TOQUE

Amálgama

A escuridão era a sua companheira, era parte de si, era ele… quase por inteiro.

Quando a guerra acabou, seus objetivos também haviam acabado junto com ela. Por anos, o que movia Sasuke era o ódio, o desejo de vingança, mas assim que suas ações haviam se concretizado, tudo o que restou depois foi apenas o nada.

De certa forma ele nunca teve objetivos, ambições… não sabia nada sobre o lado bom da vida, sobre as trivialidades dos jovens da sua idade. Sasuke não tinha preferências. Essa parte da sua vida lhe fora roubada. Sem educação, era completamente alheio aos bons modos.

Ele não tinha qualidades e não via qualidades em ninguém.

Só detinha conhecimento da natureza humana, em especial o seu lado mais sombrio.

Quando suas ações eram guiadas pelo ódio, era mais fácil viver. Desde o momento em que não possuía mais isso, se tornou uma carcaça vazia perambulando por aí.

Era o que Sasuke queria acreditar.

Na verdade, os dias estavam sendo insuportáveis, se arrastando infinitamente que ele já havia perdido a conta. Na prisão, num cubículo fétido dividido com outros detentos, o Uchiha descobriu que não há nada glorioso em se rebelar.

Agora, seu destino era ditado e controlado por terceiros. E ele sequer podia fazer algo a respeito disso.

Assim que o decreto de Kakashi foi anunciado, houve um motim por parte dos aldeões. A maioria esmagadora queria a pena de morte como condenação aos seus crimes. Todos faziam questão de mostrar a sua revolta por ter novamente o Uchiha morando na vila.

"O sangue do seu clã mancha suas mãos para sempre."

Pintado em vermelho carmesim no muro do distrito.

A tinta vivida na parede era um constante lembrete do seu fardo. Sasuke enterrou a cabeça entre as pernas, forçando as mãos contra seus canais auditivos, em vão. Era como se as vozes fizessem parte dele, corroendo seu ser. Os gritos, os insultos eram combustível para a raiva crescente dentro dele, que ameaçava consumi-lo.

Mas Sasuke não era um monstro.

Era um sobrevivente, marcado pela tragédia e moldado pela vingança.

Mas essas palavras gravadas no muro também eram um mantra irrefutável no seu coração.

A cada dia, porém, a humilhação se intensificava, transformando se em um tortura meticulosamente orquestrada pelos aldeões. Sasuke se sentia pesado, como se estivesse afundando em um mar de desespero, incapaz de subir à superfície.

Há muito tempo não sabia o que era dormir. Em seus momentos de lucidez, ele se perguntava se merecia mesmo a sua segunda chance. O Uchiha sentia como se não existisse mais. Estivera sempre preso pelas correntes da culpa, e estas não estavam dispostas a libertá-lo.

Seria mais fácil desistir.

De tudo.

Deitar, somente isso, e o tempo se encarrega do resto.

A porta do quarto se abriu com um leve rangido, e a silhueta de Hinata surgiu na penumbra do cômodo. Ela entrou, tão silenciosa como um felino, temendo perturbar a quietude do momento. Seus olhos perolados, ternos e gentis encontraram os confusos de Sasuke, e um breve momento de reconhecimento se estabeleceu.

Hinata abriu a cortina, somente o suficiente para que conseguisse distinguir o moreno no breu daquele quarto e se aproximou da beirada da cama, tentando vencer a timidez e iniciar uma conversa. A luz do sol da manhã que entrava pela brecha das cortinas, iluminava o rosto da Hyūga. Sasuke não sabia a razão, mas estar perto dela fazia o caos da sua mente se dissipar.

Sua presença mordaz era capaz de afrouxar as correntes da culpa, e lhe permitira respirar direito pela primeira vez depois de um longo tempo.

— Uchiha-san, eu fiz nosso café da manhã… Gostaria de me acompanhar?

A mão direita estava estendida em um convite despretensioso. Sasuke, com suas ônix apáticas observou a mão estendida, a palma aberta, delicada, convidando-o para ser sua companhia. O peso do seu coração parece recuar diante daquele ato.

Sasuke hesitou no primeiro instante, a negação pairando sobre ele. No entanto, ao olhar para os orbes lilases perfeitamente iluminados pelo sol das sete horas, ele lentamente estendeu a própria mão, os dedos tocando a palma macia que o convidava a se retirar do recinto.

