Isabella

A casa de Esme e Carlisle estava repleta de risadas e vozes animadas, o cheiro dos doces e do bolo em cima da mesa se misturando ao perfume sutil das flores que Esme havia espalhado pela sala. A decoração era simples, mas acolhedora: tons suaves de rosa e lilás enfeitavam a mesa, balões flutuavam no teto e pequenos detalhes revelavam o carinho de todos que ajudaram a organizar aquele momento.

Chloe, usando um vestido rosa e sapatilhas combinando, corria de um lado para o outro com Seth logo atrás, suas risadas enchendo o espaço de uma felicidade tão pura que fazia meu peito apertar. As duas crianças da minha vida, por mais que Seth não se visse mais como uma.

Dois anos. Minha filha estava completando dois anos. E dessa vez, seu pai estava ali para comemorar com ela. Meus olhos o encontraram do outro lado da sala, levantando Chloe nos braços enquanto ela apontava animadamente para um dos enfeites que pendia do teto. Ele sorria para ela com uma ternura que me deixava sem ar. Era um tipo de felicidade que eu jamais imaginei que poderia ver nele novamente.

— Você está bem? — a voz de Jacob me tirou dos meus pensamentos.

Me virei para encará-lo. Meu irmão me olhava com um misto de diversão e curiosidade.

— Sim — respondi, respirando fundo — Só estou… absorvendo tudo.

Jacob seguiu meu olhar e bufou.

— É estranho, sabia? Vê-los assim…

— Não é o melhor momento para isso, Jake.

Ele ergueu as mãos em rendição.

— Não estou julgando. Só estou tentando entender.

— Eu também — murmurei, mais para mim do que para ele.

Porque, apesar da certeza de que queria tentar, eu ainda estava navegando por sentimentos intensos. O que tínhamos agora não era mais a mesma história de antes. Estávamos escrevendo algo novo, ainda sem nome. Não era um namoro, tampouco algo casual.

— Ei, Bells! — a voz de Charlie me chamou — Venha ver isso.

Ele estava perto da mesa, segurando Chloe enquanto Sue acendia as velas do bolo. Foi quando percebi que, além da vela com o número dois, havia mais: outro dois e um cinco, para o meu aniversário. Todos começaram a se reunir ao redor, formando um semicírculo caloroso.

— Hora do parabéns! — Alice anunciou, animada, puxando Jasper pela mão.

Edward colocou Chloe em pé em uma cadeira, para que ficasse da altura do bolo, e ela bateu as mãozinhas, empolgada. O brilho nos olhos dela me emocionou de um jeito inesperado.

As vozes preencheram o ambiente, todos cantando para ela e, depois, para mim.

Isso é o que uma família deveria ser.

Quando ajudamos Chloe a apagar as velas, senti uma mão pousar suavemente na minha cintura. Edward. Seu toque era discreto, mas presente. Como se ele quisesse me lembrar de que estava ali. E, de repente, nada parecia tão assustador.

A festa seguiu com Chloe sendo o centro das atenções, o que ela adorava. Seus risos eram contagiantes, e ela se divertia com todos, de Esme a Jacob, que se curvava para ouvir suas histórias engraçadas sobre brinquedos e suas aventuras imaginárias. Meus olhos seguiam Edward o tempo todo. Eu sabia que ele estava se sentindo cada vez mais em casa com todos, e eu também estava me acostumando com a ideia de vê-lo novamente como parte da nossa vida. Não só como um pai para Chloe, mas como meu parceiro. Isso ainda me soava estranho em alguns momentos, mas, aos poucos, estava começando a acreditar nisso.

Mas, claro, o momento de paz não durou tanto. Me perguntava quando iria durar.

— Então, vocês dois estão juntos de novo? — Leah perguntou, cortando um pedaço de bolo com precisão cirúrgica.

Eu quis avançar no pescoço dela. O silêncio que se seguiu foi rápido, mas perceptível.

Eu olhei para Edward, sem saber quem deveria responder primeiro.

— Estamos tentando — ele disse, e sua voz era firme, mas suave.

