Isabella
O final de agosto trouxe um frio mais constante para Forks. As folhas começavam a mudar de cor, o ar carregava aquele cheiro amadeirado que sempre anunciava o fim do verão, e a chuva estava de volta. Era um lembrete silencioso de que o tempo passava.
E eu sentia isso mais do que nunca. Fazia dias desde que senti o toque de Edward, desde que me permiti ceder por um instante. Mas ainda não conseguia apagar da mente a forma como ele me olhou depois. Como se tivesse enxergado algo que eu não podia esconder.
Agora, estava sentada no balcão do restaurante, girando distraidamente uma colher no meu café, enquanto Alice me observava do outro lado. Ela não precisava dizer nada. O olhar especulativo, o sorrisinho travesso, a maneira como batia os dedos na borda da xícara… Eu sabia o que estava por vir.
— Então… — ela começou, inclinando-se ligeiramente — Você vai me contar o que está te deixando com essa cara de quem está lutando contra os próprios sentimentos ou eu vou ter que arrancar de você?
Soltei um suspiro.
— Não estou lutando contra nada.
— Bella.
Levantei os olhos para encontrar seu olhar afiado.
— Eu vi vocês dois naquele dia na casa dele e, meu amor, era possível sentir tensão entre vocês a quilômetros de distância.
Pressionei os lábios, desviando o olhar para a janela.
— Não é tão simples.
— Claro que não é. Mas você precisa ser honesta consigo mesma.
Respirei fundo, sabendo que não teria como escapar disso.
— Ele me beija, Alice. E eu não consigo resistir. Mas quando acaba, eu lembro de tudo. De tudo que passei sozinha, sem ninguém para segurar minha mão.
Alice assentiu, mas manteve seu olhar compreensivo. Talvez ter dito a palavra sozinha tenha machucado ela.
— E alguma parte de você ainda acredita que ele tenha escolhido ir embora?
Mordi o lábio, sentindo aquela pontada de culpa.
— Não. Eu sei que ele foi manipulado. Mas não muda o fato de que eu vivi tudo isso sozinha. E agora… Ele está aqui, querendo assumir esse lugar. Como se fosse simples.
— Mas ele nunca disse que era simples, Bella — Alice apoiou o queixo na mão — O que eu vejo é um homem tentando recuperar o tempo perdido.
Suspirei, passando as mãos pelo rosto.
— Você ainda o ama — não foi uma pergunta. Ela estava afirmando.
E, sim. Era verdade.
O jantar em família era algo que nós tentávamos manter sempre que possível. Jacob, Leah e Seth estavam lá, junto com Sue, Charlie e, claro, Chloe, que estava sentada no colo de Jake enquanto brincava com seu garfo de plástico.
— E então, Bells — Jacob começou, jogando um pedaço de pão na boca — Você e Edward têm conseguido se acertar?
Quase engasguei com minha água. Em que momento ele havia se juntado ao time Edward?
— Do que você está falando?
Leah revirou os olhos.
— Ah, por favor. A cidade inteira já percebeu.
Seth riu.
— Verdade. Aposto que todo mundo já tem até um bolão sobre quando vocês vão oficializar a reconciliação.
— Isso não é uma comédia romântica, gente — resmunguei, cruzando os braços.
— Ok, pessoal, sem pressioná-la — Sue exclamou — Aliás, Bella, já pensou no aniversário da Chloe? Está quase chegando.
Suspirei, grata pela mudança de assunto.
— Ainda não sei o que fazer. É a primeira vez que ela vai entender o que está acontecendo. Penso em algo mais intimista, só para a família…
Charlie limpou a garganta.
— Acho que Edward vai querer estar presente.
O silêncio caiu sobre a mesa. A presença dele seria óbvia e eu não queria que fosse diferente. É claro que ele estaria presente no aniversário dela.
— Sim — murmurei, sem jeito — Ele vai estar lá.
— Então você precisa decidir, Bella. — Jacob me olhou com seriedade — O que quer fazer sobre isso?
E essa… era a grande questão. O tempo não ia parar. O aniversário de Chloe chegaria. As festas de fim de ano. O novo ano. E Edward ainda estaria ali.
Eu sabia que isso ia acontecer. Tinha evitado por dias. Me escondido atrás da rotina, das responsabilidades, do medo. Mas no fundo, sempre soube que era questão de tempo até que Edward cruzasse a linha novamente.
A chuva castigava Forks naquela noite e, depois de um dia inteiro de planejamentos para a festa de aniversário que Esme e Rosalie me convenceram a fazer, eu decidi que era melhor não me arriscar pegando a estrada.
— Você vai dormir no quarto de Chloe ou com Edward? — Rosalie perguntou, quando estávamos cortando legumes para o jantar. Tenho certeza que meus olhos arregalaram tanto que poderiam ter saltado da minha cabeça.
— Com Chloe, é claro… Não tem outro lugar — respondi, um pouco envergonhada. O quanto ela sabia sobre nós?
