Treino dos Clubes Esportivos – Primeiro Dia

KARIN POV

Assim que guardei o caderno e o "despertador" dos garotos no quarto, desci pelas escadarias até o térreo. O saguão estava bem tranqüilo, deserto exceto pelo recepcionista,um homem dos seus quarenta e poucos. Fui até lá dando uma verificada no celular o horário. Quatro e meia da manhã, temtempo. Me aproximei do balcão.

- Com licença.

O homem que anotava algo num livro enorme levantou os olhos do papel. Ele sorriu bondoso pra mim, fechando-o ao se endireitar.

- Sim, mocinha.

Sorri um pouco.

- O senhor sabe onde posso comprar uns isotônicos? É para o treino hoje de manhã e...

Mordi o lábio, os demais dias também. Zaraki não especificou na grade dos horários, mas pelo o pouco que vi nesses meses com certeza vai ser bem um treinamento espartano.

- Ah, se é sobre isso não precisa se preocupar.

- Como?

Pisquei confusa e vendo ele me deu uma folha entre tantas da pilha sobre o balcão.

- Esse é o mapa da pousada. Por ele pode chegar ao refrigerador que fica logo atrás da cozinha. Está vendo?

Apontou numa parte da planta. Assenti estudando o mapa.

- Apenas siga por essa ala, atravessando esse salão. A cozinha fica logo em seguida.

Ele se afastou um pouco – havia se debruçado no balcão – e sorri agradecida.

- Arigatou.

- Disponha.

Esse senhor era um sujeito bem legal. Segui caminho conforme ele me indicou e logo encontrei o refrigerador. Tive uma breve discussão com o chefe de cozinha, mas o sujeito me deu permissão depois que expliquei que sou a gerente do clube de futebol. O técnico não havia organizado nada disso. Com certeza Arisawa-sensei cuidou dos detalhes. Ele é nosso conselheiro acadêmico e gostava do que fazia pelo clube.

Entrei naquele congelador, pegando umas vinte garrafas de energéticos. Nem me dei ao trabalho de escolher o sabor. Fui apanhando qualquer um e pus num cooler despejando em seguida dois sacos médios de gelo. Tá fazendo um frio, mas depois de todo o exercício os idiotas precisavam.

Ok. Isotônicos e agora acordar o time. Como a cozinha ficava no térreo deixei logo o cooler no campo de futebol – e ignorando um olhar assassino do técnico -, voltei ao dormitório. Ao subir as escadas pensei num jeito de acordar todos de uma única vez. Segurei um sorriso e assim que cheguei ao andar abri os quartos. Escancarando porta por porta sem fazer barulho vi que tinha uns casais seminus, mal cobertos nos lençóis. Oh... Minha vontade de aprontar superou minha vergonha. Nem liguei pro povo embolado um no outro, muito menos nas roupas jogadas. Um dos poucos que escaparam foi do Toushirou.

Parada na porta, dei uma olhada em volta me surpreendendo. Primeiro pelo cômodo estar organizado. Segundo por ele estar sozinho, nem havia um colega de quarto. Eterceiro, seu lençol estava dobrado em cima da mesa baixa de madeira no canto. Ele não sente frio? Me aproximei um pouco e quase sem perceber me agachei pertinho dele no tatame.

Deitado de bruços, seu pijama erauma camiseta comum e uma bermuda leve. Seu rosto estava voltado pro outro lado enterrado no travesseiroe depois de umbreve momento, ri por dentro ao vê-lo todo esparramado no futon. Quem diria que ele fosse desses... Fiquei uns instantes olhando-o na penumbra até me tocar do que estava fazendo e levantei de repente. O que tou pensando? Isso é invasão de privacidade!

Envergonhada saí do quarto indo até o meu e peguei tanto o caderno como a corneta. Suspirei pra manter o focoe depois saí mais uma vez. Guardando o caderno num bolso do moletom, fiquei parada bem no centro do corredor e respirei fundo colando em seguida aboca nacorneta. Sopreicom toda força que tinha.

O barulho, berrante e medonho rasgou o silencio brutalmente. Num segundo, todos gritaram. A maioria parecia ter se trombado ao acordar. O som estridente se propagou tão alto e rápido que o povo apareceu nas portas atordoadoe xingando.

- Que merda é essa bruxa?!

- Ficou louca de vez?!

Parei de soprar em tempo de Rikuo quase me tirar a corneta. Girei a mão pra trás e pus a outra no quadril. O cara de cabelo castanho me fitava cansado e possesso. Eram um dos poucos que estavam vestidos e o encarei fingindo não ver tantos olhares de ódio. Eu tou nem aí.

- Só estou cumprindo ordens. Se querem reclamar, falem com o técnico.

- Que se dane, o técnico!