Antes de sair do quarto, o Uchiha havia notado o pequeno origami de tsuru feito de papel rosa, posto no canto da escrivaninha, o transportou para momentos com seu irmão mais velho. Itachi era habilidoso até com origamis de papel, e fazia vários para seu irmãozinho mais novo. Lembrar dele era como um eco distante e amargo. Quis até rir com a sua agridoce memória.

O tsuru, perfeitamente dobrado, era um lembrete pequeno da redenção que ele tanto almejava.

Sasuke seguiu Hinata, o aroma do café da manhã era um agradável convite que os guiava para fora do quarto, mas o tsuru ainda permanecia em sua mente.

Antes de fechar a porta, Sasuke deu uma última olhada no origami de papel, que deveria ser branco, mas era rosa.

Era um eco silencioso de Hinata, e uma reminiscência distante de Itachi.

0o0o

— A casa caiu, maluco.

Ino e Chouji estavam sentados em um dos banquinhos da praça principal da Aldeia da folha, observando cada esposa em potencial para Shikamaru. A tarefa se mostrou mais difícil do que Ino previra, um suspiro frustrado escapou dos lábios pintados de carmesim.

— É como procurar uma agulha no palheiro, Ino. Seria melhor se….

— Nem pense em terminar essa frase, Chouji Akimichi! — A loira o interrompeu, um brilho de determinação faiscava em seus olhos. — Nós prometemos ao Shikamaru. E você sabe como eu sou quando não consigo o que eu quero, não sabe?

O Akimichi comeu mais uma porção das suas batatinhas e meneou a cabeça, lembrando de quando eram crianças e Ino havia surtado para conseguir a liderança da equipe.

De fato, a loira sempre dava um jeito de conseguir o que queria.

E a sua determinação encorajava seus parceiros de time.

— Que horas é a reunião com o conselho do Clã?

— É hoje, depois do pôr do sol.

Ao relembrar aquilo, a Yamanaka comprimiu os lábios e se afundou ainda mais no banco de madeira. Ainda tinha em mãos as anotações no guardanapo que fizera sobre os requisitos da escolhida. Levantou mais uma vez o papel, notando que ficava quase transparente por causa da claridade.

— Forte. Educada. Gentil… são realmente as características que estamos procurando?

O Akimichi franziu a testa.

— Como assim?

— Como saberemos que a escolhida possui tais características? Sejamos sinceros, Aki… não conseguimos ler os corações das pessoas. Às vezes convivemos com uma pessoa por anos e só descobrimos quem ela realmente é quando acontece algo catastrófico. Muitas vezes nos enganamos com as aparências. É como dizem, né. Por fora bela viola…

— Por dentro, pão bolorento. — Ino riu quando ouviu a frase ser completada. — Mas, sabe de uma coisa, Ino. Eu acredito que as pessoas dão sinais, sabe? Ninguém veste uma máscara o tempo todo. Os pequenos deslizes estão lá, mas muitas vezes somos nós mesmos quem não queremos enxergar.

— Você tem razão. — sorriu ternamente. — Chouji, a propósito. Quais características você quer que a sua futura esposa tenha?

Houve um breve silêncio antes da resposta.

— Eu acho que concordo com Shikamaru em vários desses aspectos que ele pontuou. Sabe, Ino. Assim como uma comida precisa ter uma combinação de ingredientes, experiência e paciência para ficar gostosa, um casamento precisa de algo parecido.

A loira assentiu e ele continuou.

— Quero alguém bondosa, como um ensopado de porco em dias chuvosos. As palavras bondosas podem destruir muralhas e aquecer nos dias mais escuros. Quero amar alguém que me faça querer sempre ser melhor, entende? Um bom lámen tem diversos sabores e diversos modos de preparo, e a cada dia alguém inventa mais. Eu quero não só uma pessoa que se reinvente sempre dentro do nosso relacionamento, mas quero fazer isso por ela também.

— Eu achava que vocês homens só reparavam no corpo das mulheres. — eles riram.

— Muitos fazem isso. Mas não são todos.

— Bem. — Olhou pela milésima vez as anotações — Essas características são o completo oposto da Temari, não acha?

