Nesta realidade, a felicidade pareceu estar fora de alcance. Harry, visto como um herói por muitos, encontrou seu fim nas mãos do temido Voldemort, aquele que não pode ser nomeado. A perda de Harry foi um golpe avassalador para o mundo bruxo, deixando todos que o admiravam e amavam mergulhados na tristeza, com apenas memórias felizes para recordar. O anúncio de sua morte pelas palavras de Voldemort foi como uma facada quente no coração de todos. No entanto, sua morte não poderia ser em vão. Neville se ergueu como o escolhido e enfrentou a serpente Nagini com a Espada de Gryffindor, mas infelizmente foi arremessado e ficou inconsciente por um tempo.

Voldemort aproveitou a oportunidade para lançar um último feitiço poderoso, tão devastador que destruiu cada pedaço do castelo. Pedras de concreto desabaram sobre as pessoas que ali estavam, incluindo o Senhor Weasley. Comensais da morte atacaram brutalmente alguns alunos e professores que se encontravam em seus caminhos. Mortes e sangue manchavam o chão, e não havia mais nada a ser feito; Voldemort havia vencido a guerra, e a única opção era fugir. A Sra. Weasley segurou a mão de Gina, que estava consumida pela tristeza, mas não pôde confortá-la nesse momento. Ela também agarrou a mão de Rony, e eu segurei a outra mão de Rony. Juntos aparatamos para longe, tão longe que jamais seríamos encontrados por bruxos novamente. Foi o que pensei.

Atualmente/

Sobre mim, Hermione Granger, moro com Rony Weasley em uma cabana dentro de uma floresta próxima de Oxford. Já fazem dois anos que estamos morando juntos, e não posso dizer que nossa relação é das melhores; na verdade, estamos enfrentando muitos desafios devido às marcas do passado que ainda me assombram. Vivemos uma vida humilde atualmente, como trouxas, sem poder usar magia ou mencionar qualquer coisa relacionada ao mundo bruxo. Passamos de uma vida cheia de mortes e problemas para uma existência pacífica. Hoje em dia, nosso único problema é o dinheiro e o meu trabalho no museu.

É uma manhã de sábado e estou deitada na cama, lutando para abrir os olhos. Sinto a cama balançar e afundar ao mesmo tempo, então finalmente consigo abrir os olhos. Giro meu corpo rapidamente para repreender Rony, mas vejo que ele segura um grande buquê de flores rosas e frescas em suas mãos, como se tivessem sido colhidas há pouco tempo. Não sei como reagir a essa surpresa, mas acho que devo agir de forma positiva; afinal, é nosso aniversário de namoro.

— São lindas! Mas, por quê? —digo confusa e agradecida ao mesmo tempo.

— Hermione, não lembra? Nosso aniversário é hoje. Achei que um presente deixaria seu dia melhor! —ele responde, com um sorriso enorme no rosto. — Eu sei que você gostou, sou bom em impressionar! Pegue!

Relutei em pegar as flores. Ao cheirá-las, reconheci imediatamente um aroma que não me enganaria: magia. Desde o fim da guerra bruxa, desenvolvi uma aversão à magia, e Rony e eu prometemos um ao outro nunca mais usá-la. Ele definitivamente quebrou essa promessa, o que me deixou chateada.

— Ron, eu não posso acreditar que você usou magia para conseguir essas flores! —despejo minhas frustrações enquanto me levanto da cama, vendo mais uma briga se formar e sem conseguir parar.

— Não vamos começar de novo, não é? Eu só queria ser gentil e te entregar flores bonitas, e não encontrei nenhuma na cidade que combinasse com você.

— Você quebrou nosso juramento, nada disso importa. Magia matou nossos amigos, magia matou seu pai, seu irmão...Harry!

Sinto meus olhos encherem de lágrimas enquanto Rony me encara desapontado. Ele suspira e se aproxima de mim.

— Está sendo difícil para mim também, Hermione. Você pode pensar que não, mas não podemos negar quem somos. Somos bruxos! Você pode viver tranquilamente fingindo ser uma trouxa, mas eu não consigo!

— Por que é tão difícil para você, Rony? —pergunto em voz alta e estridente.

— Por quê? Nunca passei um segundo sequer da minha vida sem magia. Tudo ao meu redor era magia, até o meu maldito relógio funcionava com magia. Eu aguentei até demais por você! —ele se vira de costas para mim, e cabisbaixo, e começa a se dirigir para a porta.

— A onde você vai? —pergunto preocupada, e com lágrimas descendo em meu rosto.

— Em algum lugar. —Rony quebra nosso contato visual e vira as costas para mim. —Feliz 2 anos, Hermione! —ele bate a porta com força.