Um dos caras se aproximou de mim a esquerda. O olhei de relance e fiz um grande esforço pra reprimir o calafrio. Digio. Ele é meio alto, cheio desses músculos que todo esportista tem. Então imagine um cara desses vindo na sua direção puto etodo arranhado nos ombros, vestido somente numa calça de moletom. Confesso que vacilei de medo um pouquinho, mas me controlei. Eu não quero e nem preciso que me vejam fraca, além disso... Eles mereceram.

- São5 da manhãporra, tem ideia disso?

Parado ao lado de Rikuo, Digio me olhou com tanta raiva que fiquei surpresa por não estar fumegando. Apenas arqueei as sobrancelhas.

- Desculpa se atrapalhei seu sono de beleza, mas o técnico mandou acordar todos vocês e fiz.

- Com a droga de uma corneta?

Um dos garotos a minha direita perguntou indignado e só dei os ombros.

- E daí? Funcionou.

Um gemido coletivo e rancoroso tomou esse corredor enquanto resmungos de Digio e Rikuo se misturavam, bem se preparandopra discutir comigo. Estreitei o olhar, isso não vai ser nada fácil.

- Chega!

Arregalei os olhos de susto com a voz atrás de mim. Não é possível. Olhando sobre o ombroassisti Toushirou terminar de se aproximar daquie ficar perto de mim. Como num passe de mágica a algazarra diminuiu e parou deixando uma tensão no ar. Digio e Toushirou se encaravam, desafiando um ao outro e me senti deslocada. De repente, não era mais sobre um despertar nada convencional, mas a autoridade do antigo e o atual capitão do time.

Desde que Toushirou virou o capitão, Digio arranjava confusão estourando rápido. Ele não aceitou perder o posto e... bem... não queria ficar nem um centímetro perto dos dois agora caso fossem brigar.

- Já estamos atrasados. Eu se fosse você não irritaria ainda mais Zaraki.

Digio respirou fundo por um momento, engolindo o mau humor e vi quando cedeu estalando a língua de desgosto.

- Que seja.

Foi minha deixa. Saí dali o mais normal possível e desci até o térreo.

Caramba. Tanta testosterona logo cedo é de dar arrepios. Eu devia estar acostumada, afinal meu pai e Ichi-nii têm seus momentos, mas eles são família. Caras de idades variadas e turmas diferentes do ensino médio têm muitos (e digo muitos mesmo) embates de ego quando ficam no mesmo ambiente.

Não é sempre assim,também existe esse clima de companheirismo. Era gratificante ver esses rapazes vencerem as partidas pelo tanto que ... Nem tudo são flores e estou nessa selva cheia desses ogros mal educados e sem respeito. Eu não seria má se não me provocassem. Ainda lembro quando me apresentei como a nova gerente do clube.

Ela sabe sobre futebol de campo? Checado. Tem experiência com primeiros-socorros e sem frescura com machucados? Excelente. Mas esses filhos da mãe queriam uma garota fofa, deslumbrada e burra sobre o esporte pra poderem se exibir. Que decepção quando me viram e não era o anjoque esperavam.

Enquanto seguia na passarela vi um grupo das meninas da torcida cochichando. Parecia uma fofoca das boas, elas nem me notaram entretidas na conversa e quase passei reto quandouma abafou um gritinho excitado. Diminui o passo, parando atrás de uma coluna de madeira. Agora estou morrendo de curiosidade.

- Não acredito. Sério?

-Falabaixo.

- Desculpa, mas é verdade mesmo?

Caramba que segredo é esse? Me encostei mais na coluna apurando os ouvidos.

- Unhum. Por isso que ele não foi junto no ônibus.

A ruiva riu curtindo uma piada interna que ao meu espanto as outras entenderam. Yumi– reconheci sua voz nesse instante – fez um somdebochado.

- Hinamori deve ser ruim de cama pelo visto, pro capitão ter se arrependido de transar com ela.

Um cubo de gelo afundou dentro de mim.O que?

- Será? Ouvi dizer que passaram um tempo dentro do quarto. Hiyori até confirmou.

- Pode ser, de qualquer jeito ele não quer mais saber da presidente.

Elas terminaram rindo venenosas, enquanto a mim segui caminho sabe Deus como, ouvindo meu pulso martelar forte nos ouvidos, com essasensação fria e retorcida pelo corpo. Era por isso que ele estava se escondendo no ônibus? Por que as garotas da torcida tinham um ar de inveja e satisfação ao mesmo tempo quando fui pro quarto ontem?

Não dá pra acreditar. Toushirou não é assim. Ou será que é? Ao chegar perto das grades do campo de futebol me encaminhei até o banco dos reservas, sentando amortecida e aera.

Toushirou e Hinamori... Eles dois... Um gosto forte da bile subiu na minha boca e segurei a ânsia de vômito. Meu bom humor evaporou com essa fofoca pavorosa.