— E como isso funciona? — ela ergueu uma sobrancelha — Vocês simplesmente esquecem tudo o que aconteceu antes?

— Leah — Jacob resmungou, cutucando-a com o cotovelo — Não estrague a festa.

— Eu só estou perguntando porque Chloe está no meio disso tudo — ela rebateu, cruzando os braços — E ela é minha sobrinha. Quero saber se estão pensando nela antes de se jogarem nisso de novo.

A forma como ela disse aquilo fez meu estômago revirar. Eu realmente queria avançar no pescoço dela e seria pouco, ela estava duvidando da minha maternidade aqui.

— Chloe é minha filha, Leah. E você está cansada de saber que o bem estar dela sempre foi minha prioridade, afinal, esteve lá — rebati, minha voz um pouco mais afiada do que pretendia.

Edward, ao meu lado, se manteve calmo, mas seus olhos estavam sombrios. Mais uma palavra errada e ela ouviria coisas muito piores do que as que saíram da minha boca.

— Eu sei que parece repentino — disse ele — Mas nada disso é impulsivo. Nós não somos irresponsáveis.

— Certo… — Leah assentiu lentamente — Só não quero vê-la confusa ou magoada.

— Nem nós — respondi, e dessa vez, minha voz saiu mais branda.

Nos encaramos por um momento, e percebi que, por trás da dureza, havia apenas preocupação.

— Eu sei que se importa com ela — acrescentei — E agradeço por isso, mas essa é a nossa vida, Leah. Eu também preciso tomar minhas próprias decisões.

Leah suspirou, soltando a tensão dos ombros.

— Só… façam direito.

— Vamos fazer — Edward prometeu.

E, pela primeira vez naquela conversa, ela sorriu.

Com o clima voltando ao normal, Chloe estendeu os bracinhos para Edward, e ele a pegou no colo sem hesitar.

— Papai, bolo! — ela exigiu, e ele riu antes de pegar um pequeno pedaço e estender o garfo de plástico para ela.

Eu os observei, sentindo um calor inexplicável dentro de mim. Jacob se aproximou novamente, murmurando baixo para que apenas eu ouvisse:

— Parece que vocês já estão fazendo direito.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu soube que ele não estava fazendo nenhuma provocação, ele apenas estava certo.

Leah parecia ter se acalmado. Ela, Rosalie e Emmett estavam brincando com Chloe no canto da sala, enquanto Alice e Jasper conversavam com Carlisle e Sue, discutindo algo sobre o próximo evento em Forks. A dinâmica estava voltando ao que era, mas com uma diferença: Edward estava presente. E ele estava aceitando cada momento, como se, depois de tanto tempo, esse fosse o seu lugar.

Era um alívio. Um alívio eu ver todos em paz, incluindo os meus próprios sentimentos. Como se o amor de todos, a aceitação de todos, tivesse preenchido um vazio que há muito tempo morava em mim. Eu não sabia como explicar isso para Edward, mas sentia que ele também estava absorvendo essa sensação, aos poucos.

— Posso falar com você, Bella? — a voz de Charlie interrompeu meus pensamentos.

Ele estava com uma expressão séria, mais rígida do que o habitual. Eu sabia que ele se importava, sempre se importou, mas esse olhar era algo novo.

Fiz uma leve inclinação de cabeça e o segui até a varanda, o vento balançando as cortinas da porta de vidro. Ele me olhou de cima a baixo, como se medisse minha reação, e eu sabia que a pergunta estava prestes a vir. Charlie sempre foi direto.

— Você tem certeza de que é isso que você quer? — sua voz foi baixa, quase um sussurro.

Ele estava preocupado, isso estava claro. Mas ainda assim, senti a dor no fundo da sua pergunta. O medo. Olhei para ele, respirando fundo, e, em seguida, me concentrei no céu cinza que se estendia à nossa frente. Era difícil explicar o que eu estava sentindo. Mais difícil do que parecia.

— Eu não sabia o que queria por tanto tempo, pai — comecei, tentando colocar as palavras em ordem — Achei que a vida sem Edward seria mais simples, mais segura para Chloe, para mim. Mas o que eu aprendi é que a segurança que buscava não era real. Eu nunca vou me sentir completa sem ele, e isso, para Chloe, também é importante.