— Escuta… Eu sei que não somos exatamente amigas, mas ele é como meu irmão mais novo e eu preciso ajudá-lo. Edward está tentando, Bella. Ele realmente te ama e está tentando resolver as coisas aqui. Dê uma chance.
— Sei que ele está tentando… Eu também estou.
Ela balançou a cabeça como se não acreditasse em mim e olhou para fora da cozinha antes de falar novamente.
— Eu nunca vou esquecer do que vi no olhar dele na manhã em que acordou no meu sofá e não conseguia falar com você. Era o rosto de um homem em pedaços. E ele nunca mais parou de falar de você, nem um dia. Então, se você não o quer mais, seja clara. Não brinque com os sentimentos dele, ele nunca brincou com os seus.
As palavras dela ficaram na minha mente durante o jantar. Eu tentei fugir da conversa que era inevitável, mas depois que Chloe pegou no sono, eu e Edward entramos em um silêncio profundo por alguns minutos, até que ele se levantou e pediu que eu o acompanhasse para fora, na varanda. Nós caminhamos até lá, o ar frio que me tocou quando passamos pela porta não adiantou em nada contra a temperatura da minha pele. Era ridículo como apenas a presença dele me influenciava dessa maneira.
— Podemos conversar? — ele finalmente quebrou o silêncio, quando estávamos quase na escada. Eu apenas assenti, esperando — Bella, eu… — começou, e seu tom fez com que eu soubesse que ele estava prestes a começar um discurso.
— Não — interrompi, cruzando os braços, mais para me proteger de mim mesma do que dele — Eu sei o que você vai dizer.
— E o que eu vou dizer? — sua voz tinha um tom desafiador, como se quisesse me fazer encará-lo de verdade.
Suspirei, desviando o olhar antes de falar.
— Que sente minha falta. Que pensa em mim todos os dias. Que quer estar comigo.
Ele ficou em silêncio por um momento, então deu um passo à frente.
— Eu não ia dizer isso.
Meus olhos voltaram para os dele e eu levantei a sobrancelha.
— Não?
Ele balançou a cabeça lentamente.
— Eu ia dizer que você sente minha falta. Que pensa em mim todos os dias. Que quer estar comigo. Ou vai dizer que não?
Meu peito subiu e desceu rapidamente com a respiração acelerada.
— Você é tão convencido…
— E você é tão teimosa, não vê o que está bem na sua frente.
Ele deu mais um passo, e meu corpo automaticamente se inclinou para trás, até que minhas costas encontraram a parede. Meu coração batia tão forte que eu podia sentir nas costelas, e parecia que cada célula do meu corpo estava ciente da proximidade dele.
Edward ergueu uma das mãos, seus dedos acariciaram minha pele, subindo devagar até segurar meu rosto.
— Deixe ir, Bella… — sua voz era um sussurro, um pedido, uma rendição.
Eu não resisti. Talvez nunca tenha sido capaz de resistir. Minhas mãos se agarraram à gola do seu moletom no exato momento em que seus lábios encontraram os meus.
O beijo não foi suave, não foi cuidadoso. Foi urgente, desesperado, como se quiséssemos compensar cada segundo perdido. Como se o tempo que nos foi roubado pudesse ser recuperado ali, naquele instante.
Edward me pressionou contra a parede, seu corpo firme contra o meu, e eu senti tudo. A necessidade. A frustração. O desejo. Mas, acima de tudo, a certeza de que aquilo nunca deixou de ser real. Minhas mãos deslizaram para baixo, buscando a barra do moletom, para encontrar a pele da sua barriga sob o tecido. Sem camiseta.
Ele me segurou pela cintura, puxando-me para mais perto, e o contato foi tão intenso que um suspiro escapou de mim. Seus lábios desceram para o meu pescoço, e eu inclinei a cabeça, sentindo cada parte de mim se render.
— Se quiser parar… A hora é agora — ele murmurou contra minha pele.
Fechei os olhos.
— Não… não pare — pedi, em um fio de voz, que pareceu um gemido.
Ele não parou. Suas mãos desceram e subiram lentamente por dentro da minha blusa, explorando, queimando. Meus dedos se embrenharam em seu cabelo, puxando-o para mim, como se isso pudesse apagar a distância que existiu entre nós.
Cada toque, cada suspiro, cada olhar trocado era uma confirmação silenciosa. Isso ainda era nosso. Isso sempre foi nosso. O mundo ao nosso redor desapareceu, mesmo que a chuva continuasse caindo torrencialmente a poucos metros.
Eu sentia apenas as mãos de Edward segurando minha cintura, seus lábios quentes explorando meu pescoço, o jeito como ele me puxava para mais perto, como se estivesse com medo de que eu sumisse. E eu o queria. Queria tanto que doía.
— Bella… — ele sussurrou contra minha pele, e havia um desespero na sua voz que fez meu peito apertar.
Porque eu sentia o mesmo. Mais de dois anos. Dois anos de saudade. Dois anos de vazio. Dois anos fingindo que eu não queria isso, que não queria ele. Mas agora, com as mãos dele em mim, com seu corpo colado ao meu, não havia mais espaço para mentiras.