/

Lá pelas dez horas da manhã, um jogo de praxe entre reservas e titulares se desenrolava. Estávamos no primeiro tempo e eu marcava no meu caderno quantas finalizações, faltas,escanteios e tiros de meta faziam. Serviam para orientar o desempenho dos jogadores, sem contar da utilização de todos os fundamentos feitos durante o aquecimento e treino de mais cedo.

Atualmente jogamos com a formação de 4 – 3 – 1 – 2. Dois zagueiros e dois laterais na defesa. Um volante, um meia armador e um meio campista lateral no meio de campo. Um meia-atacante e por fim, um segundo atacante e um centroavante. A única parte tática que mantemos desde o ano passado. Afinal de contas, nosso ataque eram um dos melhores do colegial, reforçado ainda mais pela adição do Toushirou. Eu que sugeri isso, já que nossa defesa era pobre. Só tinha algo meio que... me incomodando.

Olhei para o colete vermelho de número dez.

Afastando meu mau humor pela novidade – ninguém gostaria de saber que sua paixão foi pra cama com uma garota, vulgo inimiga autoproclamada -,para ficar intrigada. Achei que assim que entrou no clube fosse jogar como meia-atacante. Ele era o melhor no meio de campo, indiscutivelmente. Contudo, sua posição desde que virou titular era de segundo atacante. Não que jogasse mal, pelo contrario. Drible, passe, domínio de bola e finalização, ele dominava tudo isso melhor até decomo me lembrava, mas... Parece que hoje não estava concentrado. Dei uma olhada em volta, para os laterais e os meiasanotando uma coisinha ou outra.

O passe e a recepção não estão bons nessa área. A bola não devia ser tão mal distribuída também no ataque. Rikuo devia trabalhar mais com os outros. Sem contar que Toushirou... bem, ele parecia ter discutido mais uma vez com ele e Digio, nem se fala. Bufei de raiva. A falta de entrosamento desses caras parecia anos-luz de acabar. Não estamos aproveitando nada e só confirmouaté o jogo acabar.

Fim de jogo. Placar 02x02.

Se comparado com nossos antigos treinos foi péssimo. Fechei o caderno e fui buscar umas toalhas e garrafas d'águas. Havia preparado de antemão no banco dos reservas e peguei um pouco distribuindo entre eles. Dizer que tinha um clima tenso enquanto fazia isso foi piada. Todos me olharam desconfiados e revirei os olhos, eu já tinha devolvido o favor por me largarem na escola, não sou mesquinha pra continuar.

Ao entregar as garrafas d'água pra cada um, hesitei um pouco com Toushirou. Aproveitei que estava enxugando o rosto com a toalha e empurrei uma garrafa pra sua mão.

- Toma.

Pegando por reflexo ele levantou os olhos pra mim e ignorei saindo de perto. Percebi que ficou confuso, mas não me importei. Eu sentia essamágoa transbordar pelos meus olhos e não quero que ele veja, nem me pergunte. O que eu diria? Algo assim?

"Como pôde transar com aquela falsa? Faz ideia como isso machuca?!"

Não, de jeito nenhum. Até que é bom que não se lembre de mim.

Lidando com esses sentimentos, já tinha começado a ajeitar algumas coisas, como as bolas perdidas dos treinos de duplas, quando uma pequena comoção houve no campo. Parei um pouco observando os outros rapazes assobiando,rindo e logo o gosto da bile subiu assim que entendi o motivo. Uma garota com uniforme da Educação Física chamava Toushirou na porta de saída do campo. O cabelo preso numa trança, a tiara branca destacando a fina franja e o ar fofo. Hinamori... E ela ainda era dissimulada por pedir isso em alto e bom som, deixando claro que veio atrás dele.

- Ei Kurosaki. Que cara é essa?

Desviei o olhar pro cidadão e Keita me observava estranhando. Ele era novatoe obvio, o único que conversava direito comigo.

- Não sei do que ta falando.

Joguei uma bola na caixa de metal sem medir a força fazendo barulho. Argh...

- Ahã.

KARIN POF

Parada na entrada do campo de treino, Hinamori admirava o efeito que sua presença causava. Como sempre, ela não estava enganada. Olhando ao redor para os demais membros do clube, Hinamori tinha certeza que seu charme, sua aparência estava perfeita. Caras do colegial não gostam muito de certinhas e puritanas, mas também não levam a sério uma garota fácil demais. Prova disso, eram os olhares aquecidos e admirados na sua direção.

O truque era ser nem uma ou outra. Ter um pouco das duas com atitudes de quente e frio. Dar e tirar para que ficassem sempre com saudade e querendo mais. Eagora era o momento de pôr em prática, senão seus planos dariam errado.