Charlie não disse nada por um momento, observando-me atentamente. Então, ele suspirou e colocou a mão no meu ombro, com um gesto de carinho, mas também de cansaço.

— E se ele decidir ir embora de novo? E se, no final, for tão doloroso para Chloe quanto foi para você?

As palavras de Charlie ressoaram na minha cabeça, e meu coração apertou. Como eu explicaria para ele que isso não era mais sobre proteger Chloe da dor? Isso era sobre permitir que ela experimentasse o amor, de um jeito que nunca teve antes. Eu precisava de Edward, e Chloe também. Era algo que tínhamos que enfrentar juntos, e só assim poderíamos seguir em frente.

— Eu não vou deixá-lo partir de novo, pai. Não dessa vez. Eu não... — eu me interrompi, vendo Edward aparecer na porta da varanda, seus olhos me encontrando — Não vou deixar que tudo isso se perca de novo. Ele é parte de nós.

Charlie parecia entender, mas ainda assim, seu olhar era cauteloso. Ele sabia que, ao final, a decisão era minha. A preocupação dele, no entanto, era genuína.

— Eu só quero que você pense nisso, Bella. Faça o que achar certo, mas sempre pensando no que é melhor para Chloe.

Eu sorri para ele, embora houvesse uma leve angústia no fundo da minha mente.

— Eu sei, pai. E eu agradeço por se preocupar. Mas eu tenho certeza agora. Eu sei o que quero — olhei para Edward, que estava parado do lado de dentro da porta, nos observando — E isso é o que é melhor para Chloe também.

Charlie não respondeu, mas um leve sorriso apareceu em seus lábios. Ele assentiu e entrou de volta para a sala, deixando-me sozinha com Edward. Ele se aproximou, seus olhos suaves, e a tensão que eu sentia antes se dissipou lentamente.

— Como você está? — ele perguntou com uma calma reconfortante, mas havia uma preocupação ali, algo que eu não conseguia ignorar.

Eu suspirei, respirando fundo, sentindo que a conversa com meu pai tinha me dado uma clareza extra.

— Eu estou bem, agora — sorri — Mas… você e eu… precisamos continuar fazendo isso, não é? Conquistar a confiança da nossa família.

Ele assentiu sem hesitar, seu sorriso sincero, mas também um pouco apreensivo, como se entendesse a magnitude daquilo.

— Juntos. Sempre.

E naquele momento, eu soube que ele estava comprometido. Não apenas com Chloe, mas comigo, com a ideia de que nós dois, como uma família, seríamos mais fortes que qualquer medo ou dúvida do passado. A festa continuava lá dentro, mas, para mim, aquele momento foi a maior celebração de todas.

A tarde seguiu de forma descontraída, e logo a mesa foi esvaziada, dando lugar à montanha de presentes que Esme e Carlisle haviam cuidadosamente arrumado para Chloe. Eu vi os olhos da minha filha brilharem à medida que ela caminhava em direção à pilha, com a ajuda de Seth, que a acompanhava em passos apressados, como se estivesse mais empolgado com aquilo do que a própria aniversariante.

Edward estava ao meu lado, observando com um sorriso tranquilo enquanto Chloe deslizava as mãos pequenas sobre as caixas embrulhadas em papeis coloridos. Ela parecia confusa entre tantas opções, mas logo escolheu o primeiro presente. Alice, sempre atenta, se abaixou ao lado dela com sua câmera, esperando que a pequena pegasse a fita para abrir o pacote.

— O que será, o que será? — Alice disse com uma voz de mistério, fazendo Chloe soltar uma risadinha.

— O que é, mamãe? — Chloe olhou para mim com os olhos grandes, esperando uma resposta.

Sorri, minha boca apertada pela emoção que se acumulava.

— Não sei, amor. Vamos ver juntas?