Me sento novamente na cama e desabo em lágrimas como uma criança necessitando de conforto. Derrubo o buquê de flores pelo chão e sinto meus pulmões forçando-se a se encher, já sabendo o que viria a seguir: uma falta de ar imensa trazendo desespero e medo. Eu estava em uma crise de ansiedade. Rony não estava mais presente para me socorrer desta vez, sou eu e apenas eu. Me levanto às pressas com a mão sobre o peito, lutando para respirar enquanto sigo em direção ao banheiro, cambaleando e me apoiando na pia enquanto tateio o armário até abri-lo com dificuldade. Alcanço meu remédio para ansiedade e, com mãos suadas de nervoso, finalmente consigo tomá-lo. Não consigo descrever o aperto que estava sentindo; apenas posso dizer que nem a magia seria capaz de fazê-lo desaparecer.

Que as coisas estavam difíceis para nós dois a cada dia, já não era mais segredo nenhum. Meu estresse e ansiedade se tornavam ainda mais frequentes. Eu não conseguia mais olhar para Rony como um parceiro romântico; quando o olhava, tudo que enxergava era meu passado marcado. Rony se tornara a personificação das lembranças para mim, das quais eu queria manter distância por um longo tempo, e eu não sabia como dizer isso a ele. Tardiamente, após ter dormido por três horas devido ao remédio, sigo fazendo meus afazeres pela cozinha, limpando os balcões e lavando minha própria louça. Jamais imaginei que teria uma vida normal novamente, como uma trouxa. Me pego lembrando dos meus pais, me pergunto como eles estão hoje e o que estão fazendo, se tiveram outro filho e se ele seria um bruxo como eu. Sorrio repentinamente enquanto penso em diversas teorias, mas também sinto uma pontada de saudade. Me perco em meus devaneios enquanto lavo uma faca ensaboada, e meu dedo desliza acidentalmente na lâmina, causando um corte raso. Não sinto nada, apenas percebo pelo tom avermelhado da água levando o sangue.

— Oh, não! —me afasto procurando por um pano nas proximidades. Seguro-o com força em minha mão e ouço a porta ranger; Rony chegou. Olho para trás com o pano enrolado em minha mão, o que o preocupa.

— O que é isso, Hermione? —ele vem rapidamente, envolvendo suas mãos nas minhas. — Caramba, não posso deixar você sozinha por algumas horas!

— Não trate isso como se fosse algo grave! —repuxo a mão, desvencilhando-me da dele. —Só foi um acidente com a faca, eu estava lavando louça. Aliás, onde você foi?

Rony se afasta e se senta na cadeira, apoiando-se em nossa mesa redonda de madeira.

— Fui ver a Gina, e mamãe fez uma comida gostosa que me segurou por lá. Eram coxas de frango, meus favoritos!

— Sério? E como está Gina? —mudo totalmente meu semblante enquanto me sento com Rony, lembrando-me de que preciso visitá-la. — Tenho que ir vê-la um dia desses!

— A mesma coisa de sempre. Ainda obcecada pelas fotos de Harry e incapaz de arranjar outro namorado! —Rony fazia piadas às vezes para amenizar, mas sabia que tudo isso ainda machucava Gina. Desde a perda de Harry, ela dormia com as fotos dele debaixo do travesseiro. — Não sei ainda o que fazer com ela, deveria fazer alguma coisa? Talvez levá-la para sair em festas trouxas.

Dou um sorriso imaginando Gina flertando com homens trouxas.

— Talvez, francamente, viver escondida naquela casa não está fazendo bem para ela!

— Jorge tem tentado animar Gina há um tempo, mas vida de casado, você sabe! —nos entreolhamos por alguns segundos, até perceber que também estávamos vivendo uma vida de "casados", e estava muito ruim.

— Vou ver o que posso fazer por ela, prometo. Mas agora preciso terminar de limpar a cozinha. —digo um pouco perdida no assunto.

Poucos segundos após me levantar, Rony me interrompe.

— C...com essa mão? Deixa que eu faço. —prontamente ele se opõe e rouba meu lugar na cozinha.

Observo-o secar os pratos, surpresa e um pouco entristecida, lutando contra meu remorso pelo dia ruim em nosso aniversário. Ele não se encaixava nos defeitos que eu colocava; ele era perfeito. Chego a um consenso comigo mesma de que o problema estava em mim. Precisava desse tempo o mais rápido possível antes de ser uma lembrança triste para ele. Rony não merecia alguém como eu, não na fase que estou passando pós-guerra.

Ao anoitecer, nos deitamos na cama virados de costas um para o outro, sem a presença de um beijo de boa noite. Não preciso dizer como anda nossa vida sexual. Está mais fria que o próprio Polo Norte. Tentamos às vezes nos aconchegar um no outro, mas o peso da balança sempre cai para o meu lado. É como beijar uma boca desconhecida. Às vezes, sinto falta do que sentia por ele em Hogwarts; era bonito e inocente, não carregado de traumas e lembranças. Esqueci o que é sentir-se apaixonada. E assim que deito em meu travesseiro, o que toma conta de minhas preocupações é saber como estão as pessoas que não vemos mais. O que aconteceu com o castelo de Hogwarts depois que Voldemort se apossou do mundo bruxo? Por onde andam Neville, Luna e... Draco?