Como presidente do conselho estudantil raramente errava, mas Hinamori nunca desistiu de um desafio. Prova disso era o objeto do seu interesse descansando do treino. Ajeitou a camiseta branca na cintura, o short azul de lycra da medida certa. Nem curto ou grande demais, destacando suas coxas e afofou sua franja. Nunca um cara resistiu a isso, à essa imagem de comportada e bem cuidada. Chegando pertodele, mais dos jogadores a notaram e fingiu não que viu os sorrisos maliciosos. Era tudo parte do plano, ela até não estranhou Toushirou vir em outro ônibus. Ser um pouco agressiva têm suas vantagens e ela abusaria agora delas.

Toushirou estava jogando água no rosto e na cabeça, sacudindo os cabelos assim que a viu. Ele colocou a toalha no pescoço ignorando as mechas brancas gotejando ao encará-la neutro e esperou. Por um segundo, quase se distraiu vendo-o assim, mas se concentrou. Ele em breve seria todo seu. Mordeu um sorriso provocante e parou diante dele segurando as mãos as costas.

- Oi, Hitsugaya-kun

- Oi.

Pelo seu tom não deu pra saber se estava ou não feliz em vê-la, mas podia trabalhar com isso. Ele entregou a garrafa para um colega, não sabia quem, para depois fitá-la. Isso a animou. Ótimo, tinha sua atenção.

- Sei que deve ser meio chato, mas a gente pode conversar? A sós?

Todo o que elefez foi suspirar e desviar o olhar para a direita, a confundindo. Que estranho, no entanto, assentiu voltando a olhá-la.

- Claro. Só um segundo.

Tirando o colete de treino, ele o jogou na pilha em cima do banco de reservas ao lado daquele cooler e depois a esperou. Sorrindo por dentro, Hinamori deu meia volta, se afastando dali junto com ele. Isso era ótimo, todos viram os dois saindo juntos e ninguém teria dúvidas sobre o que seria a conversa. Enquanto caminhava para longe dali, na calçada que havia por trás dos prédios, espiou de soslaio o rapaz ao seu lado.

Desde a primeira vez que o viu quissó para si. Apesar de ser um ano mais novo, em mais do que idade Toushirou compensava. Ele é lindo, mesmo suado como agora não perdia seu charme e ainda, ao contrário dos outros, Toushirou era tão difícil de ceder. Isso era... Refrescante e de certa forma viril. Sair com caras imaturos perdia a graça fácil e ela sentia que nunca se entediaria com ele. Impossível esquecer o que fizeram. Foi tão incrível. Ele não era como os outros, dava pra perceber que tinha pegada e intensidade que a deixavam quente só em imaginare sua voz... Caramba, naquela festa mesmo embriagado superou suas expectativas, ainda que... Tenha sido naquelas circunstâncias. Mas tudo bem. Ele não devia se lembrar mesmo e os boatos já correram o suficiente.

Tinha que agir.

Chegando perto do depósito de equipamentos, atrás do ginásio, Toushirou se sentou numa mureta de um canteiro de pedra ajeitando a toalha no pescoço. Molhou os lábios, assumindo um ar inocente ao ficar parada diante dele, embora tenha visto um leve estreitar dos olhos verdes. Ele ainda estava desconfiado, mas depois daquilo não importa mais.

- Então, não tem nada pra me dizer?

Usou um tom meio cobrador e delicado. Era um jeito de fazer o outro se sentir culpado, mas ao contrário do que achou Toushirou continuou com o rosto de pedra.

- Sobre o que?

Piscou descrente. Que tom indiferente foi esse? Quase desarmou sua aparência fofa.

- C..como assim? Sabe sobre o que.

Dando um passo, esticou a mão focada na gola da camisa branca dele, certa que podia. Afinal, ela aproveitou pra sentir sua pele e o corpo o tanto que quis... como ele também. Aquele muro caiu e não precisava mais se segurar. Quase o alcançando sua palma foiagarrada antes que sequer encostasse nele.

-Aquilofoi um erro.

O que?Erguendo os olhos viu que Toushirou não só não gostou da sua atitude como parecia irritado com ela. Como assim? Cadê aquela culpa por abandona-la, o desejo e a vergonha por quere-la uma vez que provou depois tanto desdenhar? Esse cara não tinha nada disso. Apenas um cansaço como se tivesse que atura-la.Ela. Logoela.

- Toushirou...

-Hitsugaya, Hinamori. Não me chame assim.

Quase riu descrente eaproveitando ele soltou sua mão fazendo-a se afastar um pouco. Ele não foi bruto, mas a rejeiçãoemanando do seu corpo era como um tapa na cara.

- Por que tá agindoassim?– sorriu tremula – Você diz como se fosse algo horrível. O que aconteceu entre nós...

- Foi um erro.

Toushirou repetiu a encarando duramente, inflexível e sem hesitar. Vendo-o nesse jeito frio finalmente a irritou. Nunca que um cara a tratou assim!

- Escute aqui, como pode brincar comigo? Todo mundo sabe que passamos aquela noite juntos, não tem como negar. E ainda me vem com essa...

- Hei.