— Eu só falo na presença do Hokage. — Ino revirou os olhos e aproveitou a deixa para roubar algumas batatinhas.

— Por qual razão ele não cogitou a princesa de Suna?

— Medo da rejeição, talvez os contras pesaram na balança ou pode ser que o relacionamento dos dois estava mau das pernas. Na verdade eu não sei se poderia chamar aquilo de relacionamento, era um caso indefinido.

— Shikamaru não facilita a vida dos outros.

— Eu concordo.

Em um acesso de raiva repentina, Ino gritou e esperneou, assustando quem passava ao redor.

— Eu preferia ter aceitado uma missão Rank-S.

Bufou irritada enquanto o amigo ao seu lado se limitava a rir de sua impaciência. A Yamanaka passou a mão nervosamente pelas madeixas loiras e fixou suas irís aquamarine num ponto distante.

Em um girassol.

— Forte. Educada. Gentil… — ela murmurou, como se estivesse saindo de um transe, os olhos fixos no girassol que balançava suavemente com a brisa. — Paciente. Solícita. Como eu não havia pensado nisso antes!

Chouji a observava, curioso com o sorriso maquiavélico que se formava na face delicada da amiga.

— Ino, você está bem? Está aí olhando para o nada e falando sozinha.

— Não estou falando sozinha, Chouji. Estou descrevendo a Hinata. — Ino virou-se para o amigo com um brilho intenso nos olhos.

— A Hinata?! Ino, esse sol está fritando os seus miolos. Ela é a pessoa mais sensata dessa vila. Nós não podemos arrastá-la para essa confusão de casamento arranjado!

— Mas é justamente por isso que precisamos dela, Chouji! Hinata é a pessoa perfeita para lidar com Shikamaru.

— Certo. Supondo que seu plano dê certo. Quem garante que a Hinata vai aceitar essa ideia de maluco?!

— Simples. Ela nunca deixa um amigo na mão. E qualquer coisa podemos apelar para os seus sentimentos. Contaremos tudo o que está se passando no Clã Nara.

Agora foi a vez de Chouji bagunçar os fios castanhos.

— É um tiro no escuro.

— Precisamos fazer isso, pelo nosso amigo. Muitas coisas estão em jogo. E tem que ser o mais rápido possível.

E como se o destino estivesse a favor dos dois jovens, a Hyuga apareceu em seus campos de visão.

— Shikamaru vai fazer picadinho da gente quando descobrir.

o0o0

— É o quê?!

Hinata se sobressaltou, seus olhos perolados quase pulando para fora das cavidades oculares. A morena alternava seu olhar entre Ino e Chouji, como se estivesse vendo um fantasma. Ela engasgou com a própria saliva, tossindo freneticamente enquanto tentava processar a informação.

— Ai! Tá vendo o que você fez, Ino? Por nossa culpa, Hinata está passando mal! — Chouji ralhou, batendo nas costas da amiga com força excessiva, fazendo-a tossir ainda mais.

— Eu?! A culpada de tudo sou eu agora? — A Yamanaka se defendeu, cruzando os braços e transformando a face em uma carranca.

— Um casamento arranjado…

— É isso mesmo, gatinha. Voltamos aos tempos antigos. — Ino repetiu, sua voz transparecendo urgência e um toque de pesar. — Shikamaru não tem muito tempo.

— O que acontece se ele não se casar? — Hinata perguntou temendo a resposta.

— Se ele não se casar… a liderança do Clã Nara vai para uma outra pessoa — Chouji explicou, com um tom de voz grave — E digamos que essa pessoa não seja exatamente um exemplo de líder.

— Chouji está amenizando as palavras. — Ino continuou, com um ar de preocupação — A verdade é que Yashiro é sem escrúpulos, ganancioso. Ele usará seu filho Ishida, que já é casado, para tomar posse do Clã Nara.

Hinata arregalou os olhos, aturdida com a revelação. Ela sabia que Shikamaru andava com problemas, mas jamais imaginou que seriam dessa magnitude.

