Edward
Eu estava feliz. Pura e simplesmente feliz. Bella ainda me amava. Eu sabia, em algum lugar, mas ouvir as palavras saindo da boca dela, tantas vezes… Isso era outra coisa. O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave da chuva batendo contra a janela.
Eu estava deitado ao lado de Bella, sentindo a leveza da sua respiração contra minha pele, e não conseguia deixar de pensar em tudo o que estava acontecendo. Cada momento ao lado dela parecia tão surreal quanto verdadeiro. A intensidade de estar com ela novamente, de sentir sua presença, sua pele contra a minha, ainda me surpreendia. Mas havia algo mais, algo que me preenchia de um jeito diferente, algo que me fez passar horas em claro enquanto ela dormia.
Nós poderíamos ser uma família. Uma família de verdade, sem todas as complicações de agora. Eu queria ser o melhor pai que Chloe poderia ter, queria estar ali, me redimir por todos os momentos que não vivi ao lado dela. Ela também me amava, mas era muito pequena ainda. Tudo para ela era uma grande festa. Eu não tinha certeza se ela entendia o peso da minha presença, muito menos o da minha falta.
Eu olhei para Bella. Ela estava dormindo, tranquila, o rosto relaxado em um sono sereno, mas eu sabia que ela também estava lidando com muitas emoções. Ela já tinha me dado a chance de ser o que sempre quis ser para Chloe, mas agora eu esperava que ela me deixasse ser o parceiro dela. Eu sabia que essa noite não resolvia tudo, mas esperava que fosse o caminho.
Respirei fundo tentando afastar os pensamentos negativos, não era hora disso. Foi quando ouvi a voz de Chloe vindo pelo corredor. Levantei e fui até a porta, não sem antes cobrir Bella com o lençol, e lá estava ela, com o pônei de pelúcia nas mãos, com o olhar curioso e ainda confuso, tentando entender o mundo ao seu redor. Seus cabelos estavam bagunçados, em uma grande confusão de cachos ruivos, e os olhos ainda semiabertos.
— Papai?
Naquele instante, tudo dentro de mim se aquietou. Não havia mais espaço para incertezas, eu era o pai dela e nada que acontecesse poderia mudar isso. Abri os braços e a peguei no colo, levando-a de volta para o meu quarto. Ela ia questionar o que Bella estava fazendo ali?
— Fique quietinha, ok? A mamãe ainda está dormindo.
Seus olhinhos se arregalaram e ela colocou a mão na boca, em um sinal de que ficaria em silêncio. Nós subimos de volta na cama e ela se acomodou entre Bella e eu, seu pequeno corpo acolhido como se fosse um pedaço de mim que eu jamais imaginaria encontrar.
Quando Bella começou a se mover ao nosso lado, ela me olhou, ainda com os olhos semiabertos, e eu percebi que havia uma mistura de sentimentos ali. Surpresa. Incerteza. Tudo sumiu quando ela viu Chloe ali.
— Devo estar sonhando ainda — sussurrou em um sorriso.
Sorri também, e olhei para a nossa filha entre nós.
— Será que a mamãe ainda está sonhando, Chloe? Não está na hora de acordar?
Chloe sorriu de volta, seus olhos brilhando, e estendeu os braços para Bella, como se soubesse que tudo estava se alinhando.
— Acorda, mamãe! — gritou e se jogou por cima dela, gerando uma onda de risadas em nós três.
Eu sabia que o vínculo delas era forte, mas ver como as coisas estavam se conectando entre nós três me fez sentir algo que eu não conseguia nomear. Não era apenas alívio. Era algo mais profundo, mais visceral.
Ela pegou a mão de Bella e a apertou suavemente, e eu vi como isso significava algo. Não era só um gesto de criança. Era uma pequena confiança, uma compreensão que eu ainda tentava entender. Ela estava aceitando, de uma maneira inocente, que tanto Bella quanto eu éramos suas figuras de referência.