Hinamori se entalou, tão perdida na indignação que não percebeu passando da linha.

- Fiquei aqui ouvindo suas besteiras e não escutei nada demais. Até quando pretende bancar a inocente?

- O que?

Esse olhar de desprezo... Perdeu a pose e a fachada. Seu ato, até suas expressões e palavras não serviam pra nada!

- Não estou dizendo que não fiz. Estava bêbado e nós dois nos aproveitamos, mas é só. Posso até não me lembrar direito, mas sabe que não era você com quem realmente fiz sexo.

Para completar ele jogouissona sua cara. Tome esse calouro popular como bobo e você vai ser arrepender. Em revolta, estremeceu por ter esperado que seusjoguinhos de manipulação não funcionariam tão bem. O golpe forte em sua auto-estima... Não, pior, em seu ego a faziamperder a compostura. Sem querer o nome da fulana se repetia e se repetia em sua cabeça, dos momentos em que ele a chamava e só aumentou sua cólera. Que ódio. Abaixou a cabeça, cobrindo os olhos com a franja.

- Quem é ela?

A pergunta baixa traiu sua voz tremula, no entanto, Toushirou não interpretou como queria, como se tivesse prendendo o choro. Ele simplesmente se levantou da mureta pronto pra ir embora, sem sequer olhar pra ela!

- Não é da sua conta.

- Claro que é! Essa vadia te dispensou não foi? Por que mais...

Um baque forte na parede atrás dela a assustou. Foi a centímetros da sua cabeça e incrédula ergueu o olhar para a sombra em sua frente. Toushirou se debruçou um pouco nela, calado, esperando que olhasse pra ele e se arrependeu. O baque foi sua mão espalmada na parede e seu olhar verde escuro e irritado, com aquela expressão de pedra foi um frio direto nas entranhas.

- Nunca mais a chame assim.

Seus olhos aumentaram de choque. O que foiisso?

Um arquejo cortou o clima tenso e ambos viraram os rostos para o lado encontrando a pessoa. Kurosaki os olhava aparvalhada segurando nos braços aquele cooler cheio de garrafas térmicas. Um estranho jorro de alivio a inundou. Nunca pensou que ver essa garota fosse algo bom.

- Ah desculpa. Eu não queria atrapalhar.

Mais que rápido ela girou no lugar e saiu correndo dali. O rosto dela estava vermelhode vergonha e apertou os lábios. É realmente uma droga que fosse discreta. Uma fofoca sobre essa cena...

- Pode esquecer.

Pestanejou de susto voltando a fitá-lo. Toushirou já tinha se afastado e – piscou confusa – seus olhos voltaram ao normal. Límpidos e frígidos.

- Do que está falando?

A encarando de lado ele puxou a toalha do pescoço, curvando os lábios com um ar que juraria ser sarcástico.

- Kurosaki não é de espalhar boatos.

Prendendo o fôlegoarregalouos olhos mais indignada e ao ver, ele levantou uma sobrancelha. Sem dizer mais nada,Toushirou seguiu caminho pelos fundos do deposito de equipamentos até dobrar uma esquina. Uma onda de frustração a inundou e encarou a grama, apertando os punhos de tanta raiva. Como pode? Nada estava saindo como planejou. Estreitando o olhar, lembrou azeda daquela noite.

Quem é essa garota? Uma ex? Talvez fosse. Os toques dele... Não, a maneira como chamava seu nome, era carregada de uma emoçãotão forte senão mais que a excitação naquele momento. Mordeu o lábio mais frustrada. Que droga. Toushirou sentia tanta saudade assim dessa tal de Karin?

Matte.

Karin? Por que esse nome parecia familiar e irritante ao mesmo tempo?

Soltando os punhos, pensou um poucoaté um estalo soar na sua cabeça.

Sala dos professores, quatro meses atrás.

- Já temos candidatos para o cargo de gerente Arisawa-sensei?

- Claro, aqui estão os formulários.

Girando na cadeira, o professor lhe entregou as fichas. Passando as folhas uma por uma numa verificação superficial, viu que a maioria era de garotas até seus olhos se focarem numa. Não conhecia essa. As outras eram todas do antigo colégio de Hitsugaya-kun.

- Ah essa. Eu também acho perfeita.

O homem de cabelos castanhos que olhava da sua mesa de trabalho a inspeção, pegou a ficha encarando-a num sorriso calmo.

- Conheço seu irmão. Ele fazia parte do melhor time de futebol que Karakura já teve.

- Entendi.

Espiou o nome mais uma vez. Por via das dúvidas era melhor colocar essa garota no seu devido lugar.

O horror a despertou do devaneio.

Karin podia ser... AKurosakiKarin?!

