Treino dos Clubes Esportivos – A viagem

Sonhos são estranhos. Nunca é possível lembrar como ele começou, que início ele tomou. Apenas quando se está no meio dele que é notável a estranheza, mesmo que fossem feitos de lembranças.

KARIN POV

Pelos corredores vazios do colégio, meus passos soavam altos, ecoando pelaacústica. Eu corria apressada tentandochegar no horário, mas sei que não tem como. Todo mundo já estava dentro das salas de aula, minha mochila sacolejava pela correria aumentando o barulho e meu nervosismo. Não tem como os professores não ouvirem, eu não queria receber uma chamada e me prejudicar no clube.

Droga... Por quêmesmo a Yuzu esqueceu isso? Agora estou atrasada. Takenata-sensei vai me matar! Depois de me arriscara ser pega por algum professor das outras salas, finalmente cheguei ao andar da minha classe. No meio do caminho tive uma sensação estranha, era como se já tivesse vivido esse dia, mas sacudi a cabeça. É só um pensamento bobo.

Ajeitei as pregas da minha saia azul e o lenço vermelho na gola, arrumando em seguida a bainha da minha blusa. O uniforme no estilo da marinha britânica era obrigatório e devia estar impecável. Detesto usar saia quando corro e hoje não pude vestir o shortinho por debaixo. Ainda bem que ninguém viu minha calcinha, ela com certeza apareceu no meio de tanta correria.

Recuperando melhor o fôlego, fui em direção à minha saladando uma ajeitada no cabelo ao empurrar umas mechas para atrás dasorelhas. Ele havia bagunçado, mas era fácil de ajeitar e além disso, deixava à vista os brincos de pérola. Tinha furado ontem os lóbulos das orelhas e ainda estavam doloridas. A dona da loja disse que ficava lindo meu rosto assim... Então, quando o Toushirou me ver... Ele, ele vai reparar, né?

Me estapeei mentalmente. Que isso, Karin? Ele é seu amigo! A-mi-go! E daí que g-gosto dele? Toushirou só me vê como amiga e por enquanto já está bom. Parei um pouco pra pensar. "Já está bom..." Segurei um sorriso ficando com vergonha ao seguir até a porta. Talvez mais tarde ele possa sentir algo amais por mim. Talvez...

Quando iria entrar na sala de aula, preparando mentalmente uma boa desculpa pelo atrasoescutei uma algazarra. A porta só estava aberta um pouco e mesmo assim tinha tanto barulho. Cadê o professor?Escutei melhor e me espantei. Espera... Isso são risos? O que estava acontecendo? Todos riam como se contassem uma grande piada. Uma onda de medo me varreu de repente e senti que não deveria entrar. Alias,que não deveria nem estar aqui perto da porta.

- Karin.

Hã?! Disseram meu nome? Por que estão dizendo meu nome?! O tom de riso e as gargalhadas me deixaram mais nervosa, o se... se eu tivesse algo haver com isso.

- Karin, levante-se! Vai se atrasar!

Ahn?

Me sentei de repente, sentindo tudo rodar e minha cabeça ardeude dor. Argh... Desorientada levei uns segundos ao notar que estava sentada na minha cama e relaxei um pouquinho. As formas embasadas do meu quarto só aumentaram essa dor de cabeça. Miopia era uma droga mesmo. Suspirando mais calma,tateei a mesinha ao lado da cama até achar meus óculos. De tanta coisa pra sonhar tinha que justoessedia?Minha vida já é um pesadelo, não precisava ter um enquanto dormia.

- KARIN!

- Já vou!

Minha mãe estava igual ao meu velho hoje, raramente ela gritava de manhã. Sonolenta, espiei a hora pelo celular e quase tive um infarto.

- Ai, meu Deus!

Vou chegar atrasada! Pulei da cama quase me enrolando no lençol e saí do quarto por pouco não trombando com alguém. Pelo cabelo ruivo era a Yuzu.

- Karin-chan, o papai disse que...

- Pede pra ele ligar o carro, Yuzu! Por favor!

- Mas ainda estamos de férias.