— Você está bem, amor? — Bella perguntou, virando Chloe para que ela ficasse deitada de novo. Ela assentiu, e seus olhos não paravam de se mover entre nós dois — Que ótimo. Ainda está escuro, o que significa que é muito cedo, o que você acha de dormir mais um pouquinho?
Antes que pudesse responder, um bocejo saiu da boca dela, denunciando que ela ainda estava com sono. Chloe se aconchegou entre nós, seus olhos começando a se fechar novamente.
Eu não sabia o que o futuro nos reservava, mas, pela primeira vez em meses, não estava mais preocupado. Porque, ao olhar aquela cena, eu soube que não importava o passado. Nós estávamos juntos, olhando para frente, para tudo que ainda poderíamos ter.
O silêncio voltou a preencher o quarto, apenas interrompido pelo som ritmado da respiração de Chloe. Ela se encaixou contra Bella, segurando um punhado de seu cabelo com a pequena mão, como se quisesse garantir que a mãe continuaria ali. Meu coração apertou ao ver aquilo — o instinto dela de se agarrar ao que ama.
Bella traçava círculos suaves nas costas de Chloe, o olhar perdido nos cachos da nossa filha. Seu rosto estava relaxado, mas havia algo por trás de seus olhos castanhos que me dizia que seus pensamentos estavam tão inquietos quanto os meus antes de ela acordar.
— No que está pensando? — murmurei, minha voz baixa o suficiente para não perturbar o sono de Chloe.
Bella hesitou, mas então suspirou.
— Que isso… — ela olhou para mim, mordendo o lábio, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas — …isso tudo parece um sonho.
Senti um aperto no peito.
— É um sonho ruim? — perguntei, tentando manter o tom leve, mas sabendo que a resposta dela poderia me ferir mais do que eu estava pronto para admitir.
Bella balançou a cabeça imediatamente.
— Não — seus olhos encontraram os meus, e por um segundo, só existíamos nós dois naquele quarto — Mas tenho medo de acordar… e perceber que nada disso é real.
Ela não precisava dizer mais nada. Eu sabia. Ela temia que tudo desmoronasse de novo. Me apoiei em um dos cotovelos, me inclinando até estar perto o suficiente para tocar seu rosto. Minha mão encontrou sua pele, e Bella fechou os olhos por um instante, respirando fundo sob meu toque.
— Eu estou aqui, Bella. E não vou a lugar nenhum.
Seus olhos se abriram, cheios de dúvidas, mas também de esperança.
— Você promete?
Engoli em seco. Eu podia sentir o peso daquela pergunta. Ela não queria promessas vazias. Não queria palavras bonitas que pudessem ser levadas pelo vento. Passei o polegar pelo contorno de sua bochecha, minha resposta vindo de um lugar tão profundo dentro de mim que parecia gravado na minha própria essência.
— Prometo.
Bella sustentou meu olhar por um longo momento, até que um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. Não era um sorriso de completa rendição, mas era um começo.
Ajustei o cobertor ao redor de Chloe, que se mexeu levemente, soltando um suspiro baixinho antes de se acomodar novamente entre nós. Bella observou a filha por um instante e então voltou a me encarar.
— Eu quero acreditar nisso.
— Então acredite — minha voz saiu firme. Eu não queria que houvesse espaço para dúvidas.
Ela assentiu, mas não disse mais nada. Em vez disso, deslizou sua mão sob o cobertor até encontrar a minha. Seus dedos se entrelaçaram aos meus, e naquele pequeno gesto, eu soube que, mesmo que ainda houvesse um longo caminho pela frente, ela estava disposta a me deixar ficar.
Fechei os olhos por um momento, absorvendo aquela sensação. Eu estava onde sempre deveria ter estado.
O quarto estava mergulhado em um silêncio confortável. O peso da noite ainda pairava sobre nós, e eu não queria quebrar o momento. Sentia a mão de Bella entrelaçada à minha, sua pele quente contra a minha, e Chloe respirando suavemente entre nós dois.
Eu poderia viver assim para sempre.