KARIN POV

Que péssimo. Eu precisava mesmo ter visto aquilo? Pegando uma garrafa da caixa térmica, pus debaixo da torneira do bebedouro pensando nisso. O que será que interrompi? Parecia que flagrei um casal flertando. Sacudi a cabeça com a sensação ruim. Quantas vezes eu já não vi gente se beijar atrás do edifício de clube, se pegando no maior amasso? Não tinha culpa se a maquina de lavar ficava justo nesse canto. O técnico sempre me manda lavar os coletes depois de cada treino.

Mas agora fiquei curiosa. O que será que estava rolando? Lembrando bem, Hinamori parecia pálida e o Toushirou sério demais. Não tinha clima algum entre eles, a não ser de intimação.

Pensei nisso por um momento e não aguentei. Ri meneando a cabeça ao pegar mais uma garrafa. Toushirou ameaçando a presidente?! Ele não é um badboy. Isto é, eu acho. Muita coisa deve ter mudado nesses cinco anos, lembrei chateada. Sou um exemplo disso.

- Caramba, tou todo moído.

Pestanejei de susto. Imóvel continuei quietinha, fechando a torneira enquanto as vozes chegavam mais perto.

- Depois do almoço, Zaraki disse que vamos fazer cem tiros de agilidade.

- Que? Aposto que a bruxa tem alguma coisa haver com isso.

Um dos caras riu e olhei discretamente sobre o ombro. Do outro lado da rede de proteção três dos jogadores caminhavam. Um era Yami-senpai, o mais atarracado. O outro era alto, o cabelo comprido preso num rabo de cavalo, Noitra-senpai, que sorria debochado junto com o menor do grupo. Em comparação com esses gigantes era mediano mesmo e esse, sinceramente me deu um calafrio. Digio ria sarcástico, alheio ao grupo de meninas que os olhavam a poucos metros dali. Não as culpo, ele é bonito oras. Atlético, cabelos negros despenteados e olhos dourados. Contudo, ele tinha um ar perturbador intensificado nesse riso

- Acha mesmo que o técnico ouviria aquela garota? Depois daquele jogo ela perdeu qualquer autoridade que tinha.

Nesse instante, os olhos dourados desviaram encontrando os meus. Prendi o fôlego por um segundo, pega no flagra, mas depois fechei a cara. Para minha surpresa, Digio rasgou um sorriso me arrepiando inteira. Dei as costas, enchendo rápido o restante das garrafas e depois escapuli dali. Esse cara não estava bravo de manhã? Como sorria daquele jeito?

De todos do time, ele é o único que me deixa cautelosa o tempo todo. Não que os outros sejam inofensivos. Simplesmente não sei o que esperar dele. Se sente raiva de mim? Com certeza. Mas ele solta piadas e indiretas sempre com aquele olhar astuto.

/

Assim que guardei as garrafas num dos refrigeradores na cozinha, coloquei o cooler num dos armários, depois claro, da permissão do chefe de cozinha. Me livrei disso e foi pro quarto. Precisava urgente de um banho, porem, mal pus os pés no corredor e dei de encontro com uma reunião feminina atravancando a passagem.

- Hei, o que diabos estão fazendo aqui? É o andar dos garotos.

A conversa coletiva morreu e todas voltaram suas cabeças pra mim. Ah merda. Por que fui abrir minha boca? Uma delas cruzou os braços, se postando bem na minha frente e suspirei fundo. Miyura.

- Olha só. Justamente quem a gente queria ver.

- Como é que é?

Pisquei indignadaarqueando as sobrancelhas. Era uma piada, só podia. Estreitando o olhar, essa loira me encarava petulante.

- Cadê as chaves dos quartos?

Levei uns bons três segundos pra processar

- Chaves.

- Não se faça de sonsa, idiota. Todos os quartos desse andar estão trancados menos o seu. A gente já procurou nele, mas..

- Peraí. Vocês fizeram o que? Isso é invasão de privacidade.

Tinha coisas minhas confidenciais. Celular, cadernos de anotações e pior ainda, meus remédios. Depois de hoje cedo, era apenas uma desculpa que teriam pra me infernizar. Miyura estremeceu, soltando os braços mais irritada.

- Quem se importa. Até parece que pode fazer alguma coisa.

Todas se voltaram pra mim, o sorriso de vitoria estampado e suspirei fundo. Verdade. Se acontecesse uma briga, quem ia sair perdendo seria eu. Isso é obvio. Voltei os olhos para a loira.

- O que vocês querem?

- Não é da sua conta.

Estreitei os olhos.

- Senão percebeu isso aqui é uma negociação cabelo de alga esim, eu sei que podem me bater – confirmei ao ver o ar chocado de Yumi ao seu lado – mas se querem minha ajuda precisam me dizer. Eu não vou me encrencar por um bando de malucas.

Umas arquejaram de indignação, outras tiveram vontade de me xingar. Simplesmente cruzei os braços e levantei a sobrancelha. Eu tinha a mão melhor ali. Sabiam disso.