— A reunião com o conselho de Anciãos será hoje depois do pôr do sol — a loira comentou, em uma última tentativa de convencer a Hyuga a embarcar naquele plano. — Nossa última cartada é um namoro falso. Shikamaru em um relacionamento já estará em vantagem. Claro… nada será decidido hoje, eu acho, mas talvez seja a única chance que teremos, uma vez que mais ninguém conhece nosso plano e não há como sabotá-lo.

— Um namoro falso… — Hinata repetiu, a ideia ainda soava amarga em sua boca. — Como isso ajudaria?

— Tradições do Clã. Um homem adquirir tamanha responsabilidade sem estar… ajeitado na vida, por assim dizer, é visto com maus olhos pelos anciãos e pelas pessoas no geral. Isso impacta bastante nos tratados com outros, Shikamaru pode até mesmo perder o respeito pela sua autoridade. — Ino gesticulava nervosamente com as mãos — Uma esposa calaria a boca desses imprestáveis.

— E por que eu? Tem tantas outras garotas mais qualificadas.

— Você é a garota perfeita, Hina. — Ino respondeu — Pra qualquer pessoa.

— A sua reputação e os seus modos são impecáveis. — Chouji lançou um sorriso gentil — Você é uma pessoa tranquila, e além disso é amiga do Shikamaru, vocês terão poucos ou quase nenhum conflito por causa da personalidade. Os anciãos certamente veriam com bons olhos essa união.

— Mas, e se descobrirem sobre a nossa farsa? — nervosa, a morena começara a suar, as pernas se mexiam freneticamente e os dedos já estavam quase ficando sem unhas

— Não vão descobrir. — assegurou a Yamanaka — Eu garanto.

— Ainda assim, pessoal… E-eu não sei se consigo fazer isso.

— Hinata — Chouji a chamou — Nós entendemos que é uma decisão muito difícil. Eu peço desculpas pelo modo como essa situação foi apresentada à você, não era, e nunca foi a nossa intenção assustar você.

A Hyūga suspirou pesadamente, sentindo o peso do mundo em seus ombros. Sabia que Shikamaru precisava de ajuda, e não seria ela quem iria negar.

— Bom, só nos resta agora falar com o senhor Hiashi. Alguém sabe rezar?

— Vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara!

Yoshino que estava bebericando seu chá, quase engasgou com a revelação da dupla dinâmica. Um misto de felicidade e pânico eram visíveis nas faces já marcadas pelo tempo da senhora Nara. Sentada no sofá da residência, a mulher tomava seu chá na tentativa de organizar as ideias enquanto fitava os três jovens desmiolados.

— Senhora Yoshino, é sério. — Ino argumentou, aflita — Casar os dois é a solução mais cabível no momento.

— E condenar a pobre Hinata a aturar meu filho? — Yoshino tentou negar o pedido, em vão — A coitadinha vai começar a tricotar uma camisa de força para Shikamaru depois de uma semana de convivência.

Os três caíram na gargalhada enquanto Hinata se encolheu ainda mais no sofá.

— Eu conheço as tradições do Clã Hyūga. Acham que isso tem alguma chance de dar certo? — questionou cética quanto ao plano muito bem elaborado dos três. Ino coçou a cabeça.

— Eu acho que devíamos tentar. Mas para isso precisamos da sua ajuda. — a loira olhou para o relógio de parede que marcava meio dia. — Tente conversar com o senhor Hiashi. A Hinata já aceitou o nosso plano.

A mulher depositou a xícara de chá no centro da mesa, se dando por vencida.

— Vocês são muito determinados.

O exótico grupo andava pelas ruas de Konoha, o Sol já não dava mais o ar da sua graça. Yoshino pela primeira vez em tempos estava conseguindo respirar e contemplar o presente. Estivera tão preocupada com os assuntos do Clã que há muito tempo não conseguia mais dormir direito. Seus pensamentos se resumiam a um mar de preocupações. Caminhando ao lado dos companheiros de time do filho, a mulher percebeu o laço forte daqueles jovens. A primogênita dos Hyūga foi na frente preparar o pai, e voltara para a sua missão. Yoshino se viu curiosa.

— Por quê a Hyūga?

Ino que estava distraída conversando com Chouji, voltou sua atenção para a Nara. Estendeu o braço com o guardanapo cheio de anotações. A mais velha logo compreendeu.

— Muitas exigências, né?

Assentiram.