Ela puxou a fita com força, arrancando o papel sem muita delicadeza, mas com o entusiasmo que só uma criança pode ter. Quando o pacote foi aberto, o brilho nos olhos dela fez meu coração derreter: um novo pônei de brinquedo, rosa, e maior dessa vez.

— Poneeei! — ela exclamou, já segurando o novo amigo de pelúcia com força.

Todos ao redor sorriam, e até Rosalie, que costumava ser mais reservada, estava visivelmente encantada com a reação de Chloe. Eu não conseguia parar de olhar para Edward, que estava de pé ao meu lado, um olhar suave fixo na nossa filha.

Eu sabia que ele estava absorvendo cada momento, assim como eu, como se o simples fato de Chloe se encantar com cada presente fosse uma forma de se conectar com ela. Era como se ele ainda estivesse se adaptando à presença dela, mas com um amor silencioso, um amor que já era imenso.

— Você gostou, Chloe? — Alice perguntou com um sorriso. Esse presente era dela.

Chloe assentiu, ainda abraçando o pônei com todas as forças, e logo passou a olhar para o próximo presente. A sala estava cheia de risos e conversas, mas meu olhar continuava preso a Edward. O silêncio entre nós não era desconfortável; ao contrário, era o tipo de silêncio que só acontece quando duas pessoas já entenderam o que têm uma com a outra.

Mas Chloe, como sempre, foi a que rompeu qualquer tensão ao arrancar o próximo presente.

— Olha, mamãe! — ela apontou uma caixa grande, cheia de papel colorido e brilhante. Eu peguei a caixa, com os olhos fixos nela, enquanto ela pulava ao meu lado.

A expectativa estava estampada no rosto de todos, mas o momento parecia durar uma eternidade. Quando finalmente abri a caixa, me deparei com algo que quase me fez chorar: um livro infantil, uma coleção de histórias, com ilustrações que pareciam feitas especialmente para Chloe.

Fui tomada pela emoção. Tantos momentos haviam passado desde que eu pensava no que ela precisava, no que eu queria para ela, mas ver esse presente me trouxe uma onda de gratidão. Chloe amava livros, e esse presente era, sem dúvida, pensado para ela com carinho.

— Eu sei que Chloe vai adorar isso — disse Esme, se aproximando com um sorriso sereno — Acho que nós já lemos todos os livros disponíveis aqui, e imaginei que ela fosse gostar de uma nova história antes de dormir.

Eu sorri, com os olhos marejados, olhando para todos ao redor.

— Eu… eu adorei, Esme. Obrigada.

Nesse momento, Chloe estendeu a mão para o próximo presente, seu entusiasmo nunca diminuindo. A troca de olhares entre mim e Edward foi silenciosa, mas cheia de significado. Eu sabia que, com ele, esses momentos estariam sempre ao nosso alcance. Ele também estava participando disso tudo, e a sensação de que ele já fazia parte do presente de Chloe não era mais algo distante. Era uma verdade, uma verdade que eu não queria mais questionar.

— Sua vez, papai! — Chloe disse, virando para Edward, seu olhar esperando ansiosamente.

Edward parecia surpreso por um instante, mas logo sorriu com doçura, colocando-se ao lado de Chloe.

— Eu? — ele riu suavemente — Qual presente você quer me dar?

Chloe fez uma expressão confusa e um pequeno vinco se formou entre suas sobrancelhas.

— Nada, é tudo meu.

A sala explodiu em gargalhadas com a conclusão dela de que Edward levaria seus presentes e ela foi levantada no colo do pai, ganhando beijos por todo o rosto. Ele sussurrou algo no ouvido dela e estendeu um presente no ar, sugerindo que fosse o próximo a ser aberto.

— Papai abre! — Chloe anunciou com orgulho.

Com a ajuda de Edward, ela rasgou o papel, e dentro havia um conjunto de blocos de montar, em cores brilhantes, para serem adicionados aos que ela já tinha. Era o presente de Charlie e Sue.