Ficamos nesse impasse, até que elas se reuniram cochichando por um tempinho e se voltaram depois pra mim. Miyura – a porta voz pelo visto, já que Hinamori não estava aqui – se aproximou um passo.

- Esquecemos umas coisas da festinha de ontem.

Que mentira mais fajuta. Eu mesma verifiquei no intervalo e não tinha nada. Elas acham mesmo que sou tão burra assim? Dei uma olhada por cada uma e confirmei o que suspeitava. Quatro delas tinham o rosto vermelho vivo, se encolhendo tímidas apesar de disfarçarem. Voltei o olhar pra Miyura.

- Muito bem... – sorriram aliviadas - ... Quem são os caras?

O choque foi gritante. A maioria ficou boquiaberta, outras roxas de raiva. Principalmente Yumi que avançou marchando até mim.

- Espere um minuto, não pode falar...

- Posso e estou. É a verdade, não é? Digam logo quem são eles e quem sabe dou o jeito de se encontrem.

Elas se entreolharam divididas e sorri por dentro. Karin 1, grupo de torcida 0. Suspirando fundo Miyura e Yumi se aproximaram de mim, dessa vez sem hostilidade.

- São Rikuo-kun, Digio-senpai e Toushirou-kun.

Levantei as sobrancelhas e espiei conferindo as prováveis confidentes. Quatro. Alguém está disputando com outra. Suspirei entediada. Não era nenhuma novidade, esses sempre eram os mais escolhidos. Sem contar que sentia esse incômodo aperto no peito. É nessas horas que detesto ter sentimentos pelo Toushirou. Não queria sentir isso.

- E então Kurosaki? Disse que ia nos ajudar.

Pisquei saindo do devaneio e encarei essas duas. Seus rostos ansiosos me deram mal estar.

- Olhem. Em primeiro lugar, invadir os quartos de dia é burrice. Segundo, por que não usam o horário vago depois do jantar? O tempo é livre e ouvi dizerque nossos treinadores vão estar em reunião nesse horário.

Meu coração se apertou em outronó, porem, mantive a cara impassível. Eu não tenho nada haver com isso. Toushirou... Toushirou faz o que bem entende da vida dele. Até transou com a Hinamori. Uma confissão ou outra é bobagem. As garotas pensaram um pouco no assunto e então se juntaram com as demais, esquecendo em segundos de mim. Bufei enfadada. Soltando os braços, mergulhei nesse mar de garotas, desviando dos grupinhos até chegar ao meu quarto. Sem surpresa, assim que entrei encontrei tudo revirado.

A bolsa azul estava jogada no outro canto me dando uma onda de alivio. Corri até ela e peguei, abrindo-a e verificando tudo. Ótimo, estava do jeito que deixei. Como meu quarto tinha janela, cheguei mais perto e abri um pouco. O ar frio da montanha soprou numa brisa, refrescando minha pele suada e me encostei no beiral. Hoje a noite... Como será?

KARIN POF

Horas depois

HITSUGAYA POV

Depois do jantar, preferi dar uma volta antes que entrasse em mais atrito com Rikuo. Aquele idiota egoísta. Hoje o treino além de nos acabar, o jogo foi péssimo. Ele mal distribuiu os passes que Keita trazia, sem conta que Digio está de péssimo humor, agindo independente. Chega a ser irônico em como esse time individualista alcançouas quartas de finais no interhight.

Contudo, não era exatamente o que estava me deixando tão tenso. Hinamori chegou mesmo a fazer o que imaginei. Me pressionar por aquilo? Ela não é inocente. A conheço faz algum tempo e depois de Kurosaki expor aquele vídeo com o terceiro anista no festival apenas confirmou o que já suspeitava.

Kurosaki... Hoje ela parecia bem mais arisca. Curvei os lábios ao entrar no hall ao lembrar de hoje cedo, afundando as mãos nos bolsos da calça. De onde ela tirou aquela corneta? Eu pulei do futon atordoado e corri pra porta vendo entre irritado e risonho ela soprar naquele troço. Ela realmente tinha fôlego, acordou em segundos todos. Sorria por dentro ao vê-la enfrentar caras com o dobro do seu tamanho e pela primeira vez, resolvi ficar do seu lado ao ver Digio possesso perto dela.

Mas algo a fez ficar mais reservada, irritada.

- O que será que aconteceu?

- Hitsugaya-kun.

Virei o rosto para a pessoa. Uma garota me olhava ansiosa e tímida. Suspirei já imaginando o por que. Ela se aproximou de mim e procurei escutar com paciência.

- Sim?

Sorrindo um pouco ela se aproximou ficando mais corada.

- Por que está sem a jaqueta? Não sente frio?

Como eu disse, paciência. Meneei a cabeça, relanceando o olhar ao redor.

- Não, o que queria falar comigo?

