opção.
Como se para confirmar esse pensamento, Chloe apareceu na porta, com os cabelos em uma grande confusão ruiva e os olhinhos inchados.
— Papai dodoi? — perguntou, se aproximando de nós. Eu não consegui responder, mas Rosalie fez isso por mim.
— Não, princesa. O papai apenas recebeu uma notícia ruim, mas vai ficar tudo bem. Você quer abraçá-lo? — sugeriu.
Ela veio na minha direção e se pendurou no meu pescoço, colocando o rosto bem perto do meu.
— Papai, vai ficar bem — disse, e eu senti que sim, era uma verdade.
Ela era a parte mais importante agora e, enquanto estivesse comigo, nós estaríamos bem.
Quando Bella veio buscá-la, ao final do dia, eu estava no sofá, com Chloe deitada no meu colo, meio adormecida enquanto um desenho passava na televisão. Ela tinha passado os últimos trinta minutos brigando com o sono, mas estava perdendo a luta.
Bella parou na soleira da porta, observando a cena. Nossos olhares se cruzaram e havia algo diferente no rosto dela. Não era surpresa, muito menos receio. Era algo suave…
— Foi um bom dia? — perguntou, baixinho.
Eu a encarei por mais um segundo antes de responder.
— Foi, tivemos um ótimo dia.
Ela se aproximou e pediu Chloe, que passei para o seu colo com cuidado. Nós estávamos quase tocando os joelhos agora, pela forma com que ficamos no sofá.
— Ela perguntou de você algumas vezes — eu disse, sem saber porque estava contando aquilo.
— É mesmo? — perguntou e eu assenti.
Ela observou Chloe por um momento, e depois cheirou o cabelo dela, assim como eu tinha feito mais cedo. E então, olhou para mim novamente.
— Você está indo bem, Edward.
Meu coração se aqueceu. Ela não precisava dizer mais nada, porque pela primeira vez, eu também sentia que tudo estava indo bem. Os problemas de mais cedo já estavam esquecidos, tudo que importava estava bem aqui na minha frente.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Chloe se remexeu e, ainda meio dormindo, tentou puxar a gola da blusa de Bella para baixo. Ela ficou claramente desconfortável e sussurrou no ouvido da nossa filha.
— Sole, não podemos fazer isso aqui…
Eu entendia italiano o suficiente para saber que sole significava sol, mas o que ela queria dizer com não podemos fazer isso aqui? Não adiantou nada, porque Chloe, de olhos fechados, começou a bater uma das mãos no… peito da mãe. E então, mais uma peça se encaixou na minha cabeça.
— Eu não sabia que você ainda amamentava — disse e instantaneamente, o rosto de Bella ganhou um tom de vermelho — Quer dizer, ela tomou uma mamadeira mais cedo.
A imaginação de um cenário dela alimentando nossa filha encheu minha mente, de uma forma que me deixou curioso e um pouco triste. Essa era mais uma coisa que eu tinha perdido, que meu pai tirou de mim.
— Na verdade, nós paramos há alguns meses. Livre demanda por um ano e aí comecei a reduzir, para facilitar quando ficamos separadas. Mas ela ficou doente há algum tempo e voltou a pedir para mamar à noite, eu não consegui dizer não, como você pode imaginar — eu não precisava imaginar, sabia exatamente como era — A única parte ruim é que ela não entende direito e às vezes pede fora de horário. Isso desregula toda a minha produção, e eu fico vazando leite por aí.
De uma forma muito, muito errada, meu cérebro imaginou a cena: Bella usando nada além de uma camiseta branca, manchada de leite e, consequentemente, transparente. Balancei a cabeça, não era hora.
— Você quer que eu saia para que possa… você sabe, tirar a blusa e alimentá-la? — o silêncio foi constrangedor.
— Merda, eu estraguei tudo, não foi? Muita informação… — ela murmurou.
— Não, não é isso — tentei acalmá-la — É só para que você tenha mais privacidade.
Bella balançou a cabeça.
— Zero necessidade disso, não é como se eu agora tivesse algo que você nunca viu. Vem aqui, segure-a para que eu consiga tirar a blusa.
Direta. Fiquei me perguntando se ela tinha imaginado o mesmo que eu… Controle-se, Edward, pensei. Era doentio pensar em algo assim com a nossa filha no mesmo ambiente, tão perto de nós dois.
Ignorando o que Bella disse, eu apenas peguei Chloe no colo e virei de costas, para não olhar enquanto ela passava a blusa pela cabeça e ficava apenas de sutiã. Foi inevitável, entretanto, vê-la quando devolvi Chloe.
Maiores, com absoluta certeza, estão maiores, pensei, sem conseguir evitar. Eu teria um problema mais tarde.
— É seguro fazer isso com ela dormindo? — perguntei, tentando quebrar o silêncio que se instalou, sendo apenas preenchido pelo som de Chloe sugando lentamente.
— Aham, Carlisle disse que não há problemas, é só prestar atenção e segurá-la de forma que ela não vá engasgar.
O pensamento de ver minha filha engasgada fez um arrepio passar pelo meu corpo. Eu ia perguntar a Carlisle sobre manobras e primeiros socorros, apenas como prevenção.
Como estávamos conversando, Bella não notou imediatamente quando Chloe soltou seu peito, deixando-a totalmente exposta. Santo Deus.
— Bella… acho que ela já terminou — tentei pensar em uma forma de avisar sem constrangê-la, mas saiu totalmente errado, porque instantaneamente seu rosto ficou corado e ela se atrapalhou entre segurar a bebê e puxar o sutiã para cima.
Se havia qualquer clima, foi cortado naquela mesma hora.
Logo depois, eu e Bella fizemos a troca da cadeirinha do carro mais uma vez, e elas foram embora. Eu subi para o meu quarto, pensando em tomar um banho gelado. Quando saí, meu celular estava vibrando com uma mensagem. Era uma foto de Chloe dormindo, abraçada com o pônei e não mais com o lobo de pelúcia.
Sorri para a tela, guardando aquela foto junto à do outro dia, para colocar como papel de parede.
Definitivamente, tinha sido um ótimo dia.