A cena a seguir foi algo simples, mas tão carregada de emoção que quase não consegui segurar as lágrimas que encheram meus olhos. Chloe pediu para abrir a caixa e brincar, o que não pudemos negar. Os dois começaram a formar o começo de um mundo novo com os blocos de brinquedo e foi uma imagem que eu sabia que jamais esqueceria. Não só porque era a primeira vez que Edward estava presente de maneira tão completa, mas porque, naquele momento, ele se entregava à construção dessa nova realidade que tanto significava para nós.

Eu me recostei na cadeira, observando-os.

— Agora o meu e da tia Rose — foi a vez de Emmett puxar um embrulho enorme. Eu tive medo do que sairia dali.

Ele e Chloe rasgaram o pacote, revelando uma caixa que não tinha indícios do seu conteúdo. Ele a levantou nos braços, para ver por cima da caixa.

— Tá vazio — ela ficou decepcionada e um biquinho se formou em seus lábios.

— É porque já está lá em cima — Rosalie interveio, antes que ela chorasse — Você quer ver o que é?

E logo eu fui arrastada pela mão pela minha filha até seu quarto, que agora contava com uma cabana em formato triangular, repleta de almofadas, com luzes coloridas penduradas do lado de fora.

— Uma casa! Eu tenho uma casa! — Chloe saltitou ao redor do quarto, com a felicidade explodindo por todos os seus poros. Eu e Edward olhamos, encantados.

Ela ainda estava empolgada com os presentes que havia ganhado dos tios, dos avós e dos amigos. A sala era um verdadeiro campo de guerra de papel de presente rasgado, e os olhinhos dela brilhavam a cada nova descoberta. Mas agora, restavam apenas dois pacotes — o de Edward e o meu.

— Pronta para os presentes da mamãe e do papai, amor? — eu perguntei, puxando-a para o meu colo e nos levando de volta para a sala.

Ela sorriu largo e bateu palminhas, olhando para Edward primeiro.

— Papai, papai!

Edward riu baixinho e caminhou até o canto da sala, onde um grande pano cobria algo que claramente não era uma simples caixa. Com calma, ele chamou Chloe para seu colo e olhou para ela com ternura.

— Eu queria te dar algo especial, Chloe. Algo que você possa guardar por muito tempo e se divertir bastante.

Chloe piscou algumas vezes, como se tentasse entender o que ele queria dizer. Então, com um gesto teatral, Edward puxou a toalha e revelou um belíssimo cavalinho de balanço, feito de madeira. Mas não era um cavalinho qualquer. Ele tinha detalhes esculpidos, com uma crina pintada à mão e olhos expressivos. E mais do que isso, não era um cavalo, e sim um pônei, exatamente como os que Chloe tanto amava.

Houve um instante de silêncio. Chloe arregalou os olhos e abriu a boca em um perfeito "O" de surpresa.

— Poneeeeei! — ela gritou, a voz repleta de empolgação.

A sala inteira caiu na risada, e eu vi o alívio e a felicidade no rosto de Edward. Ele colocou Chloe no chão, e ela correu até o brinquedo, passando as mãozinhas curiosas pelo corpo de madeira.

— É meu? — ela perguntou.

— Todo seu, princesa — Edward respondeu, ajoelhando-se ao lado dela.

Chloe pulou no lugar e subiu no cavalinho sem hesitar. Edward segurou-a gentilmente enquanto ela começava a se balançar, e o som da risada dela encheu a sala. Meu coração apertou no peito. Era um momento simples, mas cheio de significado. Edward estava ali, presente, vendo a felicidade da filha de perto.

Depois de alguns minutos brincando, Chloe finalmente olhou para mim.

— Mamãe, o seu?

Eu sorri, pegando um pacote grande, embrulhado com um laço dourado.

— Esse é para você, meu amor.

Chloe pulou do cavalinho e correu até mim, arrancando o laço e rasgando o papel com rapidez. Assim que abriu a caixa, soltou um gritinho agudo e empolgado.

Let it go!

Ela puxou a peça de dentro da caixa, os olhos brilhando. Era uma fantasia azul clara, com detalhes em dourado, uma saia rodada e uma pequena coroa que combinava, como a Elza, de Frozen. Chloe amava as princesas e eu sabia que seria difícil tirá-la daquele vestido. Ela pulou no meu colo, me abraçando apertado. Abracei-a de volta, sentindo meu coração transbordar de amor.