Nesse instante, meus olhos se focaram na vidraça de um dos salões adjacentes. Estava escuro, mas à luz tênue do enorme aquário vi uma garota sentada numa mesa redonda e polida. Ela escrevia concentrada num caderno, alheia a tudo em seu redor. Mal ouvia o que a outra menina falava, estava curioso em saber o que tanto Kurosaki escrevia.

- E..então s..s..saia comigo. Por favor.

Pisquei, encarando a garota parada diante de mim. Seus olhos castanhos me encaravam ansiosos e reprimi a onda de compaixão e enfado. O que será que essas garotas viam em mim? Mal me conhecem e já se declaram desse jeito.

- Desculpe, mas não posso.

Os olhos castanhos arregalaram de espanto.

- Por que não?

- Não quero namorar no momento, desculpe.

Usei um tom mais gentil para amenizar as palavras duras. A garota piscou desnorteada e aproveitei para seguir até o salão à esquerda. Antes que entrasse, ouvi ela correr do hall. Com certeza amanhã falariam disso. Porem, agora estava interessado na garota de moletom cinzento e penteado desleixado. O burburinho das conversas de outros hospedes abafou minha entrada e caminhei até ela, me segurando e não conseguindo evitar um sorriso. Ao ficar atrás dela me inclinei um pouco sem fazer barulho.

- O que está fazendo?

HITSUGAYA POF

KARIN POV

- Kyah!

Dei um pulo na cadeira e atrás de mimouvi um risinho. A sombra que se projetava na mesa deu a volta e arfei irritava ao ver Toushirou puxar uma cadeira virando o encosto ao montar nela e se sentar. Seus olhos brilhavam divertidos ao apoiar um braço no espaldar da cadeira. Que ódio.

- Você quer me matar de susto?

- Não é culpa minha se não prestava atenção.

Estreitei os olhos e contrapartida ele me imitou. Ficamos uns segundos assim até que não aguentei. Droga, meu rosto ta ficando quente. Encarei meu caderno, tentando-o ignorar e rezando pra estar escuro o suficiente e ele não notar esse rubor.

- São os dados dos jogadores?

Pisquei confusa.

- Bom, é.

Antes que notasse o caderno foi puxado para frente e levantei os olhos. Toushirou o lia interessado.

- Hei, não po..

- Compartilhar informações com o capitão do time é seu dever também, Kurosaki.

Me entalei. Ele sequer me olhou na cara. Contudo...

- Sim, senhor.

Eu também não fiz isso desde que me tornei a gerente. Toushirou estava com a razão, droga. Pensei ter o visto sorrir, mas acho que só foi impressão. Esperei ele ler paciente enquanto tentava entender o que fazia ali. Com certeza deve ter coisas melhores pra fazer.

- São bem detalhados. Tem até o treino de hoje.

- Eu sei. Preciso para passar ao técnico depois.

Toushirou folheou até parar numa pagina.

-"Falta de concentração"

Engoli em seco. Levantando o olhar ele me encarou e ajeitei os óculos pra disfarçar o nervosismo. Era numa nota justamente ao seu respeito.

- O trabalho do meio-campo em avançar pela lateral é uma das táticas mais usadas por nós e hoje estava mau organizado. Você não acompanhava o Rikuo e também suas finalizações...

- Já entendi.

- Ele também precisa ser mais cooperativo. Quase não passou a bola. Se tentasse driblar mais junto com ela pudesse...

- Criar espaços para passes na grande área

- É.

Dei os ombros, pegando o caderno de volta e escrevendo o que acabou de dizer. Era uma nota importante e na verdade, já estava escrevendo. Contudo...

Por que ele ainda está aqui?!

- Rikuo não tem controle de bola. Sabe disso não é?

Suspirei cansada e o encarei sobre as lentes. Toushirou me observava com um ar estranho. Era cauteloso, mas divertido também. Nesses meses, nunca o vi fazer uma expressão dessas, exceto na viagem pra cá. Sinceramente, estava me deixando nervosa.

- E daí?

- Por que não disse até hoje pra ele?

Estreitei os olhos. Impressão minha ou queria ser sarcástico? Isso me deu nos nervos.

- Acha que ele me daria ouvidos? Aquele idiota só se importa com o que a presidente e líder de torcida fala – voltei os olhos para o caderno - Como se ela soubesse de alguma coisa.

Pra minha surpresa ele sorriu e fiquei mais incomodada.

- O que foi?

- Você parece uma nerd em futebol.

Meu rosto ficou quente outra vez e ao ver ele parou de sorrir. Um silencio estranho ficou no ar, mantido nesse olhar fixo que ele tinha... Mais e mais sério pra mim.

- Kurosaki.

- Sim?

- Tem certeza que já não nos conhecemos?

Um jorro frio e intenso me banhou por dentro e tentei ficar séria.

- Claro que sim. Por que me pergunta isso?

Suspirando ele escondeu parte do rosto sem desviar o olhar. Agitando meu estômago ansioso.

- Por nada.

KARIN POF