Mordi o lábio. É, mas eu não. Entrei no banheiro mal trancando a porta e arranquei o pijama entrando no box. Quase tomei banho de óculos e fiz minha higiene em tempo recorde. Sete minutos depois, corri de novo pro quarto ignorando minha irmã sentada na cama, assistindo meu desespero. Como usava um avental deduzi que perderia o café da manhã. Eu sou tão idiota.

- Já avisou o papai?

Droga, cadê a roupa que eu separei?

- Já. É hoje o dia daquela viagem né?

- Sim.

Puxei minha mala do chão jogando na cama. Ainda faltava guardar uns cadernos, sem eles eu estaria perdida.

- Yuzu, você viu...

Ela me estendeu minhas roupas e suspirei de alivio. Claro, ela tinha passado. Como já estava de calcinha e sutiã, coloquei rápido o short negro e vesti a regata azul. Só faltava meu moletom. Yuzu fez uma careta ao ver isso.

- Karin-chan... É verão.

- Eu sei.

O moletom cinzento era velho e dois números maiores que meu tamanho, mas a roupa era confortável. Ichi-nii me deu quando entrou no colégio Karakura há cinco anos. Ele sabia do meu sonho e... bom, agora sou aluna de lá apesar de tudo.

- Vai sufocar com esse casaco.

Curvei os lábios do seu tom chateado.

- Isso não é problema. – pegando a mala e o celular me virei praticamente correndo – Até depois. Avisa o Ichi-nii.

- Ta bom.

Desci as escadas pulando os degraus e na cozinha encontrei minha mãe. Ela me olhava com as mãos no quadril estreitando os olhos. Fazia uma expressão brava, mas deu pra ver que queria rir.

- Vai perder o ônibus, mocinha.

- Não se o velho me levar.

Ela riu de mim e tentei dar um jeito no cabelo enquanto pegava algo da mesa farta de comida. Como já havia penteado e secado dentro do banheiro, rápido dividi em duas partes e peguei um dos elásticos no pulso, amarrando na nuca. Mamãe meneou a cabeça com meu penteado padrão. Dona Masaki era uma ótima mãe, eu sei que ela queria que me arrumasse direito, mas respeita meu jeito de ser.

Sua frase de incentivo era:

"Quando gostar de um garoto Karin, vai querer se fazer bela pra ele"

Mal sabe ela que na ultima vez não deu certo.

- Vem cá.

Ela me puxou num abraço apertado e retribui sem jeito.

- Que isso, mãe. Só será uma semana.

- Mesmo assim. Se divirta, viu? Faça o que puder pelo time.

Engoli em seco com a onda de vazio, mas fingi um sorriso otimista me afastando dela.

- Claro. Tchau mãe.

- Tchau querida.

Nem se passou um segundo e a buzina do carro me interrompeu. Mamãe simplesmente balançou a cabeça sorrindo ao me empurrar pra porta.

- Vá logo.

Peguei uma maçã da mesa e corri para a saída. Mal calcei meus tênis e disparei até o carro. O velho buzinava olhando pra mim por cima dos óculos escuros. Pra que isso?

- Meia hora atrasada menina. – sorriu malicioso – Perdeu tempo sonhando, não é? Com que foi? Algo bom, pervertido, talvez...?

- Para, pai!

Ele soltou uma risada empurrando os óculos sobre o nariz, se divertindo do meu rosto vermelho de vergonha. Abri a porta traseira do carro jogando a mala e depois me sentei. Quando bati a porta ele apenas esperou eu por o cinto para arrancardo meio-fio aproveitando também pra mexer no cd player. Logo uma musica de J-rock encheu o carro enquanto meu pai costurava o transito em alta velocidade.

Ele dirigia bem, então nem me preocupei. Segundo Oyaji, costumava fazer rachas para pagar a faculdade de medicina. Ainda não acredito nisso... Mas se tratando do meu pai tudo é possível.

Procurei terminar de ajeitar meu cabelo mesmo com os sacolejos das manobras e me olhando pelo retrovisor,ele fazia uma cara séria demais. Bufei desviando o olhar.

- Não esqueceu de nada?

- Não.

- Os analgésicos?

- Hai.

- E os Antiinflamatórios? Tem que levar...

- Eu sei,pai. Não precisa me lembrar.