— Você quer experimentar?

Ela assentiu tão rápido que eu mal consegui conter a risada. Levantei-me com ela no colo e, com a ajuda de Alice, que já estava impaciente para participar, vestimos Chloe com a fantasia. Quando ela voltou para a sala, girando a saia e sorrindo de orelha a orelha, todos suspiraram e aplaudiram.

— Uma princesa de verdade! — Edward disse, com um olhar completamente encantado.

— Princesa Chloe! — Emmett brincou, fazendo uma reverência exagerada.

Chloe riu e correu de volta para o cavalinho de balanço, seu riso preenchendo cada canto da casa.

Eu olhei para Edward, e nossos olhares se encontraram. Não precisávamos dizer nada. Esse momento ficaria para sempre em nossas memórias — o primeiro aniversário que passamos todos juntos, como uma verdadeira família.

Em breve o dia chegaria ao fim e Chloe cairia no sono exausta de tanto brincar, mas o que ficou comigo foi um sentimento profundo de satisfação. A felicidade não estava nos grandes momentos ou nas palavras ditas. Ela estava nas pequenas ações, nas trocas silenciosas entre Edward e eu, nos olhos de Chloe, que, sem saber, estava unindo ainda mais nossas vidas.

Depois de colocarmos Chloe na cama, eu e Edward voltamos para a varanda do quarto dele e deitamos juntos no sofá, com um cobertor sobre nós. Dali, era possível ver o céu e todas as estrelas daquela noite. O silêncio que se seguiu foi confortável, sendo quebrado apenas pelos sons suaves do sono de Chloe, vindos da babá eletrônica. Eu sentia o calor do corpo dele ao meu lado, e, por um momento, isso foi tudo o que eu precisava.

— Foi um bom dia — Edward falou, sua voz baixa, quase como se estivesse falando consigo mesmo — Esses anos, sozinha, como foram?

Eu virei um pouco para ele, tentando ler seu rosto. Não sabia o que esperar dessa pergunta, mas, de alguma forma, senti que já estava pronta para responder.

— Foi... complicado, mas também bonito. Criar outra pessoa é muito bonito. Eu não mudaria nada, porque foi o que nos trouxe até aqui.

Edward ficou em silêncio por um momento, olhando para as estrelas, como se tentasse entender o que eu dizia.

— E quanto à gravidez? — ele perguntou, virando-se um pouco para me encarar — Como foi para você? Me conte tudo.

A pergunta era simples, mas eu sabia que ele queria entender cada detalhe, e até me surpreendeu que tivesse demorado tanto para perguntar. Eu ri meio sem jeito.

— Você quer saber sobre os enjoos, as mudanças no corpo ou os horários malucos que eu desenvolvi para comer de madrugada? — brinquei, sentindo um pouco de alívio ao ver um leve sorriso nos lábios dele.

Ele riu, e eu percebi que a conversa estava mais fácil do que eu imaginava.

— Todos os três, se possível — ele brincou de volta.

Eu balancei a cabeça, sorrindo, e comecei a contar sobre os momentos que mais marcaram aquele período. Falei das noites sem dormir, da ansiedade que crescia a cada exame, mas também de como tudo parecia mais claro e mais bonito depois que Chloe nasceu.

— O começo foi difícil, eu mal conseguia manter qualquer tipo de alimento no corpo. Então, eu basicamente dormia. O tempo todo. Com três meses, foi como se tivesse passado magicamente e nunca mais tive um único enjoo. Carlisle disse que é normal, mas eu acredito que foi depois de uma boa conversa que eu tive com o bebê.

Nós dois rimos com a última parte.

— Eu já amava Chloe mais que tudo, era como se meu coração fosse explodir a qualquer momento quando pensava nela. E então, quando ela nasceu, eu senti como se tivesse me tornado uma super heroína. Eu tinha conseguido passar por tudo aquilo, por ela, então eu seria capaz de qualquer coisa.