Bella parecia ter voltado a cair no sono, sua respiração ficando mais lenta e profunda. Fiquei observando-a, decorando cada detalhe: a forma como os fios do seu cabelo escuro caíam sobre o travesseiro, o jeito como sua boca ficava levemente entreaberta - assim como a de Chloe ficava, o movimento suave de seu peito subindo e descendo enquanto sua respiração desacelerava.
Eu nunca deveria ter ficado longe. Uma pontada de culpa me atingiu, mas não deixei que tomasse conta. Agora, eu estava exatamente onde deveria estar. E, se dependesse de mim, nunca mais partiria.
*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*
A luz do dia começava a passar pelas cortinas quando Chloe se mexeu entre nós, soltando um murmúrio sonolento, tentando reconhecer onde estava. Bella abriu os olhos lentamente, nós dois sorrimos ao vê-la piscar algumas vezes antes de se situar e voltar a dormir.
— Já está acordado faz tempo? — ela perguntou com a voz rouca de sono.
— Não muito — menti, porque a verdade era que eu não tinha dormido. Eu não queria desperdiçar um segundo sequer desse momento.
Ela me lançou um olhar de ceticismo, mas não insistiu. Em vez disso, olhou para Chloe e sorriu suavemente.
— Isso significa algo, não é? — murmurei.
Bella assentiu.
— Significa que ela sabe que você pertence aqui.
Seus olhos encontraram os meus, cheios de algo que eu não conseguia decifrar completamente. Deixei suas palavras se acomodarem dentro de mim. Chloe confiava em mim. Me via como parte do mundo dela.
Aquela frase mexeu comigo de um jeito que eu não estava preparado. Engoli em seco e olhei para minha filha, ainda dormindo entre nós. A pequena mão dela estava apoiada no peito de Bella, e seus cabelos bagunçados estavam espalhados sobre o travesseiro.
Eu pertencia ali.
Minha mente queria questionar. Queria me lembrar de todos os erros, das vezes que minha ausência pode ter machucado Bella, das noites em que Chloe dormiu sem saber que eu existia.
Mas, no fundo, eu sabia que não adiantava olhar para trás. O que importava era o agora.
— Tudo bem? — Bella perguntou suavemente, deslizando os dedos pelo meu braço.
Respirei fundo e olhei para ela.
— Sim. Só… — fiz uma pausa, escolhendo minhas palavras — Eu nunca soube que poderia me sentir assim.
— Assim como?
Passei a mão pelo cabelo, tentando organizar o turbilhão dentro de mim.
— Completo.
Bella prendeu a respiração por um momento. Seus olhos brilharam, e ela abriu a boca como se fosse dizer algo, mas hesitou. Então, em vez de falar, ela apertou minha mão de novo. Foi o suficiente.
Um sorriso pequeno, quase tímido, surgiu em seus lábios, e eu me inclinei ligeiramente, pressionando um beijo na testa dela.
Eu queria dizer tantas coisas. Que não importava o que tivéssemos que enfrentar, eu ficaria. Que eu lutaria por elas, por nós. Que, pela primeira vez, eu sabia exatamente o que queria da vida. Mas, por enquanto, bastava estar ali. Juntos.
*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*O*
O café da manhã passou sem que falássemos sobre a noite anterior. Ninguém questionou nada, então assumi que não tinham percebido. Chloe manteve a conversa fluindo com histórias sobre seus brinquedos e Bella se agarrou a isso, interagindo com ela como se nada estivesse diferente.
Mas eu sentia.
Cada vez que nossos olhares se cruzavam, cada toque acidental entre nós, o peso do que aconteceu pairava no ar. Bella estava tentando ignorar, mas eu não conseguia fazer o mesmo. Então, depois que Chloe saiu da cozinha para brincar com Rosalie, me virei para Bella, que terminava de colocar os pratos e xícaras na lava louças.
— Podemos conversar?
Ela parou por um instante, seu corpo tensionando antes de ligar a máquina.