A entrada do clã Hyuga já podia ser vista. Embora não admitisse, a Nara ficou encantada com a fachada impecável do distrito. Era suntuoso. A mulher já podia sentir a tensão aumentando a cada passo dado. Hiashi já os aguardava na entrada do distrito. Quando seus olhares se cruzaram, ela sentiu um tremor percorrer sua espinha.

— Olá, senhora Yoshino Nara. Por favor, siga-me.

O Sol tornará a se abrir, lançando longas sombras sobre o terraço da casa principal. Tudo era lindo, mas tinha um ar frígido, opressor. O caminho até a sala fora silencioso. Ao olhar para trás, notou as suas crianças esperando no terraço. Todos os três compartilhavam a mesma feição aflita.

Yoshino inspirou profundamente, ajustando a postura, entrou nos aposentos do patriarca e agarrou firmemente o tecido do vestido quando ouviu a porta se fechar.

O momento de encarar o austero Hyūga havia chegado, e a tarefa de persuadi-lo a aceitar uma aliança matrimonial que certamente levantaria muitas sobrancelhas se anunciava desafiadora.

0o0o

A sala de reuniões do Clã Nara parecia menor a cada milésimo de segundo. Seu coração batia em um nível frenético que ele tentava controlar com técnicas de respiração.

— Pronto para hoje, Shikamaru?

O moreno ergueu o olhar somente para ter o desprazer de encontrá-lo ali. Ishida Nara o encarava com desdém, tocando propositadamente na aliança, sendo a coisa que mais brilhava naquele salão de reuniões. Ao lado dele estava sua esposa, Emi, uma mulherzinha igualmente insuportável. Olhar para ela dava ânsia de vômito. Os dois realmente se merecem.

— Mais do que nunca, Ishida.

A suposição de que o conselheiro do Hokage fosse sair vitorioso irritou o outro Nara, que fechou o seu semblante e levou a sua mulher para longe daqui.

— Vai pro inferno, demônio.

Um suspiro preso em sua garganta lutava para sair. Shikamaru naquele momento era como uma peça de Shogi encurralada, sem movimentos óbvios e com inúmeras ameaças o cercando. A ideia de ter que justificar sua solteirice e seu futuro ser assunto de pauta para decisões de outrem lhe causava um nó no estômago. Odiava ter sua vida controlada por terceiros. O moreno estava começando a ficar desesperado, seus amigos e sua mãe sumiram por um dia todo, preocupou-se pensando em que tipo de confusão os três devem ter arrumado.

Quando a porta deslizou, anunciando a chegada do último membro do conselho, um calafrio percorreu todo o corpo de Shikamaru. Era o começo da guerra. O moreno tentou endireitar a postura, forçando uma expressão de serenidade que não sentia. Ele só conseguia torcer, em algum canto remoto de seu cérebro, para que a improvável missão do trio tivesse algum tipo de êxito, por mais maluca que fosse. Qualquer coisa era melhor do que enfrentar o escrutínio cortante e as expectativas sufocantes daquela sala.

— A reunião vai começar.

Um dos anciãos com a voz rouca e firme, quebrou o silêncio.

— Shikamaru Nara, está reunião está sendo realizada para discutir a questão da liderança do clã. Como você sabe, a tradição exige que o líder tenha um lar estabelecido, uma esposa e uma família para dar continuidade a linhagem.

O peso das palavras dos conselheiros caiu sobre o garoto como uma avalanche de pedras. A tensão em seus músculos se tornou palpável, os dedos agora cerrados em punhos discretos sob a mesa baixa

— Com todo o respeito, anciãos — Shikamaru começou, a voz mais firme do que o habitual, — A liderança de um clã não deve se basear unicamente no estado civil. Há questões de intelecto, estratégia…

— Qualidades que você possui, Shikamaru, nós reconhecemos — interrompeu Akito, um dos conselheiros mais velhos, a voz rouca e inflexível — mas a tradição é clara. Um líder deve ter um lar estabelecido, uma família para dar continuidade ao clã. Ishida Nara já possui ambos. Você, por outro lado…

Shikamaru engoliu em seco, sentindo o peso das palavras do ancião.

— Com todo o respeito, Shikamaru, tradições são tradições — Akira, outro conselheiro retrucou, a voz carregada de impaciência. — Não podemos simplesmente ignorar o que foi estabelecido por nossos ancestrais.