A lembrança do trabalho de parto, entretanto, não era tão boa. Eu senti um arrepio percorrer meu corpo inteiro quando lembrei da dor que parecia me queimar de dentro para fora, do desespero quando o equipamento que media os batimentos do coração de Chloe apitou uma vez e parou, e então eu a empurrei como se minha vida dependesse disso. Porque ali, naquele momento, dependia.

— Eu consigo sentir o mesmo terror quando penso naquele momento. Era como se todo ar não existisse mais e eu mal conseguisse pensar. Eu gritei, Edward, gritei o nome dela, implorei para que ela lutasse mais um pouco que eu estava lá esperando por ela — tentei respirar fundo para continuar falando, mas isso pareceu apenas trazer mais lembranças — Eu lembro de estar deitada e ver todas as enfermeiras se movendo muito rápido, mas meus olhos só conseguiam focar no monitor e naquele som que ameaçava levar tudo de mim. Cada segundo parecia uma eternidade. Eu queria tanto fechar os olhos e acordar em um lugar onde a realidade fosse mais suave, mas não podia. Chloe precisava de mim. Eu só conseguia pensar nisso: se eu não conseguisse reagir, eu perderia a perderia. E então, tudo estaria acabado.

Senti meu cabelo ficar úmido e percebi que Edward estava chorando, mas não parei de falar. Era estranhamente reconfortante finalmente dividir tantos detalhes daquela noite com alguém. Alice esteve lá comigo, mas ela não sabia de tudo. Talvez eu, inconscientemente, tivesse esperado por ele para colocar tudo para fora.

— Quando os batimentos dela retornaram, foi como um milagre. Eu me agarrei à aquele som como se fossem uma resposta e uma promessa de que nós estaríamos juntas em todos os segundos dali em diante. Mas naquele momento, entre a dor e o pavor de perdê-la, eu não queria mais nada. Só queria ela nos meus braços, respirando, viva e perfeita.

Edward me abraçou mais apertado, e eu continuei falando. Ele tinha que saber, ele merecia saber com a maior riqueza de detalhes que eu conseguisse contar.

— Quando Chloe finalmente nasceu, o choro alto dela foi o melhor som que eu já ouvi. O alívio foi avassalador. Era como se eu estivesse me afogando em uma água densa e de repente fosse puxada para a superfície, onde o ar fresco e puro entrou com força nos meus pulmões. Ela veio para o meu colo e se acalmou imediatamente, como se me reconhecesse. Eu tentava vê-la, queria guardar cada detalhe, mas não conseguia porque continuava chorando — eu ri e limpei as lágrimas que escorriam livremente agora — Carlisle a levou por um momento para os exames e quando trouxe de volta eu toquei, explorei cada pedacinho do seu rosto, contei seus dedinhos minúsculos, e ali, naquele momento, tudo o que eu havia temido desapareceu. Cada segundo de sofrimento, de dor, de medo, foi apagado pela certeza de que ela estava ali. Ela era minha. Ela estava viva. E o melhor de tudo: ela estava bem.

Eu tirei o cobertor de cima de mim, de repente tudo tinha ficado muito quente e eu precisava de ar. Edward me seguiu, ainda em silêncio. Nós dois estávamos nos encarando agora, e seus olhos carregavam uma dor tão grande que eu quis arrancá-la de lá com minhas próprias mãos. Decidi finalizar o relato, ele já tinha tido muito por um dia.

— E então, eu a coloquei contra meu peito, sentindo o calor da sua pele, seu pequeno corpo contra o meu. Era uma sensação tão indescritível, como se meu coração tivesse finalmente encontrado um lugar. Ela estava ali, nos meus braços, e tudo o que eu sentia era gratidão. A ansiedade, o medo, a luta... tudo se dissipou como neblina diante do sol. Nada mais parecia importante.

Edward não disse nada no começo, apenas ficou ali, olhando para mim, como se tentasse encontrar uma resposta. A angústia estava em seus olhos, na forma como ele respirava, e seu rosto estava marcado pela dor. Ele abaixou a cabeça como se estivesse tentando conter a avalanche de emoções que se acumulavam.