Levantei os olhos chateada encontrando um olhar compreensivo no retrovisor do parabrisa. Mesmo por cima dos óculos escuros oyaji sorria calmo.

- Claro, filha. Tire essa carinha de desanimo, foi requisitada pelo próprio treinador. Como minha enfermeira competente,os moleques que se cuidem quando se machucarem.

Rindo,ele avançou o sinal amarelo entrando finalmente na rua do colégio. Demorou nem quinzeminutos a viagem. Não disse nada sobre o que disse, mas segurei um sorriso empurrando os óculos sobre o nariz. Parando de frente ao portão, vimos vários estudantes com uniformes dos clubes. Basquete, voleibol, handebol,futsal e futebol. Os clubes femininos também estavam aqui. Até... arght, da torcida.

- Enfim entregue.

Pisquei acordando e puxei minha mala saindo do carro. Se debruçando na janela Oyaji me parou.

- Karin.

- Hai?

Ajeitei a alça da mala no ombro o encarando. Fechando o semblante ele estreitou olhar mesmo por trás das lentes escuras.

- Se algum moleque tentar te agarrar, não hesite, dê umTsuki dashinele

Arregalei os olhos me imaginando dando o golpe de judô, derrubando o garoto no chão. Meu pai levantou o polegar, aprovando e meu rosto queimou de vergonha.

- Não vai acontecer nada disso, velho.

- Nunca se sabe.

Sorrindo ele se voltou para a direção indo embora. As vezes acho que meu pai é um adolescente num corpo de homem. Suspirando me virei para o portão entrando no pátio. Ninguém se indignou a abrir caminho pra mim, então fui empurrando com o ombro mesmo. Um dos caras, um rapaz loiro do time de voleibol se voltou irritado pra mim.

- Hei sua... – arregalou os olhos de espanto e levantei a sobrancelha – N..nada.

- Humpf

Continuei andando. Ainda pude ouvir o que diziam.

- Você é louco, Kira? Aquela é a Kurosaki.

- Acha que não sei disso? Ainda bem que ela não é a nossa gerente.

Segurei um sorriso. Alguns dos outros times me repararam e foram se afastando finalmente enquanto eu seguia para o bebedouro. Pelo visto ninguém queria o risco de me irritar. Antes das férias de verão, quando entrei para o colégio ganhei inimizade com uma garota. Hinamori Momo. Ela é presidente do conselho estudantil, responsável e muito certinha. Resumindo, nada devia sair fora de seus padrões.

Confesso que ela é competente no que faz. Mesmo para uma aluna do segundo ano ser presidente do conselho é difícil e inédito, mas me rebaixar como escrava de seus caprichos? Nem pensar. Essa garota não aceita umnãocomo resposta e desde que neguei sua livre passagem pelos lugares do clube de futebol masculino (além de ser distração, ela só atrapalhava), Hinamori aproveitou cada oportunidade pra me atormentar. Da ultima vez que ela me humilhou, postei um vídeo seu com um senpai no festival esportivo antes das férias.

Eu já estava desconfiada e sem querer tinha flagrado os dois numa sala vazia. Claro, ninguém viu quem era. Pelo senpai coloquei um mosaico em seus rostos e adulterei as vozes. Mas só isso. A agarração toda deixei bem nítido pra quem é então, ela entendeu o recado e me deixou quieta por enquanto.

Antes disso foi uma briga ou outra na E.F, constrangimento público do professor cretino de química. Kurotsuchi-sensei merecia pelas histórias que ouvi do meu irmão e pelo que fazia com minha turma.

Ah. Tem também minha vingança pelo trabalho de escrava que faço para o time de futebol. Nunca foi provado e mesmo quem contasse quase ninguém acredita, mas me fizeram lavar os uniformes suados e nojentos àmão, além dos armários no vestiário. Minha paciência explodiu. Fiz o que me mandaram adicionando um pó especial nas roupas.

Nosso time perdeu um jogo importante no intercolegial por que todos os jogadores caíram no campo desesperados e vermelhos da coceira.

Pó de mico. Eficiente.

Então meio que... ganhei certa fama de encrenqueira. A gerente louca do time de futebol.

No bebedouro enchi um copo d'água e peguei a cartelinha do meu remédio. Rápido tomei pra ninguém perceber e voltei para o portão. Vários ônibus saíram, na lateral tinha uma faixa com o clube de qual time para ninguém se perder.