— Mas as tradições evoluem, não? — Shikamaru argumentou, tentando manter a calma. — Olhem para o nosso clã. Não somos mais os mesmos de cem anos atrás. Precisamos nos adaptar aos novos tempos.

— Adaptação não significa abandonar nossos valores — insistiu outro ancião, o olhar fixo em Shikamaru. — Um líder sem uma família é como uma árvore sem raízes, incapaz de resistir às tempestades.

Ele sentiu a irritação crescer. O moreno estava em desvantagem e sabia disso, mas não iria entregar os pontos tão facilmente.

— E um líder com uma família, mas sem caráter, é como uma árvore com raízes podres, que só trará ruína ao clã — rebateu, a voz carregada de sarcasmo. Ops, caíra na armadilha.

Um murmúrio de desaprovação percorreu o conselho, e os anciãos lançaram-lhe um olhar de advertência.

— Shikamaru, controle sua língua — Akira advertiu , a voz baixa, mas firme. — Estamos aqui para discutir o futuro do clã, não para insultar nossos membros.

— Eu só estou tentando dizer que... — ele começou, mas foi interrompido por Tatsu.

— Chega de discussões, Shikamaru! — o ancião interviu. — Não vamos mais adiar nada. A decisão está tomada. Ishida será o próximo líder do nosso clã.

Shikamaru sentiu um nó se formar em sua garganta. Ele não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Ele havia falhado.

— Mas... — ele tentou protestar, mas foi interrompido novamente.

— Não há "mas", Shikamaru — Akira o cortou — A tradição fala mais alto.

A tensão na sala de reuniões do clã Nara era quase palpável, as palavras dos anciãos ecoando como um ultimato. Shikamaru sentia o chão se abrir sob seus pés, a iminente perda da liderança para aquele cretino pesando em seus ombros.

Ishida lhe lançara um sorriso vitorioso.

Precisava agir, e rápido.

— Esperem! — Shikamaru exclamou, interrompendo o discurso do ancião. — Há algo que vocês precisam saber.

Os olhares se voltaram para ele, curiosos e desconfiados.

— O que quer dizer, Shikamaru? — questionou um dos anciãos, a voz carregada de impaciência.

— Eu... eu tenho alguém. — Shikamaru blefou, as palavras saindo quase como uma súplica.

A sala se transformou em um alvoroço. Rostos antes impassíveis agora exibiam uma mistura de surpresa e curiosidade.

— Alguém? — repetiu outro ancião, arqueando uma sobrancelha. A voz carregada de incredulidade — E por que não nos informou sobre isso?

Shikamaru engoliu em seco.

— É recente. Ainda não tínhamos decidido tornar público. — mentiu.

— Quem é a felizarda? — insistiu Miyagi — Vamos, diga! Precisamos saber.

Shikamaru começou a sentir as batidas do seu coração ainda mais fortes. Ele estava sem saída. Sua mente trabalhava a mil, tentando desesperadamente criar uma imagem convincente da tal namorada.

— Ela é... — ele começou, mas a voz falhou. — Ela é…

Não havia uma "ela". Sua mente estava completamente em branco como um pergaminho. Ele abriu a boca para tentar inventar algo, qualquer coisa que pudesse tirá-lo daquela situação.

Foi então que porta deslizante da sala de reuniões se abriu com um rangido suave.

A sala ficou em silêncio, todos os olhares fixos em Hinata. Shikamaru, ainda em choque, olhou para ela, depois para Ino e Chōji, e finalmente para sua mãe, Yoshino, que estava logo atrás, com um sorriso travesso nos lábios.

Hinata, com um rubor suave nas bochechas, caminhou timidamente até o centro da sala, parando ao lado de Ino e Chōji.

— Senhores do conselho — Yoshino anunciou, a voz firme e austera — Permitam-me apresentar a namorada de Shikamaru: Hinata Hyūga.

NOTAS DA AUTORA:

Olá, cheirosas!

Tudo bem com vocês?!

Como prometido, aqui está o capítulo. Gostaram? Aguardo os comentários e surtos de vocês!!!

Ps: Estou fazendo uma playlist da fanfic no spotify e no youtube.