— Eu nunca vou conseguir compensar isso. Posso cobrir as duas de tudo que há de material no mundo, mas eu não estive lá quando vocês mais precisaram. Bella, e se algo tivesse acontecido? E se nossa filha não estivesse aqui? — sua voz saiu baixa. Ele se aproximou devagar, com cuidado, como se eu fosse algo frágil demais. Suas mãos tocaram suavemente o meu rosto, e eu senti a intensidade do olhar dele, a dor refletida ali, a culpa — Eu... eu deveria ter estado lá. Eu sei disso. Eu... não consigo nem imaginar o que você passou.

Eu balancei a cabeça. Eu vi o esforço dele em não ceder àquela dor que ele sentia por não ter podido me apoiar naquele momento tão crucial, mas eu também sabia que ele estava ali agora, ao meu lado.

— Edward, você não pode viver com isso — falei suavemente, com a voz cheia de carinho — Não é sua culpa. Você não sabia. E eu nunca quis que você se sentisse assim. Não foi por isso que contei.

Ele olhou para mim, os olhos tão cheios de arrependimento e dor que me cortou o peito. Eu sabia que ele carregava esse peso consigo, mas a culpa dele não podia ser a base de nossa nova história. Precisávamos construir isso juntos, sem os fantasmas do passado nos atormentando.

— Não consigo deixar de pensar em tudo que perdi.

— Vamos olhar para frente — pedi — Tivemos um dia incrível aqui. Não é tarde, Edward. Nunca é tarde quando se quer algo de verdade.

Ele apertou minha mão, e, por um momento, o silêncio era a única coisa que ouvíamos. Não um silêncio pesado, mas aquele tipo de silêncio confortável que só acontece quando duas almas estão em sintonia. Um silêncio que diz sem precisar de palavras. Eu sabia que algo mais estava por vir, uma pergunta que ele talvez não estivesse pronto para fazer, mas que precisava ser feita.

— Bella, tem algo que eu gostaria de saber… — ele começou, a voz suave, mas carregada de uma tensão que não pude ignorar — Durante todo esse tempo... você... se relacionou com alguém?

As palavras dele me pegaram de surpresa, e eu senti uma leve onda de nervosismo percorrer minha espinha. Sabia que ele tinha direito de perguntar, e, por mais que não quisesse reviver tudo o que aconteceu, era algo que precisávamos enfrentar. Olhei para ele, tentando medir a intensidade do seu olhar.

— Sim. Nada sério. Eu nunca quis trazer um substituto para a vida de Chloe, então, não passou de diversão.

Ele não precisava saber dos detalhes, não agora. Eu tentei sair com alguns velhos conhecidos, mas nada passava de casual, então eu desisti.

— E você, Edward? — perguntei, decidindo inverter a situação, já que ele tinha sido tão aberto — Durante todos esses anos, você... esteve com alguém?

Ele hesitou, antes de dar uma risada suave, como se fosse um pouco constrangedor para ele falar sobre isso.

— Não. Não da maneira que você está pensando — ele disse, um pouco mais sério — Houve algumas pessoas, sim, na maioria casos de uma noite, mas nenhuma delas sequer chegou perto de você. Eu sempre soube, no fundo, que minha vida sem você não faria sentido. Queria acreditar que não tinha acabado.

Eu sorri ao ouvir isso, tocando suavemente seu rosto. Era claro que ele ainda sentia a mesma intensidade, mesmo depois de tantos anos. Como se tudo o que ele passasse por aqueles tempos tivesse sido apenas uma tentativa frustrada de preencher um vazio. Um vazio que, para ambos, só poderia ser preenchido um pelo outro.

Nós ficamos ali por muito tempo, até que o vento se tornou muito frio. Então, voltamos para dentro. Eu chequei o monitor de Chloe mais uma vez antes de deitar e deixei que o cansaço do dia levasse meu corpo para um sono tranquilo. A última coisa que ouvi antes de adormecer foi a voz de Edward sussurrando no meu ouvido: feliz aniversário, Bella.

Talvez fosse isso que fazer aniversário significasse, no final das contas: a chance de um recomeço.