Faltava pouco pra chegar à calçada quando vi o ônibus do clube de futebol masculino sair. Entrei em pânico.

- Não!

Corri desesperada empurrando os outros alunos que resmungavam com os esbarrões. Eles não podiam fazer isso. Os locais de treino são diferentes pra alguns clubes!

- Para!

Acenei desesperada. Pagando o maior mico ao correr com uma mala enorme batendo nas costas. As pessoas riam de mim, que ódio. Com o ônibus acelerando vi Nnoitra e Yami-senpai sorrindo debochados pra mim na janela

- Boa corrida, baixinha!

- Olha só? Parece que vai desmaiar!

Eles cacarejaram até o ônibus sumir descendo a avenida. Arfei parando de correr e procurei me acalmar. Aqueles... Aqueles filhos da p... ! Espera, as mães deles não merecem isso. De todo jeito, o que vou fazer?

Preciso dos créditos pra faculdade e "fugir" de uma atividade importante dessa não é bom pro meu histórico escolar. Ofegando dei meia volta procurando pensar. Que clube mais iriapara o distrito de Iwake? O de futebol masculino, da torcida... e... e... O time feminino! Isso! Rápido, procurei o ônibus enquanto vários alunos embarcaram.

Já tinha perdido as esperanças quando passei da turma do voleibol e encontrei o ônibus pronto pra sair. Corri afobada e quase tropecei nas minhas pernas. Chegando até o ônibus, batina porta de embarque eo motoristasorriu ao me ver. Devo estar parecendo um desastre. Ele abriu a porta e subi ofegante e agradecida, que homem bonzinho. No terceiro degrau minha perna direita dobrou falhando e me agarrei rápido na barra de ferro.

Rindo e estranhando ele franziu as sobrancelhas.

- Tudo bem menina?

Respire fundo. Uniforme e devagar. Quando controlei um pouco a agonia sorri sem graça.

- Hai.

Dando os ombros o motorista fechou a porta outra vez e manquei me segurando nas barras olhando ao longo das poltronas. Ninguém reparou em mim. Todas as garotas estavam entretidas na conversa ou nos celulares. Algumas só espiaram um pouco pra depois desviar o olhar ignorando. O treinador me notou e acenou concordando. Que bom. Fui procurando um lugar, mas todos estavam ocupados. O único vago mesmo só tinha perto do motorista.

Caminhei trôpega enquanto o ônibus saía devagar e tirei minha mala, jogando no compartimento acima. Olhei meu vizinho de viagem. Ele estava dormindo, de braços cruzados e curvado para frente. O boné deleestava tão puxado quea aba cobria parte do seu rosto. Devia ser o gerente do time feminino. Ironicamente, sempre uma menina cuidava do time masculino e um garoto do feminino.

Procurei não fazer movimentos muito bruscos. Não queria perturbar o sono dele. Na descida da avenida, quase caí em cima do cidadão enquanto me sentava no lugar perto da janela. No movimento me joguei na poltrona, batendo sem querer na perna dele. Mordi o lábio. Ah droga.

Esperei uns segundos, mas ele não disse nada e relaxei um pouco. Devia ter um sono pesado o cara. Como olhava para baixo, ajeitando o moletom no corpo vi uma mochila de treino meio escondida no vão da frente, bem debaixo da divisória do ... essa mochila é do time de futebol masculino. Eu conheço esse design amarelo e cinza chumbo.

- Oie.

Prendi o fôlego, surpresa com a voz rouca.

- Ninguém pode saber que estou aqui. Entendeu?

Engoli em seco, tremendo.

- H-hai.

Suspirando o garoto se recostou mais na poltrona, apoiando a perna na parede divisória do motorista. Olhei de canto para ele, finalmente notando umas mechas brancas escapando doboné.

T..To..Toushirou!

Virei o rosto deslizando devagar pra perto da janela e procurei me acalmar.

Relaxe, relaxe, relaxe.

RELAXE!

Você ia vê-lo de qualquer jeito. Então não.. entre.. em pânico.

Impossível.