Minhas mãos agarraram os fios de cabelo na sua nuca, puxando-o para mais perto, e ele gemeu baixo contra a minha boca. Suas mãos desceram até minhas coxas, me erguendo no colo sem esforço, e eu enrosquei as pernas ao redor de sua cintura, sentindo seu corpo quente e forte contra o meu.
Edward começou a andar, sem quebrar o beijo, e quando percebi, estávamos no seu quarto. Uma parte de mim sabia que isso era perigoso. Que se passássemos desse limite, não haveria mais volta. Mas talvez nunca tenha havido volta para nós.
Ele me deitou na cama com delicadeza, os olhos presos aos meus, e, por um momento, ficamos apenas assim. Olhando um para o outro, respirando juntos.
Seu olhar estava carregado de tantas emoções que eu quase não suportei.
— Eu ainda te amo — as palavras escaparam antes que eu pudesse pensar.
Os olhos dele se fecharam por um instante, como se precisasse processar aquilo. Quando voltou a me encarar, havia algo selvagem em seu olhar.
— Diga de novo.
Minha respiração falhou e minha visão ficou embaçada com lágrimas.
— Eu ainda te amo.
Ele me beijou com tudo o que tinha. Havia fome no beijo. Havia saudade. Havia uma promessa silenciosa de que ele nunca mais me deixaria.
Suas mãos deslizaram pela minha pele, tirando peça por peça, sem pressa, sem hesitação. E eu fiz o mesmo. Cada toque, cada suspiro, cada gemido sussurrado era uma reafirmação do que já sabíamos. Isso sempre foi nosso. Nós nunca deixamos de ser.
Edward segurou meu rosto entre as mãos, sua testa colada à minha, seus olhos presos aos meus. E quando finalmente nos tornamos um só, foi como voltar para casa.
— Nunca mais, Bella — ele prometeu — Nunca mais sem você.
E pela primeira vez em muito tempo, eu acreditei. O mundo ao nosso redor desapareceu.
Quando ele me preencheu por completo, um gemido escapou dos meus lábios, e Edward o capturou com um beijo profundo, como se quisesse absorver cada pedacinho de mim.
Desde o momento em que Edward cruzou aquela porta, desde que seus olhos encontraram os meus e tudo dentro de mim gritou que ele ainda era meu, eu deveria ter entendido. Mas só agora, com nossos corpos entrelaçados, seu toque desenhando meu corpo como se tentasse redescobrir cada centímetro perdido, eu realmente compreendi.
Ele não ia embora. Não dessa vez.
Minhas mãos deslizaram por suas costas, sentindo cada músculo se mover sob minha pele. Eu o puxei para mais perto, me entregando completamente, sem barreiras, sem medo. Edward percebeu.
Ele viu no jeito como minhas pernas se apertaram ao redor de sua cintura, no jeito como minha boca buscava a dele sem hesitação, no jeito como eu não escondia mais nada. E então, seu olhar encontrou o meu.
Era intenso, carregado de promessas que eu sabia que ele cumpriria.
— Bella, eu… — sua voz era um sussurro rouco, cheio de emoção.
— Eu sei — levei um dedo aos seus lábios.
Eu sabia.
Sabia que ele me amava. Sabia que ele estava aqui. Sabia que nada poderia mudar isso agora. A cada movimento, a cada toque, a cada vez que ele dizia meu nome como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, algo dentro de mim ia se reconstruindo.
Eu não estava mais quebrada.
Edward me segurava como se eu fosse feita de algo raro, algo que ele nunca mais queria perder. Suas mãos traçaram caminhos pela minha pele, sua boca explorava cada pedaço que encontrava, e seus olhos… Deus, seus olhos nunca deixavam os meus.
Era mais do que desejo. Era redenção.
Eu podia sentir o amor dele em cada beijo, em cada toque. Eu podia senti-lo em cada vez que ele sussurrava contra minha pele, me pedindo para confiar nele, para acreditar que aquilo era real. E eu acreditei.
Eu me desfiz nos braços dele, e Edward me segurou como se eu fosse a única coisa que importava. E talvez, naquele momento, eu realmente fosse.
Quando nossos corpos finalmente desaceleraram, ele não se afastou. Ficou ali, nossos rostos tão próximos que eu podia sentir sua respiração contra minha pele. Ele deslizou os dedos pelos meus cabelos, fazendo caminhos lentos e suaves no meu braço, e um sorriso surgiu no canto dos seus lábios.
— Você está bem? — sua voz era baixa, carregada de carinho.
Eu soltei um riso suave, ainda tentando recuperar o fôlego.
— Eu estou… — fiz uma pausa, olhando dentro de seus olhos — Eu estou feliz.
O sorriso de Edward se alargou.
— Então, não preciso ir embora?
Minha mão deslizou até sua nuca, puxando-o para um beijo lento, preguiçoso.
— Nunca mais.
E eu sabia que dessa vez era verdade.