— Edward…
— Bella, não vamos fingir que nada aconteceu.
Ela fechou os olhos por um momento, depois soltou um suspiro, pegando um pano de prato para secar as mãos.
— Não, não vamos.
Ela se encostou na pia, finalmente me encarando. Havia algo cauteloso em sua expressão, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
— Você se arrepende? — perguntei antes que ela pudesse falar qualquer outra coisa.
Os olhos dela se arregalaram.
— Não! — a resposta veio rápida, enfática — Não me arrependo.
Soltei um suspiro de alívio, mas ela ainda parecia tensa.
— Então, o que foi? — insisti, tentando entender.
Bella passou as mãos pelo rosto, claramente frustrada.
— Eu só… não sei o que acontece agora.
Eu franzi o cenho.
— Como assim?
Ela me lançou um olhar hesitante.
— Ontem à noite… foi maravilhoso, Edward. Mas foi um momento intenso, nós nos deixamos levar, e agora eu fico pensando se não fomos rápido demais. Se não deveríamos ter esperado até termos certeza do que estamos fazendo.
Cruzei os braços, sentindo um desconforto crescer dentro de mim.
— Você acha que foi um erro?
Ela mordeu o lábio e balançou a cabeça.
— Não foi um erro… Mas eu não sei se estávamos prontos.
Tentei absorver aquilo.
— Dois anos, Bella. Dois anos separados. Três meses me provando para você. Para Chloe. Você realmente acha que isso foi rápido? Nós não somos mais adolescentes — aquela indecisão dela estava me frustrando um pouco mais a cada dia — Ontem não significou nada para você?
— Claro que significou! — ela rebateu, a voz carregada de emoção — Mas é exatamente por isso que estou preocupada.
A frustração cresceu dentro de mim.
— Você pode, por favor, me explicar o que está te deixando tão assustada?
Ela hesitou, seus olhos fixos nos meus.
— Eu tenho medo de que tenhamos confundido desejo com solução para a nossa situação.
Meu peito apertou.
— Você acha que ontem foi só desejo?
Ela desviou o olhar.
— Eu acho que foi um pouco dos dois, parece simplório demais dizer que foi um ou o outro mas não seria mais fácil se estivéssemos juntos apenas por desejo físico?
Passei a mão pelos cabelos, tentando conter minha frustração. Ela ia me deixar louco.
— Bella, eu não estou aqui só porque quero você fisicamente, e eu quero muito. Eu estou aqui porque quero você, quero nossa família, quero uma vida juntos.
Ela mordeu o lábio, claramente lutando contra algo dentro de si.
— E se dermos esse passo e não conseguirmos fazer funcionar? — sussurrou — E, pior, se machucarmos Chloe?
Agora eu entendia. O problema não era a noite passada. O problema era o peso que ela carregava. Dei um passo à frente, diminuindo o espaço entre nós.
— Bella, fugir e inventar desculpas não vai nos proteger.
Ela suspirou, e por um instante, pareceu cansada.
— Eu só não quero tomar decisões baseadas no que sentimos no calor do momento.
Segurei seu rosto suavemente, forçando-a a me encarar.
— Você disse que me ama, isso era uma mentira? — perguntei e ela negou com a cabeça — Então me diz. Se você pudesse esquecer todos os medos, todas as dúvidas… o que você quer?
Bella ficou em silêncio. Seus olhos vasculharam os meus, como se buscasse uma resposta dentro de mim, mas eu sabia que a resposta já estava dentro dela. E então, finalmente, ela sussurrou:
— Eu quero tentar.
Soltei um suspiro de alívio, correndo meu polegar contra sua bochecha.
— Então vamos tentar. Sem pressa, do jeito que for melhor para nós.
Bella assentiu lentamente, e, pela primeira vez desde que acordamos, vi seus ombros relaxarem. Eu sabia que ainda havia muitas coisas para resolver. Mas, naquele momento, uma coisa estava clara para mim: nós não iríamos mais andar em círculos. Estávamos seguindo em frente.