Meu coração disparava acelerado, martelando forte dentro do peito enquanto minhas mãos gelavamde nervosismo. Mesmo depois desses anos todos sem vê-lo, mesmo quando o encontrei na cerimônia de abertura e depois que virei a ajudante do time de futebol nunca fiquei tão perto assim dele! Nem uma palavra sequer! Claro, esperei ele vir conversar comigo, mas ele me ignorava por completo.

Como isso foi acontecer?!

Respirei fundo disfarçadamente e peguei meu celularcolocando os fones de ouvido. O tempo todo o espiava, mas continuava de olhos fechados. Isso meio que me decepcionou. Triste encarei o display do celular procurando uma musica qualquer, pra ignorar minha perna latejante do meu exagero hoje. O remédio demoraria pra fazer efeito.

Eu me sinto tão idiota. Obvio que ele não ia puxar assunto comigo. Ele sequer me olhava na cara nos treinos. Sei que mudei muito, mas... Ah! Droga! Por que me preocupo se esse cara me nota? Sou só uma sombra para o capitão do time de futebol, Hitsugaya Toushirou.

Suspirei chateada. Essa viagem pelo visto será longa.

KARIN POF

HITSUGAYA POV

- Ela não veio outra vez?

Midoriko... acho que é esse seu nome, balançou a cabeça negando. Encarei o nada, segurando com força a bola.

- Eu sinto muito, mas ninguém sabe dela.

- Tudo bem.

Saí de perto do bebedouro, passando reto pelo ginásio. Logo uma turminha de garotas me rodeou, perguntando se os boatos eram verdade. Irritado levantei o olhar que mantinha na bola, encarando a que estava na minha frente. O sorriso falso morreu com meu olhar enquantoa garota ficava pálida.

- Algum p-problema Toushi...?

- Vá procurar o que fazer e me deixe em paz. Todas vocês.

Estendi o olhar para as outras e rápido abriram caminho, assustadas.

Eu estava tão chateado que faria uma besteira. Nunca agredi ninguém sem ser provocado, mas estava a ponto de surtar seme perguntassem de novo sobreaquilo. Para aumentar meu mau humor, aquela louca desapareceu. Eu sou tão estúpido. A única amiga que tinha nessa escola e nem sei aonde mora. Se tinha irmã ou irmão aqui. Nada que pudesse dizer onde ela está!

Frustrado atirei a bola com toda força na parede e o troço ricocheteou quase me acertando na cara. Dei um soco, a mandando para o chão. Ouvi o chiado e encarei a bola enquanto lentamente murchava e me arrependi. Acho que rasguei o couro, não sei.

De todo jeito, me sentei na grama perto das arvores atrás do colégio e abaixei a cabeça baixa com uma sensação horrível me remoendo.

- Onde você está?

Você... não sumiria sem motivo, não é Karin? Não... Me deixaria aqui sozinho, não é?

Afinal, naquele dia do festival fizemos aquela promessa mesmo sem dizer. Eu disse que ficaria sempre perto de você.

Abri os olhos, cansado e confuso. Por um momento esqueci onde estava até me dar conta do barulho ao me redor. O som suave de um motor rodando me deu a dica. Estava no ônibus para a viagem de treino nas montanhas, acho que acabei dormindo demais. Suspirando encarei o vazio.

Esse sonho outra vez. Nunca esqueço disso.

A algazarra das garotas tinha me acordado. Pelas conversas e nenhuma reunião feminina perto de mim,a garota ao meu lado não me delatou. Que bom. Já estava fugindo de Hinamori por causa da besteira que fiz ontem. Não queria ficar sufocado com mais outras ao meu redor.

Falando nisso... Espiei minha vizinha estranhando. Fazia um calor mesmo que esteja frio agora com o ar condicionado. Esse moletom escondia praticamente seucorpotodo e além disso, ela se mantinha o máximo possível longe de mim. Não sei por que, mas isso me divertiu. Dei uma olhada mais atenta nela e lembrei.

Cabelo negro e longo, penteado desleixado. Os óculos e esse moletom velho e cinzento de Karakura foram as dicas mais fortes e sussurrei pensativo.

- A gerente louca.

Seu corpo retesou num segundo e sorri com isso. Pelo visto ela não estava tão alheia assim de mim.

HITSUGAYA POF